sábado, 19 de junho de 2021

A tarefa de um diretor habilidoso.





Qual a tarefa de um bom Diretor de Teatro ou Cinema?

A tarefa, missão ou vocação de um Diretor eficaz consiste em explorar ao máximo as potencialidades de seus atores e a partir delas utilizar-se de todos os meios possíveis para torna-las visíveis.

Logo a atribuição dos papéis sempre deverá levar em conta três tipos de expressão:

A expressão postural.

A expressão plástica ou gestual. E-

A expressão facial, E -

A expressão e sonora.

Eis o que faz um ator. Eis o que faz o ator.

Cria e recria ele o personagem imprimindo-lhe tais expressões. 

De modo a oferecer um todo harmonioso, sempre conforme o perfil do personagem em questão.

Define a postura o personagem. 

Pois uma é a postura do Rei e outra a do súdito. Como será outra a postura de um rei débil, e outra a postura de um súdito arrogante...

Postura é aquilo que faz o ator identificar-se com o personagem ou incorpora-lo.

E já foi dito mil e uma vezes que se trata de algo intuitivo. Como se o intuitivo ou natural não pudesse ser aprimorado pela técnica ou pelo treino.

Cabendo aqui uma direção e um Diretor.

Outro caso se houver falta de discernimento ou de intuição. Não sabendo o ator assumir porte - Ou 'ares' como se dizia outrora - de rei ou de mendigo. 

Pois foi o porte, intuitivo por sinal, que fez um Olivier, um Gielgud, um Autran, um Abujamra, uma Robson, uma Staunton, Flanagan, Ferrati, Carrillo, Rachel...

Melhor dizendo: Um Hamlet, um Chang, um Baldaracci, um Ravengar, uma Valentine... - Tipos consumados de príncipe, criado, padrasto, mago e rainha.

Tipos de fato existem. Coisa diversa é encarna-los com facilidade e suma raridade encarna-los muitos ou todos como um Chico Anysio.

Ao porte segue a modulação dos gestos, outro aspecto importante da linguagem corporal que se torna vital para aquele que interpreta.

A modulação dos gestos é que produzirá as variantes impostas pela trama.

Assim um padrasto abnegado - Posto que a padrastos e madrastas abnegados, em que pesem os estereótipos - ou um padrasto cruel. Uma rainha séria ou cônscia de sua dignidade com Flora Robson (1937), Ferratti, Carrillo... Ou uma rainha caricata como Valentine, a qual Tereza Rachel, emprestando o timbre da voz, tornou clássica. Um homem efeminado ou possuído por um espírito feminino como Steve Martin ou Tony Ramos ou um machão como os que fazem a fama de Fagundes. Mesmo um avarento como Nonô Correia tem seus gestos característicos. Todo o personagem os tem. Sendo papel do Diretor fazer com que o ator desenvolva essa percepção.

Observe como Antonio Abujamra sabia modular os gestos para compor o personagem Ravengar, como sabe o momento exato de cruzar os braços, ergue-los, erguer apenas o dedo, curvar-se, etc Observar este personagem é uma autêntica aula de linguagem gestual e vale por muitas aulas de interpretação.

Segue a expressão facial. Tão importante nos cômicos ou comediantes, a exemplo de um Rogério Cardoso, dum Walter D'Avilla, dum Brandão Filho, quanto nos trágicos, como uma Nathalia Timberg, a qual sempre explorou esse tipo de expressão ou recurso e ocorre-me a inesquecível vilã D Idalina. 

Postura e expressão plástica sem expressão facial seria como uma casa sem teto ou telhado.

Pois a expressão facial é que completa e dá vida a postura e a expressão plástica, aproximando da perfeição.

Agora o arremate da perfeição é a entonação da voz. 

Pois a voz do ator precisa ser modulada.

Afinal há falar de rei, falar de mago, falar de líder sindical, falar de político, falar de operário, etc diversos falares e tons, os quais precisam ser manejados pelo bom ator.

Ouso, ainda mais uma vez, aludir ao personagem Ravengar, cujo manejo da voz em sintonia com o discurso é para mim proverbial. 

Outro ator notável pelo toque e a modulação de voz foi o falecido Jorge Dória. Escusado descreve-lo. 

Assim o Paulo Autran, Ary Fontoura, Walmor Chagas, Paulo Gracindo, Lima Duarte... 

Os quais é sempre útil e proveitoso ouvir.

Relacionados os quatro tipos de expressão com o tipo ideal do personagem que se quer cabe ao diretor escolher o ator que melhor corresponda a esse tipo e ajuda-lo a desenvolver, em máximo grau, cada expressão. 

O que se consegue através do treino.

O segundo passo na arte da direção é deixar o dirigido brilhar.








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