quinta-feira, 4 de maio de 2017

Que aprendi com os clássicos...



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Ps.: Este ensaio diz respeito apenas e tão somente aos clássicos da literatura contemporânea.

Acabo de ser questionado por uma amiga, leitora voraz como eu, sobre o que aprendi ao ler os clássicos.

Tentarei compôr uma breve resposta.

Com o Robinson Crusoé, Defoe 1719, inspirador do Emílio aprendi que J J Rousseau não esta completamente certo. Pois se isolamento na Ilha obriga nosso herói a reaprender, redescobrir e reinventar praticamente tudo - Estimulando a faculdade da imaginação e estimulando o processo educativo quase nos termo de Dewey (Aqui porém numa perspectiva diferente ou social) e da Escola Nova - vemos que tal se em detrimento de sua afetividade

A suprema verdade aqui é que nosso herói não é feliz, e que a solidão incomoda-o. Isto a ponto de chorar a morte de um papagaio, com o qual conversava e de pedir, em suas preces, que Deus lhe concede-se humana companhia com que trocar ideias e experiências. Não, nosso homem estando numa Ilha isolado não era uma Ilha e certamente não se achava em seu estado natural.

O que nos reporta a definição Aristotélica como homem como um ser social, que nasce, vive e se desenvolve na Sociedade, em comunhão e não isoladamente. Alias a obra dá a compreender o quanto tais situações de isolamento são danosas para a mente humana.

Racionalidade ou intelectualidade é coisa excelente. Mas não a ponto de suprimir a afetividade. Além de capacidades racionais ou lógicas o 'homo sapiens' também possui sentimentos e necessidades afetivas que precisam ser satisfeitas tendo em vista a construção de uma personalidade sudável e equilibrada.

É o mínimo que tenho a dizer sobre o modelo de Rousseau. Crescer em comunhão com a natureza é benefício concreto, desde que em companhia de outros seres humanos ou de outras crianças. Pois o homem é ser que não se constrói no isolamento ou na solidão.

Passemos agora a Swift, 1735 ou seja as Viagens de Gulliver.

Onde há muito que se aprender a respeito da educação.

Refiro-me a parte primeira, em que o autor descreve sucintamente os costumes e instituições dos pequenos liliputianos.

Memorável a passagem em que declara - e estamos em 1735! - que a curiosidade deveria ser estimulada por meio de recompensas ou mesmo castigos.

Pois tudo quanto temos feito até 2017 consiste - mesmo em sala de aula - em deseducar as crianças por extinguir-lhes a curiosidade e classificar como vício ou mania o costume de perguntar.

Outro aspecto não menos marcante desta obra consiste em afirmar o primado social da ética.

Por dizer o autor que a virtude é superior a qualquer outra capacidade intelectual ou prática. E que mais vale ao cidadão ser honesto do que inteligente, erudito ou inventivo.

"Julgam que a verdade, a justiça, a temperança e as demais virtudes estão no acesso de toda gente e que a prática de tais virtudes, acompanhada por uma experiência sumária em termos administrativos torna quem quer que seja perfeitamente apto para servir ao pais... E CREEM QUE NÃO HÁ NADA DE MAIS PERIGOSO DO QUE ENTREGAR A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A UMA PESSOA HABILIDOSO, MAS ISENTA DE VIRTUDE. E dizem ainda que os erros de um ministro honesto são sempre menos nefastos do que os de um ministro competente e talentoso mas desonesto."

Nada pior do que a habilidade, a competência ou o talento associados a falta de probidade e caráter. Nada pior do que um 'sábio' sem consciência. Nada mais prejudicial a um povo do que uma ciência sem Ética. Nada mais dramático do que conhecer as forças do universo antes de ter devassado a si mesmo... Nada mais pernicioso do que ciência sem consciência.

Não se trata aqui de desprezar a experiência, mas apenas e tão somente de associa-la a uma vivência ética e de subordina-la a virtude. Não se trata aqui de exclusão mas de subordinação, numa perspectiva hierárquica.

E temos cá o eco do velho Sócrates...

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