Fácil falar que o homem é incapaz de conhecer ou que não existe verdade alguma no acesso do gênero humano.
Encastelam-se os céticos no domínio da gnoseologia, e pronto...
Discursam contra a percepção, a razão, a fé, a ciência, etc E dão-se por satisfeitos.
Em geral esse tipo de conversa para por aqui.
Jamais se põem o dedo no fundo da ferida e ficamos sempre por saber o se encontra por trás dela.
Quais os pressupostos do ceticismo?
Por que o ceticismo é sinal evidente de decadência cultural?
Qual o problema dos ceticismos?
Em verdade o ceticismo comporta dois problemas bastante distintos.
O primeiro o da contradição.
Afinal o mesmo cético que postula não haver certeza alguma mostrasse não poucas vezes convencido a respeito da validade do ceticismo.
Raro é o cético plácido e sereno que dúvida de seu ceticismo.
Assim o mesmo cético que ufana duvidar de tudo parece acalentar ao menos uma certeza, a do ceticismo.
Ele conhece que é impossível conhecer!!!
E esta certo de que deva duvidar do conhecimento...
Por outro lado se também o ceticismo é duvidoso...
Por isso que a maior parte das pessoas tem abraçado o ceticismo como a única verdade existente.
Sabemos que não podemos saber!
Agora se sabemos uma coisa por que não podemos saber duas, três, quatro, cinco???
Se conhecemos o ceticismo por que não podemos conhecer outras coisas?
Se acertamos uma vez que nos impede de acertar mais vezes?
O segundo erro ou melhor, a segunda forma de incoerência, se dá quando as pessoas partem do ceticismo para formular alguma coisa...
Neste caso, embarcando no trem de Omar Kayyham, chegam a estação final do nihilismo. Escolasticamente... e concluem pena necessidade da alienação.
Ter consciência de que nomos frustrados, saber que somos incapazes de saber, conhecer o trágico de nossa existência, admite Khayyam incomoda, machuca, angústia, até a suprema desolação.
A consciência da incapacidade torna a existência insuportável, para não dizermos indecorosa.
O homem tem aspirado por sucessivas quimeras: O conhecimento de Deus ou do além túmulo pela fé na Revelação, o conhecimento de si por meio da Reflexão, o conhecimento do mundo externo por meio da experiência ou da percepção. No entanto 'Nem na fé, nem a Filosofia e nem mesmo na ciência há salvação... e tudo não passa de quimera.'
O homem aspira, acalenta, deseja conhecer; e no entanto não esta em suas mãos satisfazer semelhante demanda. A demanda que parte do íntimo de seu ser é, ela mesma, falaciosa... Queremos saber mas não podemos, abominamos a ignorância e no entanto a ignorância é nosso estado natural e invencível.
Somos seres fragmentados e em conflito com nossa condição.
Somos seres infelizes, pois temos consciência de nossa frustração.
O universo ao menos não tem consciência de coisa alguma. E a inconsciência torna-o feliz.
Bem aventurada a inconsciência.
Mal aventurada a consciência e a razão.
Esta por sinal assemelha-se mais a um verme que nos vai roendo a consciência, do que a qualquer outra coisa.
A consciência e a razão é que nos fazem sofre e tornam a existência insuportável.
Consciência e razão já não são aqueles bens desejáveis que a Filosofia antiga apresentou-nos, mas punições ou castigos com que o universo desejou abater-nos.
Diante de tão trágica e patética condição, que fazer, pergunta-se o poeta, matemático e astrônomo persa de Nishabour?
A única solução possível aqui é apagar ou obscurecer a razão.
Mas como?
Por meio do vinho ou das bebidas fortes, aconselha o poeta.
'O vinho destrói as nossas preocupações inúteis e nos concede a anulação perfeita.'
Com mais e maior razão o homem do século XXI, angustiado, sem fé ou esperança, entrega-se cada vez mais ao consumo da 'droga', isto é, da canabis, da cocaína, do craque, etc, etc, etc Havendo ainda quem cheire perfume, cola... Quem seja viciado em morfina...
Justamente com o objetivo de apagar a razão e fugir a uma realidade indesejável.
Aquele que convenceu-se de que a realidade externa a si é má ou indesejável e impossível de ser alterada só resta o suicídio ou a droga.
Embora possamos definir o termo droga em sentido lato, atribuindo-o a qualquer prazer extremo, que vicie este homem, e ao menos por alguns instantes o torne feliz.
Eis porque Khayyam aludia frequentemente ao orgasmo, ao sexo ou as carícia da mulher, como outra forma possível de fuga, face a realidade maléfica que nos envolve.
Vivesse hoje, talvez adicionasse o consumo ou a aquisição compulsiva de quaisquer coisas.
Vazio de si e aniquilado por dentro este homem tem de colocar a felicidade em qualquer coisa fora de si. Assim nos prazeres sensíveis, ainda que provisórios. Assim antes de tudo no vinho ou na droga e em seguida no sexo... ou mesmo no consumismo hodierno.
Impossibilitado de refletir ou de mergulhar na contemplação racional do universo, sempre falaciosa; mergulha este nosso homem na taça de licor, na seringa, na fricção dos órgãos sexuais ou na aquisição sucessiva de parafernália inútil... Jamais abandonado este roteiro. Ficando restrita sua existência a tais 'experiências ' arrebatadoras e intensas; ao menos enquanto é bem sucedido e pode pagar por elas.
Nem preciso dizer o que acontece com este homem perturbado quando a frustração interna que o destrói por dentro, adicionamos a pobreza, a miséria, a doença e a dor.
Chegado a tais extremos da existência conforta-lo-a o ceticismo tal e qual a posse da verdade tem confortado seus filhos?
Temos suficientes indícios para duvidar sinceramente disto.
E postular que em situações de sofrimento externo, o nihilismo conduz o homem fatalmente ao suicídio.
No passado, preso a seu leito de dores ou obrigado a suportar toda uma vida de miséria, consolava-se aquele homem com a posse da verdade, ao menos da verdade Ética.
Hoje, no entanto, após ter se deixado dominar totalmente pela descrença absoluta, que consolo lhe resta quando faltam os prazeres sensíveis e a saúde principia a declinar?
Se juntamente com o pão material, o vigor e a saúde, é negado a este homem o pão intelectual da verdade que motivações terra para prender-se a existência?
No momento em que concluir que neste plano as experiências de dor e desconforto são mais comuns do que as situações de prazer e alegria, que o fará suportar o tédio provocado pela frustração e a incapacidade?
Direi apenas que a falta de condições materiais o ceticismo não nos acrescenta nada. Potencializa, amplia e aprofunda nossa sensação de impotência. Caso não seja compensado pelo alcool, pela droga, pelo sexo ou pela ostentação de quinquilharias, o ceticismo nos desampara por completo.
Pois este homem pobre ou doente já não pode mergulhar em si mesmo em busca ou a cata de qualquer coisa. Uma vez que seu espírito é raso...
Carecendo de insumos materiais necessários a uma vida confortável e feliz, o ceticismo não nos concede qualquer espécie de equivalente espiritual.
Sem dinheiro ou melhor sem tudo quanto o dinheiro pode comprar: Vinhos, drogas, sexo, carros, jóias, etc nada resta ao cético. Absolutamente nada!
Portanto como admirar-nos de que a adesão ao ceticismo, extermine todas as esperanças acalentadas pelos mais humildes, e conduza-os a destruição de si mesmos???
Para os ricos ou remediados, ao menos por algum tempo, pode o ceticismo ser interessante, digo suportável...
No entanto que vantagem oferece ao homem comum?
Na medida em que nada espera, o cético pobre ou enfermo, desesperando de tudo, acaba, em não poucas situações, atentando contra a farsa ou tragicomédia da vida...
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