quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Ensino - Entre criticismo e essencialismo\Ojetivismo



Num mundo cada vez mais complexo é cada vez mais difícil instruir as gerações futuras.

No passado, cerca de cinco, dez, vinte ou vinte e cinco séculos, educar era antes de tudo comunicar o que parecia ser a essência das coisas ou mostrar como as coisas eram em si mesmas.

No entanto, há cerca de cinco séculos, passou o Ser, a ser cada vez mais utilizado com uma finalidade lucrativa e desde então quase todas as coisas se converteram como que em meios para se obter dinheiro. Desde então as pessoas tem se interessado mais pelo uso que se faz das coisas do que pelas próprias coisas, até o ponto de certas opiniões - Ora predominantes. - certificarem que não podemos conhecer as coisas como tais e que isso é ociosidade inútil. Sempre podemos usa-las (rsrsrsrs), sai de cena a Ontologia ou a Metafísica, e entra em cena, com grande gala a Dona Economia... Senhora de nossos tristes tempos economicistas (Foi o Católico T S Elliot e não os comunas que os declararam tristes e eu concordo plenamente com ele.). 


Ao mesmo tempo em que as coisas principiaram a ser cada vez mais usadas com finalidades econômicas, também foram - As coisas. - usadas para ocultar, disfarçar ou obscurecer a realidade vivida por aqueles que ao invés de lucrar ou auferir benefícios por parte do sistema vigente, apenas trabalhavam e continuavam penando ou acumulando miséria. Na medida em que parte das coisas ou dos seres passaram a ser usados, por quem aspirava permanecer no comando, com o objetivo de alienar os mais humildes da realidade por eles vivida ou melhor dizendo de suas causas mais íntimas e remotas, foram surgindo oponentes cujo ofício passou a ser revelar ou tornar pública a grande burla que é a Sociedade liberal economicista ou capitalista, em Educação, essa vertente recebeu a alcunha de crítica.

O Educador crítico tem assumido, em maior ou menor grau a tarefa de demonstrar como a realidade das coisas tem sido manipulada pelos detentores do poder econômico, noutras palavras, tem concentrado seus esforços em expor as mentiras do capitalismo - E o capitalismo mente a não poder mais (O que não quer dizer que as Ideologias que se lhe opõem, disputando a Hegemonia, não mintam.). 

Então qual é o problema do Criticismo ou dessa Revelação a propósito da grande farsa do Capitalismo...

Que ficamos apenas na crítica ao uso que o capitalismo faz das coisas, no marketing, na instrumentalização, no engano, na aparência ou melhor dizendo nas relações existentes entre os seres, criadas pela produção. E jamais chegamos as coisas, ao ser, a verdade mais íntima e profunda... Em Geografia olvidamos por completo os fenômenos físicos... Em História colocamos de lado os personagens, fatos, datas, etc - Além de abandonar o passado mais remoto, tão interessante e fecundo... Em Arte esquecemos a fruição intuitiva do belo (Estética) ou o significado estético da produção pessoal - E tudo isso vai sendo relegado a segundo plano e deixado para trás.

A crítica é quiçá necessária, e isso é angustioso! Porém a educação ou a formação se vai mutilando e empobrecendo. A ponto de tornar-se alvo de contra criticas justamente por parte dos prestidigitadores economicistas. Não sou contra a crítica ou o criticismo, reconheço sua relevância num mundo de aparências e intencionalidades viciosas, mas quero estabelecer uma crítica honesta face a certos abusos ou excessos do Criticismo, pois temos que tornar a falar sobre as coisas e a verdade, para que a Ética não fique desamparada de seus fundamentos, passando a ser apresentada como mero discurso, como uma perspectiva, como uma interpretação ou como algo absolutamente relativo.

Quando falo na realidade da dor provocada no sujeito por um situação de injustiça tenho que aprofundar metafisicamente minha predicação, conceituar que seja dor, que seja ser humano, que seja justiça, etc e demonstrar que haja algo real, para que essa dor e essa justiça não sejam relativizadas.

Curioso falar em crítica, criticidade, criticismo, etc sem pensar I. Kant.

No qual já esta presente o grande efeito ou sintoma da brincadeira iniciada pelos sistemas modernos face ao conceito de verdade - Seja natural\racional ou Revelada, não importa... Esse sintoma doentio é a negação da Verdade ou o total desinteresse por ela. E nem se pode dizer que o positivismo, o cientificismo, e outras ideologias modernas, ainda quando impulsionaram o anarquismo e o comunismo, começaram prestando imenso serviço ao Capitalismo, pelo simples fato de negarem a Metafisica e consequentemente Ontologia, Estética e Ética (Litreé). Após a demolição da fé, precipitaram-se as mentes não no precipício da economia, com seu prosaísmo vazio, mas nos braços da Metafisica e sob os auspícios da Filosofia clássica. 

Kant prosseguiu a demolição da Verdade, pois a um tempo contemplou a burla iniciada pelo Capitalismo e a outro o significado mortal do Libre examinismo no plano religioso > Pois se haviam apenas interpretações (A expressão é de Nietzsche) não havia verdade e menor ainda Revelação divina - O único padrão de veracidade para os Evangelhos e o Novo Testamento é a Tradição alardeada pelas antigas igrejas Apostólicas, sem a qual o livro se converte num labirinto sem saída. E no entanto esse mesmo Kant forcejou por estabelecer um Ética objetiva por meio de imperativos categóricos e não podia imaginar o viver sem Ética de Litreé.

Comte, outro bravo demolidor, busca abater toda Metafísica e exaltar a Ciência empírica até imaginar uma ditadura de cientistas. Litreé põem de lado a ditadura de cientistas para conciliar-se com a democracia formal, porém 'avança' no sentido de repudiar a Ética e é claro a Estética, como emboloradas lucubrações metafísicas... E exalta até onde pode essa ciência que se deleita em deslindar aparências ou fenômenos... Após ele Durkheim e Lévy Bruhl levam adiante a batalha contra a essencialidade Ética nos domínios da Sociologia e postulam um relativismo absoluto, a partir do qual Sócrates é morto e não resta critério algum pelo qual possamos acordar em torno do certo e do errado...

Foram uns belos discursos positivos ou científicos em torno da Ética ser mero resíduo cultural, produto intragável da fé religiosa ou pura fantasia arbitrária (Metafísica) engendrada pela mente... Até que os alemães parecem te-los lido e levado bastante a sério, a ponto de produzirem duas grandes guerras mundiais nas proximidades do paraíso capitalista ou do coração da civilização, convertendo-o por duas vezes em ruínas fumegantes... E no bojo dessa cruzada contra o direito natural ou o jus naturalismo (Em que Antígone era pintada como idiota e Creonte como...) surgiu nazismo, e tortura, e assassinato, e roubo... E toda aquela carniçaria e miséria - Afinal não havia qualquer padrão objetivo ou essencial de Ética.

Recordo-me de ter lido algumas palavras escritas por alguém que viveu num desses campos de concentração - Nos quais Ética era certamente encarada como palavra vazia ou discurso sem sentido: Ali haviam diplomados e técnicos que assassinavam... e respeitáveis cientistas que praticavam tortura, exterminando crianças, grávidas e idosos com requintes de crueldade... Adquiriram com sucesso os conhecimentos de suas respectivas disciplinas, a calamidade aqui é que não aprenderam a ser bons... Essas pessoas, antes de aprender matemáticas, física, química, etc deveriam ter assimilado princípios e valores saudáveis. 

Nada que Sócrates, Jesus ou um Buda já não tenham dito antes... Esses pobrezinhos... > Segundo Litreé, Durkheim e Bruhl... não passavam de umas criaturinhas toscas, privadas de espírito positivo ou científico... Desde então teve a Europa ou o Ocidente, que aprender com a dor e que reformular seu discurso...

Após a segunda grande guerra a palavra Ética - E o velho Sócrates ou Aristóteles. - parece ter sido reabilitada, tornando-se novamente popular, ao menos aparentemente ou superficialmente, pelo simples fato de que os céticos, positivistas, relativistas, ateístas, etc servidores do Capitalismo, não podem admitir ou conceber, que a dimensão ética da pessoa seja inculcada nos mais jovens com toda seriedade a que faz jus. Problema não é o comunismo ou anarquismo repudiarem uma Ética essencial - Nada que o amiguinho querido, chamado positivismo (E o cientificismo que com ele se confunde.) já não tenha feito... Problema é o Mercado insinuar a meia boca que esta acima da Ética ou os representantes da bela ciência (Como se fossem arremedo do colégio cardinalício.) exigirem neutralidade...

Por isso digo que pior do que negar a Ética é muito menos prejudicial e danoso que brincar com ela.

Pois onde mais falta Ética em nossos dias é nas relações econômicas, cada vez mais desumanas e intoleráveis, assim nas relações políticas com essas guerras totais que envolvem a população civil de cada pais e seus animais inocentes. O mundo da economia, da política e da guerra continuam visceralmente irredutíveis a Ética...

O próprio Ch Dawson em seu inútil livro sobre Deus ou contra a existência de Deus, ainda que imbuído por um venenosa ideologia cientificista em momento algum decantou contra a Ética, limitando-se a declarar que até então o ateísmo querido tem sido de todo inútil para produzi-la i é para criar um sistema de Ética. A bem da verdade, a crítica foi injusta, pois o ateísmo ou o materialismo encontra-se na gênese do utilitarismo ou pragmatismo 'ético', com suas repercussões estéticas... E foi outro desastre clamoroso, pois por ser nulo em termos de princípios e valores, o pragmatismo (Como a ciência positiva) fica sempre sujeito a ser utilizado por qualquer ideologia ainda que oculta...

O mesmo Dawson não se lamenta menos de que no campo da estética a querida ciência nada tenha produzido de relevante, como uma peça de Teatro ou uma sinfonia.

Agora por não produzir Ética - Não produz sequer estética! - ou princípios e valores próprios, como poderia a querida ciência deixar de servir como lacaio dedicado ao Capitalismo... Como servirá o Nazismo na Alemanha e o Comunismo na URSS. Bela deusa essa que se partilha seu leito com Comunismo, Nazismo ou Capitalismo. No Ocidente é acrítica e manipulável, não devendo o homem esperar dela qualquer redenção. Descobertas, conquistas tecnológicas, verdades fenomenológicas, etc mas não a mais leve crítica ao sistema. Entre nós a ciência esta conectada aos poderes políticos e econômicos - E por isso, enquanto os europeus deploravam a desconstrução da Ética pelas beldades positivistas, os cientistas instalados nos EUA faziam o que lhes era ordenado, produzindo Bombas que seriam lançadas sobre uma população civil inocente.

Protestantismo, capitalismo, positivismo, cientificismo, ceticismo, pragmatismo, modernismo, etc se entrelaçam e misturam nessa sopa indigesta e nauseabunda. Merecendo cada qual ser criticado com toda propriedade e responsabilizado pela demolição da Ética essencial, da estética essencial e sobretudo da Metafisica, sem a qual tudo se relativiza e perde o sentido.

Comunismo e anarquismo também deveria ser julgados e criticados e julgados com toda liberalidade, enquanto reprodutores acríticos das ideologias acima citadas e de seus vícios. Não são inocentes e nem mesmo a Igreja romana ou o papismo é inocente - Embora eu a encare como a menos culpada, paradoxalmente a mais responsável (Por não ter condenado o agostinianismo.) e a menos culpada (Devido as condições históricas e sociais do Ocidente medieval.).

Por isso considero que calcar as críticas na velha igreja papalina como se fosse a principal responsável por todos os nossos transtornos e padecimentos, equivale a um erro imperdoável e tanto Engels, quanto Weber, e Tawney, Fanfani, O'brien, etc apresentaram o protestantismo como sendo o principal sustentáculo ou aliado ideológico do capitalismo.

Seja como for estabelecer uma crítica tão completa na escola é intencionalmente impossível... Digo mais: Concentrar-se numa crítica ao Capitalismo e suas mazelas tampouco é possível, e esgota-la menos ainda. 

Necessário ao professor de História apresentar a seus pupilos outros períodos em que não havia capitalismo e nos quais o poder econômico não era tão poderoso e forte. Necessário a esse educador referir a personagens, eventos, locais e datas, não apenas a processos de produção e as estratégias empregadas com o objetivo de oculta-las.

Necessário ao professor de Geografia apresentar a seus alunos não apenas a 'Guerra fria' mas antes dela a forma do planeta, os acidentes geográficos, a relação meio, homem e sociedade, etc 

Tampouco o professor de arte poderia concentrar-se apenas no uso da arte como dominação ou na contra propaganda sem apresentar as turmas a História das representações artísticas e alguma mínima noção de teoria Estética, sempre intermeada pela produção concreta da arte, quiçá seu aspecto mais relevante tendo em vista seu aspecto psicológico e formativo; o simples trato prático com a arte é humanizador e terapêutico.

Um bom professor terá, necessariamente, que conciliar a crítica ou o criticismo com um saudável realismo ou essencialismo que reporte as coisas ou ao ser, e a pessoa. De maneira que seu criticismo não se torne árido e insípido. Ocioso dizer que por admitirmos uma justa crítica ao Capitalismo e aos danos por ele causados em praticamente todos os setores da vida humana, não endossamos qualquer apologia ao Anarquismo, ao Comunismo ou a qualquer outro sistema sócio, político e econômico em sala de aula. Compreendemos perfeitamente que todos esses sistemas devam e possam ser livremente abordados e discutidos pelas turmas e professores nas aulas de Filosofia, Sociologia ou mesmo em certos tópicos de História, mas não admitimos que as nossas aulas devam converter-se numa doutrinação catequética sistemática. 

E já declaramos que, salvo quando uma tal temática seja introduzida pelo currículo, sua discussão deve partir sempre dos alunos ou da turma e jamais do professor, a guisa de proselitismo. Salvo quando os alunos suscitarem determinadas questões - As quais sempre deveriam ser acolhidas e levadas a discussão pelo professor. - deve o docente seguir a ordenação curricular e ministrar os conteúdos estipulados. 

Exerçamos portanto um criticismo crítico, sóbrio, dosado, etc e não um criticismo cego e sectário que redunde em contra críticas maliciosas em favor da manutenção da realidade dada. 






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