Tendo sublinhado já alguns aspectos bastante discutíveis do liberalismo econômico face a crítica Cristã tradicional, devo acrescentar alguns outros não menos problemáticos, como a guerra - E já apresentamos o testemunho de W Sombart. - e a indústria armamentista, e a ainda a destruição do mundo natural.
Negar que as duas últimas grandes guerras tenham sido provocadas e manejadas por questões relativas ao 'mercado' ou ao mundo financeiro se me parece tendencioso em demasia. Creio ter sido nas obras de Upton Beall Sinclair - Talvez em Word's end ou em Lanny Budd não sei ao certo que durante a primeira ou a segunda grande guerra tanto a Alemanha quanto a França evitavam geralmente bombardear os grande conglomerados econômicos de ambas as nações ou as grandes multinacionais nelas presentes embora não tivesse mínimo escrúpulo quanto a bombardear escolas, hospitais, asilos, orfanatos e templos religiosos... Creio que tais atitudes tenham algum significado e nos digam algo sobre o que de fato está em jogo ou sobre quem dá as cartas.
No frigir dos ovos a busca pela riqueza esteve por trás das guerras e conflitos desde as mais remotas eras da História e me ocorre terem Umma e Lagash combatido por terras fronteiriças cultiváveis no tempo em que tais terras - Por equivalerem a suprimentos. - eram a riqueza. Se me ocorre ainda a luta pluri secular dos Assírios para atravessarem os estados tampões da Palestina e chegarem a Tebas, antiga capital do novo Reino egípcio e repositório de uma quantidade assombrosa de riquezas. Do mesmo modo Roma atraiu os homens de Alarico pelo mesmo motivo - A imensa quantidade de riquezas nela acumuladas. E Constantinopla para as hordas comandadas por Maomé IV...
Quanto a isto: Novidade alguma debaixo do sol...
Ali eram as guerras movidas por líderes ambiciosos e exércitos ávidos. Desde meados do século XIX passaram a ser movidas por mercados em colisão.
Parece que agora, no entanto, há um ingrediente a mais, ao menos quanto a articulação.
Refiro-me não apenas a guerra enquanto tal mas a atmosfera de insegurança e medo adrede calculada pela indústria armamentista.
Hoje, talvez mais do que nunca, tendo em vista a tecnologia, são as armas bélicas bastante caras.
De modo que sua negociação ou venda se traduz, quase sempre, em portentosos lucros para aqueles que as fabricam.
Veja que durante as duas grandes guerras os EUA, até determinado momento, venderam armas e munições para ambos os lados, auferindo uma colossal fortuna. Pois num modelo capitalista influenciado pelo positivismo, patriotismo e ética saem de cena quando se trata de lucrar.
Pouco se dá que duas nações ou povos se ataquem furiosamente um ao outro com o saldo de milhões de mortos se um tal evento possibilita a venda de armas e a aquisição de proventos econômicos. Que de danem as vidas e venha ao nosso bolso ou cofre o dinheiro. Tal o pensamento atual face a guerra - Pois a Guerra de fato produz uma ocasião favorável aos negócios.
Portanto quando as guerras não surgem é necessário causa-las, especialmente quanto sucede algum tipo de crise econômica e o sistema chega a beira do colapso. Em tais situações torna-se a guerra vantajosa... Uma vez que cria um mercado para as armas.
É de fato algo que deve ser pensado e passar pelo crivo da reflexão ponderada. Pois enquanto os parentes de algum político ou general está lucrando com a venda de armas para ambos os lados, um jovem filho de mão viúva é levado a crer que deva morrer ou assassinar outro jovem de mãe viúva a que jamais viu, por amor a sua pátria...
E no entanto me parece que para os grandes industriais - Que tem suas indústrias poupadas pelos dois lados. - o exercício desse amor se torna muito mais fácil. E que os fabricantes de armas e munições não foram ensinados a amar a pátria. Afinal enquanto nossos jovens são induzidos a sacrificar suas vidas ainda na flor da idade, os senhores da indústria bélica, mesmo quando não negociam com o outro lado, jamais distribuem armas a munições, graciosamente ou por amor, a querida pátria.
Então que amor ou dedicação unilateral é essa: Que gera ônus para uma parte > O jovem ingênuo que abre mão de sua vida, e lucro para outra > O nababo proprietário da indústria bélica.
Um aspecto apenas.
Há outros e igualmente danosos.
Assim até ao menos a primeira grande guerra, este ser que se diz racional, ao invés de suster suas guerras sozinhos, não hesitou em nelas empregar diversas espécies de animais inocentes: Em especial os cavalos, porém também camelos e até mesmo gatos; os quais sacrificou e impôs, na mais larga escala imaginável, horrendos sofrimentos.
Sem contar que entre os assediados, assaltados pelo terror da fome, não poucas vezes os pets converteram-se em repasto.
Também a cultura superior sofreu grande dano por parte das guerras. Tomada Cartago por Cipião, foram seus arquivos e bibliotecas transformados em pó. Assediada Alexandria por Júlio César, veio a perder parte da grande biblioteca. Da mesma maneira, quando mais tarde foi Roma conquistada por Alarico e Odoacro pereceram dezenas de bibliotecas, a primeira das quais havia sido criada sob Otaviano César por Asínio Pollio. Da primeira jihad islâmica resultou a perda total da grande biblioteca de Alexandria (Por Amru) e da Biblioteca Cristã de Cesaréia marítima. Posteriormente, foi a Casa da sabedoria de Bagdad lançada as águas do Tigre pelos ferozes mongóis (1258). Em 1525 os alemães saquearam Roma e fizeram perecer nas chamas um imenso número de raros incunábulos. Alguns anos depois foi St Gall atacadas por um grupo de protestantes fanatizados. A própria revolução francesa - Na esteira da reforma protestante. - não foi inocente quanto a destruição de livros e monumentos. Enfim durante a primeira grande guerra pereceu a grande biblioteca de Louvain um bombardeio...
Tragicamente todos pudemos testemunhar o estrago incalculável da invasão Yankee ao Iraque, com o bombardeio do Museu e da biblioteca. E a destruição das ruínas de Nínive e Tadmor (Palmira) pelos bárbaros jihadistas do Estado islâmico.
Em termos de conhecimento humano, literário, histórico, etc é a guerra uma calamidade sem atenuantes.
E no entanto, hoje, para muitos - Países - não passa de estimulante negócio... A economia estremece, a crise bate a porte, a moeda desvaloriza, as divisas faltam, a oferta de emprego diminui, etc bora atacar algum país que tenha petróleo, mesmo que o custo, em termos de vidas humanas ou quiçá de cultura, seja elevado. Pois vivemos num mundo materialista economicista que uma determinada fé ou religião, a princípio demasiado transcendente ou celestial, trouxe a luz...
Pois outro aspecto monstruoso da questão é que, tendo sido o protestantismo completamente absorvido pela questão da salvação no além, abandonou e descuidou por completo deste mundo material e natural no qual o Deus Cristão encarnou-se, nasceu, viveu, morreu e ressuscitou... Pois bem, esse mundo, repito, em que quis o Deus Cristão habitar, foi em um determinado momento entregue a si mesmo e posto de lado pela nova fé descarnada. A ponto do próprio romanismo ter dispersado suas energias, com o intuito de frear a nova fé, e se afastado, também ele, em parte da imanência...
A nós nos parece que essa fervorosa reforma abriu uma brecha para o naturalismo e para o materialismo no mundo cristão, a qual foi ocupada e alargada, mais e mais, por atividades econômicas descontroladas... Sabido é como o próprio absolutismo régio foi enredado e usado por tais poderes - até ser apunhalado pelos costas... Tal o momento em que o Liberalismo econômico, dispensando as muletas do protestantismo e do absolutismo, afirma-se como entidade ou poder autônomo, nos EUA (1776).
Certo é, no entanto, que se o romanismo não esboçou, face a esse poder, a resistência e a oposição que deveria ter esboçado, o protestantismo, indo além, colaborou ativamente com ele. Material, a princípio, não tardou para o capitalismo tornar-se materialista. E isto numa Era em que as gentes jamais haviam sonhado com o bolchevismo\comunismo - O qual recebeu este vício monstruoso do liberalismo econômico. Pois na perspectiva Cristã a acepção materialista não implica apenas na negação do mundo espiritual mas também na supervalorização do mundo material. Na prática reduzir a esfera da religiosidade e colocar em primeiro plano os interesses de ordem econômica é também materialismo e materialismo prático.
O protestantismo de modo geral, colabora ativamente, até o tempo presente, com esse sistema materialista que tem diminuído mais e mais o espaço da fé. Assim, de uma revolução religiosa, brotou, paradoxalmente um sistema materialista responsável pelo recuo ou mesmo pela negação da vida religiosa. E falhou devido a inabilidade do protestantismo para substituir a igreja papa e regular a ordem das coisas no mundo moderno. Nominal e até espalhafatosamente cristão, o protestantismo jamais esteve a altura da missão que para si reivindicou, vindo a falhar miseravelmente e a permitir a afirmação do Capitalismo e suas decorrências. Entregou o protestantismo, o cetro ou o comando do mundo contemporâneo ao capitalismo e aplaudiu quanto as bolsas de valores substituíram o vaticano, quando as agências bancárias substituíram as catedrais e sobretudo quando os shoppings centers substituíram os santuários. Desde então cessou a Cristandade de acumular tesouros no céu e ganhar amigos com riquezas imundas para investir em ações e títulos de papel - Isto enquanto parte dos membros de Jesus apodrecem na imundice das sarjetas...
Por ódio a direção espiritual que as igrejas Ortodoxa e Romana imprimiram as sociedades Cristãs nos tempos antigos os líderes protestantes se associaram a banqueiros e entregaram aos materialistas a direção da comunidade - Naturalmente que tudo isso só poderia resultar futuramente em mais materialismo, ateísmo e revoluções sem fim. Foi o protestantismo, a partir do individualismo e do materialismo prático que abriu as portas do inferno para a Sociedade Ocidental. E foi ele a Revolução primogênita que mesmo sem acionar a revolução Francesa, acionou a R Inglesa e por reação a R Russa. Dele partiu por desenvolvimento, o Anarquismo individualista e o ANCAP e por oposição o Comunismo, a quem legou, indiretamente ou por mediação do capitalismo, o materialismo - E está ele, envolvido até o pescoço, com todas as Revoluções, ideologias e distúrbios subsequentes.
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