terça-feira, 10 de outubro de 2023

O cerco contra a educação


Os primeiros esforços significativos em prol da educação no Brasil remontam a assim chamada era Vargas e foram, em sua maior parte, implementados pelo então ministro Gustavo Capanema.


Antes disso, já em 1932, foram estabelecidas as aulas de 'Canto orfeônico'.

De 1932 a 1971, i é, por quase quatro décadas ou ao cabo de quarenta anos, obtivemos amplos resultados por parte desse esforço educativo.

Desde então, 1971, principiaram os ataques, a desconstrução, o sucateamento, etc a princípio tímido, e em seguida vertiginoso e voraz - A ponto de podermos falar numa Cruzada massificadora.

De fato nos últimos cinquenta anos os esforços do poder constituído traduziram-se em massificação, com o Estado de São Paulo a frente desse processo vergonhoso.

E quero deixar bem claro que o empenho em produzir massas alienadas e acríticas é intencional e consciente. 

Desarticulado porém, partiu de diversos setores da sociedade brasileira - Cada qual com um propósito ou motivo peculiar...

Para começo de conversa quero citar os 'bondadosos' militares, endeusados por tantos e tantos imbecis - E aqui a conversa é velha pois o papo remonta a Sócrates e seus detratores Anito, Licon e Meleto. e toda a essência da Filosofia ou do pensamento crítico.

Começaram os ditadores, em 1971 (LDBN) abolindo as aulas de música e diluindo esse conteúdo no curso de arte. E desde de então, pelo espaço se meio século, não temos tido aulas de música ou formação musical de qualidade. 

Oportuno indagar sobre as causas da ascensão do pagode, do sambão (Não estou falando no Samba bahiano dos Caymmi ou dos Demônios da garoa.) e enfim do rock pauleira, do Funk e do gospel... E mais ainda dos ideólogos que se empenham em defender a estética elevada do Funk ou do pagode em suas investigações 'sociológicas' - Pobre Sociologia pessimamente normativa...

Em São Paulo a educação musical permaneceu no Currículo até cerca de 1986, quando foi cancelada pelo PMDB i é pela vanguarda democrática das Diretas já e quanto a isso podemos adiantar que neste estado ou província a nova democracia foi ainda mais insidiosa que os milicos no sentido de tornar a escola em algo absolutamente inócuo, até converte-la em mero depósito de jovens que pouco ou nada aprendem. Enfim a pá de cal lançada na Escola pública do estado de S Paulo foi o Novo ensino médio - Do golpista temeroso, e isso foi um desígnio...

A questão dos militares é que receiam quanto a formação do ser humano integral e quanto a implementação de uma cultura humanista. Como Cálicles e Trasímaco eles acreditam, quiçá honestamente, no padrão da força bruta e consequentemente da obediência cega, o que de modo algum se ajusta com a racionalidade, a capacidade reflexiva, o pensamento crítico, etc que eles encaram como ameaçador e subversivo. 

Por isso Sócrates, ao questionar os mitos, a arbitrariedade das definições - Inclusive da justiça... e tantas outras coisas tornou-se perigoso, e teve de beber cicuta. Já antes dele Pitágoras, Zenon, Anaxágoras, etc  e depois dele Aristóteles, Epicteto, etc envolveram-se em tais conflitos e levaram a pior... 

O dilema continua até os dias de hoje - Pois de modo geral policiais e militares tendem a assumir esse padrão de cultura irracionalista e autoritário, e a desconfiar dos professores e dos filósofos. 

Isso se reflete inclusive na dinâmica da violência, porquanto os autoritários e seus aliados tendem a apoiar toda sorte de abusos e excessos como perfeitamente naturais, enquanto que os cidadãos éticos e críticos encaram-nos sempre como violação de direitos.

Há no entanto outros atores sociais nesse cenário anti educativo ou deseducativo, uns e outros já representados na trama histórica do Areópago - Pois além do chefe militar ali estão, não menos firmes, o demagogo político, o fanático religioso e o capitalista, patrão ou investidor... Cada um mais ou menos delineados.

Ali, cerca de 399 a C, assassinaram Sócrates... Hoje impedem que Sócrates renasça ou 'reencarne' em cada cidadão - Pois teem medo dele e receiam da liberdade.

Outros diriam que o ódio é potencializado pelas atitudes daqueles que cultivando a autonomia, despertam a inveja e o rancor nos submissos e os submissos são rancorosos mesmo... 

Tornemos porém aos personagens - O Demagogo... Inserido no sistema democrático!

O demagogo chega a ser pior do que o déspota ou que o tirano.

Ao menos no Brasil ou em S Paulo foi e tem sido.

O demagogo concluiu que a ignorância propicia o acesso ao poder, através dos sufrágios oferecidos por toda gente massificada.

Pão e circo é seu lema e ele depende de que hajam consumidores de churrasco e cerveja - Ou cachaça... - Potenciais vendedores ou traficantes de voto. É necessário reproduzir esse tipo de pessoa ou personagem... O que só é possível fazer destruindo o que chamamos instrução, pois o fim da instrução ou da educação é produzir um cidadão consciente, que participe, que denuncie, que mobilize; e que jamais se venda ou venda seu voto.

Para que hajam corruptores ou vendedores de voto é necessário que o ensino ou a escola falhem miseravelmente e por isso o demagogo encara todo e qualquer sucesso educativo como perigoso.

Naturalmente que a imposição do voto obrigatório é um dos fatores mais tóxicos.

No entanto é absolutamente necessário que o eleitor constrangido seja perfeito idiota, porque se for consciente e tiver mínima ideia sobre a importância de militar e mobilizar, além de votar... O perigo será o mesmo.

Urge portanto converter a escola pública numa fábrica de zumbis, de palermas, de otários, de tontos, de imbecis, de idiotas, etc E lamentavelmente tal tem sido feito em âmbito institucional.

Todas as vezes que me deparo com a propaganda babosenta do PSDB na televisão e com o esforço heroico em desprender-se da Hidra bolsonarista ou da canalha anti democrática, quase me urino de tanto rir. Pois sei que essa Horda liberticida sendo composta por mentes massificadas ou vazias, alimenta-se de ignorância... Agora, quem fabricou a ignorância com que se banquetearam...

Reportemos a inditosa ou desditosa memória do governador PSDBesta Mário Covas... O mesmo governante que desmantelou o investimento mais do que secular, de nossas Ferrovias públicas, que acabaram sucateadas - Do que resultou a tirania dos caminhoneiros, a rede dos pedágios, o aumento do custo dos alimentos e de tantos outros produtos, etc 

Mário Covas fez algo muito pior e superou a si mesmo ao desmontar as bem estruturadas escolas padrão do estado de S Paulo, outro investimento de cinco anos destinado a recuperar a qualidade das escolas deste estado. As salas ambiente foram desfeitas, os laboratórios desativados e todo aquele material disperso, uma calamidade. Era o ano de 1995. 

Ali o militar, aqui o demagogo... produtor da oclocracia.

Dois adversários implacáveis do ensino ou da escola pública de qualidade.

Não os únicos - Pois temos ainda o Mercado, os patrões ou os investidores, os quais atacam a escola por motivos de diversa monta. Os patrões, a exemplo dos milicos, desejam que seus servidores, os operários, sejam totalmente submissos ou dedicados. Querem que se dediquem ou consagrem a uma causa que não é deles > O enriquecimento alheio a custa do lucro. Quanto mais idiota ou estúpido for o operário melhor: Bom que saiba ler, soletrar, calcular, puxar umas alavancas, etc Importa que ele jamais questione a realidade que lhe é dada ou imposta... Um operário demasiado crítico ou questionador jamais é bem visto, pois poderia recusar a ser o que é ou a contentar-se com o pouco que tem, chegando inclusive a fazer greve, o 'pecado original' dos proletários.

Tal a perspectiva dos patrões... Que temem a escolarização ou a produção de cidadãos conscientes.

Há no entanto algo ainda mais soturno nesse setor do liberalismo econômico.

Tais os potenciais investidores, com suas reservas e o desejo de investigar em alguma coisa.

Agora não basta que tal coisa seja monetarizada ou precificável... Deve ser algo lucrativo, logo algo privado. 

É o ideal funesto das privatizações ou da tal desestatização, o qual deve ser bastante ponderado a luz da História. Pois quando nossos ilustres ancestrais, atacaram a ferro e fogo, com ferocidade e violência, a Igreja antiga, o objetivo foi sequestrar uma série de serviços, como a saúde e a educação, com o intuito de que, desvinculados da fé, se tornassem acessíveis a todos os homens e mulheres. Os ideais norteadores, ao menos da maioria dos teóricos, parece ter sido melhorar a acessibilidade e a qualidade de tais serviços, no caso gerenciados por um Estado (Como parte do que chamamos bem comum.) mais ou menos democrático.

Paulatinamente a ideia, até certo ponto saudável, de concorrência, introduziu a iniciativa privada em quase todos esses setores. Desde então apareceu e tomou corpo, toda uma rede de serviços privados, no acesso dos que pudessem pagar e fora do acesso dos que não podem arcar com os custos. Isso em nada prejudicou o atendimento dessa clientela, incapaz de pagar, pois sempre puderam recorrer aos serviço público e gratuito. 

E as redes de serviço pública e privada floresciam lado a lado, a primeira mantida pelo Estado (A custo de impostos.) tendo em vista a clientela mais simples ou humilde, composta por sinal, pela grande maioria dos trabalhadores pertencentes ao setor privado. 

Até que cerca de 1989, por meio do Consenso de Washington, os EUA, visando fortalecer seu poderio ou império financeiro, impuseram aos países Latino Americanos uma série de medidas inspiradas no modelo capitalista - Dentre as medidas preconizadas estavam o assim chamado controle fiscal, compreendido como teto de gastos e redução de investimentos em áreas não consideradas como essenciais, o que atingiu de cheio inúmeros programas sociais. 

Num primeiro momento Educação e Saúde foram excetuadas, agora a tendência - Vigente no governo Bolsonaro. - é incorpora-las, expondo os mais vulneráveis a morte e a indignidade inclusive, como assistimos durante a epidemia de Covid. O resultado desse tipo de política economicista, desumana e cruel foi suficientemente exposto nos documentários de Michael Moore como Sicko ou SOS saúde. 

Em seguida vinha a cereja do bolo i é as Privatizações ou desestatizações i é a passagem dos serviços públicos e gratuitos, tomados a Igreja pelos jacobinos, ao setor privado ou ao Mercado, com a necessária monetarização... Sem que subsista qualquer nicho público e gratuito a que os mais humildes possam recorrer, donde resultam - Por pressão econômica em situação de doença ou impossibilidade. - uma série de abusos repelentes como empréstimos a juros exorbitantes, hipotecas, etc E no final do túnel quem lucra, a custa da dor e do sofrimentos alheio, são as grandes instituições financeiras. E aqui, não nos enganemos, por meio de tais medidas (Como a bela desestatização.), os interesses individuais (O lucro ou ganho) sobrepõem-se ao ideal precipuamente ético e político de BEM COMUM, o qual sai de cena... Tal e qual a fé religiosa, como relíquia do passado.

Tolerável que haja alguma privatização em alguns setores periféricos, sempre calculada, dirigida e fiscalizada. Outro o caso dessa mística da privatização que aspira devorar a Educação e a Saúde, direitos primários e essenciais de todos os cidadãos brasileiros senão de todos os seres humanos. Do contrário porque tirar os serviços essenciais a Igreja velha... Para passar as mãos dos particulares ou de indivíduos ambiciosos, movidos por interesses meramente financeiros... Caso tenha sido essa a intencionalidade reconheçamos com o Mestre Garrett, que cometemos um erro fatal. Então temos que evitar o abismo e manter a todo custo o serviço público, de caráter universal, aberto e gratuito> O SUS e a escola pública, principal alvo do desmantelamento.

Não nos enganemos. 

Não nos iludamos.

Não nos enredemos.

É necessário remover a qualidade da Escola pública ou impedir que seja eficiente para que se possa argumentar a favor da gestão privada. E isso é intencional.

Políticos há, postados a favor do grande capital e do capital estrangeiro ou estado unidense, que sabotam a educação e a saúde públicas. Aspiram desmonta-las com o objetivo final de vender ou leiloar em hasta pública a quem mais oferecer... E esperam colocar toda essa grana nos bolsos, pois são vendilhões...

Pugnam os interesses privados contra a qualidade da Escola pública - Pois há milionários ou afortunados que desejam converter hospitais e escolas em empresas, querem investir, dizem eles. Desconfio que queiram lucrar... Saúde e Educação até podem ser economicamente exploradas, desde que haja um espaço reservado para o poder público - Ao que se opõem o Consenso de Washington com a ideologia da desestatização, alias em grau absoluto ou com abertura para o que chamam capital internacional > E o ideal aqui é que as empresas Norte Americanas comprem todas essas estruturas a preço de bananas com o propósito extrair imensas fortunas, transferidas em parte para a grande República anglo saxã. 

De comboio no controle fiscal, na privatização e na abertura ao poder econômico imperialista ou estrangeiro; temos ainda a proposta de uma Reforma fiscal destinada a desonerar os mais ricos - E consequentemente de desamparar o Estado ético ou humanista de Bem estar social (Bem comum) e por fim a desregularização do mundo do Trabalho i é um decidido retorno a maravilhosa Inglaterra liberal anterior a 1870. Eis todo o pacote de malignidades, etiquetadas com os rótulos de econômicas.

Após o Militar, o Demagogo e o Capitalista ou Patrão tem a escola e quiçá o Hospital, um outro grande inimigo. Não o homem ou a mulher religiosos, que cultivam uma espiritualidade qualquer. Nem, julgo eu, o rabino, o bonzo, o médium ou mesmo o padre romano. Porém o pastor protestante, fundamentalista, bíblico, sectário, etc nos exatos moldes do 'made in EUA' - Não menos que o Ulemá sunita > É o mesmo espírito tacanho e farinha do mesmo saco...

Charlatães, cobram por curas pseudo miraculosas que de modo algum realizaram, e depreciam os verdadeiros heróis: Médicos, enfermeiros, etc assim tratamentos, hospitais, etc E já foi dito que se existissem curas divinas ou miraculosas, a sra economia nos mandaria investir em pastores ou pagar dízimos... 

Tanto pior o caso das Escolas, da instrução, da formação racional, do pensamento crítico, etc 

Basta lembrar o processo do macaco, nos EUA, sofrido pelo heroico prof Th Scopes. 

Tanto a presença de primitivos mitos no Antigo testamento quanto a crença continuísta na existência de milagres no tempo presente - E portanto um éthos mágico fetichista. - fazem com que os pastores sejam os mais denodados amigos da ignorância e adversários do pensamento reflexivo.

Não podendo dominar e usar a escola numa perspectiva confessional o pastor aposta em sua perda de qualidade. É outro personagem que, como o militar e o demagogo, aposta na ignorância humana, na imbecilidade e na massificação para tirar proveito próprio. Talvez, mais do que todos os outros o pastor dependa da falência da escola ou do sistema educacional.

Outro aspecto danoso a ser considerado com relação a este último personagem é o moralismo (A simples moralidade mecânico formal.) ou o puritanismo em oposição ao pluralismo escolar e o consequente liberalismo moral que tanto exaspera os bíblicos. Para eles a escola pública e laicista é uma aberração por não aderir a moralidade tosca do pentateuco ou mesmo os preconceitos legados pelo paulinismo. O fanático não sabe conviver com a liberdade e aquele todo aquele que escapa ao sistema de opressão do qual ele faz parte converte-se numa ameaça, ou, como dizem num mau exemplo - Daí desejar ele o insucesso da escola. 

Eis porque jamais houve medida destinada a sucatear a educação pública ou a prejudica-la que não contasse com o decidido apoio da sinistra Bancada Evangélica. 


Continua





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