segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Marx, Darwin e Freud, três intelectuais face ao Sagrado.


Resultado de imagem para marx darwin e freud


Caso houvesse concurso de mentiras ou lorotas não sei quem ganharia. Se os neo ateus cientificistas ou seus desafetos fundamentalistas. Basta dizer que uns e outros amam classificar o grande Ch Darwin como ateu em suas publicações ineptas... E por ai vai - Os sectários fanáticos classificam como ateus e materialistas, irreligiosos, etc a tantos quantos repudiam seu deus retangular, a bíblia e os neo ateus, aplaudem e declaram: É exatamente assim, encampando um bom número de irreligiosos e agnósticos que jamais negaram a existência de um Supremo Ser ou de uma Consciência universal...

Fenômeno curioso este de dois grupos extremistas e fanáticos explorando os mesmos boatos, fábulas e mentiras. Sem pingo de dor na consciência... Uns quiçá por crerem que o rubro sangue do Nazareno tudo lave, e outros por repudiarem um padrão universal de bem ou virtude.

Por isso resolvi escrever algumas linhas sobre os grande ateus ou sobre os grandes ateus inventados. E começarei por Karl Marx. O qual era ateu de fato, mas de modo algum fanático como seus pretendidos seguidores ou sucessores, que parecem ter chegado a fobia...

Materialista convicto não podia Marx admitir a existência de um princípio espiritual ou imaterial paralelo, por inferência era ateu num sentido muito próximo do de Sartre: A existência dum tal Ser não lhe interessava, além de é claro parecer-lhe sem sentido. Alias, como um materialista poderia encontrar sentido numa entidade Imaterial e Invisível. No entanto Marx não perdia seu tempo precioso buscando convencer os religiosos e teístas ou visando converte-los ou salva-los. De fato ele não entrava em discussões metafísicas como o teófobo Seb. Faure... Não se empenhava em demonstrar ou provar, através de argumentos, a inexistência de Deus.

Mais ainda. O odiado Marx parece até ter tido respeito e sabido lidar muito bem com os sentimentos religiosos alheios, não lhe faltando até certa delicadeza. Ocorre-me ter lido, quando moço, trechos da correspondência que trocará com uma garota ou menina, na qual a mesma aludia ao costume de ir a Missa com a família todos os Domingos. Em certo momento Marx assim se expressa: 'Como de costume sei que iras a Missa...' e 'Porém depois que chegares da Missa...' sem revelar a jovem qualquer sentimento amargo ou negativo. Enquanto qualquer pentecostal fanático diria a queima roupa: A Missa é uma cerimônia demoníaca... em nome de seu belo deus e de seu teísmo azedo e supersticioso. O ateu e 'diabólico' Marx no entanto não procede assim. Parece até saber compreender, tolerar e colocar-se no lugar do outro... Parece que aprendeu muitas coisas boas com o capeta ou com o não deus...

Freud é outro departamento. Ao contrário de Marx e Sartre era ateu forte... tendo o costume de destilar seu ateísmo a todo instante. E juntamente com ele, por admirável força de coerência, toda sua falta de esperança. Um ateu não deveria abrigar o veneno metafísico da esperança em seu coração dizia ele. Evolucionismo, progressivismo e outros vestígios de misticismo Cristãos haviam sido lançados ao limbo por ele bem antes da crítica ácida de Grayling e outros. Para este grande representante do ateísmo, mais do que para o fanático Agostinho de Hipona, os bebês nada mais eram que malvados polimorfos e o homem algo semelhante a um verme ou parasita.

Apesar disto Freud, como todos os neo ateus sentia imenso mal estar em dialogar ou discutir sobre a teísmo natural dos antigos gregos. Em "O futuro de uma ilusão" não hesita sair pela tangente e declarar que esse Deus, o da metafisica racional, de Platão, de Aristóteles ou dos Filósofos, não o interessava. O deus que interessava a Freud, como a Dawkins e a tantos outros, era apenas o espantalho fetichista dos fanáticos religiosos e fundamentalistas i é à la Genesis... Assim, lançando-se contra esse espantalho, fica mesmo fácil...

Agora onde procurar as fontes do ateísmo freudiano? Há uns poucos anos lí uma análise psicanalítica segundo a qual Freud transplantou o ódio que sentia pelo pai e rival para Deus... Achei delicioso, no entanto minha opinião é bem outra. Quiçá a dor e a indignidade física tenham consolidado o grande psicólogo em sua posição. Afinal desde 1920 até a ocasião de sua morte passou ele por cerca de vinte intervenções cirúrgicas, devido a um câncer bucal extremamente invasivo. A cabo do processo esta terrível enfermidade lhe havia destruído a mandíbula e arrancado a lingua. As dores eram lancinantes e a morfina já não conseguia alivia-las... Por fim houve uma rejeição da prótese e necrose, o cheiro tornou-se tão repugnante que afugentou-lhe os queridos cães. Diante disto ele suplicou por uma dose maior de anestésicos e... Pense então numa pessoa que padece de dores atrozes e que por fim se vê apodrecer viva. Coloquem-se no lugar dela. Tentem identificar-se... Difícil estar no lugar de Freud sem pensar como ele ou até revoltar-se. Fácil falar sentado sobre as poltronas do sofá... Julgo melhor tentar compreender mais e julgar menos. Quero dizer apenas que Freud, a partir de sua experiência diária ou de sua vivência, não tinha lá motivos muito fortes para mudar de posição face ao problema de Deus.

Tanto pior se me disser que o deus 'sábio' serviu-se da moléstia que o consumia para castiga-lo. Ora todo castigo vindo de um Ser Bom, Generoso e Filantropo só pode ser a recuperação do homem e não para sua exasperação. No entanto supostas punições, dolorosas e desumanas como estas, só serviram mesmo para exasperar e produzir revolta nos corações dos mortais. Concluo que o deus dos fanáticos nada sabe sobre atrair e reconciliar os seres que criou. Sua pedagogia é um completo fracasso ou um reforço do ateísmo. Já a simples hipótese de estar ele exercendo vingança não passa de sadismo, i é o reforço do sacrilégio e da blasfêmia. Melhor aceitar o fato de que semelhantes desgraças são meros acidentes com que nos brinda a natureza ou a sorte, sem que a excelsa divindade tenha qualquer coisa a ver com elas...

Chegamos assim a Darwin. O qual jamais professou qualquer forma de ateísmo. Haja visto sua reflexão a respeito da sabedoria divina e do processo evolutivo em termos naturais contida na própria Origem das espécies. Religioso durante a primeira quadra da vida e destinado ao ministério eclesiástico confrontou-se aquela mente, antes de tudo, com a grosseria do Gênesis e da mitologia hebraica, porque se batem até hoje os fanáticos bíblicos, não com Deus.

Os advogados da mitologia no entanto, como Sedwigck, não pouparam esforços para fazerem-no avançar em sua posição. O que tal e qual no caso Freud foi reforçado pela própria vivência ou pela experiência pessoal. Pois Darwin teve de assistir a morte de dois de seus rebentos amados, o pequeno Charles, levado pela escarlatina e sua filha predileta e companheira Anne, após lenta agonia, aos dez anos de idade. Desde então parece ter perdido a fé e se tornado deísta. A partir daí podemos observar sucessivas crises existenciais oriundas duma existência tocada pelo sentido trágico da vida, por delicadeza, lirismo e recaídas religiosas... Foram sucessivas crises, idas e voltas, revisões, jamais privadas de uma grave consciência espiritual.

Sua trajetória no entanto, sequer parou por aqui, pois Darwin apenas encontrou escolhos metafísicos jamais vislumbrados antes e assim dignos de nota. Com efeito em suas ulteriores pesquisas pode observar o que compreendeu como um certo índice de malignidade presente na própria natureza ou no mundo natural. Observou o excesso de vida e a carência de alimentos, assim a fome. Observou em certos animais costumes bastante bizarros, que chegam a crueldade. Observou que ao menos em parte o processo evolutivo é estimulado pelo incomodo ou pela dor, enfim por situações de sofrimento, catástrofes, etc Passou então a ter dificuldades para relacionar tais fatos como conceito de um Deus bom e misericordioso... Tanto mais pesquisava e mais parecia divisar uma face maléfica na natureza, representada alias por sua seleção natural. Diante disto, nos últimos anos de vida, parece ter passado do deísmo ao agnosticismo e chegado a duvidar da existência de Deus, sem no entanto jamais obter qualquer certeza a respeito.

Em seus últimos dias Ch. Darwin a todos recebia em seu convívio fossem clérigos, religiosos ou teóricos ateístas... Com uns rezava, em companhia de Emma, com outros ouvia, não poucas vezes ferozes preleções contra a fé religiosa ou mesmo favoráveis ao ateísmo, sem todavia jamais endossa-las formalmente e até exigir certo decoro ou respeito. A atitude muito parecia-se com a de um agnóstico, ao qual fugiam todas as certezas e ambas as metafísicas: A teísta e a ateística... Darwin jamais declarou estar convencido sobre a inexistência de Deus ou tentou demonstra-lo. Tampouco desejava polemizar fosse com os ateus ou com os religiosos... Sua atitude sabe a neutralidade ou isenção, bem a gosto da divisa: Ignorabimus et ignorabimus. Tal parece ter sido seu ponto de vista definitivo, no momento em que abandonou esta existência, portanto apresenta-lo como ateu ou ateu forte sabe a mentira grossa e cabeluda.

Religiosos e ateus sejam antes de tudo honestos, evitando atribuir suas opiniões aos outros ou o que é ainda pior atribuir-lhes uma concepção que julgam ser indigna, porque em ambos os casos vocês, falseando a realidade histórica - Em nome de seus queridos sistemas! -  é que se tornam indignos.


Nenhum comentário: