sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Ainda o fascismo e seus problemas

Ainda a propósito da unidade social e da cessação do conflito entre burguesia e proletariado (Não inventado por Marx mas constatado por Sismondi de Sismondi.), provocado pela ambição descontrolada dos patrões, voltou o fascismo, seu olhar - mais uma vez, para o passado.

E a ideia, advinda do Ariston Metron e da Mediocritas aurea foi tentar ampliar a classe média. O que já havia sido sugerido por Defoe e Swift na Inglaterra do século XVIII. E fica posto o ideário: Reduzir a distância entre os extremos da alta fortuna e da miséria, interferindo politicamente tendo em vista a expansão da classe média.

Como se vê, o que temos aqui, foge definitivamente ao Marxismo ou  Comunismo. O qual aposta no avanço do capitalismo, no recrudescimento do conflito e no papel heroico do proletariado tendo em vista a tomada do poder.

Aqui, a classe média é encarada como entidade pequeno burguesa, que serve como uma espécie de mola destinada a aliviar a tensão do conflito. É de fato encarada como uma vilã contra revolucionária por estar na contra partida do processo e deve ser (Talvez com um empurraozinho) engolida ou abatida por ele. 

Assim o programa fascista, que supõe a atenuação do conflito pela ampliação dessa classe por meio de intervenções restritivas (As assim chamadas Reformas.) face as ambições do mercado é avaliado como algo essencialmente maligno.

De fato avaliando o protocolo fascista (Relacionado aqui com o protocolo social democrata.) como reformista, os líderes comunistas só podem encara-lo como um retorno indesejável ao passado, como um saudosismo ou ainda como algo essencialmente reacionário em oposição a noção linear de progresso legada pelo positivismo.

É como se a orientação fascista fosse capaz de impedir ou de atrasar a tão sonhada revolução ao atenuar o conflito. Daí o ódio irascível.

O que nos ajuda a entender uma dinâmica contemporânea em que, paradoxalmente, os comunistas aliam-se aos liberais extremados contra quaisquer Reformas propostas pelos reformistas ou pelo centro, se que lhes importe a condição das pessoas, uma vez que a meta suprema é a Revolução.

E é justamente a percepção dessa cosmovisão, assustadora, devido a sua insensibilidade ou crueldade, que tem afastado o povo do comunismo e não poucas vezes aproximado-o do fascismo. Afinal se é algo que o povo não quer ou deseja é o avanço do protocolo Neo liberal. Em parte devido a cultura cristã católica, o povo aspira, em certa medida, pela paz e não por qualquer tipo de revolução.

E no entanto esse mesmo fascismo, cuja proposta no campo da economia me parece interessante, aproxima-se a outro lado desse mesmo comunismo truculento, da abominação nazista e da monstruosidade islâmica e aparta-se tanto do anarquismo quanto do liberalismo político ou da democracia, a qual chega encarar com uma corrupção.

No campo da autoridade ou do poder político é o fascismo liberticida, despótico, ditatorial, tirânico, totalitário e repressor... até estatolatria paga ou o culto cego ao líder.

É ideologicamente irracionalista e agostiniano... sem dúvida que é. Desconfia do potencial da razão, lança dúvidas quanto a liberdade e encara os humanos como 'lobos' (Sic) vorazes. O que sabe o "Leviata" de Hobbes. 

Por onde toca ao militarismo e assume um aspecto anti humanista. Assume posturas como o critério da força e a obediência cega, renovando o choque entre Trasímaco e Sócrates, este partidário de uma racionalidade crítica, que levou-o a desobedecer, ao invés de cometer uma injustiça, e eliminar Leão de Égina.

Essa resistência mecânico formal a ordem dada, em nome de  princípios éticos ou direitos inerentes é inaceitável do ponto de vista do fascismo, o que desvela parte de seu espírito.

Curioso que, partindo do fascismo, os anarquistas não se tenham dado conta que o irracionalismo, via de regra (E com a mesma intensidade que os maniqueismos.) tem servido de apoio ao despotismo. Uma vez que o exercício do livre arbítrio está conectado a capacidade racional.

Sugere o irracionalismo, que sendo o ser humano incapaz de avaliar ou refletir é, consequentemente, incapaz de deliberar/decidir. Devendo ser tutorado ou controlado pela autoridade arbitrária sancionada pela Tradição.

Naturalmente que os alunos de Sócrates e os seguidores de Jesus não podem concordar com os teóricos do fascismo, pelo simples fato de afirmarem decididamente tanto a capacidade racional como a vontade livre dos seres humanos.

A partir daí, forma-se uma outra cosmovisão, posta para a afirmação de direitos essenciais numa realidade democrática ou cidadã. E uma oposição marcada ao ideário fascista, o qual, em seu conjunto, só podemos classificar como mais um anti humanismo e enfim como uma cultura de morte.

Enfim não acreditamos que a Redenção social parta da submissão passiva ou acrítica a uma autoridade caprichosa e a isso damos o nome que merece: Escravidão ou servilismo. E não menos que um anarquista qualquer repudiamos a ela.

De fato não nos resta qualquer ditadura: Dos líderes religiosos (Como Calvino), dos políticos (O Diretório), do proletariado, dos cientistas, dos militares... De esquerda, de direita, de centro... Pois somos filhos daquela liberdade que tem por berço o Evangelho. 

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