sexta-feira, 22 de junho de 2018

Judaísmo, Paganismo e Cristianismo ou - O que a Igreja tomou do Paganismo?

Embora ousemos considerar o Cristianismo Católico (Ortodoxo) enquanto Ética e fé, como um fenômeno sobrenatural ou Revelado não podemos negar que esta auto comunicação do Sagrado tenha ocorrido no tempo e no espaço, alias num contesto cultural judaico, do que resultaram uma série de conflitos, um processo religioso e uma condenação, um homicídio.

Pois bem, nós não negamos que esta Revelação sobrenatural tenha ocorrido num cenário natural, e num cenário dominado pela cultura hebraica. O que nós não enxergamos é a suposta harmônia natural entre esta nova fé e a fé antiga. Jesus não nos parece muito bem enquadrado ou situado na Sinagoga. Foi o quanto procuramos demonstrar no artigo precedente.

Acabo de receber um exemplar da Folha universal ano 25n 1366 Ed de 17 de Junho de 2018 e constato, nas pags 04 e 05 que a IURD adotou vestimentas israelitas... Já construíram uma paródia do Templo dos antigos judeus, além de cultuarem menorás, arcas do pacto, estrelas e outros tantos símbolos do judaísmo antigo... Com dois mil anos de atraso. Grosso modo grande número de seitas pentecostais teem judaizado desde o século XIX ou adotado instituições do judaísmo antigo, após seus ancestrais, os 'deformadores' do século XVI, terem denunciado o sacerdócio Cristão como plagio do judaísmo ou do paganismo antigo e assim quase todo ritual, ao menos segundo a corrente dos calvinistas, os quais, surpreendentemente, morriam de amor pelo antigo testamento.

O calvinismo por sinal canonizou e reforçou um erro basilar, do qual a mente protestante jamais logrou furtar-se por completo. Lutero, aproximando-se do grande Marcion e reforçando algumas posturas do Cristianismo medieval - em que pese ter confundido as coisas e anunciado o anti semitismo - tinha consciência de que o Cristianismo e o Judaísmo correspondiam a mentalidades ou crenças diferentes e repudiava portanto uma dependência total do primeiro face ao segundo. Paradoxalmente o irracionalista Lutero não achou prudente alardear a versão tradicional a respeito da 'revogação' do judaísmo, o qual folgava apresentar como uma falsa religião, sem prestar maiores esclarecimentos. Calvino, embora fosse racionalista, abraçou com fervor a opinião corrente a seu tempo, alardeando que o Judaísmo correspondia a uma Revelação ou dispensação divina revogada em benefício de outra, a saber do Cristianismo... Teria assim o Cristianismo substituído o judaismo segundo ainda podemos ler em diversas apologias...

Num segundo momento os calvinistas foram deparando com diversos pactos ou alianças no corpo do antigo testamento, as quais haviam substituído umas as outras até chegarem ao Cristianismo e em tese atingirem sua perfeição final... Segundo declaram os mal orientados houve uma revelação Davídica, uma Noaquica, uma Abraâmica ou patriarcal e uma Sacerdotal ou Mosaica que teria vigorado até ser derrogada em benefício da Instituição Cristã. De modo geral é assim que contam embora hajam outras versões conforme é próprio da imaginação e da fantasia humanas. Os pentecostais tem partido dessas fantasias, menos e bem menos que de Joaquim de Fiore, deduzindo um novo pacto mais intenso, com o espírito santo... E a quem encaixe a suposta queda da Igreja antiga e a manifestação do protestantismo neste mesmo quadro... Afinal se existiram outras tantas revelações e alianças precedentes, todas revogadas e substituídas, quem nos garante que este movimento haveria de cessar? De modo que a Encarnação de Deus fica correspondendo a um evento apenas dentre tantos outros, até perder seu significado único...

O que queria dizer é que para os calvinistas o Judaísmo foi uma espécie de Cristianismo antigo, cujos mistérios haviam sido anunciados simbolicamente ou por meio de linguagem cifrada... Há inclusive quem empregue o termos 'igreja antiga', 'igreja judaica' ou 'igreja de Moisés', e por ai vai... Uma coisa é certa, todo Cristianismo, em termos de doutrina, ai estava, contido alegoricamente na religião do antigo Israel, na Torá, na Tanak, etc

Apesar disto, de par com os supostos elementos doutrinas Cristãos ou alegóricos, havia também diversas normas, regulamentos, estatutos, ensinamentos... Tipicamente judaicos, os quais, segundo pensam os calvinistas, eram igualmente sagrados enquanto produtos de uma comunicação divina. Os calvinistas acreditam que tudo quanto esteja registrado na Tanak ou AT seja divino. Creem portanto que a ordem para exterminar os cananeus partiu indubitavelmente do 'Bom Deus' de Jesus Cristo ou daquele Pai de Amor descrito no Novo Testamento. Eles creem que a legislação dos antigos hebreus, em sua totalidade, seja de origem divina e portanto que o Deus verdadeiro tenha sancionado não apenas a pena de morte e de morte dolorosa tendo em vista certos crimes de natureza civil, mas que tenha inclusive sancionado a execução de dissidentes religiosos e portanto condenado a doutrina do liberalismo religioso. São obrigados a crer que existam 'bruxas' ou feiticeiras como as de Salém e estão obrigados a queima-las sob pena de irreverência! E em outras tantas normas e regras devem crer como aquela que proíbe o corte da barba, que regula a semeadura dos campos, o uso de tecidos diferentes no vestuário, a dieta, etc E ELES CREEM E ALARDEIAM CRER QUE TUDO ISTO É DE ORIGEM DIVINA, MAS... ao contrário dos judeus ortodoxos, não buscam viver tais leis ou coloca-las em prática!

Mas como???

Observe agora a mágica dos calvinistas ou dos protestantes de modo geral...

A primeira coisa que fazem ao cruzar com um espírita é anunciar que a evocação dos mortos foi proibida pela Lei de Moisés no Antigo testamento... E com que empáfia o anunciam!

Dão sorte quando o espírita é de origem simples, se é ingênuo ou mal informado. Do contrário não tardarão a ouvir boa réplica: Ueh naquela mesma lei que proíbe os fiéis de comerem chouriço ou galinha a cabidela??? - Nosso espírita poderia citar centenas de regulamentos mosaístas que nossos protestantes violam sem maior cerimônia como o da tatuagem, o dos tecidos, o da barba, o da exposição a nudez ( e a maior parte de nossos protestantes vão a praia!), etc

A esta altura nosso calvinista, após engolir um pouco de saliva, responderá sem abalar-se muito (ele sequer tem noção do que esta a dizer!) - Acontece que nem todas as leis do antigo testamento permanecem válidas... Aqui atalhará um papista abelhudo - Mas o que do Antigo Testamento não foi abolido a exceção do DECÁLOGO???

Aqui nosso protestante literalmente pira, pois compreende que sua estratégia seletiva foi desmascarada... Afinal quem é que decide o que vale ou não vale do antigo Testamento; digo das leis civis e cerimoniais??? Afinal os incisos da barba, dos tecidos, da semeadura, da terra, etc JAMAIS FORAM POSITIVAMENTE REVOGADOS PELO MESTRE... Estarão todos valendo??? Neste caso por que nossos calvinistas não os cumprem, começando pela reforma agrária??? Deveriam ser todos confirmados ou validados por Jesus? Neste caso só nos resta a parte imposta ao jovem rico, a Lei moral ou o Decálogo, vindo todo resto da Torá abaixo... Aqui nosso protestante fica já desconsertado pois já não pode condenar o espiritismo ou os espíritas sem que sejam também eles fulminados pela 'boa' lei de Moisés, afinal S Tiago é absolutamente claro: QUEM VIOLA UM INCISO DA LEI VIOLA-A EM SUA TOTALIDADE... portanto se uma norma qualquer Lei judaica foi revogada é porque ela jamais fora revelada por Deus, sendo de origem puramente humana. Afinal Lei divina alguma pode ser revogada... Se você violar uma norma ou regulamento divino torna-se impuro ou sacrílego...

Mas os Cristãos jamais foram obrigados a cumprir qualquer lei judaica ou a viver a moda dos judeus, e por que? Porque os Cristãos sempre souberam que a cultura judaica era de origem puramente humana... Os protestantes, mais do que os papistas - logo avançando - é que divinizaram em vão a totalidade da Torá, criando uma tempestade em copo dágua para si mesmos. Afinal se com um raio fulminam os coitados dos espíritas com outro feixe de raios são fulminados pelo jao, no mesmo momento em que comem torresmo ou fazem a barba... Não podem viver atualmente o judaísmo, como nem mesmo os judeus ortodoxos conseguem vive-lo em sua integralidade. Observem os judeus moderados em compreenderão o que estamos falando.

Então seja assim dirá nosso calvinista contrariado. Se é certo que tais regulamentos e normas não valem mais e não regulam a instituição Cristã é certo que vigoraram no passado e que foram revogadas. Aqui o Neo Católico ou o luterano, por piedade ou complacência silenciará ou concordará e mesmo a quase totalidade dos nossos Ortodoxos. 'Nom nobis', nom nobis; pois em boa consciência perguntaremos a nosso calvinista como poderia Deus, sendo imutável e sem sombra de variação, mudar ou substituir uma 'lei' por outra??? E não se diga que ele, Deus, meramente desenvolveu ou ampliou esta lei na mesma direção porque, como vimos, uma autoriza a matança dos dissidentes religiosos - negando o valor da liberdade religiosa - enquanto outra reconhece que os homens são livres para não querer (Eu quis recolher teus filhos como a galinha recolhe o pintinho debaixo de suas asas e tu não o quisestes) e para resistir, sem que Jesus se mostra disposto a fulmina-los com raios, como queriam os Zebedeus! Aqui, onde há Espírito, parece haver liberdade; e mal sabem os Zebedeus por que espírito ou porque valores estavam sendo guiados, mas certamente não eram os valores daquele que disse: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei! Ali os sacerdotes assumem o governo secular e comandam o extermínio ou reis são supostamente escolhidos e entronizados por Deus - Aqui a lei ou preceito é totalmente distinto: Daí a Deus o que é de Deus e a César o que é de César. Lá, naquela outra suposta lei divina, é deus quem associa, mistura e confunde... aqui, na Lei divina do Evangelho, a mancebia entre os poderes esta condenada e a teocracia perpetuamente maldita!

São leis totalmente diferentes, dando a antever mentalidades diferentes... Como portanto atribuir ambas as leis a mesma fonte, no caso Deus??? E sustentar ao mesmo tempo, honestamente, que este Deus seja imutável e sem sombra de variação. Quem não percebe que da Torá ao Sermão do Monte a mudança é drástica e alteração clamorosa? Que deduzir sinceramente a partir disto senão que o Verbo Encarnado Jesus Cristo encarava a Lei dos judeus como uma Instituição verdadeiramente humana e não divina? Como poderia ele criticar algo divino sem tornar-se sacrílego ou blasfemo??? Se se opõem, se emenda, corrige, revoga, etc é porque não lhe reconhece a divindade??? Como criticar liberalmente o que é divino? Como selecionar elementos a partir duma Lei revelada??? Todo discurso protestante ou calvinista sobre a matéria mostra-se equivocado e falacioso!

Então prepare-se para o paradoxo!

Pois o judaísmo era uma religião sacerdotal, que atribuía, segundo a Torá, o estabelecimento do sacerdócio a uma iniciativa divina. Pois bem que pensa o Calvinismo sobre o sacerdócio Cristão? Que é uma cópia do judaísmo ou do paganismo... e que o Cristianismo de Jesus - pasme - seja anti sacerdotal!!! No sentido de que Jesus apenas é sacerdote... sem que haja necessidade de outros sacerdotes conectados a ele. E o judaísmo, a que reputam por sagrado e revelado é sacerdotal, obedecendo a um princípio sacerdotal, que eles protestantes condenam!!! Agora como poderia este princípio ter sido divino e vigorado se Jesus é o único sacerdote??? Por conexão, respondem os protestantes. Os sacerdotes judeus representavam e por isso comunicavam algo de Cristo aos antigos judeus... Daí a validade relativa de se sacerdócio. Ueh, mas se o sacerdócio anterior a Cristo, exercido por judeus, podia tomar sua eficácia da conexão, por que raios não poderiam os apóstolos e seus sucessores, que viveram a realidade e na realidade de Cristo, exercer o mesmo sacerdócio ou um tipo análogo por conexão??? Qual o problema??? Não pode - responderá nosso embibliado, posto que a mentalidade de deus é oposta ao sacerdócio ou anti sacerdotal... E haviam sacerdotes no judaísmo antigo cujo sacerdócio era válido... Ao que parece a mentalidade de deus mudou ou sofreu alteração???

Aqui os protestantes, mostrando seu espírito ou viés neo platônico, tomado a Zwinglio, opõem-se tanto ao judaísmo antigo quanto ao antigo paganismo e afastam-se do universo inteiro, por repudiarem o padrão sacerdotal... Mas não ficam por aqui, são ousados, vão além, e negam todo e qualquer aparato simbólico ritual ou litúrgico, opondo-se mais uma vez ao judaísmo antigo e ao antigo paganismo, como neo platônicos que são, a exemplo de Ulrich Zwinglio.

Judeus e pagãos ofereciam sacrifícios sangrentos a seus deuses, e nós não cremos que os sacrifícios dos primeiros ou de quaisquer outros fossem solicitados pela Santa divindade. Mil trezentos e cinquenta anos antes desta Era o faraó Aknaton decretara que os sacrifícios sangrentos fossem substituídos por sacrifícios de flores, frutos e perfumes. Posteriormente foi a vez de Çakia Muni, Sidarta Gautama, Tatagata ou Buda como costumamos dizer, cancelar tais sacrifícios entre as gentes do oriente, substituindo-os do mesmo modo por flores e perfumes... Já o Cristianismo antigo compreendeu que podia ter acesso ao sacrifício de seu fundador manipulando o pão e o vinho, estabelecendo um sacrifício incruento de louvor.

Os elderes do passado, a seu tempo, consideraram que esta quebra do tempo e do espaço ou este sacrifício de pão e vinho era algo demasiado solene para permanecer despojado daquelas cerimônias simbólicas a que a humanidade como um todo atribuía tanto valor. E por isso, guiados pelo Espírito prometido e depois pela prudência e pela sabedoria apropriaram-se do aparato ou linguagem simbólica comum a humanidade, e revestiram este sacrifício de uma pompa e solenidade magníficas. De fato, sabendo que a divindade fosse perfeita, pagaram tributo estético a beleza impulsionando a expressão da arte.

Disto resultou que a exemplo dos queridos hebreus, aos quais não faltava certa noção de reverência, consagraram a Santa divindade as coisas ou objetos que empregavam no culto público e dedicaram-lhe além de altares acessórios e alfaias ou seja cálices, castiçais, turíbulos, vasos, ânforas, cruzes... e toalhas, cortinas, véus... E certas roupas, que vieram a converter-se em paramentos... E cruzes, evangeliários, ícones, etc E templos... e uma arquitetura específica. E instrumentos musicais, como o órgão... E sinos (Jarash)... Tudo com o objetivo de abrilhantar este culto. Mas não se limitaram aos elementos materiais, pensando da mesma maneira na ação humana, em como coordena-la de modo harmonioso e sóbrio. Surgindo a ordenação das preces, os hinos, a poesia... O Calendário litúrgico com as festas do Senhor tomadas ao Evangelho... A regulação do Culto ou liturgia com seus gestos ou sinais simbólicos cada um dos quais contém um ensinamento ou uma mensagem didática a ser comunicada a gente simples - Daí o emprego de cores diferentes para cada tempo.

Tudo isto construiu a mãe igreja com sabedoria e prudência, ao largo dos séculos, servido-se das mais diversas culturas e tentando encontrar elementos comuns. Embora não deixasse de se adaptar a certas particularidades culturais, do que resultaram diferentes liturgias ou ritos numa saudável variedade.

De modo geral os protestantes atribuem a origem de todo este aparato, odioso, ao paganismo antigo e costumam apresenta-lo como uma contaminação, noutras palavras, como a apostasia da igreja apostólica, e isto é necessário para que possam justificar sua reforma i é sua própria existência. Grosso modo os esotéricos como Ledbeater e A Besant, referendam esta versão, aceita por grande parte dos Cristãos Católicos.

Chegando a este ponto temos de fazer algumas observações.

Nem são os atuais judeus neo platônicos ou infensos a simbologia ritual; como seus ancestrais não o eram.

Se é verdade que os antigos judeus não estavam plenamente sintonizados com a imanência - Pelo simples fato de que jao é um ser puramente espiritual e informa que jamais se encarna ou assume aparência humana - seria faltar totalmente com a verdade caso os apresentássemos como totalmente desvinculados dela, a maneira de muçulmanos sunitas ou melhor de neo platônicos e já adiantamos que fé alguma assumiu de tal modo e maneira o ideal neo platônico como o protestantismo de matriz Zwingliano/calvinista.

É verdade que os protestantes esforçam-se por nos apresentar os antigos judeus sob tal prisma pelo simples fato de não poderem confeccionar representações de jao ou mesmo de seus ancestrais, os patriarcas e profetas. Os fariseus, antes dos protestantes, pareciam querer ir em tal direção... No entanto o culto legítimo, autorizado pela escritura ou pela lei deles era oficiado por sacerdotes num templo, o que pressupunha toda uma ordenação ritual bastante semelhante a do Catolicismo ou do Paganismo antigo; não os antigos judeus não fugiam a esta regra e não eram nem um pouco 'espiritualizados' ou neo platônicos, a ponto de olvidar que eram espíritos postos em corpos físicos ou materiais e não espíritos desencarnados.

De fato não possuíam imagens ou representações. O que não tornavam o culto deles menos pomposo ou solene do que o culto pagão. Ficando o culto protestante ou 'espiritualizado' e despojado de símbolos, vagando em mesmo as nuvens da religião a exemplo da sogra de Pedro... Alguns batistas neste sentido assumem de imediato a inusitada pretensão protestante, segundo a qual o cristianismo, em oposição ao judaísmo, ao paganismo e a condição humana, teria inaugurado ou inventando um novo padrão de culto que é só seu e que pode ser definido como um repúdio a todas as formas de aparato simbólico ou mesmo de simples organização ou forma. Não se trata aqui apenas e tão somente de um culto completamente despojado de elementos materiais mas de um culto decididamente espontâneo ou subjetivo conduzido por supostos profetas, videntes ou inspirados... A ponto do culto público protestante nada ter de comum, convertendo-se numa mera associação temporal de cultos individuais - Isto a ponto de cada fiel ajoelhar-se numa direção distinta...

Claro que a pretensão nem é judaica, nem Pagã, nem Cristã, mas protestante e de origem neo platônica. Os antigos judeus como os judeus de hoje possuiam arcas, vasos, tabernáculos, rolos, mantos de oração, menorás, lampadários, trombetas, livros, procissões, gestos, etc Na Sinagoga de Dura, inclusive, representações de seus ancestrais e de outros tantos símbolos que lhes eram caros... Quanto as cerimônias do templo é possível fazer alguma ideia a respeito delas e de sua orientação apenas folheando o antigo testamento. O certo é que muito antes de Cristo os judeus piedosos adicionaram outras tantas festas e criaram um calendário... E que cada uma destas festas possuía simbologia própria, comportando um ritual. Os Salmos que os protestantes tanto estimam (Tehilim) eram o hinário dos antigos hebreus e já se vê por eles que empregavam a repetição ostensivamente... A respeito dos pagãos a regra era mesma e não ficavam atrás dos judeus. Eram tão reverentes a ponto de regressarem ao início de uma cerimônia caso o sacerdote cometesse algum erro mínimo... Como os judeus eles aspergiam seus profitentes com água, ungiam-nos com azeite...

O Cristianismo foi desde o princípio ou desde seu berço que é o Evangelho uma fé sacramental em sintonia com a matéria ou com o corpo físico. Jesus bem podia ter curado o cego com o poder de sua palavra, mas quis empregar barro e saliva - Os protestantes chamem-no de bruxo, mago ou feiticeiro caso queiram. O Certo é que ordenou o uso do pão, do vinho e da água, que são elementos materiais; e isto nos parece muito pouco espiritualizado ou neo platônico. Queiram ou não nossos fanáticos e sectários o batismo e a eucaristia envolvem algo mais do que palavras. A darmos fé ao Evangelista ele também empregou azeite, dizendo que os santos apóstolos ungissem os enfermos e há quem com excelentes razões, nisto veja, o sacramento da unção final. Além disto, segundo lemos no Livro Sagrado, o Senhor quis soprar o Espírito Santo sobre os apóstolos, empregando um gesto... Os apóstolos a seu tempo tomaram alguns dos crentes destinados a funções especiais e impuseram as mãos sobre eles, empregando um outro gesto... Embalde os protestantes fogem aos elementos materiais e ao recurso gestual pois topamos com eles no S Evangelho e cremos que deram origem a cinco grandes ordenanças quais sejam o Batismo, a Eucaristia, a Crisma, a Ordem e a Evkelaion...


Agora por que teria ele empregado livremente tais elementos ou linguagem corporal? Pela mesma razão segundo a qual se fez homem assumindo um corpo físico e uma dimensão material. De modo que a adoração ou o culto, embora partindo do espírito que é a fonte da racionalidade deve englobar a dimensão física do corpo exprimindo por meio de símbolo, e, em se tratando da adoração comunitária de símbolos comuns capazes de unir a congregação num só corpo e numa só mente; o que supõem uma adoração coordenada, sob pena de não ser nem sóbria nem racional. A adoração neo platônica ou espiritualiza foge a tais termos, foge ao judaísmo e foge ao Cristianismo ou ao Evangelho, é um padrão recente e inventado.

Resta esclarecer, a partir do que foi dito acima, que se tomamos muito do paganismo também tomamos aparatos do judaísmo. Assim a túnica preta dos sacerdotes ou batina corresponde a indumentária dos judeus piedosos do tempo do Senhor. Assim os mantos, os turbantes, a Skouphia, etc Assim a túnica habitual ou pastoral a que os latinos chamam batina e nós exorason. A túnica de ofício, alva ou Sticharion é branca porque os sacerdotes tanto judeus quanto pagãos usavam uma túnica branca e acreditasse que os judeus tenham tomado esta costume aos antigos egípcios. Os demais paramentos sacerdotais parecem ter se desenvolvido a partir do antigo vestuário pagão.

O costume de oferecer incenso num turíbulo era comum a todas as religiões antigas. O antigo testamento apresenta-o como uma ordenação divina. O altar Cristão difere tanto do pagão quanto do judaico por ser coberto com alfaias ou toalhas, isto se deve ao fato de não receber sacrifícios sangrentos. As velas ou castiçais são comuns ao judaísmo - o AT atribui essa ordenança a divindade - e ao paganismo antigos; relacionando a divindade com a luz. Os vasos sagrados eram empregados tanto pelo paganismo quanto pelo judaísmo e de tal maneira tidos em conta de sagrados que os judeus atribuíam a morte de Bechurusur de Babilônia ao fato de te-los empregado num festim profano, o que os rabinos diziam sobre Pompeu Magno e Tito Flávio. O calendário como dissemos era comum aos judeus e aos pagãos... A forma ou modelo de nossos templos são associados ora a antiga Basílica pagã, local onde se oficiava a justiça, ora ao templo dos judeus; de modo geral veio a assumir a forma cruciforme. Os sinos (Jarash) substituíram as trombetas empregadas pelos antigos hebreus. O órgão ao que parece era já empregado pelos judeus em seu templo bem como os demais elementos da fanfarra ou banda. Já dissemos que judeus e pagãos faziam aspersões com água e unções com óleo ou azeite. As procissões também eram um costume comum, os judeus no caso carregavam sua arca ou modelos da arca com rolos de livros. Os judeus e pagãos empregavam a prostração, o ajoelhamento e a saudação ou a inclinação em seus atos de culto. A prática de cantar a liturgia ao invés de recitar ou falar foi tomada ao judaísmo ou as religiões orientais.

De modo que nosso aparato simbólico é tributário tanto do judaísmo quanto do paganismo, de ambos os quais tomamos muitas coisas.

O calvinismo, paradoxalmente, mesmo afetando amor intenso pelas instituições judaicas, distorceu a História e buscou apresentar todo aparato simbólico da igreja antiga como pagão na mesma medida em que despojava-se dele assumindo valores neo platônicos. Num primeiro momento o protestantismo apelou ao antigo testamento com o objetivo de julgar e condenar a igreja, já num segundo momento julgou o judaísmo e desprezou tudo quanto possuía em comum com o paganismo e com os catolicismos... De fato o relacionamento dos protestantes ou do protestantismo com aquele livro não foi coerente mas ao que parece marcado pelo oportunismo, o mesmo oportunismo que levou-os a desfigurar os judaísmo antigo e moderno em benefício de um padrão descanado ou espiritualizado que remonta a U. Zwinglio.

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