Em tempos de relativismo cultural falar em padrão de cultura, ao menos mais os mais ignorantes e toscos pode até parecer absurdo.
Demasiado conhecido por nós é o roteiro da superstição relativista - da Religião, a Filosofia e desta a Ética e a Cultura.
No âmbito da cultura o pregação relativista assevera que todas as culturas são iguais ou que possuem o mesmíssimo valor. Tanto a do aborígene australiano quando a Chinesa, tanto a dos halacalufes da terra do fogo quanto a russa, tanto a dos pigmeus africanos quanto a helênica, tanto as mais primitivas quanto a greco romana ou clássica.
Para os relativista trata-se de dogma sagrado e indiscutível e você não pode questionar, do contrário começam a berra: Nazista, nazista, nazista... Sem saber ou fingindo ignorar que os nazistas adotavam um critério étnico, afirmando antes de tudo e acima de tudo a suposta superioridade racial do povo germânico. Os nazistas são racistas, nós culturalistas. Pois a etnia é algo dado pela natureza e que não se pode mudar mas a cultura assimilável.
Assim para os nazistas a única solução viável é oprimir e exterminar as raças que consideram inferiores violando os direitos essenciais da pessoa humana.
Já para nós a solução é educativa e se dá na averiguação das fontes da cultura, na recuperação da parte mais nobre e elevada de nossa identidade, no resgate de um sentido, na reflexão e diálogo sobre os valores, etc
Não se trata de eliminar as culturas que se tem em conta de inferiores ou os aspectos primitivos e retrógrados de uma cultura e menos ainda de negar a quem quer que seja o direito de identificar-se com elas, mas apena e tão somente de demonstrar a desigualdade em termos de valores, de afirmar um ideal de cultura superior e de advertir a sociedade sobre a conveniência de adotar um padrão de cultura superior, voltado para a afirmação da Ética da pessoa.
Portanto já deixamos bem claro que a notação valorativa da cultura esta diretamente relacionada com a Ética ou os princípios e valores da idealidade. Assim teremos em conta de superior a matriz cultural que promova mais intensamente a pessoa humana e sua dignidade.
Não, nós não negamos o fundamento basilar da antropologia segundo o qual tudo quanto o homem produza seja cultura. O que nós questionamos é que toda a produção cultural humana, especialmente em termos de cultura imaterial, seja absolutamente igual.
Claro que esta temática nos leva de chofre ao complicadíssimo problema da cultura ocidental contemporânea e por consequência aos temas do Capitalismo e do Americanismo.
De fato a afirmação cada vez mais pronunciada do Capitalismo - e do processo de desumanização das sociedades ocidentais contemporâneas - e a expansão do americanismo com sua banalização de todos os aspectos da vida tem levado muitos críticos, até mesmo parte dos que pertencem a esquerda rosa ou moderada, a repudiar nossa civilização ou cultura como um todo i é em bloco, e consequentemente a afirmar a superioridade (de par com o relativismo rsrsrsrsrsrs) das culturas mais primitivas como a indígena, pelo simples fato de não serem tão desumanas, devastadoras e cruéis.
Até certa medida a crítica parece-nos justa e digna de ser aplaudida. Inegável que após a apostasia Ética do Ocidente - em termos de essencialidade e humanismo - adoção de um padrão materialista e economicista voltado para as necessidades artificiais e desumanas de um mercado, levaram parte da sociedade ocidental a portar-se pior do que os povos primitivos da Ásia, da África e da América. A negação e morte da Ética no Ocidente, alimentada pela ideologia positivista, acarretou um deficit tão grande neste setor da existência que nos tornamos tão grosseiros e brutais quanto nossos antepassados trogloditas. Assim os primitivos conservaram algum sentido rudimentar de ética enquanto o 'Homo economicus' perderam-na por completo e se tornaram de tal modo insensíveis que colocaram em risco sua própria existência bem como a de todo planeta.
Aplicada a civilização sobreposta que temos, a crítica é válida, bem como a veemência da revolta, pois basta dizer que as necessidades artificiais de consumo impostas pelo sistema estão a acabar com a fauna, a flora e com o próprio ambiente, ou seja, com o ar, a terra e as águas tornando tudo empesteado e insalubre. Se estamos já no antropoceno e a extinção de milhares de espécies de vegetais e animais bem como o envenenamento do ar, das águas e do solo é resultado da ação antrópica, somos os pivôs da catástrofe.
É um sistema suicida e o pior é que há pessoas decididas a mante-lo ou a oculta-lo tanto recorrendo a mentira como negando cinicamente os fatos.
Diante disto como condenar a reação extremista concentrada do outro lado ou do lado vermelho???
Agora o que direi a tantos quantos odeiam este sistema e detestam a esta cultura de morte é que não corresponde as autênticas fontes de nossa civilização.
Efetivamente nem o Capitalismo nem o Americanismo fazem parte efetiva de nossa cultura.
Então o que?
O que temos, ainda agora, é uma sobreposição anômala de culturas distintas e excludentes, assim os elementos - cada vez mais frágeis - de nossa autêntica cultura 'Ocidental', greco romana e Católica (não confundam o termo Católico com romano ou papista, e menos ainda e claro com protestante!), socrática, humanista, personalista, solidarista, justicionista, socialista, trabalhista, essencialista e sobretudo Ética e a estrutura da anti cultura protestante, individualista, capitalista e americanista elaborada a partir do século XVII. São elementos ou estruturas que jamais se fundem ou confundem levando ao conflito, a dissolução, a fragmentação, a perca das forças e a crise!
Evidentemente que nem todos estão plenamente conscientes deste conflito uma vez que não estudam o sentido ou espírito se suas próprias crenças (assim os Católicos alienados) e menos ainda as fontes mais remotas da cultura européia, em termos de princípios, de valores e enfim de Ética.
Não os fundamentos da nossa cultura não se encontram em N York, em Washington e nem mesmo em Londres, Genebra ou Wittemberg mas ao Sul, na Hélade de Sócrates, Platão e Aristóteles, na Jerusalém de Jesus, Tiago e João, na Roma de Paulo, Papiniano, Modestino e Ulpiano e por fim naquela brilhante síntese elaborada por Aquino e em seguida pelos já citados: Vitória, Soto, Bañez, Las Casas, Morus, Erasmo, Campanella, Suarez, Mariana, Bellarmino, Mably, Morelly, Lammenais... Tal o embrião do que deveria ser nossa cultura não fossem os contatos com o islã, a reforma protestante, o capitalismo, o comunismo, o anarco individualismo, o fascismo, o nazismo e todas essas aberrações monstruosas.
Mesmo porque um desvio puxa outro, o homem vai se afastando mais e mais de sua meta ideal e caindo de abismo em abismo.
É o que vem acontecendo conosco a cerca de 500 anos e eu que posso ser até reacionário (por buscar novos valores nas Idades Média e Antiga) mas que de modo algum sou conservador ou solidário para com esta nova estrutura desumana e anti humana enquistada na Civilização européia não perderei meu precioso tempo tentando justificar as cagadas do capitalismo e do americanismo, os quais tenho em conta de lixo ideológico enquanto negação sistemática de nossas raízes voltadas para o SER e não para o TER.
Tudo quando desejo explicitar que considero esta síntese cultural elaborada pelos fins da I Média ou pela nova escolástica espanhola a partir de elementos cristãos católicos, gregos e romanos como padrão de excelência justamente devido aos princípios e valores assumidos por ela.
Assim a política natural (vide artg precedente), a soberania popular, a perspectiva democrática, a afirmação do bem comum, a noção de justiça social, a relação trabalho/valor, o reconhecimento da liberdade pessoal (segundo Fustel de Coulanges ignorado pelos próprios gregos), sacralização da vida e sua dignidade, etc Lamento mas como historiador e educador não posso, sob pretexto de condenar ou combater o capitalismo, negar ou minimizar estes elementos tradicionalmente presentes na Cultura européia pelo simples fato de que o capitalismo consolidou-se repudiando-os!!!
Por isso considero vital o resgate de tais princípios e valores e um retorno crítico as fontes de nossa identidade e cultura, justamente com o objetivo de dar combate ao capitalismo. Claro que você sempre poderá partir de Marx, Lênin, Sorel ou Bakhunin numa perspectiva mais radical e iconoclástica. Mas também pode e eu posso - como Francisco Giner de Los Rios - partir de Sócrates, Platão, Aristóteles, Sêneca, Jesus, Basílio, Patrício, Aquino, Francisco de Assis, Vitória, Suarez, Mably, Lammenais, etc e elaborar um crítica não menos contundente. Agora eu tenho uma vantagem porque estou apelando - e buscando resgatar - as fontes tradicionais de nossa cultura, quiçá ainda presentes no imaginário coletivo dos povos...
E embora eu reconheça - especialmente face aos estragos feitos pelo capitalismo - que diversas culturas primitivas possuam elementos éticos dignos de aplauso e apreço, em nenhuma delas deparo com uma síntese tão bem feita como a que se me apresenta na Europa ante protestante e pré capitalista. Por isso que eu a assumo e identifico-me com ela embora não observe os críticos da anti civilização capitalista integrarem-se as sociedades ou culturas que tanto louvam e fazerem-se ianomamis ou jurunas, pigmeus, bosquimanos, halacalufes ou aborígenes como seria de se esperar por força de coerência. Criticam - e a crítica é até certo ponto válida e necessária - nosso modo de vida e valores 'in totum' mas quando ficam doentes não desprezam uma penicilina e quando viajam não recorrem a lombo de burro ou troncos de madeira...
Implica reconhecer que nosso modelo cultural ou civilizacional possui aspectos ou pontos positivos e negativos e que o ponto negativo mais saliente é a ideologia Capitalista. Agora não podemos confundir com o Capitalismo uma Sociedade que é milhares de anos anterior a ele e que por muito tempo subsistiu sem ele. É o quanto basta para demonstrar que o Capitalismo esta presente na Sociedade ou na cultura européia mas que não é a Sociedade e a cultura européia. Sim ele também produziu cultura, uma vez que esta ai há quase meio milênio. Mas não conseguiu eliminar toda cultura precedente, de que ainda há copiosos resíduos na civilização européia.
Sim, em termos de cultura sou eurocêntrico convicto e assumido, não desse eurocentrismo fajuto, fingido e hipócrita que assumiu os valores perversos do americanismo e conciliou-se com a ditadura do Capital. O americanismo corresponde a outros valores e sua matriz é a reforma protestante enquanto modelo radical de ruptura com o passado. O eurocentrismo humanista, fundamentado em nossa herança greco romana bem como no legado do Cristianismo primitivo é por natureza inconciliável com a visão americanista ou capitalista de mundo. Basta dizer que os ideais do mundo helênico giravam em torno do bem, do belo e da verdade enquanto que o ideal yankee jamais ultrapassa o vil metal ou o lucro.
A questão específica da Inglaterra será analisada no próximo artigo.
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