Tempos houve em que não passávamos de algumas dúzias de seres simiescos a vagar pelas savanas da mãe África.
Pouco depois as primeiras levas de Sapiens atravessaram Península do Sinai e iniciaram sua grande aventura pelos dois grandes grandes continentes do mundo antigo.
Bem podemos comparar essa travessia como a ruptura de um dique e a uma inundação, melhor dizendo a um dilúvio em que marés de sapiens espalharam-se pela mãe terra varrendo tudo, inclusive os demais ramos da espécie, como os Neandertais e o H das flores, senão outros cuja existência ainda ignoramos enquanto não redescobrimos nossa História.
O fato é que os bem preparados Neandertais desapareceram como dizem aniquilados pela explosão de um grande vulcão localizado nas proximidades de Napoles. No entanto a explosão por grande que fosse não aniquilou todos os neandertais, embora tenha reduzido bastante seu número. Sempre poderiam ter se reproduzido, multiplicado e recuperado, no entanto não o fizeram. Certamente porque nossos belicosos ancestrais souberam das um empurrãozinho.
O catástrofe natural fez sua parte, não o negamos. Noutra conjuntura porém, em que não entrasse o Homo Sapiens cá estaria o Neandertal, talvez erguendo cidades e arranha céus... O que o cataclismo vulcânico iniciou foram nossos 'meigos' ancestrais que concluíram e disto resultou a eliminação de mais uma forma de vida.
No decorres desta expansão a princípio lenta tiveram os animais da Eurásia, já habituados a presença - nada amistosa por sinal - dos neandertais, tempo suficiente para aprender a desconfiar do novo tipo de homem e a fugir dele ocultando-se nas selvas e fendas da terra. Pois os que não se ocultavam e escondiam eram logo abatidos pelas lanças atiradas com o auxílio do propulsor e enfim das certeiras flechas.
Desde que os propulsores e arcos foram inventados os pobres animais, por colossais que fossem já não tiveram paz e sossego exceto nos ínvios sertões ou nos recônditos dos ermos. E lá fossem mamutes especialmente, ia o homem busca-los. Pois precisava de gordura para o lume, de pele para as roupas, de ossos para os implementos e especialmente de carne para o estomago.
Assim sendo a que correspondiam os mamutes, rinocerontes lanudos, a rena, o grande alce, o auroque, etc senão a dispensa cheia de nossos dias ou a fartura???
Eram tempos difíceis aqueles. O homem precisava lutar para garantir a sobrevivência da espécie. Precisava matar sem contemplações. E matou, e quanto mais sua população crescia mais matava. E continuou matando, até que diversas espécies não mais resistiram e deixaram de existir. Porque seu ritmo reprodutivo era mais lento do que a atividade carniceira de nossos ancestrais.
Assim a cerca de quatro mil anos, na longuiqua Ilha de Wrangel, nos confins da Sibéria chegaram os primeiros homo sapiens e supliciaram os últimos mamutes, tombando o derradeiro membro da espécie sem que fosse derramada uma única lágrima. E como não vivemos num mundo de poesia, muito provavelmente o céu não ficou turvo por aquela espécie que chegava a seu fim...
Muito antes disto porém, haviam já nossos perspicazes ancestrais inventando canoas de boa qualidade com que pudessem rasgar o denso véu cristalino dos mares e chegar a outros mundos inexplorados. Assim sendo dia houve em que este ser inquieto tocou ao paraíso dos marsupiais, a Austrália. Isto sem que a terra nossa mãe desse um único gemido...
É suposto que tal evento tenha se dado há cerca de 40 ou 45 mil anos passados.
A bem da verdade o clima local passava por algumas transformações. A despeito das quais a natureza sempre havia sabido recuperar-se.
Desde então, com a chegada dos 'trogloditas', tudo seria bastante diferente. Pois não traziam consigo apenas o fogo mas a fatídica queimada por meio da qual acabavam com as florestas, ilhavam e perseguiam os animais. Animais que por não estarem habituados com aquela presença estranha sequer cogitaram em fugir. Alias fugir para onde???
Assim tombaram sem saber porque levados por aquele vendaval humano.
E extinguiram-se o leão marsupial, o wombate, o coala gigante, o canguru gigante, etc, etc, etc
Uma a uma cada uma dessas espécies foi sendo literalmente aniquilada por nossos ancestrais.
Os quais não pararam por ai mais ao que parece correram pelas ilhas e ilhotas ainda não totalmente cobertas pelas águas e acompanhando o curso do litoral da Antártida chegaram a Patagônia e a América Sulina, enquanto ao mesmo tempo ou pouco depois outra leva de sapiens penetrava o mesmo continente pelo Norte ou seja por Behring.
Quando isto se deu não sabemos ao certo. Seria a 30, 20 ou mesmo 15 mil anos??? Responder com precisão não o podemos.
Sabemos no entanto que ao cabo de dez ou cinco mil anos espalharam-se por todas as partes deste novo mundo produzindo um efeito não menos devastador que os colonizadores espanhóis trazidos por Colombo.
E 9000 anos antes de Colombo já haviam dado cabo do tatu gigante, do soberbo Megatério, dos camelídeos, das manadas de cavalos, etc, etc Em nome da auto suficiência nossos antepassados acabaram com tudo. Supostamente não caçavam nem devoravam dentes de sabre, mas concorriam com eles e subtraiam-lhes o até então farto alimento. Pelo que devem ter sido abatido pelo mais negro de todos os flagelos e morrido de fome!!! Afinal de contas nem mesmo seus dentes ameaçadores eram capazes de rivalizar com o aparato técnico do homo sapiens... E o mais valente e astuto dos smilodontes não seria capaz de concorrer com nossas lanças e frechas...
Importa saber que o mesmo desastre ecológico repetiu-se infinitamente todas as vezes que alguma sociedade humana embarcada em suas canoas topou com uma Ilha até então desocupada e deserta fosse ela Madagascar, Nova Zelândia, Marquesas, Salomão, Samoa, etc Para onde se instalavam levavam por assim dizer a guerra... Assim sendo outro não podia ser o destino da Moa ou do Lêmure gingante senão a aniquilação.
Ao cabo desta peregrinação ou viajem iniciada a uns 60 mil anos, lá na África ou melhor ao cabo de vinte mil anos estava a existência de nossa espécie praticamente consolidada na medida em que ocupava todos os continentes.
A contrapartida no entanto era assombrosa, pois em cinquenta ou sessenta mil anos havíamos exterminado centenas de preciosas e admiráveis formas de vida - e me refiro apenas aos grandes mamíferos - com que a dinâmica evolutiva brindara a mãe natureza ao cabo de cinquenta milhões de anos... E quando a cruz foi arvorada no cume do calvário o calvário de tais espécies já havia sido consumado a muito tempo. Não sendo mais dado a nossos olhos contemplar os modos de tantos e tantos seres fascinantes.
Apesar disto há cerca de 2.700 anos, alguém, lá nos confins ou desertos da antiga Judeia fez questão de escrever: Crescei e multiplicai-vos, colocando tais palavras na boca de seu deus étnico Jao.
Para tal povinho isolado equivaliam tais palavras a um mandamento divino.
Ademais ainda havia muito espaço no mundo, muita selva, muita floresta, muitos animais não abatidos, etc
Porquanto o Homo Sapiens continuou a multiplicar-se e a crescer.
Cerca de dois mil anos foi este conselho adotado por outros povos e culturas, também a guiza de mandamento divino e chegou a ser anexado ao ritual do Matrimônio.
E a espécie continuou a multiplicar-se, a crescer e a espalhar-se ainda mais.
Embora a sujidade, as guerras, a fome e a peste fizessem seu trabalho, ceifando outras tantas vidas.
E ficava a balança equilibrada.
Acontece no entanto que aquele mesmo ser inteligente ou melhor esperto que inventara os machados de pedra, lanças, propulsores e frechas concebeu também as vacinas, os soros, a esterilização, os medicamentos, a cirurgia, a higienização, etc, etc, etc... Ficando desde então garantida a sobrevivência da maior parte dos nascituros e alargada a existência dos adultos... pelo que nos últimos dois séculos chegaram a aparecer casais com vinte ou mais filhos!!!
Os homens multiplicaram-se por demais e cresceram ao infinito. Orçando a casa dos milhões e enfim dos bilhões.
Foi quando um clérigo inglês de rara inteligência, achou por bem advertir os zelosos observantes do mandamento hebraico a respeito de que o espaço ou a terra não aumentava de tamanho, nem as terras, nem os campos... Disse, falou, escreveu e discorreu com impeto a respeito do óbvio: A limitação de nossos recursos e o descompasso existente entre o ritmo da fauna, da flora e daquilo que orgulhosamente cognominamos progresso.
Afinal, amigo leitor, apenas ao cabo destes últimos dois séculos nossa vaidosa espécie ou ao menos diminuta parte dela pode compreender que equivalemos a parte da natureza e não ao todo. Afinal não somos seres autótrofos i é que sintetizam clorofila e fabricam seu próprio alimento... Ao que parece dependemos de outros seres, os quais imolamos tendo em vista a obtenção de suprimentos (proteínas) e a conservação da vida. Esses outros seres por fim, sendo animais, são igualmente heterótrofos e tal qual nossos vegetarianos obtém seu alimento a partir das únicas formas autótrofas de vida representadas pela flora.
Senso assim: aniquilados todos os representantes da flora, destruídas todas as florestas, devastada toda mataria 'inútil' dão-se por perdidos todos os animais inclusive nós! Deem por certo que quando murchar a derradeira folha de arvoredo estamos condenados a morte por inanição e extintos a exemplo daqueles que nós mesmo extinguimos no passado.
Coexistiremos harmoniosamente com os representantes da fauna e da flora ou caminharemos para o suicídio coletivo.
Isoladamente, como senhores orgulhosos da devastação, não podemos existir.
Todavia para respeitar o fluxo da natureza há uma única saída.
Nossa espécie precisa diminuir o número de estômagos e bocas. Pois a natureza já não pode fornecer o montante que lhe é exigido por bilhões de bilhões. E seu ritmo já não acompanha nossas necessidades, impostas por este mandamento, ora estúpido e contraproducente do 'Crescei e multiplicai-vos'. Ao menos que anjos desçam dos céus trazendo pão ou que chova arroz, feijão e carne este mandamento converteu-se num mandamento suicida e numa ameaça a civilização.
Do que precisamos atualmente é de restrição, de planejamento, de controle racional da população.
Atualmente importa não crescer e não multiplicar mas reduzir ao máximo nosso ritmo de crescimento.
Do contrário seremos levados a contaminar água, terra, ares... a exterminar as poucas formas de vida animal que ainda restam e cortar a última árvore por fim. Talvez até consigamos prolongar nossa existência por um ou dois séculos convertendo todo espaço existente em plantações e pastagens gerenciadas pena mais alta tecnologia, mas será uma sobrevivência triste. Pois a exceção dos cães, gatos, ratos, coelhos e talvez alguns cavalos (além do gado bovino de corte é claro) todas as demais formas de vida só poderão ser contempladas em álbuns de fotografias ou em livros, a guiza de recordação. Quiçá alguns de nossos descendentes contemple choroso a imagem de uma zebra ou de uma girafa, ou de um leão tal e qual nós mesmos contemplamos a de um mamute ou megatério...
Então ao cabo de dois ou três séculos, por não termos sido capazes de reeducar-nos, de mudar nosso modo de vida, de conter nosso ritmo virá o colapso, a fome, a miséria, a convulsão social e o fim ou quiçá alguma nova Idade da Pedra muito primitiva e precária. A partir da qual teremos de reiniciar nossa marcha...
A outra possibilidade com que acenam os tecnocratas é colonizar outros planetas, para lá transplantando o excedente populacional bem como nossos insumos agrícolas. Talvez seja o caso de esgotar por completo os recursos naturais desta terra até abandonar sua carcaça imunda... Acaso não procedem assim os vermes???
O ideal no entanto, e este ideal nem sempre fica bem escondido, é dar com um novo 'continente' ou melhor com outro planeta cheiinho de formas de vida capazes de nos sustentar. Caso este dia infeliz venha a raiar nossos mestres e lideres proclamarão alegremente que aquelas criaturas ou formas de vida não sendo humanas ou sendo inferiores não tem o direito de existir ( a menos que existam para servir-nos) seguindo-se a mesma triste história de sessenta mil anos atrás. Faremos deste novo e infeliz planeta nossa vaca ou melhor nosso mamute cevado... exterminaremos uma a uma suas espécies e esgotaremos seus recursos naturais...
Caso semelhante possibilidade se concretiza estaremos evidenciando que não passamos de um vírus ou duma bactéria nociva espalhada no corpo do Universo...
Já fomos comparados com o câncer, mas ainda temos a possibilidade de olhar para o passado, de contemplar nosso saldo de destruição, de encarar a sujeira moral por nós produzida e enfim de limpar nossa ficha. Talvez seja a derradeira chance que nós é concedida. Aproveite-mo-la tendo em vista restringir as loucas pretensões que nos são ditadas pelos preconceitos religiosos e pelo fanatismo. Aproveite-mo-la para criar uma vida de respeito, amor e comunhão com a fauna e a flora. Aproveite-mo-la para desenvolver a fraternidade e mostrar gratidão para com a mãe natureza.
Mostremos que somos verdadeiramente Sapiens integrando-nos a mãe natureza numa perspectiva solidária, porque aquilo que o homem semear isto haverá de colher.
Portanto cessemos agora de semear a dor.
Ou colheremos lágrimas amargas.
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