sexta-feira, 6 de outubro de 2017
Dialogando com M Freud, superando o preterismo, analisando o sentimento de culta e tomando o caminho da libertação...
Não se conserta mais carruagem. O automóvel de Benz e Daimler no entanto é modelo que continua sendo remodelado até nossos dias.
Assim a Psicanalise de S Freud, a crítica de Marx ao Capitalismo, a teoria evolucionista formulada por Darwin/De Vries, a Sociologia weberiana, etc Tais teorias são em parcialmente depuradas ou revistas justamente devido a seu conteúdo imorredouro.
Psicanalise, Das Kapital, Teoria sintética e Culturalismo são aquisições, marquem bem, definitivas, digo definitivas, em termos de conhecimento humano.
É coisa que na mesma direção se pode ampliar, aprofundar e aperfeiçoar, mas que não se pode arrenegar até as raízes ou fundamentos.
Lamento quanto aos puritanos, capitalistas, criacioburros ou simplistas com seus sonhos dourados, mas assim o é.
E não sou em, o pobre profo Domingos da Baixada Santista, com seus parcos conhecimentos experimentais e teóricos quem há de fazer reparos ao carro de S Freud tornando a Psicanálise ainda mais fecunda. Quem sou eu, um pobre educador provinciano??? Sinto-me feliz por ser capaz de refletir e sobretudo por poder aprender e conhecer um tiquinho...
Aprender é minha forma predileta de orgasmo. Sinto tesão pelo ato intelectual de aprender e jamais saberei se no fundo isto é refinado epicurismo ou platonismo, eu que sou aristotélico rsrsrsrsrsrsrs Deo gratias!
Mas, tornando a Freud os reparos a equipagem foram já realizados, drasticamente pelos críticos analíticos ou pelos 'heréticos' da Escola, isto é aqueles que o zeloso e honesto hebreu excomungava sem maiores cerimônias.
Elenquemo-los: O secretário Adler; a 'águia', o sedutor Dr C G Jung, o atilado Otto Rank, Stekel; é claro, o Católico Allers, a conciliadora Karen Horney, etc Cada um deles vai por assim dizer criticando algum aspecto acidental da teoria freudiana, acrescentando conclusões próprias - inda que tão estreitas ou excludentes quanto aos do velho Freud (devido ao mito onipresente da monocausalidade) - e enriquecendo a Psicanalise. Se é certo que deixam de ser freudianos ortodoxos, até certo ponto mantem-se meio freudianos (heterodoxos por certo) e certamente psicanalistas ou exploradores da mente humana.
Nada mais interessante do que as crônicas desses 'heterodoxos' do freudianismo com suas lutas intestinas em torno de um determinado padrão ou critério específico.
Psicologicamente a própria ideia de trauma nos remete a algo mais simples como a fratura de um braço ou de um osso qualquer do nosso corpo, o qual se tendo partido, caso seja devidamente tratado torna a solidificar-se, restando no entanto uma marca indelével a que chamamos de sequela.
A teoria de Freud sendo evolucionista linear, tornou-se basicamente preterista por salientar a importância da sequela produzida no Eu ou na mente por determinadas situações. A princípio, de modo bem mais simples e sóbrio, Sigmund formulou a hipótese do eterno retorno a situações ou problemas não resolvidos, os quais como espectros ou fantasmas ficariam pairando em nosso inconsciente, e provocando, dentre outras coisas, pesadelos... Situações análogas ou semelhantes ocorridas em qualquer tempo futuro desencadeariam uma carga ainda maior de energia, e a formação das neuroses.
Posteriormente, após ter descoberto a vida sexual infantil, o Psicólogo judeu vienense, deslocou sua teoria de certas situações particulares e indeterminadas - o que não podia satisfazer seu espírito positivista - para os complexos, compreendidos como fases evolutivas não percorridas, em que o sujeito por assim dizer travou ou estacionou.
Longe de nós negar o conceito de trauma ou sequela. Tudo quanto pretendemos indagar é se de fato todo e qualquer desajustamento procede de um fenômeno acontecido no passado ou de uma sequela, e se ao menos alguns não poderiam ser provocados por situações de tensão acontecidas no momento presente???
A partir de Adler temos uma resposta muito bem formulada por K Horney em torno dos conflitos, da pressão e da angústia no tempo presente; situação a que o velho Freud não parece ter ligado muita importância, quiçá atribuindo a gênese a um evento pretérito ou a uma sequela mental, mesmo quando não localizada. Admitidos os pressupostos da pesquisadora Norte Americana o cenário até se torna mais sombrio rsrsrsrsrsrs Pois admitindo-se que a pessoa tenha conseguido atravessar a infância e a juventude percorrendo sem maiores problemas todas as fases evolutivas delineadas por Sigmundo e eliminando todos os complexos i é sabendo lidar com eles, ainda assim, em qualquer momento futuro, poderá tornar-se vítima de pressões, conflitos, tensões, etc provocados por uma nova experiência ou situação com que não consiga lidar. Destarte um bom caminho percorrido durante a infância e a juventude nada garantem em termos de sanidade mental, e você sempre poderá vir a perde-la no curso da vida, diante de novas situações/problema.
O conflito entre o Super ego que o homem medíocre carrega e as novas situações provocadas pela dinâmica social sempre poderá acontecer e devastadoramente...
Do ponto de vista social a problemática é instigadora na mesma medida em que Freud colaborou no sentido de produzir uma Sociedade cada vez mais libre, aberta e dinâmica, na exata medida em que teceu severas críticas aos preconceitos maniqueístas ou puritanos relacionados com a formação do Super ego. Desde que exarou seus pontos de vista sobre a repressão ou melhor sobre a opressão exercida pelas sociedades tradicionais face as exigências da natureza, não poucas pessoas - as pessoas geniais - optaram por afrontar a sociedade, por resistir, por rebelar-se, por não se deixar colonizar e por frustrar a gênese do Super ego. A partir das denúncias lançadas pelo homem um número cada vez maior de sujeitos passou a lutar pela própria libertação mental e até podemos falar em movimento de alforria face aos imperativos do super ego. Do que recorreram, quando a técnica veio ao encontro das expectativas globais, as Revoluções feminina e sexual. As quais não teriam ocorrido sem o freudianismo.
Evidentemente que nem todos os Super egos, enquanto produções dadas numa determinada realidade familiar e social, acompanharam esta evolução sócio ambiental. Não poucos super egos continuaram a ser formados segundo o clássico modelo maniqueísta puritano da negação do corpo, da nudez e do sexo; numa sociedade não apenas cada vez mais natural, mas até mesmo mais sexual e na qual a nudez e a sexualidade se fazem cada vez mais presentes. Dentro de um quadro como este: De super egos pré históricos ou retrógrados numa sociedade cada vez mais sexualizada, inverte por completo o quadro social preterista conhecido por Freud. No curso do século XIX era o ímpeto sexual florescente na criança fortemente reprimido por um tipo de moralidade intransigente até a produção de um super ego poderoso e forte a ponto de produzir sentimentos de culpa a priori ou antecipados face ao que classificavam como tentação. Clássico o exemplo de Martinho Lutero para quem a própria tentação ainda que não consentida era encarada como de criminosa, levando-o ao paroxismo do terror. Mesmo dentro da igreja romana não se tratava de fato isolado... Resultado - A culpa acumulava-se aos turbilhões na própria criança e impedi-a de lidar com todos aqueles complexos, ficando-a. O esquema de Freud fazia certo sentido naquela realidade.
Em nossa Sociedade as sugestões de Adler, Jung e Horney em torno do conflito atual enquanto produtor de angústia nos parece bem mais realista.
Assim quando o puritano luta combate em torno do ideal de uma Sociedade fechada e repressora, esta na verdade tentando proteger seu super ego. Enquanto o homem superior, demandando pela liberdade, busca enfraquecer e eliminar o super ego, mantendo apenas a estância da consciência Ética, supinamente desconsiderada por Freud. Até certo ponto o homem de hoje não quer mais ser cópia, reproduzir valores ou viver para a Sociedade, como um escravo. Exige algo para si e quer viver também para si... Dirá alguém que este homem esta errado? Direi que se prejudica concretamente o outro esta errado, mas que se não prejudica ou causa dano a quem quer quer seja, lhe é defeso viver a seu modo e gritar: Meu corpo minhas regras. Este homem quer ser plenamente livre e produzir a si mesmo e temos de considerar que esta meta é um direito seu.
Não poucos acusam Freud de ter andado mal na medida em que partiu da anormalidade ou de situações de neurose para chegar a normalidade. A objeção peca pela simplicidade e chega a ser absurda, afinal Decroly, Montesori e muitos outros educadores também partiram das crianças anormais até chegar a criança normal. Para tanto bastaria dar com o elemento causador da anormalidade e isola-lo e o psicólogo hebreu soube faze-lo com absoluta maestria. O pivô da anormalidade, dos complexos, da fixação era a repressão externa, princípio do Super ego. Noutras palavras a pressão social em torno daqueles tabus sexuais arbitrários é que produzia desajustados como o estrume produz cogumelos... Portanto era a própria dinâmica social do passado que precisava ser questionada e desconstruídas. A criança precisava ser encarada com realismo e naturalidade e não reprimida por meio de castigos físicos ou de terrorismo psicológico.
Será normal aquele homem que no curso da infância e da juventude não introjete princípios e valores anti naturais ou aquele cujo super ego seja despojado de toda essa carga maniqueísta e puritana legada pelo passado. Será normal quem desde cedo aprender a conviver com seu corpo e aceitar a própria sexualidade. Tal o caminho, e não há outro. Onde prevalecer a artificialidade, a mediocridade, o temor supersticioso, o contato com o mundo livre produzirá conflitos e tensões e deflagrará neuroses. A luta aqui será travada no sentido de emancipar-se a tutela de um super ego tacanho, mesquinho e exacerbado.
Quem perder esta luta perderá a tranquilidade, a menos que se feche em seu mundinho artificial ou numa redoma de vidro.
Todo escravo voluntário sente-se humilhado ao tratar com pessoas livres e emancipadas, a audácia e coragem demonstrada por elas abate-o. O escravo só se sente bem em meio a pessoas de sua condição. Assim a liberdade sexual de muitos não pode deixar de incomodar certo número de pessoas. No fundo no fundo todos almejam ser livres. A alguns no entanto falta coragem ou força para lutar... Daí o desejo satânico no sentido de que todos sejam igualmente escravos ou igualmente controlados... A ideia aqui é reprimir e oprimir para proteger-se.
Passando aos exemplo apelarei a um exemplo a um tempo já clássico e a outro polêmico. Do ponto de vista biológico ou natural somos todos bissexuais estando a bissexualidade, em maior ou menor grau, presente em todos os espaços naturais. Temos inclusive exemplos de sociedades antigas que aceitaram integralmente tal pressuposto, assim Grécia e Roma, cuja perspectiva tem sido bastante falseada pelos moralistas do tempo presente, pelos puritanos, pelos fanáticos, etc Mas podemos dizer sem sombra de dúvida que aquelas sociedades ignoravam por completo o que chamamos de normatividade heterossexual. Claro que haviam matrimônios heterossexuais pelo simples fato de procriarem, mas de modo algum uma sexualidade hétero fechada e constituída em torno de certos tabus.
Ter pênis ou vagina não significa de modo algum, ao menos do ponto de vista da natureza, que o pênis tenderá sempre e necessariamente a vagina e vice versa. Assim a fixação do objeto com que devemos transar ou a orientação sexual, parte sempre da cultura. É o discurso sancionado pela Sociedade que diz: Homem só pode transar com mulher e vice versa. Para além disto apelam a vontade de deus e a um montão de bobagens com o objetivo de fixar a regra. A partir daí, tendo em vista o controle da natureza, criam uma Sociedade habilidosamente repressora e fazem a roda girar até ser desmantelada pelo 'satânico' judeu vienense... Pois esta cultura fundamentada no sagrado e em punições espirituais draconianas consolida-se ou torna-se hegemônica.
E no entanto é tudo precário e artificial ali.
Pois na medida em que a dinâmica social é alterada no sentido da liberdade e que as pessoas são autorizadas a aproximarem-se umas das outras sem preconceitos, sucede uma epidemia de homoafetividade, uma autêntica febre... Mas como se a heterossexualidade é absolutamente natural? Como se pode trair a natureza em tão larga escala? Absurdo sobre absurdo.
Neste sentido o homem póstumo ou genial, que afronta ou despoja o super ego se entregará livremente - exceto em caso de compromisso fechado, o qual certamente teria de ser dissolvido (aqui a questão se torna Ética) - aos prazeres lícitos sem complexo de culpa. Ciente de que esta fruição foi disposta pelo sagrado. Já o homem medíocre, dominado pelo super ego e norteado pelos preconceitos, experimentará dadas situações de conflito, oscilação ou tentação e a subsequente carga de angústia... atingindo situações de neurose. Pois se sentirá atraído por alguém do mesmo sexo e experimentará certas tentações, as quais tentará fazer guerra, sendo possível inclusive que venha a experimentar sentimentos de culpa a priori.
Enquanto este homem não confrontar o super ego, revisando seus princípios e valores e eliminando quaisquer complexos de culpa - a priori ou a posteriori - não logrará vencer a angústia e estabilizar-se. Precisa para tanto repudiar a convenção, reconciliar-se com a natureza e viver para si.
Gostaria de abordar rapidamente um tipo de caso até certo ponto raro bastante explorado pelos membros da Igreja romana e que diz respeito a alguns santos muito bem sucedidos quanto a um ideal de vida puritana e até certo pondo aparentemente normais. Claro que também há um número considerável de canonizados vitimados pela neurose, a qual alguns 'católicos' desmiolados chegam a encarar como uma espécie de dádiva celestial !!! Mas o que devemos esperar de pessoas que chegaram a encarar a possessão, e sob o ponto de vista sobrenatural e não natural (como é o nosso), como um meio de santificação??? Tal o caso retumbante do Pe J J Surin de que resultou um dos aspectos mais monstruosos dos neo catolicismo - a mística da possessão.
Atenha-mo-nos no entanto aos religiosos que optaram por abraçar uma ética de perfeição ou um ideal de virtude, o próprio Freud admitira que canalizaram a libido, compreendida como energia sexual - Jung a compreende como energia amorfa ou informe - e desviaram-na para outros fins. A igreja antiga no entanto compreendeu que essa canalização de energias deveria ser facilitada por uma série de exercícios que receberam o nome de disciplina e que até certo ponto fazem lembrar a psicologia reflexiológica do condicionamento.
Importa saber que quanto mais uma pessoa identifica-se com determinado ideal ético, mais forças tende a obter e a aplicar contra as inclinações que possam frustra-lo. Tais pessoas são capazes de tomar decisões bastante firmes, pelo hábito vão formando um caráter forte e tornam-se capazes de resistir a situações de tentação, mesmo em circunstâncias que possibilitam a consumação do ato que consideram ilícito. Elas vencem as tentações, triunfam face aos apelos da natureza e aparentemente não sentem qualquer abalo. Como explicar semelhantes fatos por sinal questionados pela literatura naturalista do século XIX para a qual todo e qualquer monge era decididamente um fingido???
Ao menos estas situações de resistência face a consumação de um desejo natural não me parecem suficientemente explicáveis a luz da teoria da canalização. Então o que??? Estou convencido de que situações de triunfo ou vitória como estas, é capaz de levar algumas pessoas, ao menos inconscientemente, ao paroxismo do orgulho, uma experiência - quiçá orgânica - análoga a do orgasmo sexual experimentado por nós. O religioso que vence a tentação também deve lá experimentar o seu orgasmo, ainda que no plano da imaterialidade, mas certamente com decorrências físicas.
E o religioso, o moralista ou o homem medíocre que cede ou cai pondo em prática o que condena ou que considera imoral? Terá de rever seus pontos de vista ou encontrar na própria religião - caso tenha uma - um rito expiatório capaz de purificar-lhe a consciência. Se judeu aguardará o Yon Kipur, se Católico recorrerá a penitência, se protestante evocará o sangue redentor de Jesus... Com o sentimento de culpa a posteriori dificilmente poderá viver. Interessante salientar que quanto mais os sistemas religiosos dificultam o acesso ao perdão normatizando seus ritos, tanto mais atemorizam o 'pecador' e fortalecem a sociedade fechada. Na proporção inversa na mesma medida em que tornam o acesso ao perdão demasiado fácil, tendem a aliviar ou mesmo a minar o super ego e a desestabilizar a sociedade fechada. Não é por mero acaso que as sociedade luteranas como a Escandinava e a Alemã seja talvez as mais liberais em matéria de sexualidade no contesto Cristão. Afinal os luteranos vincularam o acesso ao perdão ao ato individual de fé, o qual sempre poderia ser refeito ou renovado tendo em vista a fragilidade da natureza. Destarte as situações de pecado - infelizmente não apenas as de natureza moral ou sexual mas também as de ética - tornaram-se recorrentes, comuns, banais, até que por força de cometer sucessivos pecados as pessoas deixaram de acreditar que fossem verdadeiros pecados passando a aceita-los como algo absolutamente natural. Infelizmente, como já dissemos, isto também se aplica a situações de injustiça, engano, opressão, etc
Resta-nos por fim aquilatar as opiniões do Dr Henri Baruk sobre a loucura, o complexo de culpa e o pecado, vejamos que diz ele:
"Em alguns casos dos estudados por Freud os sujeitos se convertem eu neuróticos por terem reprimido o acesso ao desejo do instinto. Outras pessoas caem no paroxismo da psicose e do ódio e chegam as raias da loucura por terem seguido demasiado fácil a seus desejos e reprimido as exigências da moral." 1951
Quanto ao primeiro caso tornam-se neuróticas porque a resistência ao desejo consome uma dose excessiva da energia. E Aquino até diria que consumo da energia atinente ao ato de resistência, esta relacionado com a intensidade do desejo suscitado e enfim com as qualidades do objeto externo. Tanto mais apetecível ou bem ou objeto externo desejado, tanto maior o abalo produzido na consciência e tanto maior o montante de energias despendidas na resistência. A ponto de, atingindo os limites do ser, extenua-lo. Aqui o super ego chegou a seus limites e nem podemos desprezar a possível presença do sentimento de culpa a priori...
Já a situação apontada por Baruk refere a angústia produzida pelo sentimento de culpa a posteriori. Agora donde provém este sentimento de culpa? Da consciência Ética ou desse apêndice de moralidade social e repositório de preconceitos chamado Super ego. Em caso de supostos pecados sexuais é evidente que procedem da segunda fonte, neste caso tupo quanto temos é a presença de um mecanismo repressor, nada que Freud já não tenha dito.
Claro que uma pessoa que se considera culpada por ter posto em prática determinado ato pecaminoso e recusa-se a receber o perdão ou a perdoar-se pode vir a desenvolver psicose. Nem importa se o pecado em questão é verdadeiro pecado ou não, importa que seja pecado para ela. Assim se vir a acreditar que roer a unha das mãos é pecado e vier a faze-lo, sofrerá intensamento por isso. Não é a partir dessa relação que se estabelece digamos um imperativo de resistência. Imperativo de resistência clama por uma definição convincente e satisfatória - não arbitrária ou caprichosa - de pecado. Definição que a moralidade puritana jamais poderá vir a oferecer-nos contaminada como esta pelo veneno maniqueísta. De fato o pecado não esta no copo do home ou em seus órgãos sexuais, mas em seus relações com o outro ou quanto ao que faz de seu irmãos em termos de dano ou prejuízo concreto.
Neste sentido temos de buscar por outros possíveis tipos de contradição - é aqui que temos de ir a Adler ou a Jung - pois a analise freudiana correspondia a um tipo dado de cultura ou sociedade, a uma sociedade superficial. Na sociedade ética os conflitos serão bem outros, envolvendo valores essenciais e perenes como lealdade, justiça, verdade, solidariedade, bondade, etc Aqui é bem sacrificar princípios e valores por status, poder e dinheiro; até que ponto isto também produz sentimento de culpa, angústia, depressão, neurose e loucura. Aqui temos o homem traindo a si mesmo e precisamos saber qual o preço psíquico pago por ele.
Vou citar um exemplo clássico neste domínio e com ele encerrar estas reflexões sobre a presença da ética na mente e a negação dos valores.
A rainha Dna Maria I de Portugal era uma adolescente quando seu pai, o então rei D José I, instigado por seu todo poderoso ministro Pombal, fez acusar e supliciar a Casa dos Távoras. A bem da verdade tanto ela quanto sua mãe conseguiram salvam um vultoso número de condenados, mas não a Marqueza de Távora e seus familiares mais próximos, a cujo bárbaro suplício foram obrigadas a assistir juntamente com toda nobreza. A cena por si só jamais pode ser esquecida pela infeliz moça, a qual além disto jamais pode perdoar-se por não tem conseguido o perdão dos demais condenados dos quais julgava-se co assassina por omissão. Deste sentimento de culpa insuperável e volumoso decorreu seu obscurecimento mental, a ponto de entre os brasileiros vir a ser conhecida como Dna Maria, a louca.
Aqui um conflito ético, e portanto mais profundo por tocar as fontes do ser. É claro que este tipo de fenômeno não estava no acesso de Freud, o qual viveu numa Sociedade que pelo simples fato de policiar doentiamente a sexualidade humana, valorizava-a demais. Afinal não valorizamos somente aquilo que aceitamos, mas também aquilo que obstinadamente negamos.
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