quarta-feira, 15 de novembro de 2017

O tabu do totem - Uma resposta a S Freud

Resultado de imagem para kroeber antropologistAlfred Kroeber

 
Preliminares



Em que pese 'Totem e tabu' ter sido escrito há mais de um século são poucos os críticos - desde Alfred Kroeber (1920) - dispostos a lê-lo com independência de espírito, apontando os desacertos e fazendo as devidas ressalvas.

No entanto, após termos lido o pequeno ensaio de Kroeber, fomos como que constrangidos a assumir este 'encargo'.

O próprio Freud nas últimas linhas do trabalho recusou-se a tirar conclusões definitivas (Madrid 1988 - p 209). Poucas páginas antes havia registrado: "Nós não desejamos ocultar, de modo algum, as incertezas inerentes a nossas premissas e as dificuldades com que tropeça a aceitação de nossas conclusões." p 203. Somos portanto, autorizados a descrever sua obra como uma 'tentativa' Psicológica.

Mas a que vem ao caso aqui uma 'tentativa Psicológica'?

Para compreendermos devidamente o 'porquê' de semelhante tentativa temos de compreender a situação da Antropologia e da Etnologia pelos idos de 1900... Bastando-nos para tanto acompanhar o próprio Freud. 142 Isto a propósito do Totemismo, isto é, de sua origem.

Tentemos colocar a questão do modo mais claro possível.

É o totemismo fenômeno social presente em determinado número de culturas primitivas, como os Arunta da Austrália além de diversas tribos Americanas e africanas. Tal instituição foi simplesmente detectada nas citadas culturas sem que elas mesmas fossem capazes de esclarecer qualquer coisa a respeito de seu surgimento. Para complicar ainda mais a questão desde Mac Lennan (1869) mais e mais evidências tem sido aduzidas a respeito de um passado totêmico para além das grandes civilizações mediterrânicas ou europeias. Sem que no entanto topemos com qualquer esclarecimento a respeito das fontes do totemismo.

Consideremos agora que as culturas da Idade da pedra eram iletradas, ou seja, que não possuíam códigos escritos, tal e qual as culturas primitivas a que nos referimos. Em tal conjuntura é absolutamente natural que tenham surgido lacunas a respeito de diversos aspectos da Idade da pedra e lacunas que decorrem do próprio método arqueológico. Neste caso como completa-las?
Em Louis Figuier 1883 damos com a tese, ventilada por Lord Avebury (Sir John Lubbok), segundo a qual devemos buscar tais informações suplementares - a respeito da Idade Primitiva - no regime de vida e instituições dos povos primitivos e portanto da Etnologia ou da Antropologia cultural. Muito do que topamos nas Origens da civilização, no Homem antes da História e no Homem pré histórico procede desta fonte.

Passado menos de meio século, já Andrew Lang (em 'O segredo do Totem' p 27) aditava as seguintes ressalvas, alias reproduzidas por Freud - "Tampouco os povos primitivos tem conservado as formas originais das instituições existentes entre eles ou as condições de sua formação." 143 Querendo dizer com isto que mesmo as culturas que ora encaramos como primitivas passaram certamente por algumas transformações ao cabo de tantos e tantos milênios, e que a condição delas não é estática ou idêntica a das culturas que floresceram na Idade da Pedra. Logo explicar a Idade de pedra a partir das culturas primitivas sempre poderá conduzir-nos ao anacronismo.

Diante disto que fazer?

Em termos de Etnologia e de Antropologia cultural, diz Lang "Nós nos vemos obrigados a completar as lacunas advindas da observação direta por meio das CONJECTURAS." P 143

Disto decorre a situação de 'divisão' teóricas alardeada e explorada por Freud: "Sendo assim soará estranho a nossos leitores que tendo em vista responder a tantas questões os investigadores assumiram diferentes pontos de vista e que seus resultados mostram grandes divergências." p 143 Em seguida, apelando a autoridade de Goldenweiser, certifica que um número cada vez maior de pesquisadores tem dado tal questão - da origem do Totem - por insolúvel. p 144

A partir daí passa Freud a elencar as principais matrizes explicativas do fenômeno - A nominal ou funcional de H Spencer, Max Muller, Lang e Avebury, A Sociológica de S Reinach, Durkheim, Haddon e Frazer e a Psicológica de Wilcken, Fr Boas e finalmente Wundt, um dos pais da psicologia e autor da Psicologia dos povos (1912). Buscando editar as críticas de cada um ou lança-los uns contra os outros, declarando - "E como sucede amiúde cada um destes autores mostra mais acerto quanto as críticas que dirigem aos demais, do que na parte positiva de seus trabalhos." 144

Curiosamente o próprio Kroeber (cf Totem e tabu na psicanalise etnológica) havia chamado a atenção para a demasiada liberdade com que os diversos etnólogos, antropólogos e sociólogos, haviam formulado suas conjecturas.

Seja como for Freud não apenas concluí pela impossibilidade de tais disciplinas  - Assim a etnologia, a antropologia e a sociologia - chegarem a qualquer conclusão mais consistente sem o auxílio da Psicologia (o que é perfeitamente admissível), como dispara: "Somente a psicanálise projeta alguma luz em meio a tantas trevas." p 166

Assim de sua Psicanálise 'Fiat lux'...









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