Dia após dia somos forçados a voltar ao tema do antigo testamento, da judaização, do fundamentalismo, do sectarismo bíblico, do calvinismo, da inspiração plenária, do 'corão cristão'... Tendo em vista a realidade social brasileira e a 'compreensão' de uma religiosidade que a um tempo apoiou ativamente um golpe de estado contra nossas instituições democráticas e que a outro busca tomar posse de nossas escolas públicas convertendo-as em máquinas de proselitismo...
Não se trata aqui de satanizar o antigo testamento.
Declarar que é o A T em sua maior parte ou quase totalidade um registro puramente humano é apenas dizer a verdade e dizer a verdade sempre será um bem.
Alias, ao contrário de alguns, nem avançaremos alegando que o A T seja mal em si mesmo. Enquanto fonte de conhecimentos históricos ou referência a uma cultura é ele bom.
Sim, caro leitor, ao contrário do que alguém poderia julgar, o antigo testamento, enquanto registro do passado humano é algo bom.
Então o que???
Não é ao antigo testamento que damos combate.
O que combatemos e denunciamos é a crença fundamentalista, protestante, pentecostal, calvinista, etc segundo a qual o A T, em sua totalidade ou em cada uma de suas partes corresponda a um registro de origem sobrenatural ou divina.
É contra a mentalidade biblicista ou judaizante que pugnamos, contra a crença supersticiosa e vã da inspiração plenária ou linear, contra s simples sugestão de que existe um 'corão' cristão de Gênesis a Apocalipse, visão predominante ou majoritária entre os protestantes brasileiros.
Para um pentecostal mediano, podemos dizer que via de regra o Novo Testamento ou o Evangelho nada é e que não há qualquer diferença significativa entre o Sermão do monte ou as Bem aventuranças e o primeiro capítulo do Gênesis ou o texto do dilúvio. É tudo uma coisa só, como que descida 'in totum' ou prontinha do alto do céu.
Claro que a consciência TRADICIONAL do Cristianismo, presa as palavras de Cristo ou ao Evangelho se rebela contra esta perspectiva grosseira e rebelar-se-a cada vez mais.
Não pode o Cristão episcopal niceno ou atanasiano admitir que as Palavras do Deus e Verbo encarnado Jesus Cristo seja em tudo igual a de quaisquer emissários, cuja condição era puramente humana. Esta doutrina da inspiração linear ou da bíblia una é boa para unitários ou arianos, para os quais Jesus é de fato um dentre muitos, mas não para atanasianos ou para os que encaram Jesus como um homem 'diferente', em que há algo a mais...
Como poderia ele ser algo a mais sem que sua palavra tivesse algo a mais?
Noutra situação social o confronto seria fastidioso e desnecessário.
Todavia num momento em que os sectários valem-se justamente do A T testamento com o objetivo de atacar ferozmente os dissidentes religiosos - Sejam papistas, espíritas ou esotéricos - além de levantar a bandeira de diversos preconceitos em pleno cenário político, a estratégia nos obriga a demolir as partes não santas ou divinas do A T e a demoli-las implacavelmente, isto pelo simples fato da 'Bíblia una' ser o coração do protestantismo e o antigo testamento a parte predileta dos sectários.
Disto decorre que o respeito supersticioso votado pela Igreja romana ao conceito acatólico de 'Bíblia una' e o endosso feito por ela em torno de tais tonterias ao invés de desarmar a crítica protestante, a tem de fato alimentado século após século. É como se a igreja de Cristo, estupidificada, colocasse ela mesmo armas a munições nas mãos de seu pior inimigo na mesma medida em que insiste a respeito da divindade do A T. Desacreditou-se apenas a Igreja e a maior prova disto é que quase toda gente simples foi conquistada pelo protestantismo e isto pelo simples fato de que ele certamente leva o antigo testamento bem mais a sério... Que o digna o iconoclasticismo...
No entanto se queremos conter este aluvião fundamentalista e teocrático temos de ir as pernas de barro do colosso e dilacera-las, temos de levar a cabo a crítica do A T, iniciada pelos próprios protestantes - liberais - e leva-la a cabo ou divulga-la. É chegado o momento em que as contemplações devem ser postas de lado e a doutrina da inspiração plenária descrita e classificada como deve ser i é como uma simples opinião teológica em nada favorável a nossa Santa fé Ortodoxa. É dogma sim, mas apenas para os protestantes na medida em que foi canonizada e santificada por seus líderes os reformadores. Nossa tradição, a tradição Católica, sendo muito mais rica e abrangente, brinda-nos com outras possibilidades bem mais condizentes com nossa fé (E nossos ícones rsrsrsrsrsrs).
Dissemos acima que o protestantismo tem levado o A T tanto mais a sério do que a igreja romana. (E a Igreja romana o tem levado tanto mais a sério do que a Igreja Ortodoxa - por isso também somos Ortodoxos). Afinal é o valhacouto das seitas judaizantes...
Onde senão no seio do protestantismo damos com as aberrações do unitarismo, sabatismo e do mortalismo???
Tal no entanto não basta, e nem de longe, para limpar a barra dos judaizantes e livra-los da justa pecha de leviandade e hipocrisia...
Pois dizer que levam o A T mais a sério do que as igrejas Católicas não equivale a dizer que o cumprem, vivem e observam em sua totalidade, como fosse uma LEI divina.
Afinal uma lei divina deve ser observada e vivida em sua totalidade.
Por isso um dos apóstolos assim se expressou: "Quem viola um dispositivo da LEI viola a lei em sua totalidade.". O que vale tanto para a lei dos antigos judeus - Caso seja tomada por lei divina - como para a LEI divina do nosso Evangelho.
Nada mais exótico do que testemunhar os comedores de carne de porco e toda este gente, escanhoada, tatuada ou com parte de seus corpos exposta, discutindo seriamente a divindade da Torá. E enquanto isso lá vai um pedaço de chouriço ou uma porção de Strogonoff guela abaixo do nosso judaizante! E come galinha a cabidela o nosso homem!
Mas cadê a refeição Kosher meu amigo???
Cadê os taliths, tefilins, franjas, túnicas, filactérios, burkas, etc???
É o protestantismo por natureza inconsequente e nem podem seus filhos discutir a validade da lei de Moisés sem que a discussão receba conotações neoplatônicas, descarnadas ou teoréticas na direção do solifideismo. Talvez devido ao inconsciente, os protestantes só se preocupem com o quanto seja teórico, descartando tudo quanto seja prático neste terreno. O que a nós Católicos sabe a conveniência ou oportunismo.
De fato mal um dissidente qualquer ousa observar que eles protestantes comem carne de porco ou ostentam seus corpos seminus na praia, já rebatem dizendo que parte da LEI de Moisés teria sido abolida.
Agora se algumas partes foram abolidas e outras não em que baseiam-se para distinguir umas das outras ou para declarar quais são e quais não são válidas??? Qual o critério ou padrão a que recorrem???
A malignidade ficará assente caso declarem que tal decisão - de distinguir as partes válidas das não válidas do A T - cabe a cada individuo, crente ou leitor da Bíblia. Dado que uma tal questão pertença a esfera da subjetividade como evitar que surjam tantas seitas quanto cabeças??? Se disser que cabe ao espírito santo não saímos do lugar e se disser que cabe a liderança da seita a que pertence só nos restará rir... O A T continuará sendo partido como um boi no açougue e cada fanático levará a peça que preferir...
Certamente a divisão foi realizada, tinha de ser realizada, mas por quem cabia, i é, pelo divino Mestre Jesus e não por qualquer outro...
Eis porque qualquer Cristão bem pode abrir as páginas do Santo Evangelho e por elas verificar que parte do A T foi reconhecida como divina por Jesus e quais foram desconsideradas.
Claro que esta decisão sobre as partes do antigo testamento só pode ser decidida por Jesus i é a luz do Santo e divino Evangelho. Portanto, ao contrário do que dizem os pastores, nós Ortodoxos temos um critério e um critério externo, objetivo e divino.
Tais as palavras: "Não cuidem que vim eu abolir a LEI. Nenhum traço ou pingo da LEI será revogado, eu vim para observar a LEI e cumprir a profecia."
Há gente tarda e imbecil que faça desta passagem cavalo de batalha... embora seja ela duma simplicidade extrema.
O amigo quer dizer que a passagem acima é de fácil compreensão?
Nem mais nem menos.
Mas como?
Observe - A expressão LEI neste contexto só pode comportar dois sentidos e não mais que dois.
Lei aqui é a TORÁ ou o pentateuco i é tudo quanto a tradição judaica atribui a Moisés ou alguma parte específica dela, no dado o Decálogo.
Ou a lei irrevogável e divina é a Torá como um todo - em cada uma de suas partes e com todos os seus incisos, normas e regulamentos - ou limitasse ao código escrito sobre as tábuas de pedra, nem mais nem menos.
Se é a Torá, já o dissemos acima, devemos viver como os judeus do século VII a C.
Se parte alguma da Torá por mínima que seja, deve ser posta em vigor, estamos obrigados a adotar a dieta judaica - distinguindo entre animais puros e impuros - os trajes judaicos, as festas judaicas, etc absolutamente tudo, sem exceção.
Conclusão: Todos os judaizantes estão condenados por pecarem contra diversos incisos da lei.
Por escanhoar a barba, por tatuar, por usar lã e linho, por comer strogonoff - Não poderás cozinhas o bezerro no leite de sua mãe - por não apedrejar os idólatras, por não enforcas os blasfemadores, por não queimar bruxas, por ir a praia, etc, etc, etc, etc
Afinal nem os amishes e menonitas, lograram o milagre de viver a integralidade da Torá e estamos aguardando o aparecimento do primeiro judaizantes coerente no seio da cristandade protestante...
Ah mas Jesus revogou este ou aquele ponto da Torá! Pois permitiu que os apóstolos comecem sem lavar as mãos... Tocou os leprosos... Ficou a sós com a mulher samaritana... Falou contra a dieta, etc
Veja sr judaizante se Jesus declarou que parte alguma da Torá podia ser ABOLIDA e em seguida aboliu algumas partes você esta insinuando que Jesus entrou em contradição consigo mesmo, que mudou de opinião ou que mentiu...
Portanto se Jesus declarou que a LEI não podia ser revogada - por ser divina e portanto eterna e imutável - e em seguida, no curso de sua pregação, desconsiderou diversas partes da Torá é justamente porque para ele essa lei eterna, irrevogável e divina não era a Torá ou a totalidade da Torá.
Mas aquela parte especifica da Torá que sempre foi observada pelos Cristãos desde a Era apostólica e durante todo curso da História, o Decálogo.
A LEI a que se refere Jesus como irrevogável e divina e cujo teor jamais criticou só pode ser o Decálogo e não qualquer outra parte.
O Decálogo é de origem divina enquanto expressão de uma LEI natural, as outras partes da Torá são se origem puramente humana, de modo que sequer foram abolidas ou revogadas - jamais tiveram validade universal - mas pura e simplesmente desconsideradas por Jesus. Devendo ser igualmente desconsideradas pelos Cristãos, pelo simples fato de não serem judeus.
Nada mais fácil do que citar levianamente o Deuteronômio contra os espíritas, esotéricos e católicos; como se fosse parte do Evangelho ou tivesse sido escrito por Jesus. Acham que o Deuteronômio foi escrito por Jesus???? ENTÃO POR QUE NÃO VIVEM O DEUTERONÔMIO EM SUA INTEGRALIDADE??? Se foi escrito por Jesus por que vocês pecam selecionando algumas passagens com que agredir os dissidentes e desprezando todas as outras??? Se o Deuteronômio é tão sagrado quanto nosso Evangelho por que vocês não o colocam em prática ao invés de profana-lo selecionando o que convém e o que não convém??? Quem são vocês para partir e selecionar a palavra de Deus ou uma instituição divina??? Claro que partindo a Torá em pedaços como um boi no açougue e escolhendo com base no 'mal me quer, bem me quer' vocês demonstram que não a levam muito a sério...
Em abono ao quanto alegamos, basta dizer que em pleno ano 170 desta Era, o autor Cristão Hegesipo na Ypoummenata declarou ter verificado - após ter visitado diversas igrejas apostólicas como Corinto e Roma - que todas essas congregações tinham por norma 'A lei e os profetas' expressão tomada ao Evangelho e que certamente não podia referir-se a integralidade da Torá, uma vez que desde o ano 70 i é uma século antes, os Cristãos e judeus seguiam regras de vida diferentes, aqueles observando a LEI moral do Decálogo e o Sermão do monte e estes apenas a totalidade da Torá. Portanto o emprego da palavra LEI por Hegesipo reflete como os cristãos do ano 170 compreendiam esta passagem do Evangelho, tomando-a não pela Torá - que não observavam vivendo como judeus - mas pelo Decálogo.
A exceção dos ebionitas, que eram judeus fanáticos, os Cristãos, advertidos pelo Salvador, jamais tentaram viver a Torá e menos ainda impo-la aos conversos do paganismo.
Somente após a canonização da bíblia una por João Calvino as massas incultas da Europa moderna conceberam a opinião monstruosa segundo a qual a Torá em sua totalidade jamais fora questionada, revogada, abolida ou desconsiderada por Jesus, aventando a possibilidade de restaura-la no contexto 'cristão' ou melhor dizendo reformado. Tal a origem do sectarismo judaizante com seus ideais precipuamente teocráticos e obscurantistas.
Cumpre advertir que de nossa parte nada temos contra a religião judaica professada e praticada por judeus i é por descendentes do suposto patriarca Abraão. Nossa questão não é contra os judeus ou sua fé. Não nos cabe julgar a fé alheia mas vivera nossa. Quanto ao povo judeu nos atemos ao que já foi decretado por Alexandre, Augusto e Constantino - São cidadãos como outros quaisquer no pelo gozo de suas liberdades, sendo-lhes defeso viver segundo suas tradições e costumes ancestrais, o que neles é digno de aplauso e louvor.
Agora que Cristãos aspirem viver sobre o costume judaico, afirma-lo como cristão e aspirar impo-lo aos outros tecendo acusações sórdidas, isto não toleramos nem toleraremos estando dispostos a vindicar o nosso Cristianismo, apoiado pelas tradições. Quanto as judaizantes, isto é aos cristãos aparentes e sectários, a estes não pouparemos por um instante, denunciando-os como incoerentes, levianos e confusos. Se eles reabriram as suturas alinhavadas por Paulo não seremos nós quem haveremos de fecha-las! Afinal professando a divindade de Cristo e a Trindade Excelsa, serão idólatras e politeistas para os verdadeiros judeus e afirmando a necessidade de vivermos a moda judaica, serão supersticiosos aos olhos dos verdadeiros Cristãos, de modo que religiosamente falando, a semelhança da sogra de Pedro, não serão coisa alguma, ficando suspensos entre a sinagoga dos infiéis (a que não pertencem) e a Igreja de Cristo. (a que tampouco pertencem).
Quanto aos verdadeiros Cristãos, que se deleitam no Evangelho, satisfazem-se no Decálogo e nas profecias referentes a futura manifestação do Verbo Jesus, recebendo-as como as únicas partes divinas ou reveladas do Antigo testamento e tendo todas as outras - com suas imoralidades, crimes, mitos, fábulas, etc - em conta de puramente humanas enquanto produto natural da cultura. Destarte não regularão suas vidas segundo a cultura dos antigos judeus mas segundo as palavras e ensinamentos de Jesus, tal a Lei dos Cristãos.
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