Para quem quiser ler a primeira parte da entrevista, clique aqui.
DC: O que Vossa Beatitude pensa de acerca de classes e castas? O sr. sabia que aqui no Brasil ainda existe trabalho escravo, o que pensa da escravidão?
São Basílio: "Nem servo - dizem - nem senhor, mas livre. Maravilhosa estupidez e miserável audácia daqueles que falam assim! Que haverei de deplorar mais a sua ignorância ou a sua blasfêmia? Pessoas que desonram a doutrina acerca de Deus com ensinamentos de homens e se empenham em transferir para a natureza divina e inefável um costume terreno, que reconhece diferença de dignidades e não leva em conta que, entre os homens, não há ninguém escravo por natureza. Foi assim que os homens tiveram que se submeter ao jugo da servidão por opressão tirânica: por exemplo, os prisioneiros de guerra ou aqueles que foram reduzidos à escravidão pela fome...".
DC: Thomas Hobbes disse que "o homem é o lobo do homem". O que pensa a respeito disso?
São Basílio: Eu diria que os homens se parecem com peixes e eu explico o porquê¹.
"Os peixes tem diferentes hábitos alimentares, segundo sua espécie. Uns, com efeito, se alimentam de barro, outros de alga, enquanto outros se contentam com as plantas que nascem nas águas. Quanto à maioria, uns comem os outros e o menor serve de comida para o maior. Se acontecer que o que se apoderou do menor for, por sua vez, presa de outro maior, os dois irão parar no mesmo ventre.
Que outra coisa fazemos nós, homens, ao oprimir os de classe baixa? Em que se diferencia do exemplo que demos aquele que, por seu ávido amor à riqueza, esconde os fracos em seu ventre insaciável? Aquele homem possuía o que era dos pobres. Você, tomando para si o próprio pobre, faz dele parte de sua opulência.
Você tem se mostrado o mais iníquo dos iníquos e o mais avarento dos avarentos. Tome cuidado para que não tome o mesmo fim dos peixes: o anzol, a vara ou a rede. Estejamos certos de que se cometermos muitas iniquidades, não escaparemos do suplício final".
Nota:
¹Essa frase inicial não é de São Basílio, mas minha, eu a pus na boca do entrevistado para que o texto possa se encaixar perfeitamente à minha pergunta. A frase inicial foi feita apenas para dar coerência ao texto que se segue e a mesma não afeta em nada o texto do santo.
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