sábado, 15 de fevereiro de 2020

Observando o fenômeno religioso contemporâneo - Salmos, Evangelhos, seios, bundas e finalidade...


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Enquanto faço meu passeio vespertino cruzo com uns seios túmidos ou turbinados cobertos com uns versículos bíblicos tomados aos Salmos.

E como não poderia deixar de ser semelhante contemplação suscita meu senso crítico. Creio-me semelhante a diabetes que minha meu organismo, a qual me faz beber e logo em seguida ir ao vaso despejar... a semelhança do tonel das danaides... Na mesma medida em que leio, estudo ou observo sinto a necessidade de produzir algo, de registrar, de escrever ou mesmo de comunicar, embora a prioridade seja escrever para mim mesmo, e observar as futuras variações.

Por isso os tais seios cobertos por palavras que se creem divinas ou sagradas suscitaram minha reflexão.

Num mundo em que os fanáticos religiosos adoram bater na tecla da finalidade sexual - Em termos de uma estrita ortodoxia - penso que não seja honesto, mas leviano, restringir a tal finalidade a esfera da sexualidade humana. A coerência nos obrigaria a aplica-la as demais esferas da existência, assim a própria fé e seus veículos.

A leviandade e a incoerência no entanto parecem ser os pecados originais deste triste tempo.

Antes de tudo, quando contemplei aqueles seios, que muitos consideram como belos e que noutros tantos suscitam impulsos eróticos, e li as palavras gravadas sobre eles - Que bem poderiam ser: "Quem tem sede vem a mim e beba.", "Minha carne é verdadeira comida." ou qualquer frase isolada tomada aos Santos Evangelhos - não pude pensar em bundas, pênis ou vaginas... Órgãos contra os quais nada tenho em absoluto, ao contrário dos neo maniqueus.

Tudo quanto pensou Deus e chamou a existência, digno e puro é.

Pelo que não haveria maiores problemas, ontologicamente falando, em gravar tais versos, inclusive as palavras do Verbo Jesus sobre os panos ou tecidos que cobrem tais partes. Isto não me indignaria mais do que ve-las gravadas sobre os tecidos que ora cobrem peitos, barrigas ou costas... Para mim dá tudo no mesmo e não há diferença alguma. Se se pode ou deve gravar as palavras divinas sobre determinada peça de roupa destinada a cobrir uma certa parte do corpo pode-se revestir qualquer parte do corpo com tais peças, uma vez que o corpo assumido pelo Verbo Jesus é sagrado em sua totalidade e não há nele parte suja ou menos digna.

Claro que não me refiro aos Salmos ou a qualquer parte aleatória do antigo testamento, pelo simples fato de não ser judaizante ou partidário de um 'corão' cristão... A maior parte dos seios por sinal são mais puros, dignos e belos do que a maior parte das passagens da Tanak ou da Torá, inclusive dos tais Salmos. Não pelos Salmos... Pois como o grande Camilo Castelo Branco - autor do "Amor de perdição" - não os aprecio nem faço caso deles, a exceção daqueles que reportam-se profeticamente ao advento do Messias Jesus. Há por certo um sentido existencial nessas produções judaicas, há religiosidade sincera, grandeza e lirismo, o que por certo faz delas uma obra prima da literatura universal. Não o podemos negar... Todavia como Cristão, Católico e Ortodoxo prefiro e creio mais excelente a produção hinográfica do Cristianismo nascente ou medieval, assim as produções de Efraim, Ambrósio, Romanos, Prudêncio, Damasceno, Germano, André, etc O Simeron, o Akatistos, o Adeste, o Exultet, etc Em tudo isto vejo mais providência, presença do Espírito Santo, significado Cristão e fartura espiritual. Após o Evangelho é a hinografia Cristã primitiva que alimenta meu espírito. Pois o panorama ideal ou ético destes Salmos, em seu quadro geral, é bastante baixo, vulgar e grosseiro, haja visto os tais Salmos deprecatórios, cujo objetivo é amaldiçoar ou fazer mal aos inimigos, quando o abençoado Redentor obriga-nos a abenço-los, a suplicar por eles, a ama-los e a estar disposto a perdoa-los... Ora tais, Salmos, acham-se em franca oposição a este ideal sagrado e por isso, a exceção dos que apontam profeticamente para o Senhor Jesus Cristo, repito - Não faço caso deles, ao contrário dos fanáticos...

Pouco se me dá que sejam impressos em tecidos e ostentados sobre quaisquer partes do corpo humano, sejam elas bundas, barrigas ou seios. O problema aqui restringir-se-a aos fanáticos que encaram tais partes como sujas e irreverentes e os tais Salmos como divinos. Já vimos todavia que a coerência não é padrão para tal tipo de gente ou para as massas.

Outra coisa são as palavras de Jesus Cristo ou as passagens do Evangelho, as quais tomo a sério como coisa preciosa ou como regra de vida. Reconheço, como Liberal convicto, o direito de tais pessoas gravarem versos do Evangelhos ou as palavras Sagradas de Jesus sobre tecidos ou peças de roupa e cobrirem com elas quaisquer partes de seus corpos, mas, discordo resolutamente da prática, na qual não vejo qualquer sentido religioso ou espiritual. Claro que por uma questão de coerência ou de justiça, estendo esta crítica a moda, assumida pelos neo católicos ou carismáticos - Sempre levados a imitar ou assimilar práticas protestantes! - de imprimir as figuras de Jesus, da Virgem ou dos Santos sobre suas camisas ou camisetas, o que dá no mesmo. E como os católicos tendem a ser tanto menos complexados ou incoerentes há cerca de uns vinte anos ou mais, foi publicamente lançada, no programa da falecida Hebe Camargo, uma linha de roupas íntimas ou cuecas que traziam estampadas sobre si as figuras de Jesus Cristo e da Santa Virgem sua mãe. Nesse momento os mesmos puritanos hipócritas que a muito ostentavam as 'Sagradas ícones' sobre seus túmidos seios ou barrigas flácidas, puseram-se a gritar como loucos. Mas... por uma questão de princípios, cara a racionalidade católica, tinha de chegar onde chegou... Tal a imprudência e leviandade dos neo católicos que assumem práticas protestantes e julgam poder conte-las arbitrariamente em seus estreitos limites. Difícil conter os católicos, especialmente os moderados, já habituados a pensar criticamente o quanto não seja dogma...

O que quero dizer é bastante simples, a ponto de qualquer protestante sumariamente letrado ou de qualquer católico nutrido nos elementos do catecismo poder entende-lo ou até de aceita-lo, caso tenha boa vontade. Nada no Evangelho nos indica que as palavras do Mestre Jesus devessem ser impressas sobre tecidos com o objetivo de enfeitar peças de roupas destinadas a cobrir o corpo humano. Não foi certamente com este objetivo, cobrir ou enfeitar os corpos dos crentes, que o Senhor comunicou expressamente seus ensinamentos. O objetivo da palavra escrita é ser conservada fielmente, lida, meditada e enfim posta em prática. Outro não foi nem é o objetivo da palavra ou das cenas de nossa Redenção pintadas nas paredes de nossos tempos, tal o Evangelho dos analfabetos... Tudo isto, estendendo a pregação oral do Verbo foi posto para a leitura, a reflexão e a vida, não para adornar nossas vestes externas e corporais fazendo aparência.

As palavras do Mestre Jesus deveriam ter passado da oralidade original ao papel, as paredes dos templos e dai ao espírito ou ao fundo dos corações, para que se tornando vivas e operantes transformassem este nosso mundo. A modernidade superficial e leviana deu-lhes um novo e estranho caminho: Os corpos e peças de roupa!!! Convertendo-as em modas e pasme, marcas... A partir das quais se toma lucro! Os sectários protestantes já se precipitaram neste abismo farisaico, a ponto de comercializar peças de roupa marcadas com o 'nome' adorável... Aqui nossos amigos ateus, materialistas, agnósticos, budistas, xiitas, etc que por estes e outros motivos descartaram a fé Cristã tem pleno direito de rir, e nós, que ainda temos alguma esperança e que com esperança nostálgicas contemplamos o passado, temos o direito de deplorar e de chorar este hiante abismo de incoerência e leviandade, através do qual o repisado discurso sobre a finalidade,apressadamente traído por seus partidários. Talvez, com Voltaire, seja melhor rir, apenas rir, pelo fato de retermos alguma esperança.

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