Dando ouvidos ao rifão popular resolvemos abrir esta sessão do Blog com chave de outro.
Sendo assim que poderíamos ter escolhido além deste clássico do terror psicológico protagonizado por Joan Crawford e Bette Davis?
Ocioso dizer que, a semelhança de diversas outras produções consagradas - E o Vento levou, Rebecca; a mulher inesquecível, Sybil, etc também aqui temos um livro como ponto de partida...
No entanto como não li o livro não posso ajuizar a respeito.
Sabido é que, via de regra, o livro supera o filme.
Todavia como 'Cada regra possui alguma exceção.' quiçá topemos aqui com a exceção.
Quem quiser leia o livro, assista o filme e registre sua experiência. É o que pretendo fazer, porém apenas após ter lido Dostoievski, Machado e Azevedo. Antes não.
Tendo ou não tendo lido o livro estamos diante duma obra de qualidade. Pelo simples calibre as estrelas.
Baby Jane por sinal tem uma História quase épica. Em torno da rivalidade existente entre ambas a protagonistas. Rivalidade muito frequentemente aquecida pela mídia.
E bastante conhecida é a anedota a respeito de Davis, quando lhe perguntaram sobre a morte da concorrente, acontecida em 1977:
Quem tem a dizer Mr Davis? "Como não se deve falar mal dos mortos digo: Quem bom que Joan Crawford está morta!"
Fato é que a princípio Crawford e Davis - As quais disputavam Estúdios, Papéis principais, Oscars e homens. - jamais haviam pensando em trabalhar juntas.
O tempo ou melhor a idade tratou de junta-las na década de 60. Afinal tendo ambas brilhado nos anos 30 e 40 passaram a enfrentar sérias dificuldades a partir dos anos 50.
Afinal não é novidade para quem quer quer seja que a semelhança da nossa TV Globo, Hollywood sempre foi implacável com as atrizes e atores maduros; pelo simples fato de privilegiar corpos bem torneados, peitos, pernas e bundas, ao invés de privilegiar o talento.
De fato poucos atores e atrizes conseguem ser escalados com regularidade a partir dos cinquenta.
E, entre nós, Elza Gomes, Zilka Salaberry, Nicete Bruno, Eva Todor, Nathalia Timberg, Irene Ravache, Laura Cardoso, Fernanda Montenegro, Oswaldo Louzada, Paulo Autran, Juca de Oliveira, Paulo Migliaccio, Sebastião Vasconcelos, Emiliano Queiroz, Umberto Magnani e Lima Duarte foram meras exceções.
Até onde nos é dado saber, mesmo uma estrela de primeira grandeza como Walmor Chagas, teve de enfrentar o ostracismo.
Em Hollywood as coisas costumam ser ainda piores.
Tanto mais velho você é e tanto mais decaído é seu corpo tanto menos chances você terá...
A ponto de podermos falar em gerontofobia ou em preconceito contra a pessoa idosa.
Quanto a atores idosos recordo-me apenas de Boris Karloff, embora não tenha certeza de que estivesse vinculado a Hollywood em seus últimos anos. Claro que Olivier e Gielgud não passaram de exceções. Quanto as mulheres apenas atrizes de primeira grandeza, do porte de uma Imelda Staunton ou de uma Fionulla Flanagan escapam a essa 'Lei de ferro'.
Também Davis e Crawford tentaram escapar a regra, alias de maneira ousada e inteligente.
Salvo engano meu a iniciativa partiu de Joan, após ter lido a obra homônima a que nos referimos - "O que aconteceu a Baby Jane." de Henry Farrell.
Intuitivamente viu-se Joan na pele de Blanche e sua grande rival na pele de Jane.
De fato as duas grandes atrizes como que encarnavam os dois personagens.
Conclusão: A identificação entre os personagens e as atrizes, bem como o projeto, não teve maiores dificuldades para encontrar Estúdio e diretor. E aquela parceria era como que uma receita para o sucesso.
Todavia, reza o fabulário Hollywoodiano que a convivência entre as velhas rivais não foi nada fácil, chegando elas a reproduzir inclusive a rivalidade Pepsi - Coca... Para além disto consta ter Davis surrado Crawford 'Sem querer' numa das cenas de agressão... E Crawford adicionado pesos de areia em seu vestido de modo a que Davis encontrasse mais dificuldade para arrasta-la noutra cena.
Apesar disto - E felizmente; para nós! - chegou Baby Jane a bom termo e, como previsto fora, converteu-se de pronto num êxito.
A ponto da impecável "Baby" i é Davis, ter sido indicada para o Oscar. O que exasperou Crawford, pelo simples fato do projeto ter partido dela...
O que mais uma vez deu plano para manga. Posto que tentou Crawford sabotar Davis...
Levando ou não o Oscar daquele ano, a interpretação de Davis tornou-se emblemática.
Sendo nossos elogios supérfluos.
Também Crawford, mesmo sem ter sido indicada, deu um banho...
Poucos são os filmes, que a exemplo de 'Baby Jane' conseguem criar um clima tão denso de 'terror psicológico'. É produção a respeito da qual se pode dizer que o sobrenatural não faz falta. Pois sabe reproduzir o autêntico terror, presente apenas na vida vivida ou entre os vivos.
Para além disso contém esta obra uma grande lição de Ética. Que só será revelada nas últimas cenas...
É filme que nos ensina a pesar bem cada uma de nossas decisões. Refletindo sobre os efeitos que podem provocar nos outros, antes de retornarem a nós mesmos, implacavelmente - A semelhança de um boomerang.
De fato o que temos em conta de pouco importante para nós mesmos sempre poderá ser impactante na vida do outro.
Resta dizer que a parceria entre as duas rivais foi produtiva a ponto de terem tido a oportunidade de repeti-la. O que certamente teria resultado em outro êxito...
Lamentavelmente não souberam as divas lidar com seus 'senões' e aproveita-la como deveriam. Indo a tentativa ao vinagre... Para azar dos fãs.
O que evoca uma das falas mais conhecidas do filme: "Então poderíamos nós ter sido amigas durante todo esse tempo?"
Talvez, caso Joan e Davis tivessem acertado os ponteiros, jamais chegassem a uma amizade sincera. Creio porém que chegariam a gravar uma série deliciosa de filmes... E, consequentemente, a avançar ainda mais na fama bem como na fortuna.
Para o azar de ambas acabaram, uma e outra, reproduzindo a arte na vida e representando Blanché e Jane até o fim de seus dias...
Ficou 'O que aconteceu a Baby Jane'. Trate portanto de assistir e de re assistir.
Tenho certeza de que apreciará.
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