quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Shyamalan bate à porta.







Como admirador declarado sou insuspeito para mencionar Shyamalan. 

Cuja obra em geral me encanta, mais pelos enredos do que por qualquer outra coisa. O sujeito é engenhoso, tem imaginação ou criatividade.

E "Batem à porta" é produção sua - Mais uma.

Claro que fui ao Cine assistir. É claro.

Assim que o filme começo e os assediadores da cabana declararam que precisavam da permissão os ocupantes para entrar, intuí que se tratava de uma trama que envolvia vampiros. 

E como não aprecio filmes que envolvam vampiros ou lobisomens, a princípio, pela pobreza habitual do enredo, fiquei muito chateado.

Num segundo momento, quanto os marcianos ou homenzinhos verdes me vieram aos miolos, pensei em levantar-me e deixar a sala de projeção. 

Nada contra um enredo em que os humanos saem da terra e deparam com sociedades evoluídas noutras galáxias ou constelações. A exemplo do Avatar II, excelente produção.

Agora essas xaropadas de alienígenas que atravessam anos de luz para raptar alguns humaninhos me enojam. É imaginar demasiado de si...

Aliens fazendo turismo no planeta azul me cheira aos 'Deuses astronautas' de Von Daniken, assim a charlatanismo ou falsificação histórica...

Por isso ao lembrar de Vellekowsky, Sichtin, e outros cogitei debandar...

Alias não aprecio ficção, ficção...

Então por que assiste filmes de terror que envolvam o sobrenatural.

De fato os filmes de terror que aprecio são os que envolvem almas penadas, espíritos, casas assombradas ou, no máximo, zumbis.

Não gastarei tempo justificando, mas, a meu ver tais fenômenos ou temas não pertencem a ficção ficção ou a imaginação somente. Historiador, não sou nem um pouco positivista e não julgo que a História seja apenas História do que é material. 

Claro que os Zumbis são ficção. Concedo-o naturalmente... ou teria que tomar pipas ou canecas de Rivotril, Zolpidem, etc

Porém quando assisto filmes que envolvam zumbis, sempre reinterpreto em termos de alguma epidemia ou vírus, jamais como mortos vivos ou nos termos de um Oscar Romero.

Já os de Fulci, Argento ou Bava - Giallo, mesmo quando fogem por completo a realidade, me encantam quer pelo enredo/narrativa, quer pelo figurino gótico ou de qualquer forma muito rico.

Seja como for continuo não apreciando vampiros, lobisomens, possessões, etc 

Mas tornemos a Shyamalan... 

A dinâmica do filme indicou outra coisa.

Não sei se pior ou menos pior.

Pois foi pelo caminho ou direção dos mitos religiosos. INSANIDADE.

Não quero dar Spoiler, porém o enredo avançou pela trilha do apocalipticismo.

Apresentando a divindade como um ser arbitrário e caprichoso, além é claro de rancoroso e vingativo.

Posto que sentindo-se atingido, decide matar um quarto da humanidade com febres, outro tanto com raios de fogo, outro tanto com terremotos, etc

A propósito - Acabamos de testemunhar, na última segunda feira, um grande terremoto no Sul da Turquia. E as cenas, da vida real, foram arquipavorosas (Algo de deixar Romero, Shyamalan, King, Stoker, Lovecraf e outros no chinelo.)... Posto que milhares de criaturas humanas foram esmagadas por pesados blocos de concreto enquanto outras tantas pereceram sepultadas vivas debaixo das lajes! 

Triste dilema - Se triturado ou enterrado vivo...

E no entanto pessoas marcadamente religiosas atribuem um tal evento a Excelsa divindade, apresentando-a como um Ser cruel e abjeto.

Tais os tempos...

Pois não julgamos os humanos que viveram em tempos pretéritos.

Que o apocalipticismo, com suas punições e castigos arbitrários, cruéis e insensatos tenha existido um dia é deplorável - Que subsista em nossos dias é monstruoso.

Supor que seja o Bom Deus, cruel é a suprema blasfêmia. 

Que as seitas bíblicas chafurdem num tal lamaçal compreendemos.

Que um Shyamalan traga tal temática as telas surpreende-nos.

E no entanto o filme oferece-nos outros nuances bastante interessantes.

Posto que também há tristeísmo espiacionista nele, bem a gosto da mentalidade calvinista ou sectária.

Pois os três personagens que devem eleger um para se sacrificar pela humanidade e fazer cessar o pavoroso cataclismo, representam claramente as pessoas da Nobre e Excelsa Trindade.

Naturalmente que a crítica fundamentalista ou sectária, a 'crítica' nomeadamente bíblica ou protestante, a crítica farisaica fará imensa gritaria pelo simples fato que duas das pessoas da Trindade são representadas por um casal gay... É o quanto bastará para enfurecer os hipócritas e fanáticos.

E já posso ouvir os gritos: Blasfêmia! Blasfêmia!!!

Agora aprecie amigo leitor o teor da coisa -

Pois o que temos aqui é deus matando deus para aplacar deus ou um destino superior a deus...

E eles admitem que deus se divida ou parta em frações que se oponha uma a outra...

Assim um Pai iracundo que determina, ele mesmo, o sacrifício de seu unigênito Filho, pertencente a mesma natureza!!! 

O Pai não apenas atua como ente separado do Filho ou como um outro Deus, como exige que se sacrifique por uns assuntos atinentes as partículas humanas que habitam este planetoide.

E eles dão a entender que o Filho imola a si mesmo porque o Pai se deixa afetar ou irritar por nossas ações!!!

Que as pessoas da Trindade excelsa se separem e oponham até converterem-se em dois ou três deuses não os escandaliza.

Que as pessoas divinas decretem o assassinato umas das outras não os exaspera.

Que o expiacionismo torpe os faça trocar o monoteísmo trinitário por politeísmo crasso não os incomoda nem um pouco! 

E depois ainda se atrevem a dizer que os Ortodoxos são idólatras ou politeístas porque reverenciam os Santos ou suas representações - Quando eles, protestantes, bíblicos, calvinistas e expiacionistas, sendo triteístas é que são verdadeiramente politeístas ou adoradores de três deuses!

Deus que mata deus para aplacar deus - Eis algo muito pior do que o agnosticismo duvidoso e quiçá que o ateísmo...

Claro que os piedosos críticos do homossexualismo, puritanos, moralistas, etc sequer se deram conta disso... Do Triteísmo ou do politeismo incluso em seu sistema expiacionista.

Parece que o filme de Shyamalan induz aqui um elemento diverso, quiçá tomado a Mitologia grega, que é o Destino ou um fado, superior a própria divindade. 

Pois é essa força ou poder que exige o sacrifício de um dos três. Algo, como já foi dito, simplesmente arbitrário. Afinal exigir que três ou mesmo que um inocente, imole-se por um grupo de culpados é algo absolutamente injusto e inaceitável. E sequer preciso ser judeu, budista ou hinduísta para admiti-lo!

Que pensar então do mistério da cruz e da morte de Cristo...

Devemos pensar antes de tudo que a nobre e Excelente Trindade não se separou e menos ainda se opôs - Pois o caráter e a vontade das três pessoas é uno! Por isso dizemos indivisível Trindade, porquanto as pessoas se distingam umas das outras pela origem, jamais se apartam ou separam quanto o caráter e a vontade, posto que o caráter e a vontade pertencem ao elemento divino que é Uno por definição!

Em seguida que inexiste qualquer ser exterior ou superior a essa Trindade inefável e onipotente.

Para concluir que a Trindade em sua Unidade e inteireza decidiu imolar-se em benefício dos mortais.

Impelida pela Suprema perfeição, que é o amor, a Trindade excelsa decretou aproximar-se dos mortais e recupera-los, recupera-los de si mesmos, de seu egoísmo, de sua maldade, de seu ódio... Posto que dela se haviam alienado livremente. 

A perspectiva de Shyamalan, dos bíblicos, calvinistas, expiacionistas, sectários, fanáticos, etc é aberrante porquanto o sacrifício é externamente imposto ou arbitrariamente exigido por um outro. A auto imolação, fruto do amor, é algo imensamente belo. A ideia de um deus arbitrário, caprichoso, rancoroso... é absurda.

O terceiro aspecto negativo do último filme de Shyamalan e o que mais me incomodou é a sugestão de que os visionários possam estar corretos.

Esperei até o fim do filme, ansiosamente, para que a resolução da trama se desse em termos de truque por parte dos 'mensageiros', no sentido de que tudo se trata-se de uma armação...

Shyamalan no entanto mergulhou de cabeça no abismo da irresponsabilidade - Pelo simples fato de dar razão aos profetas ou iluminados, ao invés de apresenta-los como loucos, quiçá como honestos e sinceros, mas no mínimo como loucos.

Para mim apresentar pessoas que invadem a propriedade alheia com o objetivo de promover qualquer tipo de terrorismo - Psicológico ou físico. - como 'certas' é de fato o cúmulo da leviandade.

É abrir a porta para delírios semelhantes ao pentecostalismo, o mormonismo, etc com suas visões, audições, vozes do céu, etc É passar o mórbido ou doentio como divino.

E devemos repetir com insistência que se onde surgiu a aberração pentecostal houvesse um serviço psiquiátrico eficaz, os pioneiros dessa aberração teriam sido devidamente tratados, com glóbulos e injeções, de modo que o estrago teria sido muito menor!

Aqui mesmo no Brasil já assistimos cenas semelhantes as desse filme, só que reais e tristemente reais. Com pessoas da mesma família matando umas as outras após terem falando com deus... Filhos matando pais! Empregados assassinando patrões! Mães ou pais sacrificando filhos pequeninos! - Tudo porque pessoas mentalmente instáveis foram ensinadas a crer que seus delírios eram divinos e que o quanto procedia das próprias mentes era celestial e digno de ser não apenas crido mas posto em prática.

'Bela' a religião que ao invés de reprimir o que há de mais perigoso ou mesmo tenebroso nos seres humanos - Como a loucura! - apresenta-o como sagrado! 

Aqui incentivam a avareza, ali alimentam a insanidade, mais além patrocinam a crueldade... Tais os líderes religiosos canalhas em sem consciência. 

Agora que um renomado produtor de Cinema associe-se a eles, apresentando ao grande público a loucura como normal, a sensatez como absurda, os truques do charlatanismo como reais, isto de fato me preocupa!

Pois quantos futuramente, ao surtarem, não se recordarão desse filme... Para em seguida invadir a morada alheia, torturar, matar e cometer os mais nefandos crimes em nome de deus ou do livro...

Num tempo em que os falsos cristãos desviados do Evangelho e fixados nesse livro - Do Apocalipse! - estão a esperar por visões, vozes e comunicações divinas não serão produções como essas mais um estopim ou uma fagulha num palheiro...

Espero estar totalmente errado e supor que uma tal produção seja encarada como pura ficção ou brincadeira de mau gosto... Muito mais realista o 'Nas ondas da fé' do comediante Brasileiro Adnet.

Nota 10 para Adnet que brincando soube ser sério e abordar um tema socialmente relevante com a necessária coragem. Para Shyamalan e seu novo filme não daria mais do que um 04 - E estou sendo generoso!



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