terça-feira, 26 de setembro de 2023

Hospitais privados - O terror da vida real (Relato vivido pessoalmente pelo Cronista na Baixada Santista) II



Diante disso, esperei - Não tinha outra alternativa. até as 7 hrs da manhã do dia seguinte a chegada do médico responsável pelo plano de saúde de minha mãe ao Hospital.

Assim que ele chegou fui até ele relatando tudo quanto narrei no artigo anterior, sobre a omissão de socorro, sobre a condição dos idosos postos naquele lugar, etc declarando em alto e bom som que aquilo constituirá um verdadeiro crime, que aquele local era um açougue ou matadouro e que estava provido tanto de testemunhos quanto de gravações. 

Finalizei declarando que aquilo era caso de polícia e que não admitia que minha mãe tornasse a passar mais uma única noite daquele lugar - Antes das 11 horas não poderia sair porque estava terminando de repor o Sódio. 

Disse-lhe ainda que se até as 18 horas nada fosse feito chamaria a polícia e a imprensa além de comunicar o fato a diversos políticos e juízes da região amigos e conhecidos meus - Afinal, onde já se viu um Hospital parceiro deixar de fornecer a assistência médica necessária aos pacientes dessa tal Retaguarda no período noturno... ou o Plano em questão deixar de prover um médico assistente seu para aquele período...

O médico pouco faltou para desmaiar, e como pode tentou defender-se, eu no entanto disse que caso minha mãe ali falecesse sem exames, leito ou os devidos cuidados porque estávamos pagando, todos os envolvidos se exceção, Hospital, plano, médicos, etc responderiam criminalmente.

Diante disso o homem assumiu o compromisso de transferi-la para um quarto ou para o Hospital Casa de Saúde até as 18 horas, evitando assim que continuasse naquele açougue chamado retaguarda. 

Encerrada a reposição de Sódio foi minha mãe encaminhada a Tomografia e por volta das 13 hrs tínhamos já o ensaio de um Diagnóstico: Colite pseudo membranosa ou Peritonite, ambas desoladoras devido ao alto índice de mortalidade. No mesmo dia tive, a contragosto, que fazer os papéis da internação. Naquela mesma tarde reuniram um junta médica e lhe foi atribuído um clínico - A Dra X, profissional de competência e habilidade comprovadas.

Entrementes, fui ter com o Responsável médico da tarde, Dr N, com o objetivo de repetir tudo quanto dissera a seu predecessor no período da manhã, de modo que não alegasse qualquer tipo de desinformação como escusa e prolonga-se a estadia de minha mãe na citada retaguarda.

Era notório o desconforto dos enfermeiros e médicos enquanto eu permanecia no antro da retaguarda ao lado de minha mãe - Pois sendo gravíssimo o estado da velha enquanto lá estava, acredito que eles temiam algum tipo de reação impensada de minha parte caso ela viesse a sucumbir ali. O receio e temor por parte deles estava no ar... 

Desde que a cuidadora da mãe chegará eu me movimentava sem parar pelas diversas sessões do Hospital em busca do médico do Plano responsável pelo período da tarde, em busca deste ou daquele enfermeiro amigo meu (Pois alguns dos meus ex alunos ali trabalhavam.), etc Pude portanto notar que por um lado que tinha certa liberdade para faze-lo (O que é terminantemente proibido.) e por outro que era vigiado bem de perto por todos, enquanto me davam uma canseira após a outra.

Observo ainda que haviam dois ou três pacientes idosos, quase que nas mesmas condições de minha mãe na tal da retaguarda. No entanto como estavam acompanhados apenas por cuidadoras e não por familiares não receberam a mesma atenção que nós e que as reclamações suaves ou moderadas das cuidadoras não produziam quaisquer efeitos.

As dezesseis horas, orientado por uma enfermeira, dirigi-me a ouvidoria do Hospital onde fui recebido com toda pompa e solenidade por um funcionário, muito provavelmente, versado ou formado em direito. Repeti diante dele as mesmas informações e queixas assim como o desejo explicito de que minha mãe não passasse mais uma noite da dita retaguarda. 

Respondeu-me o homem, com um semblante admirado, reconhecendo que minha denuncia sobre a omissão de socorro por parte da médica era gravíssima e ao mesmo tempo que ignorava por completo as condições em que se achavam os idosos que se achavam naquele espaço. Para finalizar parabenizando-me por minha denúncia posto que aquela situação era intolerável. Declarou por fim que o problema seria resolvido de imediato e que o melhor para minha mãe - Tendo em vista sua condição bastante delicada. - era ser transferida para um quarto do que conduzida a Casa de Saúde, o que certamente implicaria riscos que ambos queríamos evitar, e terminou a conversa pedindo que pusesse tudo por escrito, assinasse e entregasse a ele.

Demorei meia hora para compor um relato, assinar e entregar e cerca de cinco minutos para ir dali a dita retaguarda, de modo que eram cerca de dezessete horas quando ali cheguei e - Pasmem! deparei com minha mãe sendo removida para o quarto, no sexto andar. A cuidadora recebeu-me com um sorriso de alívio e disse: Graças a Deus professor, eram cinco para as cinco quando nos vieram preparar para a subida! 

Conclusão: O Problema foi solucionado de imediato, assim que saí da ouvidoria e muito provavelmente por meio de um simples telefonema ou com uma pitada de boa vontade.

Sendo assim as 17 e 20 estávamos já instalados num quarto e ela efetivamente internada, após ter sido examinada, diagnosticada por junta médica e recebido um médico assistente, isto em cerca de 11 horas.

Agora cogite o leitor inteligente sobre o que teria sucedido caso minha mãe estivesse completamente só i é se eu ali não estivesse correndo de um lado para o outro e cobrando os médicos e o Hospital... Se deixasse tudo por conta da cuidadora... 

Para mim ficou cabalmente demonstrado que mesmo pagando um plano de Saúde qualquer o paciente cujos familiares não sejam presentes e vigilantes sempre correrá o risco de morrer desassistido e abandonado no melhor dos hospitais. Pois geralmente as senhorinhas contratadas pelos familiares como cuidadoras não tem pulso firme para lidar com médicos e enfermeiros e tampouco são levadas a sério mas enroladas pela equipe - Já para o idoso, que é um ser vulnerável, cada minuto que passa agrava sua condição.

Necessário ainda deixar bem claro que a estrutura ou a administração desses Hospitais não temem sequer a polícia ou a justiça, mas somente a influência de contatos políticos ou a imprensa, infelizmente... Te tratam por cliente, porém para eles a vida humana nada é e consideram os gastos e lucros friamente - Ao bom entendedor meia palavra basta... 

Os médicos e enfermeiros não se espantam com a morte, pois para eles é algo banal. Alguns deles só sentem ou ligam quando se trata de seus país, cônjuges, filhos ou parentes... Quiçá a rotina de trabalho os tenha entorpecido ou insensibilizado. Seja como for o ambiente hospitalar é hostil e sua energia uma energia densa.

Cumpre dizer que após minha mãe ter sido transferida para o quarto teve acesso a um tratamento de excelente qualidade, talvez porque nosso caso se tornasse notório - Desde então recebeu toda assistência possível até recuperar-se uma semana depois e retornar a casa. No momento presente completou 91 anos e goza de boa saúde. 

Sobre minha experiência no quarto de Hospital durante esses sete dias prometo compor um outro relato tão interessante quanto...






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