Pessoas há que são mal intencionadas, assim os fariseus, escribas, saduceus e outros elderes da casa de israel que viviam amolando o Senhor Jesus Cristo e armando-lhe presepadas.
Outras são inteligentes e propõem com absoluta naturalidade certos temas a reflexão comum.
A maior parte ou totalidade de meus amigos compõem da segunda categoria de pessoas, honestas, inteligentes, críticas e reflexivas. De modo que sou obrigado a levar bastante a sério os problemas levantados por eles em torno de minha fé, a qual assumo intrepidamente.
Um destes camaradas endereçou-me a seguinte pergunta: Era Jesus Cristão?
Para muitos de meus amigos e a quase totalidade de meus ex correligionários uma pergunta assim formulada equivaleria a um tiro a queima roupa e penso que até ficariam irritados.
Eu fiquei feliz porque semelhante questionamento suscitou-me uma série de reflexões a serem realizadas ao cabo de uma longa noite de insônia.
Alias tais perguntas vão muito bem com longas noites de insônia e quiçá parte dos teólogos escolásticos da I Média fossem como eu insones crônicos.
Varei a noite e madrugada buscando respostas para esta incomodativa pergunta.
Cujas constatações agora torno públicas, partilhando com o leitor benevolente deste diário.
Claro que tendo de assumir uma perspectiva tenho de ser honesto e assumir sinceramente a perspectiva nicena, partindo portanto do suposto que Jesus Cristo seja um Ser divino ou a manifestação da divindade, sob forma humana, neste mundo.
Outros julgando ser ele simples mortal ou mera criatura chegaram a outras constatações.
Para mim no entanto ele é a Encarnação da alma ou do espírito que anima o universo, em suma, daquilo que os pensadores gregos chamavam Deus.
Nele percebo mais do que um homem. Percebo o divino, o sagrado e o numinoso e sua plenitude.
Tal o ponto de partida de minhas cogitações.
Para resolvermos o problema devemos antes de tudo considerar uma obviedade - É o Cristianismo uma forma religiosa ou religião, como o budismo, hinduísmo ou judaísmo.
A própria palavra religare reporta-nos ao sentido de ligação com Deus, com o sagrado, com o numinoso; mas não apenas isto. A exceção do protestantismo 'ortodoxo' ou solifideista - os sectários protestantes em parte assumem nossa afirmação tomada a um panfleto religioso - (antinomiasta) que se assume como uma forma religiosa amoral ou sem ética (!!!), a maior parte das religiões assume certa conotação ética em torno de princípios e valores. Em certo sentido todas aspiram salvar o homem da ignorância ou de um comportamento inadequado; todas aspiram por educar ou reeducar o homem, todas buscam encaminha-lo a virtude.
Podemos portanto definir as grandes religiões ou as religiões reveladas como uma busca de comunhão ou de unidade com o Sagrado que ao mesmo tempo conceda aos homens uma possibilidade de superação, no sentido de tornar os homens melhores do que são.
Algumas como o Cristianismo antigo, são antes de tudo Éticas. Tendo por objetivo precípuo salvar o homem de uma situação de miserabilidade moral (Ética), de desaliena-lo, de conecta-lo com o sagrado...
Ainda que repudiemos com veemência a doutrina mitológica de um pecado original, cometido por um primeiro homem e cuja culpa teria sido imputada arbitrária e magicamente a toda sua descendência, não repudiamos a crença num pecado ancestral, enquanto situação histórica e social de pecado projetada até mesmo no inconsciente dos nascituros. Não se trata aqui da noção essencialmente injusta da transmissão da culpa, de modo algum. Mas da gênese sócio/cultural dos pecados pessoais ou da contaminação pelo exemplo no dizer do teólogo Orígenes de Alexandria.
Ninguém melhor do que os antigos filósofos gregos percebeu a presença do mal metafísico ou ético no mundo.
Odiamos, mentimos, matamos, roubamos, praticamos a injustiça, oprimimos, etc
E nada disto pode ser bom.
Há algo na consciência de cada um de nós que se revolta contra todas estas coisas. Apesar do poder e da força da cultura.
Somos elementos fragmentados, divididos e em conflito, como demonstrou a Psicanálise.
Dos sete sábios a Freud passando por Confúcio, Buda, Sócrates, Platão, Jesus, Marx, etc a percepção de que algo não esta bem é comum e quase evidente.
O ideal conflita com o real. O dever choca-se com o ser. O que queremos não corresponde ao que fazemos.
As religiões propuseram-se vir ao encontro desta demanda ética e comunicar ao homem algum tipo de força suplementar capaz de coloca-lo a altura de suas mais nobres inspirações.
A religião de Akhenaton teve esta percepção bastante claramente. A de Buda como nenhuma antes dela. O profetismo hebraico não foi estranho a esta tomada de consciência firmemente assumida pelo Cristianismo antigo. O sikismo, o babismo, o espiritismo, etc foram por este mesmo caminho.
Segundo esta perspectiva podemos definir a religião Cristã e por assim dizer a Igreja de Cristo nos termos de uma escola, de um reformatório, de um hospital ou de um hospício cujo objetivo é educar, orientar, corrigir e curar os seres humanos feridos pela ignorância.
Por isso foi o Cristo apresentado como médico e pedagogo de nossas almas.
Destarte, sendo ele eticamente íntegro ou perfeito, isto é isento do que chamamos de pecado, certamente não precisava de religião. (para si).
Tampouco precisava dela para chegar ao Sagrado uma vez que ele mesmo portava o Sagrado dentro de si. A fonte suprema da luz certamente não precisa ser iluminada.
Ele não precisava de Igreja para si mesmo.
Revelou o Cristianismo, i é a doutrina Cristã ou os elementos da fé para os homens mortais. Estabeleceu os sacramentos para os homens mortais. Fixou uma lei ética - o Sermão do Monte - para os homens mortais, etc Não para si mesmo.
Neste sentido - ele - não precisava de religião, de Cristianismo ou de Igreja. Os homens sim precisam de tudo isto para elevarem-se.
Portanto no sentido comum de ser crer, arrepender-se de qualquer coisa, ser Batizado, receber a Eucaristia, fazer penitência, ir a missa, rezar, etc JESUS CERTAMENTE NÃO FOI CRISTÃO.
Ah mas ele era verdadeiro homem.
Sim, em tudo semelhante a nós, mas menos na miserabilidade ética ou na experiência do pecado. Ele é a manifestação da suprema santidade sobre a terra... A religião um meio concedido aos homens para superarem uma situação de pecado...
Neste caso não precisava Jesus orar?
Una vez que a prece nada mais é do que um forma de comunicação entre o homem e a divindade, e esse Jesus a própria divindade em carne e osso é evidente que ele não precisava orar.
Neste caso porque rezava ele?
Para não escandalizar os homens - que acreditavam ser ele mero homem - e para servir de modelo a seus seguidores.
De modo que não precisava ter observado as instituições do judaísmo?
Veja bem, admitido que Deus se manifeste no mundo como verdadeiro homem temos de admitir que ele entra em contato com a cultura ou com determinada cultura.
Assim ao assumir sua forma humana e mortal ao tempo de Augusto César foi entre os judeus que a assumiu. Assumindo determinado contesto cultural.
Era a cultura dos judeus 'sagrada' como todas as demais culturas daquele tempo e portanto acentuadamente religiosa. Esperando-se de um bom judeu ou de um judeu devoto que não só regulasse sua vida segundo as normas da religião, como acorre-se as cerimônias religiosas e delas participasse.
Aqui aparentemente ao menos manifesta-se já um problema, para alguns ocioso, mas não para nós.
Isto pelo simples fato de que a parte de Akhenaton e Buda líder religioso algum abolira os perniciosos sacrifícios humanos. Equivalendo o templo dos judeus em Jerusalém a um imenso açougue a céu aberto com todo o sangue, gordura, carniça e fedor que esta definição sugere.
Sendo assim como poderia Jesus praticar o judaísmo?
Felizmente habitava Jesus bem distante de Jerusalém i é na Galileia, onde ao invés de frequentar abatedouros infames, frequentava as sinagogas locais em que estavam sendo elaboradas as futuras cerimônias litúrgicas do talmudismo farisaico, as quais excluíam e excluem sacrifícios de sangue. De modo que ele nem imolada animais nem prestigiava tais cerimônias, exceto quando se dirigia a cidade santa de Jerusalém, o reduto dos fanáticos.
Até onde sabemos teria ido a Jerusalém uma meia dúzia de vezes na vida e em geral se alimentando de peixe e não de carne vermelha. Uma coisa é certa, se a cultura impediu-o de opor-se aos sacrifícios ou de condena-los ele jamais imolou animais ou aprovou semelhante prática.
Há por sinal uma frase sua bastante significativa, a que alguns tem atribuído um sentido anti sacrifical: "O que eu quero é compaixão e não sacrifícios."
Quanto ao mais deve ter observado os ritos simbólicos do judaísmo, não porque fosse esta religião divina, mas porque estava inserido num contexto sócio cultural judaico em que a inobservância da religião lhe traria total descrédito. Acaso seus ancestrais não puniam a ferro e fogo a irreligiosidade compreendida como simples inobservância dos ritos? Jesus no entanto manifestou-se justamente para dizer algo, tendo necessariamente de dialogar com a cultura e antes disto inserir-se nela até onde fosse possível. Neste sentido temos de dizer ainda que no ritual da sinagoga nada há que seja por si mesmo condenável. De modo que o divino Mestre bem podia observa-lo sem maiores problemas, não porque lhe fosse necessário, e sim porque lhe era conveniente.
Grosso modo, religiosamente falando, Jesus assumiu o judaísmo apenas 'pró forma' ou externamente. Jamais foi um judeu consciente, piedoso, conformista, etc em suma o rabino beócio e repetidor de tradições pintado pelos protestantes calvinistas e sectários judaizantes.
Não foi Judeu religiosamente falando. Tampouco pertenceu a igreja Cristã enquanto membro. Não tinha religião. Não tinha necessidade de religião. Fundou o Cristianismo para os homens em condição de miserabilidade ética, como quem funda um hospital, mas não internou-se nele ou seja não foi Cristão.
Fundou a Igreja Cristã, grande, antiga, episcopal, Una, Santa, Católica, Apostólica, Ortodoxa, etc Não filiou-se a ela, não era pecador, não era fiel, não buscava a santidade ou a virtude, não precisava ser iluminado.
Jesus sendo Deus eterno e homem isento de pecado transcende a própria igreja que fundou e a própria religião. A estatura do filho de Maria não cabe na Igreja, é superior, mais elevada, perfeita... A Igreja foi estabelecida para conduzir os imperfeitos a perfeição almejada: Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito.
Nem preciso dizer que com relação a moralidade 'Cristã' tomada ao judaísmo, Jesus era anti Cristão ou imoral. Jesus foi pregado na cruz justamente por ter questionado os preconceitos afirmados pela moral judaica - odinismo, machismo, adultismo, etc Ele foi um revolucionário e contestador de valores e não um repetidor idiota. "Falava como quem tinha autoridade." E ousava posicionar-se criticamente face a Torá - Eis o que foi dito aos antigos, eu porém vos digo... Exasperou os líderes judeus por acolher amorosamente todas as minorias a que desprezavam e oprimiam.
Paulo, fariseu filho de fariseu, rabino da tribo de Benjamin e pupilo de Gamaliel é que fez reverter a revolução de Jesus reintroduzindo os preconceitos judaicos: Estatolatria, machismo, homofobia, escravismo, etc No entanto, como bem percebeu Jeremy Benthan entre 'paulinismo' e 'Cristianismo' vai larga diferença. É a moral Cristã atual majoritariamente paulinista logo em maior ou menor medida rabínica, judaizante e portanto anti Cristã. Jesus não era súdito de Paulo ou Paulinista, mas inimigo das tradições hebraicas e adversário dos rabinos, os quais a todo tempo questionava.
Em que pese sua infalibilidade doutrina em termos de fé é a igreja - inclusive a Ortodoxa e Católica cuja fé integralmente professo - moral ou eticamente falível, equivocada e corrupta enquanto valhacouto de preconceitos judaicos descartados pelo Mestre Jesus. A moralidade Cristã, particularmente a moralista, puritana ou sectária não é a moral de Jesus, mas uma perversão maniqueísta.
Então que foi Jesus, e qual sua relação com o Cristianismo?
Para nós Jesus fundou historicamente uma Igreja visível comissionando os apóstolos e enviando-os com o objetivo de instruir todos os seres humanos.
E fundou-a com o objetivo de conservar a integralidade e objetividade de seus ensinamentos ou o quanto Revelou aos homens em termos de doutrina (Sobre Deus, o mundo futuro e a Igreja).
Portanto em última análise Jesus Revelou o conteúdo Ético e Doutrinal da fé a que chamamos Cristã, Católica e Ortodoxa ou episcopal. Foi aquele que Revelou os elementos do anúncio mais tarde erigidos em artigos de fé (Amana) pelos padres - sucessores dos apóstolos - e concílios.
Jesus é a fonte da fé da Igreja e dos Cristãos, o que não significa que ele mesmo tenha sido 'Cristão' enquanto fiel/membro da igreja ou mesmo religioso em sentido convencional, tal a transcendência, amplitude, grandeza e singularidade de seu vulto.
Tampouco podemos dizer que Jesus seja monopólio da Igreja Ortodoxa. A igreja não existe para dificultar o 'trabalho' mas para facilita-lo. Não restringe e excluí os que são de Cristo, antes amplia sua comunhão com ele por meio do ensino correto (integralidade doutrinal) e dos Santos e divinos sacramentos. Oferece maiores garantias quanto a Unidade de Jesus Cristo. Não é pela fé ou pela pregação que somos incorporados a Jesus Cristo mas de modo místico por sua graça, IMPERCEPTIVELMENTE. Podemos avançar sem medo e declarar que no momento mesmo em que se fez homem Jesus Cristo assumiu e incorporou a si, misticamente, todos os homens, todos os seres humanos, todos os mortais, sem consideração de crenças religiosas. Aproximou-se de todos quando assumiu nossa natureza, de modo que a igreja limita-se a potencializar e ampliar esta comunhão espiritual.
Já estava no mundo, desde toda eternidade, enquanto Espírito ou alma que o preenche. Manifestou-se visivelmente no mundo enquanto homem. Jamais esteve totalmente separado dos homens no sentido de os ter abandonado. Os homens é que dele se afastaram um tanto, precisando ser recuperados... Daí ter sofrido e morrido na cruz NÃO PARA PAGAR QUALQUER COISA OU EXPIAR mas para mostrar-se solidário e demonstrar seu imenso amor por todos. Pela manjedoura e pela cruz, de certo modo fomos todos associados e ligados a ele. Tornar essa ligação natural ainda mais íntima e sobretudo CONSCIENTE, tal a função da igreja.
Por fim só se separam da Igreja e de Cristo, aqueles que por livre iniciativa e maldade, repudiam conscientemente a doutrina da Igreja ou sua utilidade formando seitas e produzindo novas doutrinas. Estes são mil vezes piores do que aqueles que repudiam o Cristianismo ou a existência de Deus, pois falsificam o que há de mais puro, imaculado, sagrado e precioso na face da terra: A divina Revelação comunicada por Cristo, obscurecendo o caráter de Deus e subvertendo os fundamentos da Ética, e os elementos do amor, do bem, da justiça, da verdade, da honestidade, da fraternidade, da solidariedade, etc substituindo-os como já dissemos por preconceitos judaicos, mitos, fábulas e vãs moralidade repudiadas pelo próprio Mestre Jesus.
Se Jesus Cristo e seu Evangelho de Amor - em que são apresentadas a paternidade de Deus, sua infinita benevolência e sua compaixão ilimitada - são repudiadas pelos incrédulos, agnósticos, materialistas e ateus é certamente porque a mensagem deste Evangelho foi antes falsificada, adulterada, corrompida, distorcida, empanada e obscurecida pelos maus cristãos i é pelos sectários e judaizantes. Impossível é que qualquer homem repudie ou menospreze o autêntico conteúdo do Evangelho, deixando de reconhecer a sublimidade ímpar de sua ética. Se isto em acontecido é porque alguém distorceu a doutrina, posto que -
"É A ALMA HUMANA NATURALMENTE CRISTÃ." Tertuliano de Cartago
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