Ulpiano
No artigo anterior examinamos os argumentos com que nosso ilustre amigo Mr Ladrofê, julga poder amparar sua concepção autoritária de vida numa perspectiva Católica, demonstrando o quanto esta equivocado, afinal.
"Onde esta o espírito, ali esta a liberdade." não sou eu quem o diz, mas o querido Paulo, ídolo dos neo Cristãos paulinistas. Até ele...
Afinal não fomos nós chamados a liberdade dos filhos de Deus?
Não ao temor e a servidão, mas ao suave jugo do amor?
Identifiquemos agora as fontes históricas do autoritarismo para saber quando, como e porque modo enquistou-se como uma câncer no seio da instituição Cristã.
Antes porém digamos algumas palavrinhas sobre a fonte mais remota, que se acha no lá no fundo da mente humana, lá no inconsciente. Antes arreliavamos com os autoritários assim como arrelianos ainda com os avarentos ou capitalistas. A leitura de S Freud convencendo-nos de que o ethos autoritário reflete problemas de convivência com o pai, tornou-nos mais condescendentes e tolerantes.
Questões de vontade - inda que inconsciente - já dizia o santíssimo Orígenes, são irrefutáveis. Inútil argumentar quando não se quer ou não se pode assimilar, tendo em vista condição. No entanto é sempre útil dialogar, ao menos enquanto exercício dialético e estimulo a pesquisa. Alias sempre aprendemos algo ouvindo ou lendo.
Bom esclarecer, antes de tudo, que nem a passagem da República para o Império romano foi drástica em termos duma ruptura absoluta com as tradições do passado e nem o caráter do Império deixou ou pode ter deixado de ser misto duma hora para a outra.
O Imperador, a partir de Otávio Augusto, sobrepõem-se ao Senado, que é uma órgão aristocrático, não o aniquila.
Otávio alias afetava enorme respeito pelo Senado, de modo que ao invés de ordenar ou constranger, limitava-se a solicitar perante aquela organização tradicional. De modo geral os imperadores julianos que foram sãos: Tibério, Claúdio e Nero antes da loucura, e assim os Flavios: Vespasiano e Tito, limitaram-se a imitar o procedimento de Otávio, no mais solicitando, raras vezes demandando, quase nunca obrigando o Senado, embora este sempre pudesse ser facilmente comprado. Abolir o Senado e assumir um poder absoluto é coisa que jamais se pensou, pois os cidadãos romanos, ao menos afetavam ou fingiam ter dignidade e serem cidadãos, não escravos.
As aparências democráticas e aristocráticas até certo pondo tinham de ser mantidas.
Apenas os Césares loucos como Caio, Nero e Domiciano ousaram ameaçar e constranger, e humilhar, e oprimir, e abater os senadores e patrícios. Sem no entanto sequer terem cogitado, dissolver o Senado e governar como senhores absolutos. O máximo que Botinhas fez foi introduzir seu cavalo Incitatus naquele nobre corpo e proclama-lo senador...
Durante o século seguinte, sob os Antoninos, a influência e poder do Senado, por afetação da antiguidade, aumentou ainda mais.
Nem sinal de teorias ou doutrinas absolutistas.
Tinha vergonha de doutrinar a respeito do que haviam posto em prática.
De fato caso sigamos de trás para frente o advento desta doutrina obscura que é o autoritarismo ou absolutismo, que alguns cuidam vender como Cristã, chegamos aos juristas franceses como Jean Bodin. Destes aos teólogos imperiais ou Cesaropapistas, como M Patavinus, os quais buscavam combater a monarquia e teocracia papal fazendo petições a um documento descoberto pelos ocidentais por volta de 1100. O Digesto de Justiniano ou melhor de Trebonianus (Mas também de Teófilo, e outros dezesseis). Neste registro temos a pristina fonte do autoritarismo.
Agora nos perguntamos sobre qual fossem as referências ou as fontes do Digesto, os filósofos, os santos padres e Bispos, os sínodos, os apóstolos, o Evangelho... Nada, nada disto.
A principal fonte quanto ao autoritarismo nobre leitor, diz respeito ao jurista pagão i é não Cristão e não Católico Ulpiano, o qual foi contemporâneo de Modestino e Papiniano, tendo sido prefeito do pretório e florescido sobre Caracala, o filho degenerado de Septimius Severo e assassino de Geta, logo fratricida.
Ao dito Ulpiano atribuem estas duas expressões infelizes: "Quod principi placuit legis habet vigorem." pt - O QUE AGRADA O IMPERADOR TEM FORÇA DE LEI e esta outra não menos absurda: "Princeps legibus solutus." pt - O PRINCIPE NÃO JAZ SOB O JUGO DA LEI ou não esta obrigado a observar as leis.
Temos aqui o mesmo conceito que os semitas aplicam a seus deuses - jao, ala, etc - e segundo o qual por serem todo poderosos estão acima de quaisquer leis, podendo cometer crimes e pecar...
Pois se a lei humana é expressão de uma lei natural e eterna, é necessariamente boa. E sua inobservância má. Logo o príncipe, tem o direito de pecar ou de cometer o mal, recusando-se a observar a lei que é boa. Atribuem-se assim o direito de matar, roubar, mentir, etc, o que é abominavelmente monstruoso.
Chegados a este ponto temos de nos perguntar sobre o que aconteceu ao império romano a ponto de um de seus maiores juristas ter cometido um descalabro destes, identificando a vontade caprichosa e arbitrária de um indivíduo como lei para os demais.
Estamos no século III.
Momento em que, após Comodus, o pode imperial é sucessivamente encampado pelos militares ou chefes das legiões ou da guarda pretoriana, os quais fazem e desfazem imperadores, põem e depõem príncipes, elevam e derrubam reis, e amiúde lutam uns contra os outros ensanguentando o Império e fomentando seu declínio.
Sendo militares eles trazem para o governo Imperial e mentalidade rasteira prevalecente entre quase todos os militares, a da obediência passiva, cega, mecânica e absoluta. É neste momento que as figuras dementes de Caio ou Nero convertem-se em ideais recorrentes e dominantes até Constantino. E não é mera coincidência que os Cristãos tenham sido expostos a perseguição com maior fragor ainda neste século, devido a insistência mórbida a respeito da estatolatria ou do culto ao gênio de roma e da fé imperial, cristalizada na pessoa dos césares mais abjetos!
É deste ambiente corrupto, decaído, degradante, indigno, que aflora ou assoma a 'bela' doutrina do autoritarismo ou do absolutismo régio. Com que dor no coração devo lembrar que o infeliz Ulpiano viveu não sob o jugo de um Otávio ou de um Antonino, ou de um Marco Aurélio, aos quais certamente teria repugnado a ideia de um poder supremo ou absoluto, mas sob um farrapo humano chamado Caracala, o qual mimoseou com aquelas frases servis contida no Digesto, isto por achar-se, como seu colega Papiniano sob constante ameaça por parte do déspota irascível, o qual acabou por mata-lo a pontapés (Enquanto o outro foi decapitado!).
Tal a fonte mais pagã mais remota do absolutismo régio, puramente pagã e nada mais que pagã e nem um pouco Cristã ou Católica.
No artigo de amanhã discorreremos a respeito das outras duas belas fontes:
A cultura judaica endeusada pelos judaizantes, o 'cristianismo ' paulinista e o heresiarca Justiniano. E por ai já se ve que os padrinhos são rabinos, escribas, fariseus, judaizantes e heréticos; nada, nada de muito Católico, nada de Padres da Igreja, doutores, sínodos, concílios, etc porque estas perto da imensa sabedoria dos juristas pagãos da decadência, dos judeus e dos heréticos são mesmo umas Bestas! Espertos mesmo os reformadores protestantes né???
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