sábado, 15 de junho de 2013

Apologia do Socialismo - As base da crença liberal: Individualismo primitivo

Não erramos caso definamos o liberalismo econômico como uma forma ou categoria de Individualismo relacionado com a produção, distribuição e consumo de bens.

Pois segundo os teóricos clássicos o fundamento não é apenas a livre iniciativa mas a livre concorrência. Os indivíduos rivalizam ou concorrem uns com os outros tendo em vista o sucesso econômico ou a obtenção de uma maior margem de lucro.

Segundo esta perspectiva qualquer tipo de interferência exercida pelo grupo ou corpo social não é apenas indesejável mas verdadeiramente nociva e a cooperação desnecessária.

Eis porque a mais refinada forma de 'liberalismo' o anarco capitalismo - expressão forjada pelo economista Norte americano Murray Newton Rothbard - advoga a supressão de tudo quanto denominamos estado e, consequentemente o desaparecimento da vida política e benefício das relações puramente econômicas em termos de mercado. Visão da qual D Friedman, filho do neo liberal Milton Friedman, fez-se o principal paladino.

Em termos puramente econômicos Rothbard é legatário do pensamento de Ludwig Von Mises (um dos patriarcas do círculo de Viena e miniarquista). Quanto a generalidade da teoria Rothbard faz petição a Frederic Bastiat, economista francês e ferrenho adversário do socialismo; Gustave Molinari, sucessor e continuador de Bastiat; Julius Faucher, Lysander Spooner e Benjamin Tucker. Por Molinari, Bastiat e Faucher chegamos ao calvinista Jakob Mauvillon o qual em pleno século XVIII susteve a privatização de todos os serviços, inclusive do ensino e dos correios...

Por Benjamin Tucker chegamos a Friedrich Nietzsche e a ideia do super homem, bem como a Herbert Spencer, o pai do 'Darwinismo social'... Outra possível fonte é a apóstola do egoísmo racional ou do individualismo crasso Ayn Rand...

Ulrik Heider no entanto, confirmando nossas suspeitas e dando-as por fundadas, aponta o alemão Kaspar Schmiedel ou Max Stirner (autor no 'Uno e sua propriedade') como o mais remoto ponto de partida do liberalismo crasso. "Stirner susteve a abolição não apenas do estado MAS DA ORGANIZAÇÃO SOCIAL COMO UM TODO ENQUANTO ÓRGÃO DO MUTUALISMO SOLIDÁRIO... O ESTADO DEVE SER SUBSTITUÍDO POR SIMPLES AGREMIAÇÃO DE EGOÍSTAS." refere o já citado autor.

Era pois de se esperar que mais cedo ou mais tarde o individualismo econômico - de Smith, Petty e Ricardo - e o individualismo crasso ou político/social - de Stirner, Nietzsche e Rand - acabassem por unir-se ou por formarem uma só coisa. O Matrimônio foi oficiado por Rothbard servido D. Friedman como padrinho... Aqui não se trata duma união híbrida mas duma união necessária por força de coerência...

Para ser honesto e coerente tinha o liberalismo que assumir esta derradeira forma a qual por sinal representa seu próprio desenvolvimento em termos de lógica interna e seu estádio mais aperfeiçoado. Nem podemos deixar de reconhecer que em termos de coerência, lógica e honestidade os anarco capitalistas levam a palma entre os liberais...

Nem se pode compreender como Auberon e seus miniarquistas que tanto criticam os investimentos e serviços públicos nas áreas da saúde, educação, habitação, legislação trabalhista, etc Sustentem a necessidade de manter a polícia e o exército, apenas com o intuito de conter as massas trabalhadoras no respeito e de proteger as imensas fortunas amealhadas pelos patrões... isto é com o objetivo de 'manter a ordem' isto é o sistema economicista liberal por meio da coerção e da violência.

Face a este intervencionismo invertido ou seja a favor dos ricos; face a este modelo oportunista de estado, face a este estado 'burguês'; o credo anarco capitalista parece até um pouco mais ameno...

Investiguemos no entanto o fundamento comum a um e outro, ou seja, ao liberalismo econômico como um todo; o individualismo.

Salvo engano de nossa parte a primeira sugestão a respeito dum individualismo natural cujas raízes penetram até a Idade Primitiva, encontra-se no 'Leviatan' de 'Hobbes' obra em que damos com o afamado termo: "Bellum omnia omnes" ou Bellum omnium contra omnes ou guerra de todos contra todos. Esta expressão revela muito claramente que o pensador político inglês imaginava o homem primitivo com um individuo isolado e em situação de conflito com os demais membros da espécie... 

Esta ideia parece ter sido retomada por outros autores, inclusive em certa medida por Russeau, até cristalizar-se no pensamento dos anarco individualistas como Stirner e Rand e dar origem a uma autêntica mística ou metafísica tecida em torno da expressão: "INDIVIDUALISMO NATURAL"

Implica tal expressão em admitir que de certo modo e em certo sentido faz o individualismo parte da natureza ou da condição humana dela emanando como a luz e o calor emanam de um corpo ígneo... De modo que, salvo em situações de repressão, o individualismo tende a aflorar nos membros da espécie correspondendo certamente ao tipo do homem primitivo, vagando pelo mundo sempre só com sua família...

Todo um ideal ou imagem do homem primitivo foi concebido nestes termos e mantido até o tempo presente, constituindo a base do credo liberal em seus diversos níveis... Todos no entanto, com mais ou menos intensidade, professavam fé na existência deste 'homo solitarius' verdadeiro antípoda do 'animal social' ou político de Aristóteles...








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