segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Hospitais privados - O terror da vida real (Relato vivido pessoalmente pelo Cronista na Baixada Santista)





Estou pronto...

Passados quase seis meses, estou preparado para escrever uma crônica minuciosa sobre o quanto vivenciei num dos grandes Hospitais da Baixada Santista - SP.

E posso garantir que foram momentos aterrorizantes. Dignos da vinheta - Impróprio para menores de dezoito anos.

Escrevo-o tendo em vista contrapo-lo aqueles que só sabem criticar o serviço público de saúde e endeusar o serviço privado, até chegar a tecer apologias a Privatização. 

Direi que o SUS tem problemas, alguns até sérios, os quais devem ser corrigidos, sem que seu regime público e gratuito seja alterado. E recomendarei a implementação de uma lei que poria fim a todos os problemas do SUS e da escola pública: Obriguem todos os políticos, por lei, a fazerem uso dos serviços públicos e em menos de um mês, de um mês... a qualidade atingirá os níveis desejados.

Agora por que não aprovam e aplicam uma lei assim tão simples...

Porque desejam sucatear o serviço e desgostar o povo com o premeditado objetivo de privatizar tudo... Momento em que os pobres, os mais humildes, os desempregados, etc serão deixados para morrer na sarjeta, sem qualquer atendimento. Quando a saúde constituí direito essencial da pessoa humana.

Iniciemos porém, sem mais delongas, a crônica da vida real por mim vivenciada.

Como é sabido por muitos - Pois sou praticamente uma pessoa pública, ao menos na região em que vivo... - sou responsável por minha mãe, uma senhora de quase noventa e dois anos de idade, a qual via de regra goza de um bom estado de saúde.

Digo de modo geral porque a saúde de uma pessoa octogenária ou mesmo septuagenária por vezes falha. Como veio a falhar por volta de 09 ou 11 de Abril do corrente, pois não me recordo com exatidão do dia.

Apenas para que o leitor compreenda com exatidão o quanto vou relatar, devo observar, que, como minha mãe sempre foi uma pessoa autônoma, gerenciava ela mesma seu plano de saúde, o qual mantínhamos e mantemos para casos de internação. No mais, recorremos bastante ao SUS e sempre fomos super bem atendidos, com todo amor e carinho.

O plano é pago por meu irmão.

A princípio, i é há cerca de uns vinte anos atrás, era o da afamada Santa Casa de Misericórdia de Santos, do qual desligou-se ela alguns meses antes da morte de meu pai. Meu pai sempre manteve esse plano da Santa Casa, minha mãe porém desejou passar a outro plano. Ela mesma fez a mudança, acertou tudo e meu irmão pagava.

Posteriormente, mudou de plano mais algumas vezes conforme quis, jamais interferimos diretamente nisso. Até que há cerca de uns dez anos, creio eu, aconselhada por um amigo, mudou de plano pela última vez, aderindo ao plano da cloroquina (sic), o qual tinha também a péssima fama de liquidar idosos.

Devo observar ainda que esse plano não possui Hospital próprio no Litoral do estado, atendendo seus aderentes por meio de parcerias com alguns hospitais privados desta nossa região - O que só vim a saber após a hospitalização de minha mãe no final de Abril deste ano.

Feita essa observação retomo o fio da meada.

Em algum dos dias assinalados acordou minha mãe com uma forte diarreia ou desinteria, não sei ao certo, expelindo, desde o princípio água ou muco. Tomei todas as providências necessárias por se tratar de uma pessoa idosa, arriscada a desidratar. Um mundo de garrafas da isotônicos, leites vegetais, água de coco, etc Chás, sopas, bolachas, torradas, etc 

O caso é que o quadro não melhorava e já se haviam passado três dias, então tivemos de ir ao tal Hospital parceiro - Que NÃO ERA A CASA DE SAÚDE. - i é ao PS  desse Hospital, onde fomos razoavelmente bem atendidos. Alias conheço pessoalmente o diretor do PS, médico bastante responsável. 

Foram realizados os exames iniciais e detectada uma infecção urinária ou cistite. E fiquei espantado por saber que tal quadro, diarreico, podia ser causado por cistite. Conversamos bastante com o médico, o qual me pareceu bastante apto e responsável, e optamos por não internar devido o perigo da infecção hospitalar e porque temos recursos suficientes para tornar ao Hospital diariamente e coloca-la no soro, caso necessário fosse. Receitou um antibiótico que não era demasiado invasivo mas absolutamente necessário para debelar a infecção (Que como se sabe pode ser mortal.), a Macrodantina.

Tornamos a casa, porém foi um calvário, pois esse medicamento causa reações bastante fortes como a falta de apetite e, pasme, diarreia ou desinteria e - Anote - coisinha mais, coisinha... Porém não se tinha mesmo o que fazer. Devia o medicamento ser usado por no mínimo uma semana. 

Dia sim, dia não tínhamos de tornar ao PS para que ela tomasse soro e fosse arribada, pois não comia e mantinha o quadro diarreico. Em casa dava água de coco, chá, isotônico, etc Eram dias terríveis, pois apesar dos esforços ela emagrecia cada vez mais e ficava cada dia mais fraca.

Ao cabo dos oito ou nove dias, todos os sintomas da cistite tinham cedido, menos o quadro diarreico, que se agravava. Feitos os exames de praxe foi verificado que a cistite havia cedido e que a Macrodantina não era mais necessária. E no entanto minha mãe não melhorava e podia dizer que estava pior.

Achava que iria morrer e não queria retornar ao Hospital de maneira alguma. No entanto dois dias depois, tive de leva-la novamente com a ajuda de uma grande amiga da família. Feitos os exames foi constada a Hiponatremia i é queda de Sódio no sangue - Quadro que havia levado uma nossa vizinha (Com 79 anos) a morte alguns anos antes. 

Nesse momento o médico do Plano de saúde dela veio falar comigo sobre os procedimentos a serem feitos, os quais, dessa vez, exigiam uma espécie de hospitalização. Mesmo porque não se pode repor o Sódio as carreiras. O clínico garantiu no entanto que em pouco mais de vinte e quatro horas ou no final do dia seguinte, a reposição teria sido completada e ela poderia retornar a casa.

Deixei uma parente cuidadora com ela na salinha de observação e tornei a casa para tomar um banho de gato e pegar algumas coisas necessárias.

Tornei ao Hospital por volta das dezenove horas e fui - Marque bem isso! - encaminhado (Na qualidade de acompanhante.) a um setor que naquele Hospital é chamado Retaguarda, nome que até agora me causa pavor.

Ousarei descrever esse espaço, ao menos com relação aos pacientes mais idosos e que não pertencem ao convênio daquele Hospital, como uma espécie de campo de concentração, açougue, matadouro ou sei lá o que. E foi assim que me referi a ele, em conversa com o médico do Plano, no dia seguinte.

A norma, que me pareceu sensata mas que até então ignorava, é que o ar condicionado ficasse no 20, o que provocava frio. Minha mãe recebeu apenas um lençol fininho, típico de Hospital. Como é friorenta pedi um cobertor, respondeu-me uma das mal encaradas funcionárias dizendo que infelizmente não havia, e nesse momento percebi que havia algo de errado ali. Pois uma pessoa idosa sensível ao frio pode contrair até pneumonia.

E é aqui que a narrativa começa a ficar mais séria, na medida em que comecei a observar aquele espaço com toda atenção. Como minha mãe estivesse com dores abdominais fortíssimas e o ventre bastante dilatado ou a barriga inchada, fui procurar o médico do plantão noturno daquele lugar para pedir ajuda.

Havia ali uma médica a qual relatei a condição, grave, de minha mãe. Essa médica é regular daquele Hospital. Respondeu-me ela dizendo QUE ERA MÉDICA DAQUELE HOSPITAL E NÃO DO PLANO DE SAÚDE DE MINHA MÃE OU DE QUALQUER OUTRO, PELO QUE NÃO ATENDIA OU PODIA ATENDER TAIS PACIENTES (O que descrevi ao médico do Plano, no dia seguinte pela manhã, COMO CRIME DE OMISSÃO DE SOCORRO que podia ter custado a vida de minha mãe.) e apontou para um jovem, que estava a seu lado, declarando que ele
e era o responsável por aquele plano... O rapaz era super simpático, atencioso, etc mas não era médico (Suponho-o técnico de enfermagem.) e dizia não poder medicar antes da chegada do médico do plano as sete horas da manhã.

O que estava preceituado ali era Buscopan de tantas em tantas horas, o que de modo algum eliminava uma dor que parecia lancinante. E até a troca de fraldas era realizada com displicência.

A condição era esta (Fixe bem): Não havia atendimento médico porque a responsável do Hospital naquela retaguarda se omitia e recusava a preceituar, enquanto que o rapaz não podia faze-lo. De minha parte estando só não achava prudente ir a polícia ou chama-la e tampouco podia remove-la ou retira-la dali porque estava fazendo a reposição do Sódio. Eu simplesmente nada podia fazer até que se completasse a reposição do Sódio as onze horas do dia seguinte.  Porque interromper a reposição para levar a Santa Casa era perigoso e caso algo sucedesse eu seria o responsável.

Também não podia sair andando ou correndo atrás de médicos por aquele hospital e deixa-la sozinha por um instante - EU SIMPLESMENTE NÃO CONFIAVA e hoje confio ainda menos.

Passei aquela madrugada ouvindo-a berrar de dor como um animal. Afinal, como disse, Buscopan era água, e o rapaz, como dizia, não podia intervir. Mencionei a ele os exames feitos no PS do Hospital e ele replicou dizendo QUE NÃO TINHA ACESSO e que mesmo que tivesse não podia preceituar por não ser médico. Enquanto isso a médica do Hospital desvelava atender apenas os clientes do Plano do Hospital, sem atender os demais, que começavam a gritar, dentro de seus cubículos de borracha.

E como ali, de mistura com idosos, houvessem adolescentes e desequilibrados mentais agressivos (Como vim a testemunhar no dia seguinte.) as luzes permaneciam acesas a noite inteira. Tanto as luzes quanto as vozes altas dos adolescentes e os gritos de alguns idosos e desequilibrados tornavam impossível que um idoso estabilizado pregasse os olhos naquele espaço. E de fato duas idosinhas que  conheci naquela mesma noite declararam querer ir embora dali pelo simples fato de não poderem descansar. 

Minha mãe seja pela claridade ou barulho ou ainda pela dor passou a madrugada inteira gemendo e minha própria condição era agravada pelas luzes e barulho, algo inadmissível num ambiente hospitalar, particularmente no qual hajam idosos.

Concluí, e vim a sabe-lo mais tarde, que dificilmente um idoso em estado grave, sem cuidador ou parente presentes, ali sobrevive por mais de dois ou três dias. O que me foi dito por outros médicos, enfermeiros e parentes que conhecem o lugarzinho.

Continua 







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