"A existência sem a música seria um equívoco." Nietzsche
Ao tecer suas considerações sobre o 'ateísmo' militante ou proselitista o sensato John Gray - e não o bispo Fulton Scheen (mas bem poderia ter sido ele) - publicou um fragmento bastante curto mas nem por isso pouco extenso e profundo, pelo contrário seu significado é vasto, então 'Verbi gratia':
"A crença no progresso é uma relíquia da concepção Cristã da Historia... Um ateísmo intelectualmente vigoroso começaria por questiona-la." 2011 p 332
E por ser completo ou mostrar fundamento, remete-nos a leitura de uma obra tão clássica quanto insuspeita ( Seu autor é um irreligioso confesso. ), a "Towards the ligth..." de Grayling.
Por coerência meus amigos ateus deveriam principiar abraçando a única opção que parece estar de acordo com sua ideologia - O nihilismo. Por via de escolástica ou de coerência lógica o ateísmo conduz necessariamente ao nihilismo, ou a abdicação de qualquer sentido ou direção quanto a existência humana. Claro que nossos antagonistas sempre poderão dizer, com os anarquistas, que a lógica, a coerência, a racionalidade... são formas de controle ou de dominação rsrsrsrsrsrsrs de autoritarismo enfim. Começaram tentando demonstrar racionalmente que Deus inexiste, e agora refugiam-se na palhoça do irracionalismo...
No entanto se usam de argumentação racional com o objetivo de demonstrar que não existe deus algum - e é evidente que me refiro ao Deus dos filósofos e não ao Deus da fé ou da Revelação. - por que raios não levam essa argumentação adiante? Por que abandonam-na no meio do caminho? Por que não fazem o trajeto em sua completude?
Simples - Porque sem uma mente ordenadora, um ente organizador, um legislador supremo, uma consciência transcendente em comunhão com a Imanência, não podemos falar em qualquer sentido, direção ou tendência histórica. Toda direção supõem necessariamente um objetivo a ser alcançado e este um plano. Mas como pode haver plano sem que haja Planejador, mente ou consciência???
Concordamos com os cientificistas, ateus, materialistas, etc Não se pode discutir e menos ainda impor o 'Design inteligente' em aulas de Biologia. Teoricamente as aulas de Biologia deveriam contentar-se com os 'fatos' em sua simplicidade. No entanto, se assim o é, por que raios o Biólogo Dawkins e tantos outros teem o direito de negar o sentido e portanto de fazer metafísica ateística em nome da Biologia e da ciência??? Eis a contradição... Pois há centos de Professores de Biologia vendendo metafísica ateística em nome da ciência em nossas salas de aula. Não deveriam interpretar ou especular em torno do fado evolutivo, mas o fazem e sem maiores cerimônias! Raramente nos deparamos com aulas verdadeiramente científicas, factuais e portanto agnósticas.... No entanto apenas a metafísica teísta tem levado a carga, não a de Mr Dawkins e seus companheiros, apóstolos do ateísmo.
Tudo bem removamos o design inteligente do campo da Metafísica e substitua-mo-lo pela nova moda, do Caos. Diante disto poderemos falar em tendência, direção ou sentido??? Certamente que não. Mas é díficil encarar a Evolução das espécies e a manifestação da auto consciência, da razão, da liberdade e da Ética sem dar com a tendência. Basta pensar, refletir, ponderar... por alguns instantes. Daí - Fuga pelo irracionalismo. Pera lá, mas não somos nós que até agora argumentávamos racionalmente contra a existência de Deus??? No entanto quando chegamos a contemplação do fenômeno humano em sua especificidade e o trajeto porque chegamos até aqui, fica difícil ignorar a questão do sentido.
A maior parte dos neo ateus no entanto teimam, obstinadamente, em apresentar a velha fé redentora assumida pelo positivismo e portanto transplantada da religião, alias Cristã, aos domínios da natura... E atribuem essa redenção, sob o nome de progresso, a ciência. O credo de Dawkins, Dennet, Hitchens, Amis, Pulmann e outros tantos apóstolos do neo ateísmo continua sendo o Progresso técnico oferecido pela divina ciência. Progresso diante do qual tecem as mais absurdas, desmioladas e idealistas conjecturas... a ponto de imaginarem-se compondo poemas Épicos, sinfonias e mesmo santuários a nova divindade Redentora que conduzirá a humanidade num paraíso, ou melhor que converterá nossa terra num paraíso de esplendor... O 'Hino' é cristão, mas a ideologia comum, ao Cristianismo e ao neo ateísmo com seu legado positivista totalmente ultrapassado...
De nossa parte o quanto fazemos é perguntar-nos sobre o pôrque dos ateístas não terem lançado as favas esse resíduo secularizado da fé e de uma fé redentora? Temos que questiona-los e de perguntar-lher sobre o pôrque de não terem canonizado o nihilismo e negado o sentido da existência. Possível é duvidar, questionar, silenciar... embora seja já doloroso. Agora concluir pela total falta de sentido ou pelo absurdo da existência, e, enfim, pela malignidade essencial da razão até aborrecer a auto consciência de si mesmo parece ser para poucos, muito poucos. Demandando alias a elaboração de um discurso eficaz destinado a impedir que homens convertam-se em lemingues. Camus teve de elaborar tal discurso para que o suicídio não se converter-se em epidemia. E no entanto os países agnósticos ou materialistas - que contam com o maior número de ateus, embora eles jamais constituam a maioria! - nos quais a sociedade atingiu os melhores índices em termos de condição humana, são os que apresentam os maiores índices de suicídio e isto a ponto de preocupar as autoridades.
Dir-se-a que em tais países as pessoas dão cabo da própria vida porque enfrentam uma condição de miserabilidade extrema. Em se tratando da Suécia, da Dinamarca, da Finlândia, da Noruega, da Holanda, etc a pressuposição acima é absurda, pois o estado de bem estar social cuida de todos. Então por que se matam? Afetando sabença, os apóstolos do ateísmo, apelarão certamente ao clima - Falta de luz solar, sombras, nuvens, frio... A explicação até parece boa, mas temos que considerar que a epidemia de suicídios é recente, tendo acompanhado a ascensão da irreligiosidade. Já o clima, como qualquer um sabe, é elemento constante, cujo 'tom' remonta há milênios...Diante disto qualquer um de nós pode perceber o tamanho da falácia. O clima não explica absolutamente nada... pois não sofreu qualquer alteração sensível no tempo presente.
Claro que a questão não sendo social - Já parou para pensar que nas favelas do Brasil ou nas 'Vilas' da América latina a taxa de suicídios é bem menos do que nos países acima citados? - conduz-nos a uma questão muito pouco agradável a nossos amigos ateus que é a questão existencial, i é, a questão já alardeada em torno do sentido da existência. Essa questão foi proposta inúmeras vezes sob diversas formas e temos as versões de - Marco Aurélio, Agostinho, Pascal e Kierkegaard, dentre outros...
Claro que há ateus valorosos. Os quais apresentando o fenômeno humano como um golpe de sorte ou um acidente provocado pelos átomos que giram eternamente (Hume), declaram não haver sentido ou finalidade alguma. E não podem fugir a conclusão segundo a qual a consciência de si, que pela negação do sentido implica frustração, equivale a uma aberração, enquanto que a razão chega a ser comparada a um verme que nos corrói por dentro e nos incomoda, e nos martiriza com essa busca utópica pelo sentido. Sentido, objetivo, direção, finalidade, tendência que nos remete sempre a um Deus.
Assim o tributo pago ao ateísmo, jamais poderia ter sido barato, e foi o nihilismo.
O que questiono aqui é a leviandade dos neo ateus que não estão dispostos a pagar o preço estipulado e que continuam a enganar a pobre humanidade a partir de uma fé seculariza e a anunciar, não menos que Karl Marx, que a ciência e a técnica nos abrirão as portas do paraíso na terra. Sendo assim comecem a pinta-lo e a publicar revistinhas como as testemunhas de jeová! De fato, sua ciência tecnicista até poderia (o fato é que não pode), eliminar todos os sofrimentos que o homem impoẽm ao outro homem (isto é tarefa precípua da Ética. Ética que o positivismo sempre negou). No entanto como declara Tasso da Silveira, jamais poderia eliminar a consciência de nossa finitude face a vastidão imensa do universo. Jamais poderia eliminar o drama existencial que nos persegue onde quer que estejamos.
Fato é que os ateus não são capazes de eliminar este drama cósmico e tampouco a busca do homem pelo sentido da existência em que foi lançado. Remetemos mais uma vez o amigo leitor a John Gray - "A religião não foi embora. Reprimi-la é como reprimir o sexo. Tentativa fadada ao fracasso." p 335. A bem da verdade, mesmo aqueles que não creem, continua o mesmo Gray - inspirado por um senso de realidade muito superior ao de S Freud - o que deveríamos tentar fazer é investigar quais sejam as formas menos evasivas e mais evoluídas em termos de religião, para tentar educar e moldar este impulso da melhor maneira possível. Comunicar-lhe formas mais amenas e humanas, deveria a ser a meta de todos nós, inclusive dos ateus mais inteligentes, que dispensam a existência de um Nous ou de uma revelação. Deixar tal impulso entregue a si mesmo ou descurado, implica uma total falta de responsabilidade pela qual pagaremos muito caro. Mas os ateus continuam adotando padrões irracionalistas - Combatem como Dawkins, as fés mais evoluídas - Que tendo assimilado algum elemento racional aspiram compor-se com a ciência e promover o homem - e apoiam, ao menos indiretamente as religiões atrasadas e rudimentares, declarando que as religiões devem ser necessariamente fundamentalistas e fanáticas. Em certo sentido odeiam mais ao espiritismo, aos catolicismos e ao budismo do que ao islã e ao pentecostalismo, os quais de modo algum temem.
Por que teci tantas conjecturas de o tema deste artigo é a estética ou a beleza?
Um amigo a quem muito prezo, alegou que há algumas almas fortes que apegam-se a religião tradicional devido a questão da estética, da beleza, da arte, etc Mas me parece que ele não consegue penetrar o porque desta petição estética ou deslinda-la, talvez porque creia, não o sei, que a beleza, ou seja relativa nos termos de um Kant e dos modernistas, ou seja supérflua.
É a questão que tentei responder neste três artigos, chegando a conclusão.
Na hipótese da escolástica ateística do nihilismo ou na total falta de sentido quanto a existência não nos deveríamos preocupar nem com a Beleza, nem com a Bondade... Bastar-nos-iam a verdade isolada. Feia ou isenta de beleza. Existiria apenas uma verdade dura e uma dura verdade, beleza e bondade seriam utopias ou ideias relativos construídos pelo homem em sua prisão ou cubículo universal. Temos uma ideal e uma fome de beleza, mas ela não existe fora de nós ou sequer existem em si mesma. Diga-se o mesmo da bondade...
Há muito que os ateus sacrificaram á estética, ignoro sérias reflexões em termos de estética feitas por ateus. No mais do mais contentam-se com as opiniões já expostas de Kant... A Ética foi oficialmente abandonada pelos próprios positivistas e todas as tentativas de produzir-se uma Ética - E ME REFIRO É CLARO A UMA ÉTICA HUMANISTA QUE PROTEJA E PROMOVA O SER HUMANO - em termos de biologismo evolucionista (Spencer - Darwinismo social e Kropotkin) ou de pragmatismo tem sido desastrosas, jamais atingido o fim a que se propuseram. Ateísmo e materialismo não tem sido bem sucedidos no sentido de produzir uma ética eficaz... Gray com absoluta razão refere-se a essas falhas terríveis, sobre as quais ateu algum gosta de refletir, em termos de Nazismo e Comunismo, e bem poderia adicionar o formalismo jurídico de Kelsen. Além disto tem o ateísmo em sua quase que totalidade tem pactuado com o liberalismo econômico ou Capitalismo que é outra cultura de morte e matriz das demais culturas de morte.
Já quanto a produção estética ainda não chegou o dia em que gênios ou ateus inspirados haverão de compor os magníficos dramas, loas, sinfonias, poemas épicos, catedrais, conjuntos esculturais, etc em homenagem a ciência. O ateísmo tem sido estéril em termos de produção artística, exceto quando ateus fazem petição a fontes de inspiração religiosas ou mesmo cristãs... Pior, quando produzem alguma arte é sempre a prostituída arte de Kant, psicologista, subjetivista, anárquica e sem regras... Fruto se sonhos caóticos e pesadelos tenebrosos. Coisa que qualquer moleque de dois anos bem podia fazer rabiscando sobre uma folha ou mesmo, acreditem, cagando! No setor do modernismo talvez encontremos os gênios do ateísmo, ineptos para traçar a perspectiva de um desenho, para misturar as cores com delicadeza, para fazer arranjos, para obter rimas preciosas, etc, etc, etc Claro que se não há regras ou normas objetivamente fixadas para a confecção da obra de arte, a avaliação de que é objeto só poder arbitrária, em termos de um 'gosto' sem qualquer justificativa plausível.
Bem o que eu quis e quero dizer que a busca pelo sentido, tal como fora compreendida pelos antigos gregos, compreende não apenas a verdade... pois a verdade sempre poderia ser 'Não ha verdade alguma' rsrsrsrsrs ou 'Não há sentido'. A verdade para esgotar plenamente o sentido da existência deve estar necessariamente acompanhada pela bondade e pela beleza. A bondade e a verdade devem ser belas. A beleza e a bondade devem ser verdadeiras e a verdade e a beleza devem ser boas. Assim se manifesta plenamente o sentido da vida que todos buscamos. O Bom, o belo e o verdadeiro foram uma Unidade inseparável ou uma Trindade ideal no dizer de Flaubert. Até podemos substituir a religiosidade pela contemplação estética a maneira de Gautier, o que não podemos fazer é substituir a contemplação estética por qualquer outra coisa sem mutilar-nos a nós mesmos. A dimensão estética da vida faz parte de nossa integralidade e, se a religião busca satisfaze-la e o ateísmo não - mostrando-se insensível - a questão esta revolvida - O ateísmo é bisonho por reduzir a dimensão da existência a uma verdade gélida e fria...
"Deus não existe." declara o ateu. Ótimo em que isto nos tornará melhores e como produzirá beleza??? Ah não estamos em posse de padrões essencialistas que nos tornem melhores em sentido unívoco pois a Bondade é relativa e o homem seu supremo critério (Excelente, então deixemos o torturados torturar e o estuprador estuprar e cessemos hipocritamente de condenar Hitler, Stalin ou Bush fundamentados em nossas opiniões individuais! ). Já quanto e beleza, podemos bem passar sem ela???
Mas eu sinto uma necessidade intrínseca pela beleza ou uma demanda pela estética e pela arte que o ateísmo jamais satisfez ou satisfaz e por isso julgo-o inadequado e suas dissertações em torno de uma verdade estéril, irrelevantes. Minha sensibilidade estética opõem-se ao ateísmo por ser improdutivo... Essa busca por um a beleza ideal é que conduz-me a um Fídias, a um Praxisteles, e um Polignoto, a um Parrásio, a um Tirtaeus, a um Terpandro, a um Homero, a um Sófocles, a um Ésquilo, a um Eurípedes, a um Vírgilio, a um Estácio, a um Dante, a um Camões, a um Cervantes, a um Tasso, a um Milton, a um La Fontaine, a um Shakespeare, a um Moliére, a um Bach, a um Mozart, a um Bethoveen, a um Dellacroix, a um Millet, a um Schaeffer, a um G Doré, a um Calixto, a um Pedro Américo, a um Meirelles, a um Bilac, a um Raimundo de Menezes, a um Martins Pena, a uma Anna Pavlovna, a um Nijinsky, a um Ray Conniff, etc Nenhum dos quais era ateu ou inspirou-se no ateísmo. Muito pela contrário a maior parte destes homens que buscaram saciar a sede estética de seus companheiros e que se esforçaram para tornar este recanto um pouco mais belo eram em sua quase que totalidade Cristãos e mais Católicos! Recomendo a leitura de 'O gênio do Cristianismo' de Chateaubriand. As almas insensíveis, superficiais e vulgares não compreenderão esta obra magnífica - Teve gente da igreja que não pode compreende-la (Os agostinianos é claro) - Sócrates, Platão, Aristóteles, Parmenides, Anaxágoras, Xenofanes, etc compreende-la-iam...
E as arrevezadinhas demonstrações ateísticas de Onfray ouso opor apenas as Catedrais francesas, alemãs, italianas e inglesas... ou o Partenon, mas falar no Partenon seria pura covardia. Esperemos enfim que os apóstolos do neo ateísmo possam o quanto antes brindar-nos com um Partenon ou com um Taj Mahal...
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