Importante compreendermos a manipulação de conceitos pedagógicos como arma empunhada pelos neo liberais contra a Educação. Na medida em que os conceitos fluem e recebem novos significados deve o profissional da Educação ficar atento, de modo a não ser desviado de suas funções pelo próprio poder público. A todo momento palavras e expressões consagradas vão recebendo outros sentidos e, quando damos conta disto estamos acorrentados.
Hoje não vejo como mera coincidência que durante a ascensão deste modelo neo liberal de educação implementado pelo PSDB uma das propostas lançadas pelos escribas tenha sido a Interdisciplinaridade. Exaustivamente discutida desde mil novecentos e noventa e pouco i é da 'idade' Covas... Endossado pelas equipes gestoras desde a última década do passado século e poucas vezes definida com exatidão e clareza não poucas vezes este paradigma foi ensinado ou compreendido no sentido de que cada professor é professor de tudo ou de todas as matérias, o que é um notório falseamento.Tal não é o conceito de interdisciplinaridade, a qual não elimina a especificidade das disciplinas ou do educador, propondo algo bem diferente, como a atuação coordenada, explorando o mesmo tema ou objeto sob diferentes aspectos. Assim o futebol pode ser objeto de uma análise literária como de uma análise sociológica, duma abordagem histórica, de uma abordagem geográfica, de problemas matemáticos, etc Um tema torna-se eixo para todas as disciplinas, para que cada professor trabalhe sua disciplina.
Em que pese a interdisciplinariedade não 'Há professor de tudo' ou de todas as matérias. E quem é professor de tudo a bem da verdade não é professor de coisa alguma. Legalmente o ensino brasileiro é segmentado em disciplinas ou matérias, cada qual com seus titulares.
O discurso nas bases todavia, chegou a insistir que todos os professores são professores de português uma vez que a lingua pátria é conteúdo universal. Concedo que todos os professores devam saber e ensinar o português dentro de sua área. Assim num problema de matemática haja correção vernacular. Assim num texto de História ou Geografia. Agora que todos os professores sejam professores de português, eis uma grossa mentira ou maligna falácia. Corrigir possíveis erros podem, avaliar o conjunto desta disciplina não. Pois não foram formados e constituídos para tanto... Mas o português, como os idiomas de modo geral, é um código de linguagem... A Matemática também o é e nem por isso somos todos nós professores de Matemática! A bem da verdade, graças aos clamores e a resistência dos educadores face a esse discurso irresponsável, ao menos durante um momento, correu a afirmação de que eramos todos, igualmente, professores de Matemática... Cheguei a ouvir isto. Felizmente, quando a problemática atingiu esta dimensão os professores de Filosofia, História, Geografia e Artes disseram um terminante Não... E o Estado capitulou e as equipes gestoras não insistiram mais nessa aberração. Haviam tentando inclusive impor atividades 'comuns' a todos os educandos, mas encontraram uma resistência titânica...
Sobrou para os assim chamados professores eventuais ou substitutos. Jovens matriculados em qualquer licenciatura, no início da carreira, em situação de penúria e precisando de dinheiro para pagar a Faculdade. Pessoas do tipo que se submeteriam a qualquer coisa, inclusive ao eito ou a escravidão. E aqui reclamar ou resistir seria perder o emprego. No Estado de S Paulo ou em suas Escolas o tal eventual converteu-se em professor de tudo, tendo de entrar em qualquer aula i é de qualquer disciplina.
Para tanto foi preciso apenas manipular mais um dos conceitos em voga - Os conteúdos transversais. Os conteúdos transversais eram formados por determinados temas de Ética que poderiam ser trabalhados por qualquer professor dentro de sua disciplina. E jamais se pensou seriamente - nos domínios da Pedagogia - num professor de conteúdos transversais. Na escola paulista foi justamente o que aconteceu com o tal do eventual: Como não podia, sem frustrar a Lei, lecionar matéria em que não fosse formado ou lecionar sempre a sua sem burlar o currículo, transformou-se em professor de conteúdos transversais. E muitos tentaram atuar assim. O resultado fica sendo simples - Mesmo quando bem sucedido o mestre, o educando aprende apenas Ética, e nada mais... ficando mutilado o currículo i é a formação. Por outro lado nem todos os educadores dispunham de tempo para se especializarem nos tais conteúdos transversais, de modo que não puderam generalizar este tipo de abordagem. Diante disto violaram sutilmente o princípio do currículo ou da formação integral - E todo ex eventual já teve de ouvir esta pérola: Caso entre nas aulas de outros professores você não precisa ministrar as aulas deles, pode muito bem ministrar a sua matéria.
Agora imaginem a zona! O Aluno tinha suas aulas de matemática e o professor faltou. Em lugar do professor que faltou entrou o professor de Geografia, para ensinar Geografia é claro. Acontece que naquele mesmo dia tinha aula dupla de Geografia... Resultado - O aluno fica tendo quatro aulas de Geografia ou de Ciências, ou de Português no mesmo dia... E a situação se repete com outro eventual na semana seguinte... Diante destas repetições absurdas como fica o currículo ou a cabecinha do nosso aluno??? O aluno bagunça porque sabe que esta sendo enrolado ou ludibriado, não pelo professor substituto, mas pelo sistema! E não leva a sério semelhante atitude.
Diante disto aquele pobre educador proletarizado ou escravizado converte-se em professor de enfeite, em tapa buraco ou babá, e aquelas aulas, de substituição uma farsa ou um encenação. É exatamente isto que acontece em 99% dos casos. Agora imaginem a cabeça deste profissional??? Que sendo professor de tudo sabe-se professor de nada ou coisa nenhuma... Não, não estou inventando nada e tampouco dramatizando, perguntem a seus filhos se os professores eventuais conseguem ensinar alguma coisa??? Eles bem tentam, mas... Quem haveria de aturar quatro aulas de Biologia ou Ciências quando se faz jus ao conteúdo de Inglês ou Português??? Não culpo o eventual pela falta de entusiasmo ou os alunos por falta de interesse mas o sistema de porco por essa aberração!!!
O estado no entanto parece não ter chegado ainda ao fim do poço... Pelo simples fato de que todo e qualquer professor concursado ou efetivo recebe suas classes, tornando-se professor de fato. No sistema estadual apenas os egressos ou iniciantes inscritos ou não concursados passam por essa rude prova que é ser eventual.
Outro o caso em certas Prefeituras do PSDB onde o sistema podre e anti educativo do Estado conseguiu ser levado adiante e piorado, pelo simples fato de que os professores concursados que desejam efetivar não recebem de imediato suas classes e salas, tendo em vista o desenvolvimento de um trabalho sério e descente, sendo obrigados a trabalhar como substitutos, eventuais ou tapa buracos, inclusive com uma jornada fixa diária, o que compromete a habitual liberdade de compor horário. Afinal quando recebemos aulas ou carga própria podemos dispo-la, com um pouco de sorte em três ou quatro dias, ficando com um dia livre para estudar ou resolver determinados problemas. O novo sistema todavia obriga os iniciantes a permanecer cinco dias por semana a disposição da Escola, para substituir professores faltosos...
Repete-se em tais Prefeituras a mesma situação aberrante acima descrita com relação ao Estado. Com a adoção do professor de tudo, que não é professor de coisa alguma mas um tapa buraco.
Grosso modo as Prefeituras alegam muito seriamente que cada Escola tem ou 'deveria' ter um substituto de cada matéria ou para cada matéria... ficando ele adstrito a suas correlatas - Assim: Ciências e Matemática, Português e Inglês, História e Geografia, Artes e Educação Física... Assim disposto, discursivamente, não vejo maiores problemas. Isto no entanto é uma eterna burla, pois as coisas não acontecem assim nas Unidades escolares, pelo simples fato dos gestores entenderem ou interpretarem de modo bastante diverso - A luz da interdisciplinaridade... Supomos que o eventual daquela área tenha faltado ou tenha pego aulas... A maravilhosa equipe coloca um professor de outra área em seu lugar. Habitualmente, quando inicia-se um período ou as aulas, os inspetores (O lado mais fraco da corda) enfiam qualquer professor na sala para substituir qualquer professor. Pois para eles substituto é tudo igual... Do contrário terão eles de entrar, ou mesmo alguém da equipe gestora. Por isso lançam ali o primeiro que aparecer... Já foi ouvido um vice diretora berrar a inspetora: Coloca qualquer um lá ou põem naquela sala o primeiro que chegar! Sem qualquer consideração sobre a disciplina ou o conteúdo!!! Importante é que o aluno lá fique por lá até o fim do período, mesmo que nada aprenda!!! Bem se vê que aquele professor mal aproveitado faz as vezes de babá... Tomando conta de marmanjos...
No entanto se alguém questionar esse método aberrante as Seducs dirão que 'Não é bem assim.' e que há todo um critério envolvendo a escolha dos substitutos, uma orientação, etc Pura balela... Fica tudo a critério das inspetoras ou da direção, e o único critério que conta é que os alunos não sejam dispensados e os pais não venham murmurar. Fora isto vale absolutamente tudo. Professor de História na quadra de Educação física... E professor de Arte lecionando matemática!!! Isso mesmo, tal a realidade nua e crua das escolas de algumas prefeituras governadas pelo PSDB. Destarte se a prática do Estado era e é aberrante, o modelo neo liberal de deseducação mostra-nos que tudo pode ser piorado ou tornado ainda mais desastroso.
Continua
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