quinta-feira, 27 de abril de 2017

A ideologia de Pedro Loujine e o 'Dar metade da capa a quem pedir'

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Não poucas vezes a alta literatura brinda-nos com a feliz oportunidade de refletir sobre diversos assuntos quais sejam religião, sociedade, economia, política, etc

Autores há cujas páginas oferecem-nos a possibilidade de abordar as mais variadas áreas do conhecimento humano. Tal a vastidão e profundeza de suas obras...

Felizmente escritores há, que a semelhança de Midas, tudo quanto tocam convertem em ouro fino e precioso.

Que dizer então se o próprio tema é de elevado quilate?

Assim Machado de Assis e Lima Barreto entre nós brasileiros. Eça entre os lusitanos. Flaubert, Balzac e Mauriac entre os franceses. Dickens, Swift e Defoe entre os ingleses. Os dois Sinclair (Upton Beal e Lewis) Melville e Jakc London nos EUA. Tolstoi e Dostoevsky entre os russo; mas, dentre todos os escritores este último. Entre os românticos: Swell, Bronte, Austen e Stowe. E entre os históricos Watari, Graves e Gore Vidal. Tais os clássicos, dentre os clássicos. Mas leiam Também Edgard Allan Poe. 

Era o predileto de Nietzsche e também de Freud com os quais aqui, estou de pleno acordo.

Preciso dizer que a acuidade psicológica do mestre russo é inexcedível?

Alias sendo 'Épico' por natureza e certamente tolstoiano, não posso deixar de curvar-me face ao moderno mestre universal da tragédia, e em cujas obras topamos com aquele sentido trágico tão peculiar a humana existência, tão patético e tão marcante.

A propósito de qual seja sua obra prima há variedade de opiniões. Assim uns são pelos irmãos Karamazov, uns pelas notas do subterrâneo, alguns por recordações da casa dos mortos, havendo ainda quem seja pelo grande inquisidor ou pelo idiota. A maioria dos críticos no entanto parecer ser por Crime e castigo, obra cujo lançamento acabou de completar século e meio no ano passado uma vez que foi publicada em 1866, no Diário russo, uma publicação mensal.

Uma coisa no entanto é certa - Ao ler qualquer escritor busque uma tradução que reporte ao original e não uma tradução de tradução.

Assim quanto a Crime e castigo não faça regateios e se possível for adquira a tradução feita por Pedro Petrovitch em 1930 e publicada pela Editora Americana. É integra, literal, absolutamente fiel, em que pesem ligeiros errinhos quanto ao vernáculo i é ao português, devido quiçá a edição. Há alguns dias lí um anúncio em que pediam trezentos reais por uma delas. Direi que se trata de um investimento...

Se puder ler antes ou se já leu "Recordações da casa dos mortos" ou "Memórias do sub solo" melhor. Delicie-se então.

Delicie-se porque aquilo é um desfolhar da alma humana, tocando a suas fibras mais íntimas.

Os períodos são imensos, gigantescos, colossais... Fazendo jus a complexidade do objeto.

É uma introspecção após a outra:

"Ignoro assim quais sejam as causas mais remotas a que aludi; porém o amigo deve conhece-las. É homem inteligente e sem dúvida deve já ter analisado a si mesmo."
Analise-se e se reconhecerá em algum de seus personagens seja Raskolnikoff, Razoumikhine, Nastasia...
Quando a mim, neste pequeno artigo, desejo focalizar o Pedro Petrovitch Loujine, noivo de Dounia, futuro genro de Dna Pulqueria e cunhado de Raskol...
Pretendo na verdade focalizar um dos 'discursos' de Pedro Loujine assente a pg 156 (e sg) da citada tradução.

A qual vale a pena reproduzir:

"Não, isto não é um lugar comum! Se me disserem: "Ama teu próximo." e eu queira realizar este conselho, que resultará daí? Respondeu Loujine. Rasgo minha capa e dou metade ao próximo e? Ficamos ambos si - nus... Assim a ciência, a seu lado, mandam-me atender somente a minha pessoa, já que tudo neste mundo baseia-se no interesse pessoal. Aquele que segue esta doutrina, cuida convenientemente de seus próprios interesses e fica com a capa inteira para si. Acrescenta a economia política que tanto mais sólida e feliz será uma sociedade qualquer, quanto maior for o número de fortunas particulares ou de capas inteiras dentro dela mesma. Logo trabalhando apenas para mim, trabalho, pela mesma razão, para todos os outros, do que resulta vir meu próximo a receber mais do que a metade de uma capa; e isto não a merce de liberalidades individuais; mas em consequência de um progresso geral. A ideia se me parece bastante simples; infelizmente levou muito tempo para propagar-se e suplantar a quimera e o devaneio; e no entanto não me parece que seja necessária uma inteligência acurada para compreende-la." 
Já a primeira vista percebemos que se trata de um parágrafo prenhe de considerações ou teorias religiosas, filosóficas, sociológicas...

Há coisa que se explorar ai.

Arqueologia para se fazer.

Ossos para desenterrar.

E hoje, a semelhança dos pós modernos - Pois não há quem erre sempre e apenas erre - vou iniciar minha análise de ponta cabeça ou começando pelo fim.

Quem não compreende o enunciado acima, no caso Jesus e os Cristãos (Especialmente os Católicos ou Ortodoxos) é perfeito idiota. Pois não é necessário ser um gênio ou ter um Q I elevado para atinar com sua 'excelência'. Merecendo o conceito de alteridade ou empatia ser lançado ao mundo das fábulas ou quimeras...

Noutras palavras: Amar o próximo, identificar-se com ele, denotar qualquer nível de sensibilidade, ser solidário, etc Não passa de tolice!

Por cerca de vinte séculos ou de dois mil anos tem este planeta, em sua maior parte, sido povoado por uma imensa cambada de estúpidos ludibriados por um galileu tosco de nome Jesus. O qual ao invés de ensinar-nos a ignorar o próximo, ensinou-nos a ama-lo. Mas que pateta esse galileu... Como demoraram tanto para crucificar um charlatão desses?

Todavia como não podia a verdadeira luz permanecer encoberta e posta debaixo da cama ou da mesa, em algum momento da História teve ela de brilhar.

Acontece que apesar da patética trivialidade enunciada pelo autor a luz só veio mesmo a brilhar com todo seu esplendor a partir do século XIX.

Mas onde?

Em que espaço privilegiado pairou tão fulgurante luz?

"Como nós russos nos deixamos fascinar por opiniões alheias."
Bem se vê por ai, que a luz não surgiu lá na pobre Rússia e nos confins da América Latina... Paragens habitadas exclusivamente por bestas... Não é assim?

Divino Dosto dai-nos tua luz?

"Sim. Por que razões haveria ele de emprestar se sabe que o senhor não o paga? Por compaixão? Mas Lébéziatnikoff, apóstolo das ideias novas, explicou-nos há dias que atualmente é a compaixão condenada pela ciência, e que é esta a doutrina corrente lá na Inglaterra, onde a economia política é o que o senhor bem sabe." p 17

Bingo! A luz resplandeceu em Albion, digo na Inglaterra ou Grã Bretanha e iluminou o mundo espancando as trevas do Evangelho e do amor... Coisa e gente parva e sem instrução.

O livro é de 1866. Passando-se a cena no mesmo no ou, quiçá, no ano anterior, 1865.

Vejamos então que se esta passando em 'Merry England' a esse tempo...

Temos a "Origem das espécies" publicada pelo grande Darwin em 58. Mas... Até ai tudo bem, Darwin, jamais e até o fim da vida, ousou aplicar a doutrina da seleção natural a organização das sociedades humanas. Não era Darwin darwinista social, pois o que ele pretendia explicar por meio da seleção natural era a evolução dos seres vivos em termos biológicos.

No entanto desde 1862 ou mesmo antes Herbert Spencer (Especialmente no "Sistema de Filosofia sintética") divulgava já suas teses sobre o Darwinismo social (A expressão propriamente dita viria a ser cunhada mais de meio século depois) distorcendo o pensamento do naturalista evolucionário. E cunhando termos inexatos como o 'triunfo do mais forte', enquanto para Darwin o mais apto não era necessariamente o mais forte, mas aquele que possuía um aparelho ou instrumental físico mais sofisticado.

Mesmo antes de Spencer alguns pensadores ingleses como Benthan haviam já esposado uma ética utilitarista. Ideia retomada e reformulada por Stuart Mill num sentido mais social.

Nietzsche viria a tonar-se porta voz de todas essas ideias vinte anos mais tarde. Delas resultando a doutrina do super homem, para o qual a ideia de compaixão para com os fracos, ineptos ou desajustados socialmente falando, é uma aberração.

Nem podemos nos compadecer daqueles que a dinâmica social marcou com o insucesso mas consentir que sejam aniquilados pela dor sem soltar um suspiro sequer!

Não se trata aqui de aniquilar ou de exterminar como queriam os nazistas (Os quais deram um passo mais a frente) mas apenas e tão somente de não se compadecer, de não interferir, de não tentar minorar ou suavizar a condição daqueles que foram vencidos pela existência.

Tal a doutrina formulada pelos ingleses em seus círculos sociais pelo idos de 1860, e a qual alude Pedro Loujine.
Continua -









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