domingo, 12 de outubro de 2025

A ambiguidade conservadora - Conservar o que...

Leio bastante material conservador de vária procedência.

Assim como leio bastante material anarquista, comunista, liberal, etc

Busco tudo analisar criticamente e reter o que é proveitoso.

Naturalmente que não me encaixo em nenhuma dessas caixinhas, quadrados ou jaulas mentais.

Folgo não pertencer a qualquer desses sistemas que se me parecem mais bulas de medicamento ou receitas de bolo.

Tampouco sou um irracionalista sincrético, que busca conciliar, por exemplo, a liberdade total do mercado com a proteção a natureza e tenho meu lado: O da natureza e o do bem comum ou da justiça social. Simples assim. 

De fato reconheço a mim mesmo como 'socialista' heterodoxo - Religioso, ético, humanista, etc alinhado com a 'Social democracia' ou com o 'Bem estar social"... Isto é com o 'Socialismo pequeno burguês', hostilizado pelo senhor Marx e comprometido com o liberalismo político ou com o que chamamos democracia - Embora eu mesmo aspire por uma democracia cada vez mais direta ou popular, enfim por uma policracia.

Tanto pior quanto a questão das moralidades. Conservador quanto a fé, os dogmas ou mistérios de Jesus Cristo, a liturgia, etc E, mutabilista e objetivista - Logo Socrático! - quanto é Ética. Sou progressista quanto a moral ou os costumes (Sempre diferenciados e relativos a cada grupo social.) e adversário marcado de qualquer modelo conservador nessa área, assim de qualquer moralismo e particularmente do puritanismo, o qual identifico com o farisaísmo hipócrita fustigado pelo divino Mestre Jesus.

Se ser conservador é ser moralista embiocado ou fariseu puritano, estamos em campos não apenas diversos mais opostos.

Alias conservador em que ou com relação a que... Porque já disse que sou conservador, ao menos em algumas áreas... O termo como se vê é ambíguo e confusionista. 

Conservador 'in totum'... Tão utópico quanto comunismo ou anarquismo - Alias, monstruosamente absurdo. No mínimo clamoroso defeito em termos de conhecimento histórico, porquanto sociedades não são múmias ou animais empalhados, eternamente envolvidos em estreitas faixas. Pelo contrário, todas as culturas e sociedades são marcadas por um grau maior ou menor de dinamismo. Sociedade imutável e fixa é coisa que não existe...

Portanto conservador onde e com relação ao que...

Que se quer conservar...

Se Hildebrand, com razão, apontou os termos direita e esquerda como ambiguos e confusionistas, tenho que o termo conservador o seja ainda mais ou em grau maior.

Alias prefiro os termos socialista, progressista, reacionário e liberal, quiçá com algum adendo. Assim, repito, sou socialista 'heterodoxo', progressista em moralidades, reacionário em termos de cultura, liberal em política, conservador quanto a fé, a Ética e a Estética, enfim, segundo meus críticos uma salada, pois sendo crítico devo ser eclético e não sectário. 

Por isso defino os conceitos e suas áreas ou seus limites: Não sou liberal em economia, como não sou comunista quanto ao socialismo ou progressista\relativista quanto a Ética ou a Estética, e menos ainda moderno ou contemporâneo quanto a cultura - Pois no âmbito das moralidades, dos costumes, da cultura, etc, desde que não haja choque com o Evangelho ou as palavras de Jesus Cristo, sou greco romano... 

Daí - Conservador onde e com relação ao que...

Pois ser conservador na Inglaterra ou nos EUA implica conservar esse modelo podre chamado capitalismo... Embora Scruton e outros se tenham aproximado cada vez mais de formas comunais e campesinas, com acentos reacionários que tocam ao ruralismo e ao primitivismo. A mesma evolução experimentada pelo ilustre professor tomista brasileiro Jorge Boaventura, autor bastante querido dos militares e muito presente na BIBLEX. 

Alias a tendência e os acentos são comuns em diversos graus quanto a um paulatino afastamento do liberalismo econômico e uma aproximação dos socialismos não totalitários, religiosos e heterodoxos do passado - Nada que me venha surpreender. 

No entanto ao menos para alguns autores e para os leitores brasileiros 'médios' o conservadorismo anglo saxão deve ser encarado como em termos de um éthos social recente e portanto em termos de capitalismo, urbanização e avanço ou progresso técnico e econômico. Ainda quando uma de suas referências, J Stuart Mill tenha postulado a doutrina da 'Economia estacionária' e se oposto a mística cristã secularizada em torno do progresso ilimitado.

Quanto a este conservadorismo boçal e de origem protestante (Elemento típico do americanismo) que busca associar o puritanismo, o moralismo ou o fixismo moral com um liberalismo econômico acelerado e a mística do eterno progresso, só posso sentir infinito desprezo, daquele que se sente por tudo quanto seja estúpido ou imbecil. Pois é unir o inútil com o ocioso ou o ruim com o desagradável e, inverter a ordem do verdadeiro progresso, colocando imobilidade onde deve haver mobilidade e mobilidade onde deve haver menos mobilidade ou imobilidade. 

Mas é com isso mesmo que nos deparamos no Brasil, via de regra admirador e reprodutor da cultura Yankee, mormente após os avanços do protestantismo.

Outro o caso de um conservadorismo crítico e limitado posto num pais europeu latino ou de cultura greco romana, na Rússia ou no Brasil, tendo em vista sua cultura, suas tradições, suas raízes, sua identidade, etc Embora eu prefira o termo reacionário.

Naturalmente que não estou me referindo ao escravismo ou ao machismo por exemplo. 

Posso no entanto - E ouso faze-lo - mencionar certos aspectos interessantes e dignos de nosso passado como dignos de serem recuperados: A fé e a liturgia da igreja romana (Anterior ao Vaticano II), as organizações e festas populares (Reisado, Bandeira, festas juninas, etc), o apreço pela lingua pátria e suas referências clássicas, o resgate de nossa musicalidade ancestral (O sertanejo caipira, o samba bahiano, a guarânia, a toada, etc), a retomada de certos hábitos alimentares, o ruralismo, o sentido comunal, a doutrina social da igreja romana, etc

Sem querer dar uma de Policarpo Quaresma os brasileiros precisam sim aprender a valorizar o que é seu, suas tradições, suas raízes, sua identidade cultural. Não estou dizendo aqui que se deva deixar de beber Coca cola ou mesmo de comer sanduíche... Julgo no entanto que esse culto ao MacDonalds, ao Rock, ao jeans e a tudo quanto venha dos EUA deva ser analisado criticamente - Pois já estão os pastores enviados pelo Trump, dando a suas seitas o nome de ''church"!!! E o objetivo é claro: Depreciar nossa lingua, a lingua ancestral, a lingua pátria e substitui-la pelo inglês, até transformar-nos em colônia 'made in EUA'. E digo que tal é um projeto - O imperialismo cultural é um projeto Norte americano e sua ponta de lança essas seitas protestantes.

E o objetivo é substituir, por completo - O pingado pela Coca Cola; o pãozinho com manteiga, o bauru ou o biju pelo mac sei la o que, a toada pelo Rock, o português pelo inglês, a igreja esculachada de Roma por essas churches e todos os nossos hábitos ancestrais por costumes importados dos EUA, até que não mais nos reconheçamos como brasileiros!!! - E há gente que opõe Funk a esse projeto rsrsrsrsrs PASSO... O propósito final é que nos passemos a ver como súditos do grande e decadente império do Norte... 

O que é potencializado pela Globo e por nossas salas de cinema, servidores acríticos da indústria cinematográfica Yankee. Afinal outro agente bastante bem sucedido quanto a implantação da cultura exógena em nosso país é o filme... ou Holywood. 

Portanto, caso não revejamos criticamente nossa prática cultural, ao fim deste processo nos converteremos numa cópia ou plagio cultural dos EUA. Uma vez que nossa cultura é atacada por todos os lados e menosprezada pelos brasileiros vendidos.

Há no entanto coisas ainda mais remotas para conservarmos, as quais são atacadas não pelo americanismo, mas por correntes de pensamento ainda mais difusas, como o anarquismo 'místico' e o pós modernismo. Aqui nos referimos a nossa herança grega em torno da Filosofia perene, do socratismo, do aristotelismo, da afirmação da realidade e da verdade.

Haja visto que o ceticismo, como é bem sabido, ao impossibilitar-nos quanto a avaliar a dor alheia como real, quanto a sensibiliza-nos, etc costuma lançar-nos dos braços de um conformismo prático que confina com o conservadorismo tosco... Afinal por que revoltar-se se não podemos afirmar a realidade da injustiça... E como revoltar-se se não existe um modelo ideal ou programa de ação quanto a realidade futura...

Tal o drama do anarquismo total ou místico (Que invade a cultura e os domínios do saber!) o qual arremetendo-se contra tudo quanto seja antigo ou tradicional, não poucas vezes destrói e destrói com fúria, sem nada construir de duradouro ou resistente - Abrindo espaço, não poucas vezes, para o protestantismo, o americanismo e a 'sifilização' contemporânea. Avalio eu que muitas vezes tais emendas saem piores que o soneto bárbaro... E de fato eu não acredito que o modelo protestante, capitalista, anglo saxão ou americanista seja melhor do que as mazelas da igreja romana ou da ortodoxia e tudo quanto vejo, sob o termo de progresso, é quase sempre piora.

Tenho repetido a exaustão: O melhor padrão de resistência cultural ao americanismo está em nosso passado clássico, em nossa herança greco romana, na Filosofia perene construída por Sócrates e Aristóteles em torno da verdade objetiva. Digo o melhor porque até mesmo o Catolicismo Ortodoxo ou apostólico, enquanto afirmação da verdade, dele depende.

Nossa resistência não poderá ser bem sucedida caso parta do irracionalismo ou do fetichismo. Só poderá ser vitoriosa e feliz caso tome por base a racionalidade e da liberdade. Uma vez que apenas elas podem suportar a afirmação do conhecimento científico, do bem comum e da fruição estética ou artística. É erro funesto repudiar a cultura europeia em bloco ou como um todo sem considerar cada elemento. Com efeito os erros da conquista, do escravismo e do capitalismo não justificam a rejeição de nossa herança grega, com a qual não estão diretamente relacionados. Julgo que posso dizer o mesmo sobre o Cristianismo antigo apostólico ou Ortodoxo.

Penso que nos devidos limites e de modo pontualmente marcado, haja espaço para certo conservadorismo crítico em oposição ao liberalismo econômico e seu projeto iconoclástico de progresso ilimitado e transformação acelerada> Assim a conservação de nosso patrimônio natural ou ecológico i é da fauna e da flora, das florestas e rebanhos, das selvas e colônias, enfim da mãe natureza. É algo a ser protegido com unhas e dentes, mantido, conservado e legado a contemplação das gerações futuras - Alias questão de sobrevivência e bem estar.

Assim a conservação de nosso Patrimônio histórico e arqueológico, igualmente ameaçado pela especulação imobiliária. Aqui, temos diante de nós o nosso passado, fundamento de nossa herança e identidade. Assim nossos monumentos, construções, vestígios, objetos, etc 

O que nos leva ao Patrimônio cultural, a respeito do qual discorremos mais acima. Sabendo que estão conectados formando como que uma simbiose. A portanto, no mínimo três setores em que um conservadorismo ou reacionarismo crítico faz oposição face ao que temos no Norte e que estão tentando implantar ou consolidar entre nós latino Americanos ou brasileiros.

Tal o nosso conservadorismo brasileiro, latino americano, apostólico ou grego romano, totalmente diverso do conservadorismo médio anglo saxão ou norte americano. Naturalmente que o brasileiro médio, leitor de um autor tão superficial quanto Olavo de Carvalho (Alias reprodutor acrítico do modelo norte americanista.) ignora tudo isto. Resta-nos convida-lo a ler as últimas obras do profo Jorge Boaventura, de Scruton ou mesmo de John Gray. 

Afinal nada há de conservador ou de conservadorismo em assimilar uma cultura estrangeira que, há mais de século, Eduardo Prado, avaliou como essencialmente oposta a nossa. 




Nenhum comentário: