Após tecer tão eloquentes discursos sobre a influência determinante dos desertos e montanhas sobre o comportamento dos povos ibéricos, tudo explicando a partir daí, o teórico inglês continua, e refere que da religiosidade ou do misticismo espanhol resultou que este povo jamais deixou-se contagiar ou dominar pelo espírito científico.
Aqui a questão assume outro caráter, bem diverso do anterior. Pois toca a relação religião e espírito científico, que é, ao menos em parte, bastante complexa.
Para não baralhar ainda mais as coisas tentarei ser sucinto.
Alargarei a polêmica e me desviarei um pouco de Buckle pelo simples fato de que os protestantes costumam servir-se desonestamente dele com o intuito de declarar que sua religião é que deu origem ao espírito científico - Rematado absurdo - ou que esta mais próxima dele (Outro rematado absurdo).
Grosso modo podemos dizer que a relação aqui se põem em termos de:
- Fanatismo/fundamentalismo/misticismo ou religiosidade mágico/fetichista - Religiosidade e espírito científico
- Irreligiosidade e espírito científico
Das já citadas obras de Pogendorff resulta ser pífia a tese de uma antinomia essencial entre religiosidade e ciência.
Grande número de homens sábios conciliaram a pesquisa científica com a religiosidade sem maiores problemas fossem Ortodoxos como Medeleiev, Tesla ou Dobzhansky; romanos como Galileu, Mendel ou Lemaitre ou mesmo protestantes como Newton ou Faraday.
Por outro lado, é perfeitamente compreensível que um homem integral ou genial divida suas atenções e ações. Vivenciando além da pesquisa científica, as dimensões religiosa, ético/reflexiva, política, social, artística, etc da existência. Aparentando até mesmo dispersar-se.
Uma personalidade integral não será cientificista, não substituíra a religião pela ciência, não permitira que a pesquisa absorva toda sua vida, sendo normal até que produza menos do que um cientificista obcecado que vive apenas e exclusivamente para a ciência. As custas de além de ser irreligioso ou ateu, se estúpido em matéria de Filosofia, alienado em política, insensível em termos de ética, impermeável a sensação estética, etc Este cientificista que tanto produz, é um ser mutilado e infeliz; e não poucas vezes um neurótico. E o culto a ciência um narcótico face a complexidade da vida e do ser...
Pode até produzir mais, porém jamais questionará por exemplo o uso ou o fim de sua produção científica. E fica sendo um tipo desprezível.
Uma coisa no entanto é certa: Cientificismo é uma coisa e espírito científico ou pesquisa outra. Valor reconhecemos apenas no espírito científico, enquanto parcela da atividade humana, esta muito mais abrangente,
O cultivo da ciência é possível tanto ao irreligioso e ateu quanto ao religioso.
Assim o verdadeiro problema no que toda a religião e a ciência toca ao modelo religioso assumido pelo crente.
Se a religiosidade é Ética ou semi - deísta (Assim aqueles que acreditam apenas nos milagres de Cristo e em nenhum outro milagre posterior, questionando a ideia de intervenção divina em seu sentido ontológico, admitindo que esgotaram sua FUNCIONALIDADE e foram 'cancelados'.) ou se é mágico fetichista (logo mistica e fundamentalista). A questão aqui é sobre o objeto ou fim da religiosidade: Se é educar e promover o homem ou obter milagres, graças, intervenções sobrenaturais, etc
Claro que a forma de religiosidade que melhor condiz com o espírito científico é a que negando a intervenção de forças sobrenaturais - de caráter arbitrário ou caprichoso - assume o mundo material em sua naturalidade.
Apenas a mente naturalista esta apta para captar a realidade do mundo. A mentalidade mágico fetichista, encarando cada evento 'inexplicável' como uma quebra das leis naturais ou intervenção divina e sobrenatural, só sabe distorce-la. Por isso uma religiosidade focada antes de tudo e acima de tudo em milagres ou no conceito de um deus interventor, que não cessa de consertar a natureza é de fato incompatível com o espírito científico.
Portanto a questão aqui não toca a Deus ou a imortalidade da alma e sequer ao conceito de uma revelação divina destinada a comunicar certas verdades, inacessíveis a percepção e a razão, aos seres humanos. O cerne da questão entre fé ou religiosidade e o espirito científico diz respeito ao sentido dos milagres e a sua perpetuação indefinida.
No Catolicismo a ideia de milagres relaciona-se antes de tudo com as figuras de Jesus Cristo e seus apóstolos, a promoção de sua pessoa e a afirmação de seus ensinamentos; sempre numa perspectiva externa e funcional, jamais numa perspectiva ontológica, de um deus consertador da natureza. Donde decorre a ideia, muito presente em certos autores patrísticos e canonizada pela teologia, segundo a qual os milagres perdendo sua razão de ser após a afirmação do Catolicismo, deixaram de existir para sempre.
Não poucos dentre os Católicos mais instruídos e mesmo dentre os protestantes considerados heterodoxos por seus colegas, abraçaram esta opinião e, consequentemente; acolheram sem maiores dificuldades o espírito cientifico.
Outra porém é a questão do Catolicismo vulgar, popular ou folclórico da gente rude e do misticismo. E outra a questão do protestantismo Ortodoxo ou bíblico - este que pretende fazer-se desonestamente em cima de Buckle - visceralmente anti científico.
Nem preciso insistir que esse padrão de fé é valhacouto de inúmeros mitos judaicos - Que arvora impudentemente em dogmas 'cristãos' ???!!! - que conflitam com diversas áreas da ciência, a exemplo do mais clamoroso que é o criacionismo, matriz e fonte do pensamento fetichista.
Nada mais oposto ao pensamento científico do que a fé Bíblica 'ortodoxa', para a cujos adeptos não só a perpetuação dos milagres, como sua banalização constitui o cerne da espiritualidade.
Nada mais oposto a ciência do que um padrão agostianiano/luterano/calvinista cujo dogma da corrupção total da natureza supõem que as capacidades perceptivas e racionais do ser humano, foram completamente distorcidas.
É perfeita e absolutamente normal que o sectário protestante ou bíblico, por uma inversão monstruosa, atribua - como Montaigne (Que apesar de papista era agostiniano) a fé ou a Bíblia a única fonte confiável de conhecimento, sendo absolutamente cético quanto ao mais.
Desconfiando da ciência o fanático não terá porque cultiva-la.
O protestantismo ortodoxo tal e qual o islã incute nos homens aquele tipo de fé cega no livro - no caso antigo testamento ou a Bíblia de capa a capa - que torna os homens imprestáveis a ciência.
Já o Catolicismo tende, se bem compreendido, a concentrar a religiosidade ou a fé no Evangelho ou nas palavras de Jesus e sabido é que o Divino Mestre jamais pretendeu ministrar aulas de ciência ou fornecer explicações sobre o mundo natural.
Absolutamente compreensível que o espírito científico tenha surgido e florescido entre as cidades e comunas e pequenos principados da Itália, onde havia muito mais liberdade em todos os sentidos. Podendo se dizer o mesmo sobre a França dos séculos XVI e XVII, devido a força e rivalidade do elemento feudal.
O elemento contensor do espirito científico foi em todo lugar, seja na Inglaterra Henriquina, na Espanha ou na França do 'rei sol', a tirania, o despotismo ou o absolutismo monárquico. Na Espanha como já foi dito vinculado ao tribunal da Inquisição e portanto sumamente eficaz.
Surgiu igualmente nos países protestantes quando após o fim das grandes convulsões sociais - Que terminaram pelos idos de 1648/1650 - as seitas tiveram de tolerar umas as outras e inclusive os incrédulos. Não foi a fé protestante ortodoxa ou bíblica que fomentou ou estimulou o espírito científico mas a divisão entre as seitas, a multiplicidade de interpretações bíblicas e a confusão doutrinal vigente, das quais resultaram a primeira crise da fé e repudio a religião.
Grande número de homens sábios conciliaram a pesquisa científica com a religiosidade sem maiores problemas fossem Ortodoxos como Medeleiev, Tesla ou Dobzhansky; romanos como Galileu, Mendel ou Lemaitre ou mesmo protestantes como Newton ou Faraday.
Por outro lado, é perfeitamente compreensível que um homem integral ou genial divida suas atenções e ações. Vivenciando além da pesquisa científica, as dimensões religiosa, ético/reflexiva, política, social, artística, etc da existência. Aparentando até mesmo dispersar-se.
Uma personalidade integral não será cientificista, não substituíra a religião pela ciência, não permitira que a pesquisa absorva toda sua vida, sendo normal até que produza menos do que um cientificista obcecado que vive apenas e exclusivamente para a ciência. As custas de além de ser irreligioso ou ateu, se estúpido em matéria de Filosofia, alienado em política, insensível em termos de ética, impermeável a sensação estética, etc Este cientificista que tanto produz, é um ser mutilado e infeliz; e não poucas vezes um neurótico. E o culto a ciência um narcótico face a complexidade da vida e do ser...
Pode até produzir mais, porém jamais questionará por exemplo o uso ou o fim de sua produção científica. E fica sendo um tipo desprezível.
Uma coisa no entanto é certa: Cientificismo é uma coisa e espírito científico ou pesquisa outra. Valor reconhecemos apenas no espírito científico, enquanto parcela da atividade humana, esta muito mais abrangente,
O cultivo da ciência é possível tanto ao irreligioso e ateu quanto ao religioso.
Assim o verdadeiro problema no que toda a religião e a ciência toca ao modelo religioso assumido pelo crente.
Se a religiosidade é Ética ou semi - deísta (Assim aqueles que acreditam apenas nos milagres de Cristo e em nenhum outro milagre posterior, questionando a ideia de intervenção divina em seu sentido ontológico, admitindo que esgotaram sua FUNCIONALIDADE e foram 'cancelados'.) ou se é mágico fetichista (logo mistica e fundamentalista). A questão aqui é sobre o objeto ou fim da religiosidade: Se é educar e promover o homem ou obter milagres, graças, intervenções sobrenaturais, etc
Claro que a forma de religiosidade que melhor condiz com o espírito científico é a que negando a intervenção de forças sobrenaturais - de caráter arbitrário ou caprichoso - assume o mundo material em sua naturalidade.
Apenas a mente naturalista esta apta para captar a realidade do mundo. A mentalidade mágico fetichista, encarando cada evento 'inexplicável' como uma quebra das leis naturais ou intervenção divina e sobrenatural, só sabe distorce-la. Por isso uma religiosidade focada antes de tudo e acima de tudo em milagres ou no conceito de um deus interventor, que não cessa de consertar a natureza é de fato incompatível com o espírito científico.
Portanto a questão aqui não toca a Deus ou a imortalidade da alma e sequer ao conceito de uma revelação divina destinada a comunicar certas verdades, inacessíveis a percepção e a razão, aos seres humanos. O cerne da questão entre fé ou religiosidade e o espirito científico diz respeito ao sentido dos milagres e a sua perpetuação indefinida.
No Catolicismo a ideia de milagres relaciona-se antes de tudo com as figuras de Jesus Cristo e seus apóstolos, a promoção de sua pessoa e a afirmação de seus ensinamentos; sempre numa perspectiva externa e funcional, jamais numa perspectiva ontológica, de um deus consertador da natureza. Donde decorre a ideia, muito presente em certos autores patrísticos e canonizada pela teologia, segundo a qual os milagres perdendo sua razão de ser após a afirmação do Catolicismo, deixaram de existir para sempre.
Não poucos dentre os Católicos mais instruídos e mesmo dentre os protestantes considerados heterodoxos por seus colegas, abraçaram esta opinião e, consequentemente; acolheram sem maiores dificuldades o espírito cientifico.
Outra porém é a questão do Catolicismo vulgar, popular ou folclórico da gente rude e do misticismo. E outra a questão do protestantismo Ortodoxo ou bíblico - este que pretende fazer-se desonestamente em cima de Buckle - visceralmente anti científico.
Nem preciso insistir que esse padrão de fé é valhacouto de inúmeros mitos judaicos - Que arvora impudentemente em dogmas 'cristãos' ???!!! - que conflitam com diversas áreas da ciência, a exemplo do mais clamoroso que é o criacionismo, matriz e fonte do pensamento fetichista.
Nada mais oposto ao pensamento científico do que a fé Bíblica 'ortodoxa', para a cujos adeptos não só a perpetuação dos milagres, como sua banalização constitui o cerne da espiritualidade.
Nada mais oposto a ciência do que um padrão agostianiano/luterano/calvinista cujo dogma da corrupção total da natureza supõem que as capacidades perceptivas e racionais do ser humano, foram completamente distorcidas.
É perfeita e absolutamente normal que o sectário protestante ou bíblico, por uma inversão monstruosa, atribua - como Montaigne (Que apesar de papista era agostiniano) a fé ou a Bíblia a única fonte confiável de conhecimento, sendo absolutamente cético quanto ao mais.
Desconfiando da ciência o fanático não terá porque cultiva-la.
O protestantismo ortodoxo tal e qual o islã incute nos homens aquele tipo de fé cega no livro - no caso antigo testamento ou a Bíblia de capa a capa - que torna os homens imprestáveis a ciência.
Já o Catolicismo tende, se bem compreendido, a concentrar a religiosidade ou a fé no Evangelho ou nas palavras de Jesus e sabido é que o Divino Mestre jamais pretendeu ministrar aulas de ciência ou fornecer explicações sobre o mundo natural.
Absolutamente compreensível que o espírito científico tenha surgido e florescido entre as cidades e comunas e pequenos principados da Itália, onde havia muito mais liberdade em todos os sentidos. Podendo se dizer o mesmo sobre a França dos séculos XVI e XVII, devido a força e rivalidade do elemento feudal.
O elemento contensor do espirito científico foi em todo lugar, seja na Inglaterra Henriquina, na Espanha ou na França do 'rei sol', a tirania, o despotismo ou o absolutismo monárquico. Na Espanha como já foi dito vinculado ao tribunal da Inquisição e portanto sumamente eficaz.
Surgiu igualmente nos países protestantes quando após o fim das grandes convulsões sociais - Que terminaram pelos idos de 1648/1650 - as seitas tiveram de tolerar umas as outras e inclusive os incrédulos. Não foi a fé protestante ortodoxa ou bíblica que fomentou ou estimulou o espírito científico mas a divisão entre as seitas, a multiplicidade de interpretações bíblicas e a confusão doutrinal vigente, das quais resultaram a primeira crise da fé e repudio a religião.
O protestantismo, por defeito de fabricação, produziu e ainda produz as condições necessárias a afirmação e triunfo da incredulidade e simultaneamente a necessidade de um acordo tácito entre os beligerantes e dissidentes bíblicos. Assim temos a um lado os indiferentes em matéria de religião, deístas, etc e a outro, no decorrer do século XVIII, uma situação de relativa tolerância, a qual evidentemente não deixou de beneficiar a ciência, FEITA VIA DE REGRA, pelos incrédulos ou irreligiosos, e não pelos protestantes ortodoxos ou bíblicos, os quais, vez por outra, acusavam-nos de impiedade. Do que resultou ter Nils Celsius abraçado o papista e ido para Roma e o laboratório de Priestley ter sido quebrado por uma multidão de fanáticos enfurecidos.
Agora o fato mais curioso é que vinte de dois anos após Buckle ter editado seu livro (1879) o materialista Jakob Moleschott não apenas instalava-se em Roma - coração do romanismo - como declarava, para a eterna vergonha dos protestantes, que se sentia muito mais livre entre os italianos papistas do que entre seus confrades protestantes ortodoxos. O que viria a ser repetido ainda pelos incrédulos Ingersol e Mencken nos EUA e pelos holandeses Van Paasen e Van Loon pelos idos de 1940!!!
Pois quem fez ciência nos países protestantes a partir de 1700 foram, em geral, os irreligiosos ou indiferentes, deístas, materialistas ou ateus, prevalecendo-se da liberdade. Liberdade que as diversas seitas beligerantes, tiveram, a contragosto de manter - Uma vez que não mais podiam viver guerreando e mantando-se como no século XVI - sem conseguir monopolizar.
Os países Católicos mostraram-se duplamente infensos ao espírito da liberdade, já pelo absolutismo monárquico, já devido a presença da Inquisição. Além de si o Catolicismo deixou-se levar pela alta confiança em sua unidade ou coesão interna, mostrando-se por vezes intransigente quando não deveria te-lo sido. Do que resultou um clima não muito propício para a ciência no decorrer do século XVIII. Foi um descompasso ou desencontro bastante pernicioso para a Igreja de modo geral.
Já no que diz respeito a especificidade da cultura ibérica podemos adicionar outro fator nada desprezível.
Os Jesuítas, dando continuidade a algumas tradições medievais difusas por toda Europa, e que remontavam a antiguidade - Refiro-me ao Trivium e Quadrivium - face a cultura científica, natural ou material, atribuíram mais valor ou deram mais atenção ao cultivo da Filosofia e da poesia ou seja das letras clássicas. O que por um lado foi bom, pois se não produziram ciência em larga escala como as repúblicas vizinhas e não poucas vezes uma ciência sem consciência - Questionada desde os tempos de Sócrates - acabaram por produzir o humanismo ou uma reflexão bastante ampla e vasta a respeito do homem que ainda não foi devidamente apreciada.
Muitos tem classificado essa cultura como superficial, aparente ou livresca; no entanto esta avaliação, que peca pelo materialismo e cientificismo, não é nem um pouco justa. De modo geral, esta reflexão, que remonta a neo escolástica, mas toca até o século XX, atingido um Julian Marias e um Garcia Morente, não deixou de beneficiar amplamente a Filosofia, o Direito, as Ciências políticas e mesmo as Ciências sociais, enfim as humanidades de modo geral. É uma face da moeda que costuma ser ignorada por muitos.
Seja como fora, apesar de sua deficiência em termos de empirismo, temos de admitir que esta Espanha não só pensou o homem, como tem problematizado com ousadia e coragem e torno dos Dogmas Kantianos, canonizados e santificados pelos pós modernos.
Por outro lado não podemos negar que houve, igualmente um gigantesco empenho dedicado as letras. O qual para nós tem também seu valor. Cabendo no entanto ao leitor amigo, julgar se foi ou não excessivo. E se Portugal e Espanha fazem jus as acusações que lhe são feitas no sentido de terem alimentado uma cultura aparente ou meramente literária.
Resta-nos dar resposta a segunda questão, sobre o declínio do Império espanhol.
Os países Católicos mostraram-se duplamente infensos ao espírito da liberdade, já pelo absolutismo monárquico, já devido a presença da Inquisição. Além de si o Catolicismo deixou-se levar pela alta confiança em sua unidade ou coesão interna, mostrando-se por vezes intransigente quando não deveria te-lo sido. Do que resultou um clima não muito propício para a ciência no decorrer do século XVIII. Foi um descompasso ou desencontro bastante pernicioso para a Igreja de modo geral.
Já no que diz respeito a especificidade da cultura ibérica podemos adicionar outro fator nada desprezível.
Os Jesuítas, dando continuidade a algumas tradições medievais difusas por toda Europa, e que remontavam a antiguidade - Refiro-me ao Trivium e Quadrivium - face a cultura científica, natural ou material, atribuíram mais valor ou deram mais atenção ao cultivo da Filosofia e da poesia ou seja das letras clássicas. O que por um lado foi bom, pois se não produziram ciência em larga escala como as repúblicas vizinhas e não poucas vezes uma ciência sem consciência - Questionada desde os tempos de Sócrates - acabaram por produzir o humanismo ou uma reflexão bastante ampla e vasta a respeito do homem que ainda não foi devidamente apreciada.
Muitos tem classificado essa cultura como superficial, aparente ou livresca; no entanto esta avaliação, que peca pelo materialismo e cientificismo, não é nem um pouco justa. De modo geral, esta reflexão, que remonta a neo escolástica, mas toca até o século XX, atingido um Julian Marias e um Garcia Morente, não deixou de beneficiar amplamente a Filosofia, o Direito, as Ciências políticas e mesmo as Ciências sociais, enfim as humanidades de modo geral. É uma face da moeda que costuma ser ignorada por muitos.
Seja como fora, apesar de sua deficiência em termos de empirismo, temos de admitir que esta Espanha não só pensou o homem, como tem problematizado com ousadia e coragem e torno dos Dogmas Kantianos, canonizados e santificados pelos pós modernos.
Por outro lado não podemos negar que houve, igualmente um gigantesco empenho dedicado as letras. O qual para nós tem também seu valor. Cabendo no entanto ao leitor amigo, julgar se foi ou não excessivo. E se Portugal e Espanha fazem jus as acusações que lhe são feitas no sentido de terem alimentado uma cultura aparente ou meramente literária.
Resta-nos dar resposta a segunda questão, sobre o declínio do Império espanhol.
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