Nascido em família protestante, bíblica, sectária, moralista ou puritana não conhecia ou sabia muito bem o que era Carnaval.
E a mentira começava pelo sentido dado a palavra - Habitualmente desonestos e mentirosos os crentelhos diziam que Carnaval significava: Carne vai kkkk, ou seja, vai corpo, vai sexo... quando na verdade significa exatamente o oposto: Carne levare i é afastamento ou abstinência da carne vermelha, aludindo prática quaresmal das igrejas apostólicas.
Tampouco sabíamos qualquer coisa sobre o carnaval dos blocos de rua ou sobre o carnaval de salão.
O objeto dos ataques, alias sempre bem sucedidos, era esse carnaval das escolas e do sambódromo, e da globosta, com seus abusos e excessos até a bizarrice.
Passados mais de trinta e cinco anos a coisa não mudou... Pois vivemos num tempo de extremos.
Temos assim a um lado os fanáticos, fundamentalistas e tarados religiosos que condenam irremissivelmente os festejos carnavalescos... e a outros os foliões 'debochados'.
Nós assumimos, como sempre, uma postura crítica, equilibrada e de meio termo.
Quanto aos fanáticos bíblicos a manobra consiste em condenar qualquer irrupção espontânea de alegria popular, assim o carnaval. E há um premeditado designío ou intuito nisso, uma intencionalidade mórbida que consiste em tornar a presente vida amarga, chata e desagradável... Azeda, intragável.
Monstruoso esse método que consiste em tornar o céu ou o paraíso apetecível a força de apresentar tudo quanto haja de bom na face da terra como pecaminoso. E no entanto o protestantismo yankee, com seu ranço calvinista é isso...
Carnaval tem abusos ou excessos, alias localizados, mas não é ele mesmo o excesso ou abuso. Daí a necessidade de formar uma opinião equilibrada.
Quanto aos debochados e seus abusos temos - E temos... - crianças de seis ou sete anos rebolando semi nuas sobre o gargalo de uma garrafa - Embriaguez, hiper erotização, adultério, gravidez precoce, agressão, estupro, etc o que não é coisa de pouca monta e deve ser problematizado, para o bem do próprio Carnaval.
Diante disso farei uma série de reflexões sobre uma porção de temas relacionados com o Carnaval, assim: Diversão, nudez, sexo, adultério, mídia, lucro, alienação, emancipação, embriaguez, agressão, estupro, escolas de samba, blocos, salão, etc
De fato em tempos de liberdade não precisamos mais de um período dedicado a permissividade absoluta, durante o qual quase todas as convenções sociais caiam por terra, equivalendo a uma válvula de escape.
Apesar disso um momento consagrado a diversão, a alegria, ao contentamento, ao festejar, etc é sempre muito bem vindo e o feriado dele resultante mais ainda...
Mormente quando não passamos por turbulências políticas demasiado sérias, e não estejam nossos parlamentares reunidos em conluio um bailezinho vem a calhar.
Agora quanto a nudez.
Tenho a nudez como algo absolutamente natural.
Não a hiper sexualização ou erotização.
Entre as quais, por sinal, não há qualquer nexo ontológico - Como imaginam os ignorantes.
Nossos índios circulavam nus por ai 'Com suas vergonhas limpinhas e saradas.' e não eram hiper sexualizados... Mor das vezes agiam com absoluta naturalidade ou se ostentação.
O que lamentavelmente não se dá em nosso contexto -
Problema aqui é justamente essa conexão ou relação entre nudez e hiper sexualização e, ainda hoje - Se bem que menos! - entre a hiper sexualização e a procriação e o crescimento populacional, este último uma tragédia.
Porém - Desde que tais pessoas façam uso de métodos contraceptivos, não temos nada a ver com isso...
E aqui tocamos a questão do sexo - Que é subjetiva.
Pois não somos juízes autorizados para mensurar e julgar a sexualidade alheia.
Então que é hiper sexualização...
Dá-se a hiper sexualização, na dimensão pessoal, quando a busca pelo prazer ou o exercício da sexualidade afirma-se como valor máximo ou absoluto para a pessoa em detrimento de outros setores da existência como a Ética, o trabalho, a estética\arte, o estudo, etc
Na medida em que o exercício da sexualidade ou a busca pelo prazer limita e mutila a formação da personalidade torna-se sem dúvida pernicioso.
Dificilmente numa pessoa equilibrada e sã, a audição de músicas como o pagode, o funk, o sertanojo e alguns tipos de samba, produziria alterações mais sérias. Outro o caso de crianças e jovens, com a personalidade a formar, ouvindo esse tipo de música que focaliza apenas o sexo.
Por mais liberais que sejamos em matéria de sexualidade humana adulta e responsável, não há como deixar de questionar a presença de pequeninos nas proximidades de desfiles em que mulheres aparecem totalmente nuas com marmanjões em torno quase passando as mãos em suas bundas!
Questionar o fato de meninos e meninas semi nus se esfregarem uns nos outros não é puritanismo ou moralismo, é puro e simples bom senso - Pois são mentes e personalidades em formação e que precisam ser integralmente formadas.
Aqui a concentração da mentalidade no sexo apenas torna-se sinônimo de alienação e ingrediente intencionalmente usado com o objetivo de produzir massas...
Usada como fonte de lucro ou forma de alienação é a sexualidade removida de seu contexto e desviada de sua função, podendo, como já dissemos, despersonalizar, desumanizar, brutalizar e barbarizar.
O poder político, a força econômica e a estrutura midiática são especialistas em manipular tudo isto.
Ora o modelo de carnaval canonizado pela imprensa, em particular pela globosta é esse - Representando pelo sambódromo e pelas famigeradas escolas de Samba.
Impossível desvincular esse modelo dos interesses do mercado, do lucro ou do capitalismo, mormente da indústria da cerveja ou das bebidas alcóolicas e aqui a apelação é manifesta na propaganda... Vendida a peso de ouro.
Como C S Lewis nada tenho contra o consumo sóbrio, moderado e racional da cerveja ou dos aperitivos alcoólicos, sendo que eu mesmo consumo habitualmente uma dose de conhaque ou licor após as refeições. Condenar o puro e simples consumo de álcool é por sinal maniqueismo e mais outro aspecto da manobra puritana acima descrita...
Outro o caso da embriaguez, considerava particularmente em seu aspecto social.
Pois já Platão, na República, aludia aos gastos do Estado quanto as enfermidades produzidas por excessos alimentares...
Para além disso há a questão da agressão, que pode chegar ao estupro e ao assassinato.
Faz parte do coquetel - Nudez, hiper sexualização, embriaguez, músicas apelativas de teor acentuadamente erótico, etc com tais ingredientes como estranhar ou reclamar do que se segue depois: Agressões, estupros e mesmo mortes...
Como desassociar tais fatores das consequências desastrosas que se seguem...
Como desejar um carnaval cheio de paz, amor e respeito - Como fez o ingênuo do Marcos Mion. - se o ambiente não está disposto para a afirmação de tais valores.
Ora pois - Imagine só o macho alfa ou machistóide encharcado de pinga - Ou dois, o que é pior, dois dará briga na certa! - diante de uma mulher semi nua... Os vendedores de cerveja ou de pinga farão votos para que eles se comportem respeitosamente...
Nada contra quem está disposto a aceitar o repuxo sem fazer mi mi mi ou chorar depois... Agora não me venham criticar os que questionam, como se fossem obrigados a aderir ou a participar.
Se querem evitar agressões, estupros e mortes evitem os fatores predisponentes e criem um ambiente sadio.
Veremos então se a Globosta dará audiência o levará até lá seus holofotes, uma vez que não haja venda de Antártica, Bhrama ou Amstel.
Lamento, mas devo dizer, esse carnaval urbano, de sambódromo e escola de Samba foi totalmente colonizado pelo Mercado, pela economia, pelo capitalismo... Pelo simples fato de ser transmitido pela Globo ou pela grande mídia. E não se deve esperar redenção alguma dele, pois converteu-se em fonte de lucro para empresários, e de excessos e abusos para a sociedade.
Seguiu este modelo carnavalesco o mesmo destino dos grandes clubes futebolísticos (Em oposição ao futebol de várzea!), do nosso Natal, da nossa Páscoa, do dia das mães, etc Tudo isso foi esvaziado de seu conteúdo de modo a restar apenas uma casca convertida em rótulo e destinada a vender!
Para mim não há qualquer diferença significativa entre grandes clubes futebolísticos, empreJas da TP e as colossais escolas de sambas - Seguem todos o modelo empresarial, cujo principal objetivo é obter lucro!!! Nada de social ou popular, no máximo algum resíduo para enganar como dizia Aristófanes sobre a demagogia ateniense ou a democracia decadente e infestada.
Em tais condições, é esse modelo de carnaval, como esses cultos religiosos e o futebolismo, mais um ingrediente destinado a alienar e a massificar... Pois o ofício do poder político e da mídia - Cooptadas pelo Mercado. - outro não é.
Dirão meus críticos pós modernistas que tais escolas e desfiles promovem a população negra ou dão destaque a ela.
Dão destaque a cerveja ou a melhor, a venda de cerveja...
Bem, dizem o mesmo do BBB...
O que já diz absolutamente tudo.
Quanto a tudo isso estou de acordo com os socialistas mais esclarecidos: A afirmação e promoção das pessoas negras se fará por meio da cidadania, da ação política, da mobilização, das ações afirmativas, do acesso aos cursos superiores, da melhoria da educação de base, etc - E vejam o que o Estado de S Paulo esta fazendo com o Ensino Médio neste exato momento!!!
Nada se pode ou deve esperar da grande mídia ou da Globosta. Tudo quanto querem é alienar e massificar, aprofundando o vazio produzido pela educação pública...
Recordemos que esse povo foi lançado na Avenida despojado de tudo ou sem praticamente qualquer coisa... Para que se contentar-se em desfilar uma vez ao ano, não poucas vezes diante dos olhos dos gringos endinheirados.
Tudo isso foi intencionalmente arquitetado para criar a imagem de um país do futebol e do carnaval, no qual os afro descendentes poderiam sempre avançar como passistas ou jogadores, não como sociólogos, psicólogos, médicos, arquitetos, etc Foi todo um imaginário artificiosos forjado pelos que detinham o poder. E o objetivo sempre foi manipular, jamais emancipar.
Tal o caso dos pouquíssimos pobres colocados pela Globo na vitrine por terem enriquecido honestamente i é trabalhando duro.
Aqui recomendo a leitura da obra de Varela "Soluções psicológicas para problemas sociais." - Não adianta, é ilusório ou aparente.
Problemas sociais, como a miséria que aflige parte considerável de nossa população negra, exigem soluções sociais em sua dimensão política, não desfiles carnavalescos ou BBB...
Desta cartola não saíra coelho algum.
De minha parte já acho inócuo qualquer proposta em torno de uma Revolução (Emprego da força em certas situações sim, Revolução não - No sentido de que qualquer emprego de forças não alterará significativamente a cultura ou produzirá uma nova sociedade.). Agora ver ou querer ver conteúdo revolucionário no Futebolismo, no Carnaval de sambódromo ou nas EmpreJas pentecas é o cúmulo do absurdo... Espantalho do pensamento...
Outro o caso do Carnaval de Rua ou dos Blocos, que como o Futebol de várzea não tem acesso a grande mídia, certamente porque não foram totalmente cooptados.
Aqui uma possível via em torno de uma diversão sóbria, equilibrada, menos invasiva e portanto menos vulnerável aos abusos e excessos já descritos. Uma alternativa para as crianças, Uma opção para as diversas constelações familiares que não se querem expor.
E quiçá uma possível via, acessível, a uma crítica social mais consistente.
Até minha adolescência conheci apenas o carnaval convencional, dos flashes da Globo e sujeito a severa crítica dos fariseus religiosos.
No final dos anos oitenta fui com uns amigos a um Carnaval de salão e aquilo me marcou.
Pois não correspondia a imagem ainda hoje propagada pela Globosta.
Para meus ouvidos certamente havia excesso de barulho.
Reconheço no entanto que o clima era bastante seguro e saudável - Marchinhas inocentes, confete, fantasias, crianças e famílias inteiras reunidas... Um clima perfeitamente familiar, sem nudez, sem músicas apelativas, sem bebidas, etc apenas pessoas comemorando ou festejando juntas.
Vez por outra tocavam um samba enredo escolhido a dedo...
Entre a abolição ou oposição e os abusos diria que temos aqui uma Terceira via...
Até hoje tenho sido partidário dessas matinês para adultos, com as crianças fantasiadas de princesas, vampiros, homens aranhas, pierrotes, colombinas, etc catando marchinhas inocentes. Assim dos blocos, nos quais os adultos fantasiados cantam as mesmas marchinhas pelas ruas num clima de cordialidade e respeito.
Anualmente os amigos solicitam as razões porque não simpatizo com o Carnaval institucionalizado e canonizado pela imprensa - E que são as mesmas porque não simpatizo com o Futebol institucionalizado das grandes corporações. O motivo principal é a conexão existente com a imprensa, os aparelhos midiáticos, etc a produção de massas e enfim a atmosfera ética ou bem pouco ética resultante disso tudo.
Longe de mim condenar quem gosta e adere - Cada um cada um.
Aqui dou a público os motivos de minha reserva.
Sou portanto favorável é um carnaval 'diet' ou 'ligth'.
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