E deixo já bem claro que os cristãos tradicionais vão na direção oposta: Certa margem de liberdade nos campos político (Constitucionalismo, democracia, policracia...) e pessoal e prudente controle no âmbito das atividades econômicas por parte do Estado, tendo em vista impedir que o poder econômico exerça a primazia no corpo social.
Ainda que indiretamente (Pois somos contrários a teocracia ou a qualquer tipo de associação entre Deus e César.) a primazia do controle social cabe ao Evangelho, a Igreja ou a instituição Cristã, a qual, por meio da Ética (Determinando princípios e valores.) deve inspirar e nortear todas as ações humanas: Políticas, econômicas, morais...
Não é para a busca da riqueza, do lucro ou do sucesso financeiro que devem convergir os pensamentos, projetos e ações do Cristão. Todos os esforços do Cristão devem antes convergir para a vida comunitária ou para o convívio com os irmãos, no sentido de beneficia-los.
Impossível conceber a primazia do espírito como uma busca incessante e obsessiva por mais e mais dinheiro, lucro, fortuna ou riqueza... Não podeis servir a Deus e ao dinheiro - Tal a sentença e veredito do Evangelho.
Chegado até aqui cumpre mais uma vez não apenas citar, porém confrontar o sábio Meira Penna.
O qual em seus livro "Opção preferencial pelos ricos" pgs 45 sgs busca relacionar o Catolicismo romano, com o Comunismo e com a Teologia da libertação enfim. Marque isto porque Meira Penna é o apologista mais sólido e bem preparado do liberalismo econômico em nosso país (E como tal dependente, quase que exclusivamente, de panfletários protestantes!). Então ele busca traçar uma linha ou um vínculo de origem e dependência entre as três correntes ou ideologias e para tanto escolhe arbitrariamente um item: O autoritarismo.
E de fato, foi Fullop Muller (Protestante por sinal) que apresentou a organização do partido comunista como plágio ou paródia do Vaticano. De fato, até ao menos Leão XIII (O papa que reconheceu a Democracia) havia esse traço comum... Mas não único, porquanto havia outros, quiçá mais interessantes, que Meira Penna pôs de lado ou não quis analisar. Pois quer demonstrar aos Ortodoxos e papistas que o capitalismo não é materialista ...
Me parece que Tasso da Silveira (Nos 'Espíritos fonte') tenha sido mais profundo e refinado, ao tocar noutro ponto, embora aludindo não a Igreja Romana e sim a Igreja Russa, que é uma parcela da Ortodoxia. (Porém suas reflexões são mais amplas, pois se estendem até mesmo a Igreja romana.) Se bem me lembro foi num ensaio sobre Maxim Gorki, autor de "A mãe". Convém assinalar ainda que esse Tasso da Silveira era profundo conhecedor não apenas das raízes do movimento Franciscano e dos nossos Evangelhos, mas também da tradição patrística (O que era e ainda é bastante raro entre nós.) e da espiritualidade russa. Portanto aqui - Com muito mais acuidade que Meira Penna ele dá por traço comum entre Comunismo e Cristianismo Apostólico a sensibilidade face a injustiça e a miséria. E tenho para mim que acertou em cheio. Mesmo porque antes de ter aderido ao marxismo era Gorki um Ortodoxo devoto...
Mais - Aprofundando suas reflexões questiona Tasso o porquê de uma Revolução comunista jamais ter estourado num país ou numa sociedade protestante... E dá algumas pistas e levanta algumas hipóteses interessantes: Porque nas sociedades protestantes, marcadas pelo individualismo a cota de empatia, alteridade ou sensibilidade é bastante reduzida. Desorientado pela propaganda atmosfera cultural e pela propaganda, mesmo o Cristão, tende a encarar o pobre não como alguém privado de oportunidade ou injustiçado e sim como um azarado ou mesmo um vagabundo que não aproveitou as oportunidades.
Efetivamente, por esse caminho, não poucos protestantes e capitalistas (E mesmo romanistas e Ortodoxos.) norte americanos tem chegado inclusive ao Darwinismo social - O qual é uma ideologia congênere, e não ao comunismo ou a qualquer coisa parecida.
Não é portanto apenas uma questão de poder ou autoritarismo transmitida pela Igreja romana, mas questão de sensibilidade da dor, a angústia, a situações de injustiça e a miséria alheias; que toca aos primórdios da instituição Cristã e ao Evangelho.
Quero todavia registrar - Por questão de justiça e debate. - que o mesmo Meira Penna, no mesmo livro, pg 141, Cap IV "Opção preferencial pelos ricos." leva a questão ao Evangelho e a Tradição patrística.
Supreendentemente ali nos deparamos com um diamante de alto quilate ou pérola de imenso valor: "Se você toma uma posição metafísica, como os cínicos, os estóicos e dos santos padres da Igreja, de que o desprezo e abandono dos bens deste mundo incrementam a liberdade espiritual e interior." p 143
O qual talvez possamos lapidar e fazer brilhar mais, dando por suposto que se o desprezo face aos bens deste mundo ou a moderação nos torna tanto mais livres, a busca excessiva por tais bens nos poderia tornar escravos...
Não vou me estender sobre isso. O quanto quero observar é que Meira Penna (Insuspeito) admite que o legado de Sócrates e a herança de Jesus Cristo parecem convergir ao relacionar a sobriedade e a moderação com a liberdade, a autonomia ou a independência. Ora, não está Meira Penna se referindo aqui a Marx ou Engels, a Lênin ou a Trotsky, a comunistas ou bolchevistas mas ao que melhor temos em termos de pensamento filosófico e espiritualidade. E elas emitem restrições quanto a posse da riqueza ou seu acúmulo... O que parece não estar de acordo com o éthos capitalista.
Alias um capitalista protestante, incrédulo ou ateu, não hesitaria fazer coro com os comunas e dizer que tudo isso é pura e simples baboseira. O Velho Meira Penna jamais ousaria faze-lo por considerar a si mesmo como apostólico romano (...) Outro como vimos o caso do Kogos e do Chinês ortodoxo com que debati, os quais apelam ao MNI, como excelentes positivistas... Ficando sendo irrelevantes as opiniões dos Padres (E se trata de um opinião comum!) em matéria de economia... (Pelo que devemos dar atenção aos protestantes e ateus rsrsrsrsrs).
Então o Meira Penna desceu da Igreja papal e autoritária dos séculos XV, XVI e XVIII para o século V, situando-se no terreno do catolicismo Ortodoxo > E conhece a posição dos padres da Igreja, alias bastante categórica, face ao acúmulo irrestrito de riquezas, coisa de avaros, dirá o nobre apologista liberal, não de ricos - Pois bem se pode ser rico sem ser avaro.
No entanto, quanto a esses mesmos padres, prossegue: "os Santos Padres dos primeiros séculos cristãos apenas propunham uma ética individualista que impunha a moderação e o controle na persecução da riqueza, a admoestação de honestidade nos negócios e o conselho de generosidade na esmola e na assistência..." opus cit pg 147
Era de se esperar que um pesquisador tão erudito quanto J O de M P tivesse ao menos folheado o manual de Doutrina Social da Igreja elaborado pelo Pe Pierre Bigo, no qual contam centenas de citações dos antigos padres, algumas bastante enfáticas. Como poderia ter lido a publicação da ed Paulinas "Porque a igreja condena os ricos".
Pois a simples leitura de Tertuliano, Jerônimo, Ambrósio e Crisóstomo índica que ao menos um tipo de riqueza foi irremissivelmente condenada por nosso Senhor, o qual ademais referiu-se a todo tipo de riqueza como falso ou ilusório. Lc 16,11
Os antigos Padres jamais conheceram qualquer coisa mesmo de longe relacionado com o que agora chamamos individualismo. Quiçá poderíamos dizer: Individual, porém a exatidão nos obrigaria a adotar o termo pessoal. Todavia, mesmo empregando tal acepção, a afirmação acima estaria ao menos incompleta, senão inexata.
Seja como for os antigos padres não apenas apenas davam conselhos pessoais sobre a riqueza. Ao menos um deles, S João Crisóstomo, acabou confrontando o poder e sendo martirizado. Pois ousou dizer que os recursos públicos deveriam priorizar o alívio da miséria e não o luxo insaciável (Hoje diria consumismo - Motor do Capitalismo) da imperatriz Eudóxia.
Ele no entanto continua: "Em parte alguma, nos velhos textos, se atribui a pobreza a fatores sociais externos ou forças econômicas sobre as quais não possuímos poder algum."
Mesmo porque não estavam os padres antigos inseridos num regime economicista ou capitalista, ou numa 'ordem' que estimula o acúmulo irrestrito, a cobiça, etc Numa ordem que em que a economia se sobrepunha a religião... Tal não era a realidade dos padres, de modo que não somente não poderiam te-la abordado mas sequer suposto.
Agora chega Meira Penna ao antigo testamento e, como os judeus, os calvinistas e os adeptos da Teologia da prosperidade e faz uma farta colheita.
Sabe no entanto, por refinamento ou intuição, que não é o Antigo Testamento fonte de doutrina ou manual de práticas, para a Igreja de Cristo e seus filhos...
Então, finalmente: Do solidarismo, do tomismo, da patrística e de Paulo, passa ao Evangelho, que é a fonte de todas as escolas acima.
E começa a brincar com eles e a de modo respeitoso (sic) folgar de Jesus Cristo: Caso agíssemos assim seriamos doidos, isto é impraticável, aqui o sentido só pode ser alegórico, etc De outros 'cristãos' ouvi que Jesus não tinha experiencialidade quanto ao mundo moderno, que Jesus era um idealista, um ingênuo, um romântico, um caipira, etc Que Jesus não era economista e que não podia legislar sobre o tema - BINET SANGLÉ E OS ANTIGOS JUDEUS FORAM CERTAMENTE MAIS RESPEITOSOS...
E tais blasfêmias saíram de mentes e bocas papistas ou ortodoxas!!!
Também tomba em vulgaridades, ao menos no domínio da exegese. Pois como diversos pilantras costumam fazer, apela ao texto: "Pobres sempre tereis." atribuindo-lhe um sentido abstrato, atemporal ou universal - Como se Nosso Senhor estivesse sermoando, quando as circunstâncias nos indicam muito claramente que estava Jesus estava discursando dentro das circunstâncias de tempo e espaço: Pobres vocês, durante esta geração, sempre terão nesta Judéia não Cristã dominada por Roma... Nenhuma indicação de atemporalidade no sentido de que os Cristãos deveriam, nos tempos futuros ou em todas as épocas encarar a miséria como algo absolutamente natural i é como coisa comum.
Outra tentativa infeliz do nobre embaixador - Com que justificar o éthos capitalista a partir de nosso Evangelho, diz respeito a parábola dos servos inúteis, que enterraram, ao invés de fazer render, os talentos que o senhor lhes havia confiado.
A partir daí os capitalistas já imaginam Jesus enunciando fundos de investimentos ou promovendo a compra de ações na Bolsa kkkkk O que - Dizendo o óbvio, em termos de História. - sequer existia naquelas priscas eras.
Num primeiro instante devemos dizer que a parábola em questão limita-se a tomar uma dada realidade social existente (E a realidade a que se refere é a cobrança de juros ou a aplicação do dinheiro em algum negócio - Não em imensas corporações ou monopólios como a Nestlé ou a Nike.) com o objetivo de expressar uma realidade espiritual ou religiosa, SEM EMITIR QUALQUER JUÍZO ÉTICO SOBRE A DITA REALIDADE SOCIAL, seja negativo ou positivo, condenatório ou laudatório... É o que não está em questão na parábola e Jesus simplesmente, ao menos neste momento, não se pronuncia sobre o assunto ou a realidade dada.
De modo que não se pode fazer uso dela para defender a realidade social e dada, mas somente para o fim a que foi posta: Explicitar uma relação espiritual vigente no mundo invisível. Do contrário, dado que os tais servos fossem escravos, estaria Jesus sancionando e abençoando a escravidão, instituição que sabemos ser essencialmente má e pecaminosa i é algo que o Deus Santo e Bom jamais poderia sancionar.
Quanto aos textos irrespondíveis, assevera o nobre expositor que certamente referem a avareza ou a ambição desmesurada e patológica. O que não corresponde a realidade, uma vez que não era Jesus comunicador deficiente ou ambíguo, faltando tampouco ao grego, aparato para exprimir a distinção.
Diz Jesus: Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.
Ora para Meira Penna e os seus o liberalismo econômico não serve ao dinheiro. Serve ao que...
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