domingo, 3 de dezembro de 2023

Oclocracia ou, quando a Democracia desanda...

Dever nosso, i é, dos que sustentam os ideais do Liberalismo político e da vida democrática, velar para que nossa democracia não se venha a converter numa qualquer outra coisa ou em algo que os antigos chamavam Oclocracia, ou seja, o domínio das massas imbecis.

De fato um conceito sadio de democracia supõe sempre algo a que se chame povo ou um conjunto de cidadãos. Em contraposição a povo temos massa, algo inconsciente e formado por homens e mulheres ignorantes, idiotizados, acríticos e manipuláveis. 

As massas não parecem ter ideais muito elevados e por isso mesmo contentam-se em ter satisfeitas suas necessidades mais elementares como comer, beber, fumar, procriar e curtir, nada muito além... Via de regra são as massas miseráveis ou carentes de quase tudo, e por isso seus ideais são básicos ou elementares...

Isentas de qualquer ideal político as massas não oferecem qualquer perigo para os poderosos ou para os demagogos. 

Já por serem extremamente dóceis e manipuláveis.

Por questão de necessidade as massas se vendem e vendendo-se são contidas.

Basta que o líder ou os lideres lhes deem> Pão e circo i é Pão, churrasco, cerveja, sexo fácil, fumo e ruídos para que se satisfaçam e não incomodam. As massas contentam-se com migalhas ou esmolas ofertadas pelos demagogos e por isso são oportunas.

O cidadão, tendo uma condição de vida média e satisfeitas suas necessidades básicas, bem pode alçar-se as regiões do abstrato, idealizar algumas coisas - Como a partilha do poder! - e aspirar por elas. Por ter atingido certo nível de consciência é o cidadão uma ameaça para o demagogo e também para o patrão, para o mago...

As massas e o zumbi, não incomodam a quem quer que seja, não representam ameaça alguma, não são causa de inquietação...

E no entanto a questão que aqui se coloca é a do acesso ao poder.

Pois desde que mundo é mundo, são as massas, sutil ou declaradamente, controladas.

A bem da verdade são compradas por meio das migalhas ou esmolas que recebem.

E sendo as massas o que são, não vejo outra solução possível.

Por isso a Democracia atribui o acesso e o controle do poder a outra entidade, a que chamamos Demos ou Povo, uma agremiação formada por cidadãos conscientes, a cidadãos formados por um processo educativo ou emancipatório.

Agora para que tal elemento político - O Povo, exista de fato, é necessário um ingrediente econômico.

As massas alienadas tanto hoje quanto nos belos tempos do Império romano, são formadas pelos miseráveis, pelos que quase nada tem e pelos que, quase nada tendo, sequer podem satisfazer suas necessidades básicas. Posto que a miséria produz a dependência e a falta de acesso a educação produz a conformidade.

Uma economia que produz miséria impulsiona o processo de massificação e tira vantagem da massificação, gerando um círculo vicioso reforçado pelo fundamentalismo religioso e pela tirania ou pela demagogia. 

Para que haja povo ou um conjunto de cidadãos conscientes, devem eles, economicamente falando, gozar de uma condição média > A qual lhes franqueie acesso a certo nível de comodidade ou conforto, e possibilite a formação do espírito por meio da instrução.

No tempo presente, as estruturas econômicas, a situação política e certas expressões religiosas, conjugaram-se, tendo em vista a produção de massas ou de pessoas sem consciência. Isto porque almejam controla-las econômica, política e socialmente, tornando sua servidão invencível.

Se o setor responsável por gerir o processo educativo, curva-se diante dos poderes econômicos e diante dos clamores suscitados pelo sectarismo religioso, não se deve esperar coisa alguma dele, a exceção de uma instrução aparente.

Oferecer as massas uma educação de qualidade ou uma instrução esclarecedora equivaleria a entregar aos presos a chave da cela, e o carcereiro, imbuído de sua vocação, não o fará.

Temos massas, fabricação acelerada de massas, despersonalização, desumanização... E temos um discurso politicamente liberal ou democrático, o qual, dentro de certas condições é não apenas válido como desejável.

Eu aspiro por ideais democráticos e por uma vida democrática que garanta, na perspectiva mais ampla, o exercício das liberdades.

Porém democracia só se faz com povo ou é feita, é construída, é implementada, pela atuação de cidadãos conscientes. Alias quanto mais direta um democracia é, melhor é.

Com massas o que temos jamais será democracia porém Oclocracia. Algo em entram diversos ingredientes, como demagogia, certo nível de manipulação ou dominação sutil e acordos.

Implica a Oclocracia, que as massas tenham certo nível de acesso ao poder ou que obtenham algo em troca - Como o cão, a quem o gatuno atira um osso, para poder ter acesso a casa que pretende roubar... As vezes esse osso poder até ser um pedaço de carne ou mesmo um suculento bife - Uma vez que o assaltante obterá ouro...

É uma espécie de troca. 

Por meio da qual as massas alienadas obtém os 'bens' que, por absoluta, falta de educação ou instrução, veio a desejar - Pois caso fosse educada aspiraria por outras coisas ou por verdadeiros bens.

Contentam-se as massas com - Futebol, carnaval, novelas, showzinho gospel, falsas moralidades, cachaça, fumo, drogas, sexismo, etc enquanto os demagogos rapinam o erário. Fornecido o ópio ou o circo, as massas não se mexem, não se movem, permanecem inertes...

O Estado demagógico, por meio da cultura, condiciona as massas a fruírem de tais 'bens', inclusive ocultando-lhes outros bens, que de fato são bens. Apenas para em seguida fornecer-lhes tais bens, e assegurar a paz: "O que eu quero é ser feliz na favela onde eu nasci.".

Mas só é feliz na favela e nela deseja viver, quem por ignorar horizontes mais amplos, cuida ser ela, a favela, o mundo...

Ocultem o mundo, o outro mundo, aos aprisionados, e eles se sentirão super felizes dentro da caverna...

A Educação hoje consiste basicamente nisso: Em mostrar o que já se conhece e jamais apresentar o que não se conhece ou ignora. E nem podemos aspirar pelo que ignoramos.

Mantemos o discurso em torno da democracia e do liberalismo político, mas não concedemos as massas pleno acesso ao poder.

É o caminho da Oclocracia. 

A passagem para o caos.

Pois em certo momento poderão as massas exigir mais.

E se um dia, por obra do deus acaso, conquistarem o poder e exercerem o controle...

Conhecemos, lamentavelmente, a ditadura de um ou de alguns.

Que seja ditadura de um grupo social ou uma ditadura de massas, ignoramos supinamente.

O quanto quero dizer é que ao fabricar massas podemos estar forjando um futuro terrível ou pior que tudo quanto já vivenciamos.

Deveríamos estar instruindo, educando, formando cidadãos críticos, dirigindo para a Ética, personalizando, humanizando... 

O que o Estado, a serviço do lucro e da superstição, tem feito é semear a miséria, despersonalizar, desumanizar, promover a ignorância, expandir a alienação, etc - Com o que se solapa a democracia e se suscita críticas intempestivas, não poucas vezes justas.

Não poucas vezes o que se repudia e combate não é a Democracia ou o tipo ideal de vida democrática porque aspiramos e sim essa corrupção chamada Oclocracia - O domínio das massas idiotizadas. 

Muitas vezes o que se rejeita e combate é apenas sombra de democracia ou uma democracia degenerada e decadente.

Tal o quadro sinistro das coisas...

Nossa democracia se vai desacreditando.

O clamor das massas imbecilizadas e satisfeitas aumenta dia após dia. Como nuvens que prenunciam uma tempestade...

No Brasil parte das massas identitárias ocupa-se de coisas totalmente inúteis, como em elevar o Funk e o 'ripe rope' ou a dança de rua, as alturas... Enquanto o outro lado, deseja a instauração de uma Teocracia bíblica...

De extremo a extremo vagam as massas... 

E não sabemos no que resultará tudo isso.






Nenhum comentário: