domingo, 1 de agosto de 2021

Entre Cila e Caríbdis ou entre as duas Inquisições...




Décadas após ter-me deliciado, durante a mocidade, com os desenhos do Conan e do Thundarr e com os filmes da série Mad max, considero a possibilidade de que o passado venha a ser, em certa parte ou medida, nosso futuro. Na medida em que o clima deste tempo é terrivelmente sombrio... Impossível disfarçar que vivemos tempos tão calamitosos quanto aqueles que sucederam a queda do então colossal Império romano.

Certamente cogito em algo semelhante.

Não nos termos de qualquer calamidade ou catástrofe natural como a queda de um meteorito redentor... -Pois para a fauna e a flora, a destruição ou a diminuição de nossa espécie (Enquanto recusa-se ela aprender a viver.) equivaleria a uma espécie de redenção cósmica. - e sim em termos de sociedade e cultura. Algo de muito ruim se vai suceder em menos de cem anos. Colapsaremos em termos ecológicos. Ou nos haveremos com os fundamentalismos protestante e islâmico num conflito que porá fim a esta civilização decadente. O que começa errado, errado termina, exceto se nos concertemos...

Posto o islã - Que significa a decadência do Oriente. - de lado restam-nos no Ocidente a um lado não o comunismo, nem o anarquismo, nem o fascismo e quiçá nem mesmo o capitalismo, senhor de si e sustentado sobre si mesmo, mas esse fundamentalismo bíblico, protestante e sectário (Sempre de inspiração calvinista!) que vindo dos EUA mais uma vez assoma furibundo - Capitalismo crasso e conservadorismo não passam de epifenômeno deste padrão ignóbil. Eis o monstro que temos a um lado... E a outro?

A outro temos uma espécie de bloco ou de Federação cultural constituída por alguns comunistas, anarquistas e sobretudo por socialistas cirandeiros em torno do pós modernismo seja antropológico, epistemológico, ético ou estético. Via de regra essa estruturação se dá em torno das assim chamado identitarismo, embora deva eu reconhecer e afirmar que as pautas identitárias não correspondam a um mal mas a um bem em si mesmo, posto que o problema aqui - Como quase sempre. - se dá em termos excessos ou abusos quem conduzem as tais pautas ao dito sectarismo identitário, alias com intencional propósito de fragmentar o socialismo.

Lamentavelmente, pela via da diversidade podemos chegar ao relativismo absoluto ou ao sectarismo crasso. Pois como já dizia Sócrates no Cármides mesmo no campo da medicina fácil é ao especialista perder a noção do todo e difícil é manter uma visão holística. 

Parece que essa Federação pós modernista perde cada vez mais suas conexões ou aquele sentido holístico tão necessário aos socialismos. Curioso é que se torne tanto mais prepotente, arrogante, dominadora e grosseira quanto mais se torna relativista e sectária. E isto a ponto de abrigar em si os mesmos vícios próprios do fundamentalismo ou do sectarismo religioso quanto a impor seus pontos de vista. O que nos levaria a um relativismo impositivo.

Não é de hoje que esse relativismo ideológico busca afirmar-se como autoritativo.

Principiando por condenar, excomungar e anatematizar tantos quantos discordam de seus pressupostos em torno da relatividade da cultura, por meio da qual todas as culturas ficam sendo absolutamente iguais. Leitores de Asheley Montagu, longe de nós ignorar que tudo quanto o homem produz seja cultura. Outra coisa é o valor da cultura, de seus elementos, construções e constelações face a verdade da qual não abdicamos curvando-nos servilmente face as objurgatórias de um Levy Bruhl. 

Longe de nós negar a excelência cultural daquela Grécia que nos deu a um tempo a Filosofia e a outro os Primórdios da ciência, em oposição as culturas israelita e árabe que legaram a humanidade dois ou três modelos religiosos (Refiro-me ao judaísmo ANTIGO, ao islamismo sunita e ao protestantismo; não ao Cristianismo antigo, o qual tenho em conta de revelado ou transcendente!) asfixiante e opressor. Tampouco posso equiparar a cultura grega a assíria ou a hitita, pelo simples fato daquela nos ter dado o Teatro. 

Temos Suméria, Egito, Pérsia, Grécia, Roma e deste lado do Mar as culturas andinas, em especial a Incaica, cada uma delas depondo contra o dogma relativista.

Após isto só podia mesmo vir a tona a arte moderna... Com as mesmas pretensões a um lado relativistas, a outro igualitárias e sempre execráveis. 

De fato querem os modernistas e relativistas que afirmemos tudo como absolutamente igual e bom.

Não podendo suportar que ousemos discordar deles.

Choco-os portanto - E digo: Danem-se - quando digo em alto e bom som: O funk não passa de ruído ou poluição sonora. Numa palavra: Uma bosta... 

Lamentável que uma atleta brasileira se tenha apresentando ao mundo a toque de funk, apenas evidenciando a miséria que é nossa realidade musical, fruto de décadas de omissão por parte do poder público. Pois música - Só posso lamentar pelos acomodados. - como a poesia, a escultura, a pintura e tudo mais; é sim, ao menos em parte técnica. Não é apenas 'som' - Já dissemos som ou ruído não é música - mas composição ou harmonia entre notas. 

Brasil jamais foi samba de escola ou funk, coisa de cariocas, mas um agregado de ritmos, alguns de fato musicais ou melodiosos. 

O Brasil, repito, comporta diversas tendências musicais, algumas esteticamente belas e dignas, mas não o funk. Sinto mas não sou obrigado a gostar de funk porque garotas de produzem para ele... Lamento mas sequer sou obrigado a concordar que seja música. Ouso portanto levantar a voz para discordar, fugir a regra e protestar... Tenho funk e conta de feio, não aprecio tais ruídos e menos ainda tal repertório. Fujo ao dogma da moda... E repudio a imposição pós modernista. 

Não gosto de funk como não gosto do Rock pauleira e do gospel pelos mesmos motivos ontológicos. 

Composição é uma coisa e som outra.

E para mim fica o funk sendo sinônimo de vulgaridade e mau gosto.

Ponto e basta. 

Então pode discordar de mim que continuarei discordando de você. E não adianta gritar, bater o pé, xingar...

Outro o caso da perversa rede Globo promover o funk em sua famigerada dança dos famosos, promotora como é da cultura de massas e da alienação.

A Globo sempre buscou lisonjear as massas com o objetivo de aumentar ou garantir sua audiência, seus anunciantes e seu lucro. 

E por combater o Bolsonaro não se torna boazinha.

Tampouco o funk, algo tão deseducador quanto o gospel e o crentismo da Record, torna-se bom na telinha da Globo. 

Por isso a Globo pintando de funkeira me faz lembrar o tonel das Danaides. 

Pois se a um lado, combatendo o crentismo e o bolsonarismo, deita água na bilha, por outro - Apadrinhando o funk e o pós modernismo - permite que a água escorra pelo fundo...

E de em extremo em extremo ficamos estacionados no mesmíssimo lugar.

Agora pondo o funk de lado continuamos a topar com umas outras coisas por assim dizer atrozes.

Pois se por um lado certo deputado manhoso busca restabelecer a censura, sob a alegação de que a exibição de desenhos animados com mensagens esquerdistas (O problema aqui é avaliar que sejam mensagens esquerdistas, pois para os maníacos bíblicos, toda e qualquer crítica liberal ao fundamentalismo - Mesmo Darwin ou Freud rsrsrsrs - correspondem a mensagens esquerdistas!) deva ser proibida, os cirandeiros da esquerda desejam impor uma linguagem sexualmente neutra aos cidadãos por meio de decretos... O que é tão asqueroso quanto.

Fora de dúvida que nos documentos oficiais e cerimônias públicas deva constar: "Senhoras e senhores." ou ainda "Todos e todas". Ponto pacífico aqui.

Todavia por mais que odeie o homofobismo ou quaisquer preconceitos em torno de gêneros não posso concordar com a adoção de qualquer tipo de linguagem imposta pelo poder público ou pelo governo, posto que linguagem não se cria por decreto, pelo simples fato de possuir ela uma dinâmica própria.

Imaginar ou conceber impor qualquer tipo de fala ou linguagem comum num pais de analfabetos e semi analfabetos é simplesmente monstruoso. Pois mesmo numa sociedade letrada ficaria tal iniciativa fadada ao insucesso, além de dar suporte a opressão... Imaginem só criar uma inquisição literária - Em pleno século XXI.

No plano das relações humanas devem os atores sociais combinar a linguagem ou estabelecer acordos privados sem jamais apelar a legislação, exceto em caso de injúria comprovadamente intencional. Como parte da cultura a linguagem não acompanhará os decretos 'progressivas', ficando as pessoas mais velhas expressando-se como habitualmente sempre fizeram. 

Aqui ainda a dinâmica cultural fica na dependência da formação/educação. 

A tendência inquisitorial ai está no entanto - Sobretudo na tal 'cultura do cancelamento'- e não é saudável. 

Cancelar é apenas imitar o outro lado i é as seitas religiosas bíblicas fechadas ao diálogo. As quais a seu tempo haviam imitado a velha igreja romana. E tudo isto há de chegar em index e autos de fé... Exatamente como sucedeu ao protestantismo calvinista, mais sectário e fechado que a igreja romana.

Por tal caminho vão os cirandeiros e pós modernistas rotulando e boicotando pessoas ao invés de exorta-las e tentar educa-las, como faziam Sócrates ou um Paulo Freire... 

Reservemos os boicotes a estruturas com que não se pode negociar, seja ao Estado de Israel ou as Lojas Havan e Riachuelo... Boicotar pessoas é negar o livre arbítrio, desesperar da educação e furtar-se ao diálogo. Não consigo encarar as coisas por este lado exceto quanto a algumas situações pessoais e mesmo assim após detida reflexão.

O quanto observo é que não poucas vezes os cancelacionistas (Vou cognomina-los assim.) agem por capricho ou arbitrariamente, e sob quaisquer pretextos quebram pontes. O que sempre pode conduzir-nos a ações equivocadas e contra producentes e isolar-nos uns dos outros quando precisamos tolerar certas diferenças acidentais e dar as mãos uns aos outros contentando-nos com o que seja essencial e imprescindível. Antes que nos atomizemos e que nos convertamos em ilhas humanas. Mesmo porque o inimigo comum está a parde que o melhor caminho para manter-se no comando é dividir o oponente.

Eis porque não posso apoiar algo tão mal articulado e arbitrário ou mesmo caprichoso como essa tal cultura do cancelamento.

Alias nem deveria eu dar pitaco quanto a isto, exceto pelo costume de opinar sobre absolutamente tudo. Já porque mesmo apoiando - Por questão de justiça essencial! - a política das pautas identitárias, não faço parte dessa esquerda ou mesmo da direita, do centro ou de qualquer coisa que seja pós moderna. A parte de meu posicionamento social ou político o que se modo algum sou é modernista. Ideológica e ontologicamente meu campo é o extremo oposto, o do essencialismo e da afirmação quanto a existência da verdade e da objetividade. Sequer chegamos a política pois o que nos separa aqui é antropologia, a epistemologia, a gnoseologia e o quanto torna a profundidade do ser.

Opino no entanto e sobretudo porque essa aproximação entre os métodos coercitivos da teocracia e da esquerda cirandeira, face aos sábios postulados do liberalismo, assusta-me. Horroroso olhar para um lado e dar com a invasão bíblico protestante inspirada no modelo norte americano, olhar para o lado oposto e dar com a invasão pós modernista importada de uma Europa, sim de uma Europa removida de seus eixos sob os auspícios do kantismo. 

Neste plano ganhe quem ganhar perderá a cultura.

Engolida pela bíblia ou pelo relativismo crasso.

Como Ulisses e seus companheiros estamos acuados entre dois terríveis monstros: Cila e Caríbdis. Vença quem vencer quem perderá é a civilização ou a cultura.




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