domingo, 19 de outubro de 2025

Um aparte> A questão do conforto, da miséria e do crescimento populacional na polêmica Malthus\Godwin

Antes de nos posicionarmos face a invasão da Europa pelos jihadistas quero examinar tanto mais de perto a questão dos fatores que levam ao aumento, estabilização e diminuição da população, partindo da polêmica Malthus X Godwin, a qual tenho como um marco da idade contemporânea.

Advertindo desde já que se trata de um tema bastante polêmico e complexo uma vez que não temos como investigar todas as invariantes e variantes no curso do tempo.

Ao tempo que Godwin editava suas publicações defendendo a tese do bem estar social ou de máximo bem estar para o maior número possível de pessoas, Malthus alegava que uma Sociedade de bem estar estimularia o aumento da população, agravando o problema da busca pelo alimento, ou, como diríamos hoje, o problema do espaço e das relações com o meio ambiente.

Outros sociólogos por sinal, apontaram como problema estrutural de base, nos domínios da economia, o crescimento acelerado da população. O que me parece bastante exato. Pois nem temos como fazer uma distribuição satisfatória da terra enquanto a população cresce desmesuradamente... O que demandaria sucessivas reformas agrárias ou partições. Sendo assim, antes de pensar na divisão da terra deveríamos pensar na contenção do crescimento populacional. 

O que, de acordo com Malthus desestimularia ou travaria o crescimento populacional acelerado seriam justamente as condições sociais adversas, ou seja, catástrofes naturais, epidemias, guerras, etc 

No entanto, a exceção das catástrofes naturais, que eram e ainda são inevitáveis, os demais fatores mencionados, como a guerra e as epidemias, tal e qual a miséria e as injustiças sociais, estavam na mira de reformadores sociais como Godwin, os quais defendiam sua eliminação ou atenuação, e, a adoção de um modelo de Bem estar generalizado. 

De fato o advento da imunização ou da vacina, bem como a afirmação dos direitos inerentes a pessoa humana tendiam a diminuir sensivelmente tanto a mortalidade infantil quanto a mortalidade adulta (Decorrente em parte das guerras). O que tendia a tornar-se ainda mais efetivo a partir dos programas de assistência alimentar, afirmação dos direitos trabalhistas e redução da miséria. 

O que para Malthus, repito, estimularia a procriação e, consequentemente o crescimento populacional. O qual acabaria por determinar sucessivas e futuras crises alimentares. 

Importante considerar que os darwinistas sociais receberam e aprimoraram os argumentos apresentados inicialmente por Malthus e torno das mazelas sociais enquanto formas naturais e seguras de controle populacional. Até converter tal argumentação em ferramenta ideológica destinada a dar combate as reformas socais destinadas a implementar o 'Bem estar'. 

Havendo dentre eles quem ainda encare a guerra e as calamidades naturais como males necessários tendo em vista o equilíbrio populacional. 

Naturalmente que a projeção de um equilíbrio econômico ou de uma situação de bem estar numa realidade de crescimento populacional é absurda. E que a primeira coisa a ser feita aqui é controlar ou limitar o crescimento populacional da humanidade.

O que nos leva a investigar os fatores naturais e sociais que estimulam o crescimento da população. E portanto a polêmica Malthus X Godwin.

Pois bem - Respondeu Godwin a Malthus (Num contesto anterior ao surgimento do que cognominamos anti concepcionais.) alegando que a afirmação do bem estar social através da erradicação ou da diminuição da miséria resultaria no desfrute de uma instrução de qualidade e portanto numa assunção de consciência, a qual implicando na fruição de prazeres tanto mais refinados, sejam intelectuais ou estéticos, redundariam na contenção do prazer sexual e enfim na estabilização ou na diminuição do crescimento populacional.

De algum modo ou maneira concluiu Godwin - Em oposição a Malthus. - que a exploração, a miséria e a ignorância estimulando a carga sexual humana como uma espécie de válvula de escape, potencializavam o crescimento populacional. E que o progresso da civilização em termos de bem estar, criando condições para a fruição dos prazeres classificados como imateriais, implicaria numa redução da carga sexual e consequentemente na contenção do crescimento populacional. E a argumentação de Godwin parece ser psicologicamente atilada, senão verdadeira.

Que as condições econômicas adversas, como a miséria e a ignorância estimulem a libido ou a sexualidade me parece mais do que simples sugestão. Pois não me parece que as massas incultas sejam capazes de racionalizar ou de raciocinar em tais condições. Portanto a proliferação da miséria, associada a paz social e a oferta de vacinas e suprimentos alimentares é que me parece desastrosa - E se algo deve ser erradicado aqui, parece-me que deva ser a ignorância e a miséria.

Ao menos quanto a contemporaneidade ou as sociedades pós anti concepcionais, parece que as elites econômicas e intelectuais tenham chegado ao que chamamos de estabilidade ou gerado menos filhos, e que o crescimento parta quase sempre dos setores mais baixos - Daí a palavra> Proletariado, os que fazem filhos, muitos filhos. 

E embora não o possamos demonstrar, parece que, por razões óbvias, sempre tenha sido assim no curso da História ou seja, que as elites econômicas e intelectuais tenham chegado a estabilidade mesmo antes que os anti concepcionais tenha sido inventados e oportunizados.

Portanto tudo parece validar a sugestão indicada por Godwin, exceto é claro quanto as calamidades naturais, guerras e vacinas. Quer dizer isso que a falta de reformas sociais ou de bem estar o mesmo 
povo contemplado com vacinas e suprimentos alimentares poderia ser obrigado pelo Estado ou por força da lei a fazer uso de métodos contraceptivos. Embora seja eu pelas reformas sociais ou pela implantação do bem estar não posso deixar de concordar - Tendo em vista a redução do espaço natural ou ecológico. - que o tempo urge e que a imposição do controle de natalidade seja um ajuste aceitável mesmo quando não seja ideal.

Absurda a tese da igreja romana, em torno de um controle voluntário, natural ou racional por parte das massas desumanizadas. Como esperar a afirmação da racionalidade ou do heroísmo por parte de pessoas criadas em condições adversas e as quais foi oferecida uma educação precária... Não se trata aqui de negar que a graça do Cristo venha em socorro da natureza e sim de afirmar que a natureza humana não só pode como deve ser ela mesma bem formada e preparada tendo em vista os socorros sobrenaturais da divina graça. A maneira como se concebe a graça aqui, excluindo a livre vontade ou o preparo social da natureza é fetichista, mágica e inaceitável.

Consequentemente só podemos pensar no remendo do controle populacional imposto por lei e não nos podemos, de forma alguma, opor a ele. Do contrário estaremos colaborando com a destruição do mundo natural ou com a extinção das espécies numa realidade em que a humanidade reivindica mais e mais espaço para produzir seus alimentos. Caso queiramos preservar algum espaço para as demais formas de vida é necessário chegar a ideia de contenção populacional.

Resta-nos abordar aqui uma outra questão ventilada pelos sociólogos que é a da diminuição de certos grupos humanos em situações sociais adversas como domínio, conquista, perseguição, etc

O quanto podemos dizer sobre isto é que as situações de controle político\econômico e domínio cultural por parte de um grupo maior sobre grupos minoritários tende a reduzir o crescimento dos grupos minoritários, quiçá por deliberação calculada tendo em vista as situações de opressão e a falta de esperança. O que implicaria a fixação de um tipo de atitude psicológica generalizada que se torna social, a qual é produzida pela insegurança e pela angústia generalizadas. 

Portanto o que temos aqui, enquanto elementos causais não são a miséria absoluta ou a ignorância porém a sensação de decadência, a dominação cultural e o controle social arbitrário, associados a total desesperança quanto a algum tipo de emancipação futura.




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