Enquanto o idealista crasso, o romântico e o avoado fogem do mundo a lua sem maiores problemas, ao menos mais próximos não poucas vezes o idealista crítico, que busca transformar as estruturas de um mundo que acredita serem injustas e anti éticas, entra em crise, e perde-se. E quando digo perde-se quero dizer que ocasionalmente este homem ético e de boa vontade perde a sanidade ou até mesmo a vida, o que é imensamente trágico ou patético.
Temos aqui a morte da mais um combatente, que inspirado em Sócrates, em Cristo ou mais frequentemente neste ou naquele reformador social, o\usa afrontar o sistema ou aquilo que é dado, tendo em vista o que 'Deve ser'. E Ética sempre é isto, UMA METAFÍSICA, a respeito do que deve ser... Quem se contenta com a realidade dada ou com o que é numa Sociedade como a nossa, se são, merece o título de canalha, se Cristão de fariseu hipócrita. Não há atenuante para quem declara assumir posição neutra face a injustiça apenas porque a solução não é imediatamente apreendida por seus sentidos, mas, construída pelo intelecto consciente. Por isso o Positivismo é ainda mais abjeto do que o utilitarismo remendado com retalhos do Evangelho ou do socratismo...
Quanto aos episcopais/Católicos, espíritas e deístas estão imunizados, até certa medida, pela crença sólida na sobrevivência da alma. Frustrados aqui, sabem que estão destinados a contemplar a vitória do bem e o triunfo do amor noutra existência. Não verão aqui, mas verão o que se sucederá aqui... De algum modo contemplarão o futuro deste mundo, o que equivale a colher os frutos.
Já os que duvidam ou negam são combatentes tanto mais vulneráveis. Pois caso sua esperança não se realize antes de sua pressuposta dissolução ou antes da morte física, sabem que não contemplarão o desabrochar das sementes que lançaram ou o triunfo do bem e da justiça. Disto pode decorrer, não raramente, a angústia, produzida pelas continuas resistências - Por parte do sistema que é poderoso - e frustrações.
É destas situações limite, das sucessivas derrotas, da energia dispendida nos embates, das incompreensões e frustrações que resulta a necessidade da fuga. Foge-se ou perde-se a sanidade ou mesmo a vida. Problema não é fugir, mas desprender-se... Por vezes pequenas fugas são necessárias ou terapeuticas. Problema é abandonar a causa ou desertar, desencantar-se. Fugir algumas vezes, episodicamente, faz parte da estratégia, é sabedoria e solução.
Temos assim de alternar a luta com o mundo ou nossa atividade social e mesmo nossas atividades educacionais com algumas fugas.
Sabendo que temos de fugir saberemos para onde fugir com segurança, e não nos destruiremos. Alias mesmo os que dispõem do recurso da fé devem reforça-lo fugindo.
Por fuga equivocada e destrutiva entendemos a sexualidade exacerbada, a embriagues e sobretudo o consumo de entorpecentes i é as drogas. Tudo isto é busca pelo princípio do prazer num mundo doloroso e ingrato. Quando moderada é busca honesta e necessária. A sexualidade, encarada com naturalidade, faz parte integrante da vida e é fonte de prazer revigorante. Assim a bebida espirituosa consumida dentro de certos limites. E ainda se pode fumar Narguile SEM TABACO... Juntamente com o licorzinho, o chocolate (Alfarroba é mais sadia e tão saborosa quanto!), a macarronada de Domingo e o Temaki, poderia mencionar a boa música (Não estou a falar de funk, pagode ou gospel - Experimente Ray Coniff ou o Abba), o Teatro, o Cinema, exposições, etc Claro que tudo isto tem certo custo... Mas sempre podemos passear e assim contemplar o Patrimônio Histórico ou uma paisagem vegetal, assim a flora e a fauna. Há o cultivo de algum hoby como o colecionismo ou a prática de uma atividade como o artesanato. Tanto, tanto tipo de terapia... Assim nosso Pet, seja cão ou gato, com as bençãos de Nize da Silveira...
Todo ativista social ou militante ético político deveria dar espaço a tudo isto em sua vida, ao invés de concentrar-se casmurro e assim gastar-se, endoidecendo precocemente.
Quanto aos que após o sexo buscarem o alcool e após este o consumo de entorpecentes, tendem a avançar em medida. O fim do trajeto poderá ser o craque, uma ida sem volta. Tal o princípio do prazer imoderado ou da busca por sensações cada vez mais fortes e intensas. Passa-se facilmente de um a outro e chegasse ao mais intenso que é a química. Todavia o organismo humano sabe ser mais esperto e acomodar-se, atenuando, em certo prazo, as sensações e fazendo o viciado buscar sensações mais fortes. Caso tais sensações não sejam obtidas o resultado é o vazio, o tédio, a crise ou a angústia intolerável. O derradeiro estádio desta via é empregar doses cada vez maiores das drogas mais fortes ou combina-las ou ainda associa-las ao alcool e ao fumo, do que resultam as conhecidas overdoses e mortes de astros e estrelas, os quais usufruiam de milhões e 'Tudo tinham para ser felizes'. O artista sedento pela beleza a que serve ou representa, não poucas vezes toma este caminho. O cientista, o estadista e o reformador social não menos. Querem apressar a contemplação do ideal, e caem neste erro funesto.
A maior parte busca no princípio imoderado do prazer o remédio para a frustração. Outros, ainda mais valentões, ousados, irredutíveis... chegam, ao cabo de tantos golpes, a demência, a morte ou ao suicídio.
Por isso digo - Mister se faz fugir sem desprender-se por completo ou para sempre da realidade. Abastecer-se para retornar. Viver uma vida normal, comum ou média é muitas vezes mais indicado que o ascetismo, o qual só seria mais producente em situações de conflito aberto ou armado. No mais recomendamos a via do prazer racional ou limitado, inda que em gotas homeopáticas. É necessário contemplar o que há de belo no mundo e fruir dos bens relativos com seriedade. Sim intelectual, cientista, ativista, político/ético, artista... você precisa viver sua vida e precisa também distrair-se.
Então por que raios os artistas, cientistas, revolucionários, reformadores do que é reformável (Então não estou falando dos tais reformadores protestantes!), etc tomam aquela outra via, da morte e da destruição?
Devo dizer que em certos meios, mormente materialistas e autoritários (Que tanto exigem de seus quadros!), há um forte preconceito quanto a essas fugas episódicas ou fantasias da imaginação, que seus ideólogos costumam apresentar como formas de alienação. E assumem esta posição fanática e extremista face a via mais fecunda em termos de sanidade metal e prevenção de neuroses, o recurso aos contos, mitos, fábulas, lendas, parlendas e romances sejam orais ou escritos, assim a contação ou a leitura de estórias...
Claro que esta atividade também tem servido de prisão - E assim sendo fonte de alienação - para aqueles que nela se fixam perdendo de vista o paradigma da transitoriedade. Aquele que se deixa dominar pelo romantismo, substituindo a realidade concreta do mundo a ser transformado pela fantasia das narrativas orais ou escritas perde-se... Como perde-se o extremista que abstem-se totalmente delas, inclusive como lazer, distração, fuga episódica ou terapia. A questão é a mesma quanto o saber ou a ciência, o uso. Temos de saber quando abrir e fechar as janelas, e assim transitar da realidade a fantasia e V V.
Demos palma, sem rancor, aos Psicólogos, que estudaram a personalidade e a mente humanas. Ao menos inconscientemente assumimos o papel de felizes protagonistas daquilo que ouvimos ou contamos e de algum modo nos realizamos. Ao chegar a um final feliz, mesmo que na imaginação apenas, encontramos uma válvula de escape para as frustrações colhidas da arena da vida vivida. Na medida em que temos acesso a identificação e a transferência nos curamos de fato.
Contar ou ler é sempre representar e representar a nível de inconsciência é de algum modo realizar.
Então assuma a fantasia, engane o consciente, interaja com o inconsciente e seja feliz ao menos algumas vezes, obtendo alguns momentos ou fases mais descontraídos. Ao menos subjetivamente, porque você também possui uma dimensão subjetiva, mental ou emocional, seja vitorioso ou triunfante - Um rei, um príncipe, uma princesa ou dama... Alguém que conquista algo de relevante, um herói, cavaleiro cruzado, mosqueteiro...
E se tem o privilégio de possuir uma Biblioteca reserve uma Estante ou prateleira a distração, aos gibis, revistas, anedotários e livros de paisagens, caricaturas, contos, mitos, fábulas, lendas e narrativas... Dedique um espaço a Turma da Mônica, ao Tin Tin, ao Zagor, ao Fantasma, ao Conan, a Walt Disney, a Mafalda, a Super Mãe, etc Consagre outro tanto a Esopo, Fedro, La Fontaine, Perrault, Grimm, Andersen... As mitologias indiana, grega, nórdica, asteca, peruana... A Shakespeare, Molière, Tasso, Camões, Dante, Gil Vicente, etc Se aprecia, como eu, o terror, acolha: Lovecraft, Sheridan Le Fanu, Derleth, P. Merimeé, A C Doyle, R L Stevenson, Wilde, Bram Stoker, Kipling, Henry James, E A Poe, Stephen King, A Tolstoi, etc E ajunte também - Wells, Salgari, Maine Reid, Hall Caine, C S Forester, Haggard, Verne, etc Esta sessão em sua Biblioteca não será menos necessária em sua casa do que a caixa de primeiros socorros da dispensa! Será remédio para a mente, terapia gratuita, higiene mental e relativa garantia de sanidade mental. Vá a ela quando necessitar - fadiga mental - e use sem prender-se, intercale os trabalhos e atividades rotineiras e extenuantes com a distração. Assim será um reformador social ou militante mais produtivo e seguro.
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