O que Lutero, Maquiavel, Bakunin, Nietzsche, Mussolini, Hayek tem a ver uns com os outros? Claro que a maior parte deles era individualista e que, com Stirner e Rand, foram os principais teóricos dessa Ideologia venenosa. Curiosamente eram todos irracionalistas, relativistas, subjetivistas, psicologista.... É portanto tão intensos a uma Ética quanto os filhos de Litreé e Kelsen, ou seja, os empiristas/positivistas, fossem estes cá agnósticos, materialistas ou ateus.
Em Cousin, Damiron, Jouffroy, M de Biran, E Renan... temos a outra face da moeda, e ela não foi religiosa, fideista ou revelada como supõe a crítica neo ateistica e superficial, mas naturalista ou metafísica, conforme o modelo grego, seja pré socrático, platônica, aristotélico ou estóico. Grotius parece ter precedido a todos estes, como já veremos, embora suas fontes remontem a escola salmanticense e por esta via comuniquem com a neo escolástica.
Quanto aos autores acima é notório o caráter pré positivista no sentido dos ramos do saber por eles cultivados serem apresentados como autônomos não apenas face a uma moralidade religiosa muitas vezes toscas, mas face a qualquer instância superior, assim a uma ordenação Ética inda que naturalista. Afirmam o primado do conhecimento material ou empírico e chegam inclusive a prometer que de sua ciência empírica ou ignorância crassa, brotara vida Ética.
Ignoram assim que a instância Ética do Ideal seja distinta da instância material ou real do conhecimento científico ou mesmo superior a ela. Pelo que a ciência torna-se soberana e incontrolável, assumindo o lugar o velho Deus e adquirindo acentos religiosos ou místico, tal e qual o comunismo, o fascismo e outras ideologias políticas seculares por trás das quais subjaz a decantada escatologia cristã. A C Grayling.
A epistemogia deles no entanto parece ser mais sofisticada que a do positivismo, na medida em que para eles o empirismo já não aponta para uma perfeição racional e sim para a odiada imperfeição ou para um elemento caótico, que nem mesmo a experiência habitual poderia reverter.
Por isso abominam a Ética ou a desprezam, enquanto tentativa de controle racional sempre infrutífera. Segundo creem qualquer tentativa de controle racional, alheia a realidade, só poderia piorar semelhante estado de coisas. O mais aconselhável seria aceitar a realidade do incontrolável e do irracional tal qual é, deixá-la fruir e acomodar-se. O que implica abandonar todo e qualquer reformismo idealista enquanto tentativa de corrigir a realidade dada.
Maquiavel, além de ter criticado o falso moralismo reinante ou os abusos do tempo, bem poderia ter ensaiado algum tipo de solução Ética. Mas é justamente o que não se vê no Príncipe... A contra partida dos meios de dominação parece inexistir, assumindo o mal certo contorno absoluto. O fim último parece ser o poder e o mais parece ser meio, enquanto a fortuna é apenas a sorte, o acidental, o estocástico. Mussolini, partindo de Sorel, é igualmente voluntarista e irracionalista, não acredita no auto controle racional do Homem ou no processo social de auto educação, dai sua confiança tola na autoridade cega, no autoritarismo, na tirania, no despotismo, da ditadura, na submissão, no controle, etc
Outro não é o discurso de certos comunistas e anarquistas em torno da tão sonhada revolução. Pois quando perguntamos a eles a respeito dos excessos de violência relacionados com um conflito social de caráter físico ou armado, eles limitam -se a declarar - sofismando - que a violência já existe 'oculta' em nossa sociedade de classes, etc Ignorando ou fingindo ignorar que a condição é bem distinta posto que atenuada pelas leis, e que nem outra seria uma situação de guerra aberta cujos excessos e abusos teríamos de prever para controlar.
Assim que fazer com os que se aproveitam da Revolução para cometer os crimes mais sádicos? Que fazer com os feridos em conflito? Com os prisioneiros? Com os civis? Que pensar sobre a tortura? E os animais... É os famintos... É o patrimônio histórico cultural? Eis assuntos de Ética em torno da tão Revolução que os comunistas e anarquistas deveriam estar discutindo ou pensando desde 1848 mas com relação aos quais nutrem verdadeira ojeriza.
Isto para não aludir a questões práticas em torno da administração pública seja das empresas ou dos municípios... O que ao menos foi considerado pelos heterodoxos Herr, Jaures, Blum... Os ortodoxos no entanto fornecem-nos apenas está miserável resposta: Esperem a revolução acontecer pois é em seu desenrolar que encontraremos as soluções. Embora seja característico do homem calcular, planejar e pensar sobre o futuro. Mas o que há por trás de tudo isto? A suposição de que a revolução é um fenômeno irredutível a razão, incontrolável, imprevisível em seus contornos... Claro que uma guerra ou revolução parte de um impulso. Seus nuances e resultados todavia podem sim ser racionalizado, e toda História das guerras gregas e romanas apontam para este caminho. Do contrário a estratégia das minorias jamais teria vencido o número dos oponentes ou Alexandre vencido os persas.
Criar uma Ética de guerra é tão importante quanto pensar operações estratégicas. Os anarquistas é comunistas porém preferem não pensar o problema ou não refletir, dando tal reflexão por ociosa. Tal o caráter imprevisível e irracionalista dos conflitos humanos. Como o caráter do fenômeno político para o florentino.
Outra não é a opinião de Hayek - derivada é claro de Kant - sobre os movimentos ou flutuações do Mercado, igualmente aleatórios, irracionais e incontroláveis... Daí o caráter negativo, segundo ele, de todo é qualquer controle ou tentativa de planejamento racional exercida pela sociedade política... Apenas os inseridos conheceriam intuitivamente ou pela prática habitual, tais flutuações ou crises, sabendo igualmente que elas possuem dinâmica própria e que, como nos casos de gripe, nada se pode fazer alem de esperar que ela siga seu curso natural. Nada podemos corrigir, em absoluto!
Eis o político, o curso da Revolução e o Mercado descritos quase que nos mesmos termos por um pós renascentista angustiado, por alguns teóricos anarquistas e por um ideólogo neo liberal e a tônica comum é o irracionalismo, irredutível a qualquer modelo ou solução ideal é portanto a uma normatividade Ética. Por isso o maquiavelismo, o anarquismo, o comunismo e o neo liberalismo aproximam-se não somente do empirismo/positivista, mas de outros sistemas irracionalistas - Como o cristianismo protestante Luterano, quanto a resistência a uma vida Ética superior é absoluta.
E o humano fica sempre esmagado - Pela fé religiosa, pelo poder político, pela tirania do Mercado, pelas revoluções 'libertadoras, pela pedido filosofia da fragmentação ou do particular, pela negação do conceito (De justiça ou bem comum...)
A todos estes oponho, além de Sócrates, sempre atento ao que fosse humano; é Descartes, Hugo Grotius. E por que Hugo Grotius? Porque buscou disciplina o que chamamos guerra bem como a convivência entre os Estados fornecendo-lhes uma Ética como produto de anos e anos de cuidadosa reflexão. Imaginou ele diversas situações possíveis e a melhor maneira de relaciona-las com o bem e a justiça, resultando disto um Tomo inteiro com cerca de seiscentas citações.
Numa perspectiva mais ampla sua obra foi resultado de um exercício reflexivo iniciado cerca de século e meio antes em Salamanca, Espanha, onde um grupo de teólogos dominicanos, liderados por Vitória, principaram a refletir sobre a nova condição do mundo após as descobertas de Colombo. Como as novas culturas encontradas achavam-se separadas da cultura Cristã européia quanto a fé, aqueles sacerdotes buscaram por outro elemento comum que pudesse unir os homens, dando com a razão ou a racionalidade e o Direito natural, do qual derivam o que hoje temos em conta de Direitos humanos, direitos essenciais e não duvidosos ou relativos.
Os próprios Dominicanos puderam servir-se do Direito romano e de alguns testemunhos legados pelos antigos pensadores gregos, em especial pelos estoicos. Isto porque os gregos do século VII a C e os romanos do séculos I e II d C haviam sido postos diante das mesmas circunstâncias que os europeus do século XVI - A descoberta de uma vasta pluralidade cultural e credal, a qual levou-os em busca de um elemento comum em termos de imanência - Assim a razão ou a capacidade reflexiva, a partir da qual reduziram uma Ética essencial, a que deram o nome de Direito das gentes, tal a fonte do jusnaturalismo ou da Teoria Ética do direito, a qual o positivista Hans Kelsen opôs sua teoria pura.
Da negação da razão pelo empirismo positivista e pelo pós modernismo resultou a negação desta Ética essencial da pessoa É a crise porque passam a Civilização e a cultura. Pois esta Ética continua sendo relativizado e negada hoje, não passando muitas vezes de vão ou de palavra vazia. Falamos muito sobre Ética mas não a levamos a sério ou vivenciamos, certamente porque não estamos convencidos em termos de veracidade essencial. Neste caso o problema é sempre Epistemológico.... Afinal de que nos serviria uma Ética duvidosa, ilusória ou aparente? Coisas há a respeita das quais devemos ter certeza absoluta e inabalável, de modo a mover a vontade. Nossa cultura envenenada não satisfaz esta demanda psicológica...
Ps.: Poderia adicionar aqui os agostinianos todos, sejam protestantes, como Lutero e a maior parte dos sectários catastrofistas, assim os romanistas que receberam a alcunha de tradicionalistas (século XIX) justamente por repudiarem nosso aparato racional - Assim grande parte dos INTEGRISTAS ou CONSERVADORES: De Bonald, De Maistre, Donoso Cortes, Ubaghs, Tamburini, etc Estes mereceram condenação explicita por parte do Concílio do Vaticano I - O qual vindicando nossa tradição autêntica afirmou a capacidade da razão humana - embora os conservadores 'católicos' levassem este substrato cultural adiante e podemos constatar este receio face a razão tanto nos agnósticos como Gray quanto nos 'católicos' deslocados como Russel Kirk. Também são irracionalistas como Agostinho e Lutero e por isso pretendem substituir o critério da Razão pelo critério da TRADIÇÃO. O critério ou padrão TRADICIONAL porém só é válido no âmbito interno da divina Revelação ou da Religião e não da imanência, já porque os antigos pagãos apelaram obstinadamente a ele contra o Cristianismo emergente, e nossos apologistas, os padres da Igreja, a Razão, com o objetivo de invalida-lo.
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