segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Buscando responder algumas objeções levantadas I




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Discordar pressupõem variação, e parece indicar complexidade, indeterminação e quiçá liberdade



Discordar é uma atitude rica de significados.

Como há um sem número de ideologias e pontos de vistas diferentes, a variedade parece indicar que de fato não somos comandados ou determinados por genes. A menos que os genes além de tencionados e por consequências conscientes (Ed Husserl) sejam também pensadores ou ideólogos...

A tabela periódica possui uns cento e poucos elementos. Portanto a variação é mínima... Nossas ideias, opiniões, crenças, teorias e visões de mundo, etc superam muito provavelmente o número de nossos genes, afinal são bilhões de seres humanos e não menos de dezenas ou centenas de milhões de seres humanos 'conscientes' experimentando e julgando criticamente o mundo i é produzindo concepções e doutrinas que se cruzam e produzem outras tantas, algumas que materializam -se outras que não se materializam, o que, como diz C G Jung é absolutamente irrelevante.



Um ser que elabora perguntas inoportunas



Veja uma obra de arte por exemplo, seu valor consiste justamente em não ter utilidade alguma, é pragmaticamente um mistério que Steven Pinker, o grande mago, esqueceu de alistar entre seus imponderáveis (a respeito dos quais os gregos tanto ponderaram e tantos homens ilustres ponderam ainda.) Produtos da mesma hipertrofia evolutiva que concedeu-nos um cérebro ou um aparelho cognitivo capaz de elaborar questões que os cientistas - materialistas e neo darwinistas é claro - dizem ser inoportunas ou irrespondíveis. É o que diz Pinker (com Kant) em seu livro 'Como funciona a mente' creio que a pag 256 ou segs onde declara que nosso aparelho cognitivo não foi feito para a verdade (Então como ele sabe que não esta equivocado???)...

A riqueza da cultura é mais ampla do que a riqueza genética.


Após esta digressão o que quis dizer é que nosso universo ou variedade cultural parece bem mais amplo do que nossos genes ou nosso universo genético, assemelhando-se a um turbilhão. Claro que se trata apenas duma hipótese a ser verificada no momento em que todas as ideias ou teorias e concepções humanas venham a ser matematicamente contabilizadas. Mas, como Pascal, faço já a aposta na transcendência da cultura face ao número dos genes. Agora se genes de algum modo produzem ideias (não creio nessa xaropada metafísica chamada memética, cujos devaneios, a contento, revelaremos - A gênese e forma da cultura é totalmente outra) são entidades pensantes, além de possuírem intencionalidade e consciência; e estamos já no reino da Carochinha...


Pinker vs Pinker


Agora veja meu bom amigo, o sr Pinker pronunciando-se categoricamente sobre o que acabara de alistar entre seus imponderáveis, uma vez que tal questão, sobre a possibilidade do conhecimento, é metafísica - qualquer doutrina sobre a validade do conhecimento, ultrapassando a empiria, como o empirismo, é metafisica - e epistemológica. É sempre possível que Pinker, no fim das contas repudie ao princípio de contradição de Parmenides, não o sei. Mas sei que responde a uma questão que alista entre seus imponderáveis... E responde-a da pior maneira possível, com Kant.


Hume e Kant (Jamais saímos disto!)


Kant é uma personagem chave a respeito de tudo quanto discutimos. E citado frequentemente por todos os modernistas como uma espécie de oráculo - 'Magister dixit'. David Hume, de cuja honestidade não podemos duvidar, também declarou que o aparelho cognitivo humano não estava posto para a verdade e por isso repudiou a religião, a filosofia e é claro a ciência, uma vez que a empiria parte dos sentidos. Já antes dele Pirro, Timon, Arcesilas, Carneades, Enesidemo, Montaigne, Vayer, Agripa e outros haviam esposado a mesma tese, que é a do ceticismo. O Ceticismo, nobre amigo, tem uma vantagem, não é arbitrário ou parcial, pois não precisa de um papa ou de uma autoridade dogmática a qual caiba definir a extensão ou o terreno de nossos conhecimentos.

Kant - que era luterano e trazia por baixo de sua epistemologia negativa uma antropologia (Toda Epist pressupõem uma Antropol segundo Ed Husserl) negativa - como declarou Mme de Stael sobre os reformadores, pretendeu ter atingido as colunas de Hércules da epistemologia e pôde dizer a posteridade - Daqui não passarás! Querendo com isso definir a extensão do conhecimento humano ou até onde era possível saber. Pupilo de Lutero ele identificou a razão com a imaginação ou a fantasia, condenando tudo quanto fosse demasiado especulativo, racional ou sutil; (A exemplo das modernas TEORIAS 'científicas'), enfim a metafísica, identificada, mui apressadamente com a ontologia e a teodiceia. No entanto o próprio uso de Metaphisika era ambiguo e isto a ponto de Schoepenhauer descrever o homem como um ser ou animal metafísico.

Chegando a Comte - Seu projeto ético



Comte; o francês, foi quem concluiu pela vaidade do exercício ou da reflexão filosófica de modo geral. E no entanto este homem genial não podia deixar de preocupar-se com o 'para que', com os valores, princípios, critérios e padrões que regem o convívio humano, insistindo dramaticamente sobre a necessidade de se manter ou criar uma Ética. Em certo sentido Comte e Freud são muito parecidos por suas contradições... Seja como for, foi Emílio Litreé, segundo papa positivista, que declarou a Ética ociosa ou desnecessária (por aquela época já não se falava em Estética). Os positivistas herdaram o aborto mas a humanidade clamou e clama por uma ética, e não por qualquer ética.


As promessas de Litreé...


Litreé é quem assume a teoria segundo a qual a Ciência deveria substituir a Filosofia tal e qual esta já havia substituido a religião. A compreensão no entanto era bem distinta da de Pinker. Pinker ora nos revela que devemos aceitar um certo estado de ignorância sobre o imponderável, assim a Ética - a qual sendo imponderável continua sendo ociosa! - e a Epistemologia... e nem preciso falar em Estética, afinal não poucos cientificistas admitirão sem maiores problemas que também ela é produto de uma hipertrofia evolutiva e quiçá algo tão dispensável quanto a espiritualidade. Litreé, como diz Grayling, não abre mão de uma escatologia Cristã otimista, mas secularizada (nos mesmos termos que Marx) e assevera que a ciência fornecerá ao homem todas as respostas e desvendará todos os mistérios produzindo uma nova visão de mundo.

Demandando por Ética!


Husserl julga que tais promessas são pretensiosas e mesmo venenosas, uma vez que nosso conhecimento sempre será fragmentário e limitado, como ora parece admitir Pinker, numa perspectiva mais realista, mas não menos dramática uma vez que seus imponderáveis são por assim dizer 'vitais' e não meramente acessórios dispensáveis sem os quais podemos passar muito bem... Com efeito não pode o homem viver sem perguntar a si mesmo 'Para que?' e todos se perguntam sobre isto algumas vezes ao menos na vida. Impulsos genéticos que pretendemos recalcar ou demandas psíquicas a respeito das quais a ciência empírica não é capaz de responder, mas que suscitam outros tipo de reflexão e outras formas de conhecimento.

Contesto mais uma vez que o acesso a este tipo de conhecimento, vital a nosso convívio, desenvolvimento, sobrevivência e felicidade possa ser arbitrariamente negado por um Kant, um Pinker, um Litreé ou outro qualquer. Não é um medo infantil como aquele de que foram presas um Comte ou um Freud com toda sua ciência positiva. Só não vê a crise civilizacional porque passamos quem não quer... E só aqueles que não tem um mínimo de empatia - e que certamente fariam do egoísmo genético sua praça forte - fugiriam a esta preocupação, uma vez que somos todos humanos!







A questão esbatida do altruísmo


Claro que eu bem sei e sei bem que falar em identificação, a alteridade, empatia, abnegação ou altruísmo com um biologista é tabu desde os tempos de Darwin. Hamilton em suas 'equações' já havia restringido o altruísmo a família ou a ligações genéticas, introduzindo o elemento do egoísmo... Tudo isto faz parte da ideologia positivista, a qual serve-se de enormes fórmulas matemáticas com o objetivo de intimidar a platéia. Carrel no entanto, que fora nobel e empirista de primeira linha, já dizia não trocar uma tonelada de demonstrações matemáticas por um único e singelo fato. Mesmo Comte, tão afeito a cálculos, teve de admitir esta bela verdade - Contra fatos não há argumentos...

No entanto exemplos de altruísmo desvinculado de ligações genéticas não são raros já na História, já no naturalismo e indiquei uma obra notável pelo senso de realismo e observação característicos da verdadeira ciência, assim o 'Auxílio mútuo' de Piotr Kropotkin.

É o humanismo um especismo vulgar?


"Soa como um desejo de ser mais do que felinos ou outras formas de vida... e para muitos expressaria uma forma de arrogância." diz meu amigo.

Certamente não somos superiores nos termos do sectarismo religioso ou do gênesis, segundo os quais os animais são propriedade nossa ou nos pertencem. Mesmo quando criamos animais deveríamos faze-lo segundo os princípios de uma Ética. No entanto adotar uma ética quanto ao convívio com os demais animais parece característico do homem. Pois se há homens sem consciência, que atuando como os demais animais, extinguem outras formas de vida, também há um significativo número de seres humanos que questionam a destruição de tais formas de vida apelando a conceitos como a justiça ou a alteridade, uma vez que somos todos sensíveis a dor. Veja o grupo Green Peace por exemplo.


Temos uma Ética que as demais formas de vida não tem!



Agora que leão ou jiboia ou urso após alimentar-se de um humano viria a refletir a ponto de deplorar seus hábitos alimentares e altera-los? Absurdo impensável. Mas nós temos veganos! Temos valores que alteram comportamentos... Estou esperando demonstrarem que os animais são capazes de fazer o mesmo. Nada nos indica que carnívoros façam reflexões de natureza ética determinativas com relação a seus objetos alimentares, ao menos em larga escala.

Neste sentido, de poder avaliar, com base em certos princípios, nossa relação com o que seria nossa comida ou nosso alimento, parece inovador e distintivo. Certamente que o advento da cultura vegetariana entre humanos é absolutamente rico e sugestivo; e não preciso ser vegano ou vegetariano para chegar a esta conclusão. Basta-me preferir a fome a consumir a carne dos grande mamíferos sensíveis a dor...

Os animais não produzem ciência, o homem...


Passemos a outro aspecto da polêmica. Caso sejamos absolutamente iguais aos outros animais e em nada nos destaquemos deles por que raios formigas, baratas, ratos, felinos, cães e elefantes não produzem ciência? Por que não tem seus laboratórios onde fazem pesquisas e experiências? Por que não tem suas universidades e escolas em que produzem o saber? Por que não transformam radicalmente o meio em que vivem como temos feito?

Caso a ciência produzida unicamente pelo homo sapiens tenha este valor tão grandioso - não negamos seu grande valor. O que questionamos é a atitude do cientista que se nega a pensar sobre o fim da técnica numa perspectiva ética - o quadro da vida propriamente animal comporta alguma limitação. Se a ciência produzida pelo homem tem algum valor, não há como deixar de concluir pela superioridade relativa ou intelectual de seu produtor. Agora se dissermos que é tudo uma só e mesma coisa temos de negar o valor desse fenômeno especificamente humano que é a produção científica. Elevar a ciência as alturas e abater o homem até as termitas, que não produzem ciência, é uma atitude absolutamente contraditória e incoerente.

A espiritualidade e a reflexão filosófica como fenômenos  tipicamente humanos


Mesmo sabendo que os cientificistas e positivistas negam o valor objetivo da religiosidade humana, aqueles que estão habituados a estudar o fenômeno humano não podem deixar de considera-la. Ao menos no plano da cultura temos de considerar o aspecto religioso como uma construção humana não só característica e relevante, inclusive, mas até, em certas circunstâncias como elemento positivo e favorável a evolução de determinada sociedade.

Diga-se o mesmo e mais ainda da reflexão filosófica. E o ateu Bertrand Russel foi quem declarou ser o 'deus dos filósofos' a mais refinada abstração concebida pelo homem e ao menos no plano natural, algo não menos grandioso que as pirâmides ou as grandes catedrais. Mas eu não percebo que os animais, claro que isto poderá vir a ser demonstrado, possuam uma vida espiritual e menos ainda que coloquem para si mesmos questões sobre os primeiros princípios e fins últimos do homem ou da natureza, do ser, do destino e da dor, na feliz expressão de Leon Denis. Os animais não parecem contestar a realidade dada que os cerca. Não parecem possuir um belo ideal face a vida e ainda aqui, os positivistas - que mutilam a condição humana - furtando-se a dimensão ética da vida, é que parecem espelhar-se nos animais, rebaixando-se.

A Estética ou a arte...


Temos ainda a arte, cujo fim é valorizar o que não é útil ou que não tem qualquer valor prático (Theophilo Gauthier). O homem entrega-se a este ofício inútil e desperdiça energias a toa, cerca de quarenta mil anos! Afinal para que serviriam algumas linhas e cores impressas num jarro??? ou uns sinais postos a lâmina de uma lança??? Bem, o Partenom e as Catedrais da idade média são a culminância deste exercício típico do homem e que não vemos nas alimárias que nos cercam. Ou já vistes um cão encenar uma peça ou um porco tocar uma flauta???

Por fim o homem, no dizer de Pascal, Kierkegaard, Heidegger, Marcel, Jaspers,e outros 'tolos' é um ser inquieto, que coloca-se diante do tempo, do espaço, da vida, da morte, do ser, da finitude, etc Segundo Platão ele possui um Thymos ou programa vital... segundo Romain Rolland possui um sentimento oceânico... segundo Henri Bergson possui uma intuição das coisas... segundo Husserl tende ao eidético, etc Não percebo essa inquietação, esse incomodo ou angústia nos animais. Não percebo esta sede. Não percebo esta busca ou demanda...

UM SER QUE SE AUTO MUTILA...


Claro que UM OU OUTRO SER HUMANO sempre pode mutilar-se, restringir-se e descer de nível. Outra coisa é o animal ascender ao humano, posto que lhe falta todo um aparato cultural. O esforço dos biologistas e metafísicos cientificistas consiste em eliminar ou minimizar justamente o que é propriamente humano E POR ISSO SÃO COM PROPRIEDADE CLASSIFICADOS COMO REDUCIONISTAS.


Eles pura e simplesmente desconsideram ou menosprezam a espiritualidade, a Ética, a Estética, a curiosidade ou a busca pelo sentido. As quais para eles são irrelevantes, EMBORA SEJAM RELEVANTES EM TERMOS DE ESPÉCIE E CULTURA. Más eles, os auto imunes, encaram a si mesmos como os arbítrios do universo e porta vozes da ciência, a qual sem embargo diariamente atraiçoam e profanam, publicando e divulgando metafísicas, escolásticas, especulações, sutilezas e ideologias em seu nome!!!

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