segunda-feira, 17 de abril de 2017

Sobre o caráter e missão dos povos germânicos no contesto Ocidental I

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Para muitos dos homens e mulheres nascidos em meados do século IV, especialmente para os mais cultos e instruídos, aos quais não faltava pão e carne, o ano de 410 assinalou um evento dramático.

A ponto, diz Aurélius Augustinus Bispo de Hipona de por a prova a fé de muitos Cristãos. Já para o monge Jerônimo de Stridon, que era um poliglota e erudito, tratava-se de um evento cósmico que assinalava o curso dos tempos...

Parece ser verdade que as massas famintas e desesperadas, que já não obtinham pão e circo dos governantes, não sentiram muito e até aplaudiram a queda de um Império decadente, que se limitava a extorquir impostos aos poucos elementos úteis que ainda produziam. Ao invés de refletir sobre os problemas que punham em jogo a existência do secular Império, o degenerado Honório, filho de Teodósio preferia passar o tempo todo em seu palácio de verão em Ravena, acreditem! Brincando com uma galinha!

E um homem vulgar como estes ousou zombar face ao gênio Militar de um Alarico. Levando-o a fazer o que Hanibal não ousara ou seja, a invadir a cidade e eterna e pilha-la.

A população, as grande famílias senatoriais, os generais, os grandes proprietários de terra, o que ainda restava da pequena burguesia, os pequenos comerciantes, a grande massa de povo sustentada - até bem pouco tempo pela rações públicas - soldados, servos, mendigos, religiosos, etc achavam-se todos acotovelados dentro das muralha da grande metrópole do Ocidente.

Compunham, talvez, cerca de 100.000 pessoas.

Alarico referiu-se a elas como erva grossa e boa para ser cortada, embora tenha concordado em proclamar a Basílicas de S Pedro e S Paulo como refúgios invioláveis e pedido a seus soldados para que respeitassem a vida dos homens e a honra das mulheres. Apesar disto parte daqueles que não haviam conseguido chegar as Basílicas acabaram sendo massacrados pelo invasor. Proliferando do mesmo modo os estupros, inclusive de religiosas, as quais Agostinho dirige algumas de suas reflexões.

Os pagãos alegaram que a adoção da fé Cristã havia sido responsável pela queda da cidade, mas numa perspectiva magico fetichista, relacionada com a ira dos deuses antigos e não com a oposição dos Cristãos a guerra e ao escravismo, como seria ventilado por Ed Gibbons. Respondeu-lhe Paulo Orósio na História contra os pagãos alegando, numa perspectiva socrática, que os costumes da velha cidade haviam sido corrompido pelas riquezas e pelo luxo, sem no entanto referi-se explicitamente ao 'pão e circo'.

Tal o marco inicial da nova Idade.

Pois a partir de então os 'Imperadores' até Romulo Augustolo (476) não passarão de fantoches. Mantendo-se um Império de aparências, devido a força das tradições.

A partir do século V, na esteira dos vencedores Godos, diversos outros povos teutônicos fazem-se em marcha instando-se em alguma região ou província do Império romano, do que resultará a formação dos reinos bárbaros num primeiro momento, e, posteriormente a afirmação de uma ordem feudal, característica da Idade média.

Faz-se forçoso reconhecer que nem todos os povos germânicos eram iguais ou achavam-se no mesmo nível em termos de cultura. De fato alguns eram bastante civilizados ou afeitos aos costumes romanos. Assim os que se achavam mais próximos da fronteira, acompanhando o curso do Danúbio, como os Godos. Já outros eram bastante rudes e aguerridos, a exemplo dos Suevos, Saxões, Alanos, Hunos (estes mistos), Vândalos, etc 

Em alguns casos e em alguns momentos os teutônicos, a semelhança dos celtas, parecem ter se instalado pacificamente junto as antigas populações ou simplesmente ocupado o espaço existente sem maiores agravos. Tal o caso dos Godos e Francos em algumas regiões da Gália. Noutras circunstância parecem ter lavado tudo a ferro e fogo. Ao fim de diversas e sucessivas ondas humanas, a parte ocidental do Império romano achava-se quase que totalmente arruinada. E não deixa de ser esclarecedor a inexistência de estátuas clássicas que tenham chegado intactas até nós.

Cumpre reconhecer que todo povo tem suas qualidades, capacidades ou virtudes.

O baixo Império romano havia feito refluir a vida urbana e massacrados os municípios, fazendo a vida refluir para os campos e assumir novamente como dissemos no artg anterior, a forma rural. Melhor agricultor não havia que o germano, apegado ao trato da terra.

Não é que a vida rural seja essencialmente má.

O problema aqui é que perdeu-se o espírito. A cultura mais refinada caracterizada pela existência de diversas agremiações educativas como escolas, museus, bibliotecas, pinacotecas, etc desaparece por completo. Mesmo o simples letramento entra em colapso. Até as termas, hospitais, aquedutos, estradas e portos são por assim dizer arruinados. Que diremos então do espírito científico ou da pesquisa e das conquistas tecnológicas? Enfim do progresso humano e civilizacional?

É toda uma civilização que reverte ou recua; em que pese a habilidade agrícola dos germanos, ou, como decantam alguns, seu espírito disciplinado e honesto no que tange aos costumes pessoais e até comunitários (intra feudal).

Longe de nós classificar os povos germânicos recém instalados e organizados nos antigos territórios do Império como ladrões ou assassinos vulgares.

Sucede no entanto, e não há como disfarça-lo, que aquilo que tornara-se proibido pela religião Católica e pelo influxo da lei romana no seio familiar ou comunitário (feudal) jamais se tornara proibido 'extra' feudo ou 'intra' feudoS. Assim em caso de conflito ou guerra, a população do feudo vizinho poderia - e de fato era - ser assaltada e morta sem que tal fosse considerado ilegal. (Não é o que vemos hoje: assassinato proibido e guerra - ou AssassinatoS - permitida?)

Mesmo quando tal não se sucede por intervenção da igreja, congregam-se os homens, nobres ou guerreiros em miliciais e atacam a milícia do feudo vizinho. Dando largas as carnificina.

E como os feudos associam-se uns aos outros por meio de pactos juramentados, tanto de suserania quando de vassalagem, já se alastram tais conflitos por inúmeros feudos (Não foi exatamente assim que a Europa mergulho nas guerras de 1914 e 1939?) e o estado de violência se torna generalizado, dando lugar ao desordem ou ao caos.

Não bastasse tal situação, os mais ferozes dentre todos os povos germânicos, os Normandos, infernizaram as vidas de seus companheiros cristianizados e sedentarizados, por séculos a fio, entrando pelos rios e massacrando as populações a golpes de machado. O que travou o progresso do Continente ou sua recuperação, por séculos...

Esta condição relacional prevalecente entre os milhares de feudos europeus - Situados principalmente na França, na Alemanha e na Inglaterra -  existentes por exemplo nos séculos XI e XII, resultou numa orgia de duendes não menos pavorosa do que aquela que os germanófilos atribuem ao bérberes habitantes nas montanhas do Norte da África (Em especial Marrocos - século XIX) com seus razzu ou razzias. Tanto um quadro quanto outro faz vertigem, tanto o pintado pelos arabizantes quanto o pintado pelos germanófilos. O pior é que ambos são verdadeiros!

Diante disto não podemos deixar de encarar o invasor germânico do século V como um destruidor em termos de cultura greco romana e mais do que isto como um fator de discórdia, instabilidade social e atraso para a Europa medieval. Foi ele, não o Cristianismo, não a Igreja Católica e depois a romana, que tentaram civiliza-lo, que trouxe as sombras para esta sociedade.

A Igreja, em que pesem seus defeitos, que os teve - me refiro especialmente a romana emancipada no século XI - não nego, demandou não é menos verdade, ingentes esforços com o objetivo, muitas vezes estéril, de educar tais povos e de apaziguar esta sociedade por meio dos decretos baixados pelos sínodos desde o século V e mais especialmente ainda por meio da Trégua de Deus, instituição das mais louváveis que se tem notícia no Ocidente.

Por fim, quando semelhante espírito estava já reduzido ao tolerável, o papado - Já existente desde o século XI - com tato, cálculo e sabedoria invulgares, soube lançar tais hostes, de guerreiros intrépidos, contra os agressores muçulmanos, os quais jamais haviam abdicado de sua jihad iniciada cinco séculos antes. Do que resultou um imenso poder e incrível força, movidos na direção certa. Tal a organização a que chamamos 'Cruzadas' que a seu tempo contiveram a expansão muçulmana e salvaram a sociedade Ocidental e a Civilização, permitindo que assumisse formas ulteriores. As quais jamais teria chegado caso tivesse sido envolvida pelos tentáculos da teocracia corânica.

Sobre esta missão reservada aos povos germânicos, nos estenderemos no próximo artigo.

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