Curioso observar como as doutrinas econômicas tem acompanhado de perto as pseudo filosofias do tempo presente, particularmente as baboseiras alemãs - As quais são, também elas, resíduos ou secularizações do protestantismo. E já nos referimos em diversas ocasiões sobre as fontes luteranas de Kant e Nietzsche, ambos, por diferentes vias, porta vozes da revolução protestante.
Importa dar o positivismo francês de St Simon ou Comte, como plágio ou reedição do kantismo - E o que temos aqui é um kantismo tanto mais prático e menos abstrato ou metafísico, i é, mera negação da metafísica e com Litreé da própria Ética (É a Ética, como a Estética, metafísica.), o que por sinal repercutirá até Levy Brull.
Negação de que resulta, para os positivistas ou cientificistas, uma ciência positiva inquestionável. E é exatamente o que a Economia pretende ser com Mises (Racionalista) e outros... Alias, com Pareto (Empirista) chega ela a assumir a mesma exatidão e objetividade que as matemáticas... E por ai se vão os clamores científicos que ocultam as conotações humanas e seus interesses... Laissez passer...
Eis a Ética, que deveria exercer a total primazia quanto aos negócios humanos, posta de lado e a atividade humana a que chamamos economia exalçada as sublimes alturas da cientificidade positiva.
Quando aparece Hayek e deita o machado a raiz da árvore ou arremete furioso, com seu aríete, contra a sólida muralha positivista, deitando seus escombros por terra. Pois nega ele que seja a economia uma atividade racional da qual decorram umas leis gerais e irredutíveis semelhantes as leis biológicas, físicas ou químicas...
Antes para ele, temos na Economia uma certa carga subjetiva de que decorre a imprevisibilidade. Trata-se portanto de uma atividade até certo ponto intuitiva, que deve ser manejada por uns experimentados vocacionados - Os quais, observando seus caminhos ou movimentos com gasto de tempo vão se tornando capazes de capta-los e de assimilar algo. De modo que é pelo manejo ou pelo trato que se faz o economista...
Cabe portanto aqui uma pergunta: Que opção do cardápio você escolhe... Á la Mises, À la Pareto ou À la Hayek... Tal o labirinto ou a encruzilhada da bela ciência positiva ultra objetiva e emancipada da Ética. Porém faz parte da escalada economicista... Mesmo quando não seja real mas calculado pela propaganda.
Porém, para os americanistas fica sendo o liberalismo econômico inquestionável - Mesmo quando se supõem, com certa plausibilidade, que o atilado Ricardo (O qual descreveu tão bem as condições do capitalismo juvenil em Albion.) - já no fim de sua trajetória mortal, tenha lançado os fundamentos do trabalhismo.
É um dogma de fé tão precioso quanto a Santíssima Trindade, e que se há de fazer...
E alguns não ousaram associar a propriedade ao próprio Deus, cunhando uma nova Trindade profana (Deus, família e propriedade kkkkk).
Forçoso descrever o que de fato sucedeu e atribuir responsabilidade a quem caiba.
Necessário reconhecer quão trágica e calamitosa foi a afirmação do Capitalismo ou liberalismo econômico. A qual contou com uma resistência bastante débil (Ainda que considerável ou mesmo importante - E quem diz é o insuspeito Hobsbaw.) por parte do Cristianismo Histórico.
De fato não logrou o nosso Cristianismo travar os passos do liberalismo econômico ou conter o capitalismo. Foi portanto uma resistência aquém do que se esperava ou insuficiente. Não de todo ineficaz (Pois não fosse ela poderíamos estar, no tempo presente, num estádio bem mais avançado de degradação tanto social quanto natural.) porém insuficiente.
Pois em oposição a extrema politicagem (Relacionada com a questão do poder Temporal do papa - Aspirações teocráticas.) romana, o protestantismo nascente se desespera e afasta do mundo, indo, pelo erastianismo, na via da secularização. O protestantismo de modo geral se conforma e aceita o mundo como é: "O protestantismo possui uma relação especial com o secularismo, com a realidade atual dessacralizada." J V de Meira Penna, "Opção preferencial pelos ricos." pg 117- Pois perdeu a primazia ou o controle
Outro o caso do calvinismo: 'Essencialmente anti utópico. O que quer dizer é realista, "quadrado".' id. pg 118
Não inativo, porém voltado para um projeto teocrático ainda mais forte que o do papado, posto que tomado diretamente do antigo testamento e das instituições judaicas. (apud Maurois, Weber e Sombart, etc)
Foi de fato paradoxal o calvinismo - Pois ao mesmo tempo que buscava eliminar o mínimo índice de liberdade nas esferas pessoal, política e religiosa, estabelecendo um controle férreo, relacionava a tal eleição ou predestinação ao reino com a posse de bens materiais i é com as atividades econômicas, as quais atribuía a mais ampla liberdade...
É no calvinismo que pela primeira vez podemos observar aquela associação aberrante entre um conservadorismo moral ou moralismo estreito (E dogmático) e o liberalismo econômico - Associação que caracteriza ainda hoje os conservadores yankees e seus imitadores brasileiros: Um rígido controle moral e político de par com uma liberdade irrestrita para o mercado.
O já citado porta voz de Weber, Viana Moog (cf A Marcha para o Oeste) é enfático e exaustivo quando assevera poder explicar a ascensão triunfal do liberalismo econômico nos EUA a partir da religiosidade calvinista.
O que é bastante fácil de se compreender.
Consideremos antes de tudo que a retomada do agostinianismo (Meira Penna concorda!) por Calvino, e a consequente apresentação da 'predestinação' particular ou restrita como fundamento pétreo da nova 'igreja' não pode deixar de causar uma grande inquietação entre os fiéis, os quais aspiravam saber a que grupo pertenciam, ao dos paradisíacos ou ao dos réprobos. Era algo que remoía as consciências, as quais pediam por uma sinal ou por uma evidência externa, de modo a escaparem da neurose.
Teve então Calvino de inventar um sinal que evidencia-se a eleição positiva i é para o céu. Diante disto, ele, fugindo do Novo e servindo-se das partes mais arcaicas (Saduceias, mortalistas e materialistas do A T - Fontes J e E.) do antigo testamento, ofereceu-lhe, como evidência (Na direção oposta ou contrária do Evangelho) o sucesso nas empreitadas financeiras ou a riqueza.
Disto resulta, necessariamente, a aplicação doentia do puritano ao trabalho, a ideia do culto ao trabalho, do trabalho como sacerdócio, da concentração no trabalho, o ideal da busca frenética pela riqueza, etc O resultado era previsível: O contanto do homem com a riqueza, o estimulo da ambição, o individualismo, etc foram, gradativamente, tornando-o mais e mais insensível ao outro ou a dor alheia, até torna-lo mais cúpido, materialista e irreligioso - Por fim, suprimido todo sentimento religioso ou toda fé, secularizou-se aquela prática econômica, vindo a ser o que é: Liberalismo econômico ou capitalismo.
Quem produziu a arapuca ou a ista, quem abriu as portas do inferno, quem deu o impulso inicial a essa zueira foi Calvino.
Irrelevante, para Weber ou Tawney, a presença de algum nível de intencionalidade ou consciência, por parte dos reformadores e líderes religiosos protestantes, quanto a liberação dessas forças econômicas que dissolveram a sociedade tradicional. E para eles não houve.
Para nós é suficiente concluir que, ao tentar destruir ou substituir a igreja antiga, enquanto instância controladora eficaz, falharam miseravelmente e criaram as condições para que o economicismo se aflorasse e se afirmasse.
Basta para nós demonstrar que produziram - Levianamente - uma Revolução que ao invés de melhorar o mundo cristão, acionou outras tantas Ideologias> Anarquismo, comunismo, fascismo, etc que avaliamos como más ou como culturas de morte, e isto a pondo de declarar com muitos que tais culturas nos fazem sentir saudades do controle papal, não é claro como algo bom, mas certamente como algo bem menos mau.
Conheça também os demais artigos da série 'Culturas de morte':
- Anarquismo
- Positivismo
- Capitalismo
- Comunismo
- Fascismo
- Pós Modernismo
- Sionismo
- etc
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