quarta-feira, 7 de junho de 2017

Apolônio de Tiana, sim; Jesus, não!

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Mesmo admitindo que a princípio fosse Jesus um 'judeu obscuro' perdido lá nos ínvios sertões da palestina, nos confins do Império romano ou na periferia do mundo civilizado, querem os ateus e materialistas - Oh contradição miserável - que o foco da historiografia romana contemporânea (século I d C) tenha caído poderosamente sobre ele.

Fica bom pra saga 'Jesus super star' não para a realidade história.

Tomemos a figura de um Pilatos a respeito da qual mesmo tendo sido pretor não se achavam quaisquer evidências documentais extra evangélicas, e isto a ponto dos críticos do século XIX, postularem sua inexistência ou lançarem fortes dúvidas sobre ela. Até encontrarem a inscrição de Cesarea... E ele era político de relativa importância.

Que dizer então de um rabino obscuro.

Certamente haviam registros a respeito de sua pessoa. Registros públicos depositados em arquivos. Pois o Império romano era sumamente organizado.

Basta dizer que diariamente, a administração Imperial publicavam uma espécie de Jornal, a Acta diurna, a qual sumariava todos os acontecimentos importantes ocorridos na capital do Império e era tombado e arquivado, exatamente como nossos diários oficiais, podendo ser consultado por quem o desejasse. Evidentemente que Jesus jamais fora mencionado em semelhante registro... Pelo simples fato de não residir em Roma e de não ser relevante para o 'Império' como um todo.

Essas Actas foram certamente consultadas pelo grande Tácito. Hoje no entanto nada mais resta delas ou dos nomes e eventos nelas citados. Devido as sucessivas invasões porque passou a cidade eterna e as decorrentes pilhagens com os fatais incêndios, deram cabo de absolutamente tudo.

No entanto haviam igualmente Cartórios e arquivos muito bem organizados não apenas nas capitais das províncias, mas mesmo nos principais centros administrativos de cada província. Nos quais ficavam arquivados e tombados por exemplo os censos mandados realizar pelos Césares ou pelos proconsules. Mesmo porque os romanos eram demasiado ciosos quanto ao fisco e nada deixavam passar...

Da mesma maneira os tribunais regionais e provinciais possuíam todos os processos e decisões judiciais arquivados pelo simples fato de constituírem 'precedente'. Assim o que chamaríamos hoje serviço secreto, contendo todos os relatórios atinentes a processos de natureza política envolvendo possíveis ou mesmo supostas sedições, cujo sumário, muito provavelmente eram enviados aos procônsules, senão ao Senado Romano, pois em termos de 'conspiração' nada era insignificante para os imperialistas do Lácio. Em questão de poder desejavam estar sempre muito bem informados.

Logo, as alegações repetidas por Justino, Tertuliano e alguns outros autores antigos a respeito da existência de tais relatórios sobre o nascimento, o processo e a condenação de Jesus; existissem ainda nos arquivos do Império, certamente nos arquivos provinciais da Palestina, são no mínimo plausíveis. Pelo simples fato de jamais terem sido rebatidas pelos muito bem informados adversários do Cristianismo a começar por Fronton, Celso, Porfírio, Hierócles, Juliano, etc Os quais sempre poderiam ter impugnado tais informações e apresentado nossos apologistas como embusteiros. Misteriosamente eles silenciaram...

Agora, quanto tal documentação efetivamente perdeu-se e para sempre, alegam cinicamente que jamais existiu!

E demandam por 'Reportagens de última hora' elaboradas pelos grandes cronistas do Império e não por uma ou duas, que não se dão por satisfeitos, mas por dúzias. Ou a falta de referências, alusões documentais, citações, descrições, etc dão logo Jesus por inexistente, ou melhor por mito.

E repetimos, era este Jesus um cidadão obscuro e o Cristianismo um movimento socialmente irrelevante ao menos até o ano 50 desta Era.

Tampouco tudo quanto havia sido escrito, narrado, registrado e historiado naquela conjuntura - o século I d C - chegou a nós em sua totalidade. Que? Talvez nem mesmo um quinto ou vinte por cento do que foi escrito naquela Época chegou até nós, mesmo considerando as transcrições de segunda, terceira, quarta... mão. Ainda estamos sendo generosos. Pois a autores que se declaram otimistas e alegam que nem mesmo dez por cento do material historiográfico elaborado ao tempo dos Césares teria chegado até nosso tempo. Há portanto mais escuridão do que luzes e não apenas quanto ao provinciano e obscuro Jesus mas sobre personagens relativamente importantes da História imperial, generais, comandantes, governadores, etc

Tomemos por hora um exemplo apenas: Rufius companheiro de César o qual foi posto por ele, durante algum tempo, a testa da grande cidade de Alexandria. Que aconteceu com este Rufius posteriormente? Quanto tempo mais viveu? Onde, como e quanto morreu??? Ignorabimus! E era Rufius... Nada muito diferente quanto a maior parte dos companheiros de César. Alias das inúmeras biografias compostas ao tempo da Roma Imperial, fora as elaboradas por Nepos, Plutarco e alguns outros gatos pingados, nada resta. E elas enchiam Bibliotecas inteiras! Hoje, mesmo quanto aos grandes imperadores possuímos apenas algumas, embora cada um deles tenha sido objeto de dezenas delas!

Será que o amigo leitor foi capaz de perceber a dimensão do problema?

E qual o significado de dizer: Não temos biografia alguma de Jesus elaborada pelos cronistas romanos dos séculos um e dois???

Afinal quem era Jesus para que um autor clássico romano dos primeiros séculos elaborasse sua biografia??? Por outro lado, dando asas a imaginação e supondo que um deles tivesse composto um rascunho ou pequeno relato sobre o obscuro líder religioso judeu, podemos supor que haveria de transformar-se num best seller e atravessar os séculos até nossos dias? Admitida esta hipótese, até absurda, poderíamos dar por quase certo, que em meados do século IV desta Era já estaria semelhante relato esquecido e perdido!

Portanto o que digo e em algo e bom som é que nem mesmo o nome ou uma simples referência a pessoa de Jesus de Nazaré deveria constar nos escritos pagãos dos primeiros séculos!!! Jesus tudo tinha para passar totalmente em branco por mais de um ou dois séculos... Tal e qual passou-se com o tão querido Apolônio de Tiana cuja existência jamais foi seriamente impugnada pelos neo ateus! Alias não poucos autores dão por absolutamente certa sua existência, ao menos não a discutem. Agora veja só leitor benevolente. Apolônio de Tiana era um contemporâneo de Jesus e segundo dizem teria falecido cerca do ano 100 desta Era. Marquem bem!

Agora vos pergunto, quando a primeira notícia a seu respeito foi publicada??? Segundo consta a 'Vita' do mistagogo pagão teria sido elaborada por Hierócles a pedido da imperatriz Júlia Domna cerca do ano 230 desta Era e portanto cento e trinta anos após a sua morte. Outras referência ao estranho personagem inexistem. Hierócles alegou uns cadernos elaborados por um certo Damis, seguidor do taumaturgo asiático, os quais, no entanto, a crítica tem dado por falsos. Mencionou e até transcreveu algumas cartas do homem, as quais a crítica tem dado por falsas ou no mínimo bastante duvidosas.

Portanto que nos leva a admitir a existência de alguém como Apolônio de Tiana - a seu tempo alguém muito mais importante e conhecido do que Jesus de Nazaré - além das palavras ou do relato de seu biógrafo Hierócles??? Nada! Absolutamente nada!

Excelente! No caso, a míngua de testemunhos, podemos da-lo por inexistente e com a mais absoluta certeza? De modo algum! Pois neste caso seria necessário contestar a existência da maior parte dos personagens históricos mencionados pela historiografia clássica e da-los por fictícios.

Mas como???

Simples, tomemos o mais brilhante de todos os pensadores gregos: Sócrates, e perguntemos: A parte do discípulo Platão por quantos outros escritores foi expressamente citado? Por três apenas
Aristóteles -firmado na autoridade de Platão - e, independentemente de Platão, por dois apenas: Aristófanes e Xenofonte!

Agora refleti por um instante - Não tem Jesus em Luciano de Samosata (Autor de 'O Peregrino') seu Aristófanes e em Josefo - segundo a transcrição original de Agápio - seu Xenofonte? Alias até um Xenofonte melhor porquanto pertencente a um credo religioso rival...

E no entanto, mesmo quanto a quaisquer outros grande Filósofos e pensadores quatro ou cinco alusões por parte de contemporâneos não comprometidos é tudo quanto - Com um pouco de sorte - haveis de conseguir em termos de evidência historiográfica. Isto repito, quanto a um Platão, um Aristóteles, um Epicuro ou um Zenão; homens cuja fama fora universal.

Contam-se NOS DEDOS as referências por parte de terceiros não comprometidos ou engajados sobre os grandes mestres do pensamento antigo. Quem discordar DEMONSTRE O CONTRÁRIO!

Coisa de sete ou doze personagens, não mais do que isto.

Mas a que vem ao caso?

Espere um pouquinho e já o verá.

Agora tome em suas mãos um antigo Manual de Filosofia como o de Diógenes Laertius ou o de Filodemo de Gadara ou algum florilégio como o de Aulo Gelio, ArrianoJohanes Stobaeus ou ainda a Suidas. Folheai-os com atenção e la encontrareis referências a outras tantas centenas de pensadores helênicos... Agora o surpreendente para os leigos em matéria de Historia, é que tais referências sejam únicas ou exclusivas quanto a no mínimo dois terços (66%) deles. Personagens cujos nomes sequer são conhecidos por quaisquer outras fontes! E tais homens pertenciam a nata da boa Sociedade grega e não deixaram de ser relativamente bem conhecidos dentro de certos círculos do tempo em que viveram.

Todavia passados vinte e tantos séculos que testemunho restou sobre a existência deles além de uma vaga alusão ou transcrição em alguma destas obras compostas cem, duzentos ou até quatrocentos após a época em que haviam florescido???

Destarte, aplicando a mesma 'lógica' ou empregando a mesma argumentação que os neo ateus a que os neo ateus recorrem com o o objetivo de demonstrar a inexistência de Jesus, seríamos obrigados a concluir pela inexistência de todos estes personagens. Antipater de Tiro não passaria de um mito, assim como Cimias, Cebes, Metrodoro, o antigo, Diógenes de Babilônia...

E temos já de estender nossas dúvidas a praticamente toda Historia antiga, e abdicar de qualquer certeza. Quem não percebe que o tiro ideológico disparado contra Jesus abate praticamente todos os personagens da historiografia grego romana? Neste caso que ficamos sabendo de concreto sobre a História antiga focada sobretudo em reis e generais? Praticamente nada além de alguns atos de governo! Pelo simples fato do governo ou da esfera política ter sido priorizada em detrimento da Filosofia, da religião e da História das idéias de modo geral... Neste caso que triste História temos; história do comum, do trivial, do vulgar; sacrificando sua melhor e mais elevada parte devido a parcimônia das fontes.

Afinal onde havereis de achar pencas de alusões e referências a um Exegias ou a um Filon de Biblos??? Em lugar algum!

O que os pseudo historiadores ateus exigem a respeito da pessoa de Jesus Cristo, tendo em vista o reconhecimento de sua existência Histórica e objetiva, pouquíssimos personagens da História antiga seriam capazes de oferecer!

E estes homens eram conhecidos.

Que dizer então dos milhões de homens obscuros que se arrastaram sobre a face da terra e a respeito dos quais temos apenas um Nome (claro que me refiro a uns poucos apenas)? Que não passaram de mitos?


Motivo para desesperação?

Absolutamente.

Afinal por mera 'questão de sorte' - digamos assim - topamos com alusões e referências fresquinhas a respeito de Jesus -

Nos Evangelhos e escritos de Paulo (afinal quando se trata do divino Sócrates você não admite os testemunhos dos engajados Platão e Aristóteles?) e para alem disto - Aqui o filé - nos de Josefo (O qual refere-se igualmente a  João Batista, o qual em tese também não deveria passar de um mito) do Talmud, de Tácito, Suetônio, Plínio e Luciano??? Num total de cinco testemunhas não alinhadas: Quatro pagãs e uma judaica. Agora considere que Josefo era coevo, que Tácito e Suetônio floresceram cerca de quarenta anos apos os fatos, que Plínio não distaria deles mais do que oitenta anos e Luciano pouco mais de um século! Para não falarmos em Celso, o qual, segundo alguns teria composto seu discurso verdadeiro por volta de 170 d C, logo cerca de cento de trinta anos após a consumação dos fatos.

CELSO ESCREVIA SOBRE JESUS COMO QUALQUER ESCRITOR BRASILEIRO DE HOJE PODERIA ESCREVER SOBRE D PEDRO II E A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA!!! Logo como inserir um mito ai ou pior como alegar que os relatos compostos pelos quatro evangelistas não passam de mito - Veja só o absurdo!

O mais interessante é que o citado adversário pagão alude claramente a tradição judaica segundo a qual Jesus teria sido filho de um certo soldado romano cognominado Pantera. Dando por certo sua existência história e buscando apenas mancha-la ao invés de nega-la, apresentando-a como um logro. Agora o que levaria os antigos judeus, adversários ferozes do Cristianismo, a admitir a existência de um personagem que fora inventado ou criado pelos apóstolos (ou pela comunidade Cristã) e que jamais tivera existência real? POR QUE OS ANTIGOS JUDEUS NÃO FORAM OS PRIMEIROS A DESMASCARAR A 'TRAMA' DOS CRISTÃOS????

Recorde-mo-nos mais uma vez de Apolônio cuja primeira biografia foi composta quase século e meio após sua morte. Tampouco seria irrelevante considerar que as primeiras biografias de Pitagoras foram elaboradas por Aristoxenos e Dicearco de Messenia cento e setenta anos após sua morte. Que a biografia mais antiga que possuímos a respeito do grande matemático remonta ao segundo século desta Era (devendo-se a Diógenes Laertius) tendo sido elaborada sete séculos após sua morte e assim toda a literatura neo platônica subsequente, elaborada nos séculos II, III e IV. Quanto a testemunhos coetâneos a seu respeito contamos com apenas duas alusões bastante sumárias em Xenófanes e Heráclito. E mesmo assim atribuem-lhe o teorema... e quem esta disposto a demonstrar facilmente que Pitágoras não passa de um mito? O próprio Xenófanes é mencionado apenas por Epicarmo e Heráclito embora tenha, como Pitágoras, viajado e circulado por todo mundo conhecido. Além de ter privado com reis... Neste caso por que quanto a Jesus exigem-se pencas de testemunhos, dez, doze, vinte, cem????

No entanto o relato evangélico mais antigo alusivo a pessoa de Jesus Cristo parece remontar no máximo ao ano cinquenta desta Era, estando separado dos fatos por menos de vinte anos e não por mais de século como supunham os críticos 'emancipados' do século XIX dando os mais antigos relatos como tendo sido compostos após 70 d C e os mais tardios (Como o Evangelho de João) cerca de 130/140 desta Era. Hoje sabemos que toda esta cronologia com que Emílio Bossi e outros, deitaram e rolaram no século XIX esta completamente errada. E no entanto foram elas que serviram de base a teoria do Jesus mito numa época em que os mitos e sua formação sequer haviam sido estudado ou seja meio século antes de um Mircea Eliade. (Após os estudos científicos de Eliade sabemos que os mitos não se formam as carreiras ou tão rapidamente quanto em vinte, quarenta ou mesmo setenta anos).

Afinal tais relatos circulavam publicamente! A ponto dos críticos como Luciano e Celso poderem le-los? Logo expunham-se a crítica. Certamente que os sábios romanos não estavam dispostos a critica-los, ao menos num primeiro momento. Podemos no entanto dizer o mesmo a respeito dos antigos judeus para os quais Jesus fora um herético perigoso e não um simples fantasma? Os judeus e sua tradição sempre poderiam ter feito eco a versão do Jesus mito, mas não fizeram, apresentando-o como entidade histórica e real - Como um bastardo, feiticeiro e idólatra cujo corpo foi roubado pelos apóstolos... Agora para que imaginar tudo isto e dar corda a uma narrativa, que eles judeus palestinianos, sabiam ser fictícia?

Temos assim quatro relatos públicos de primeira mão sendo que o mais afastado deles não dista dos fatos mais do que setenta anos. Neste caso que ficamos devendo a Platão e a Xenofonte? A Aristóteles e a Aristófanes??? Não, certamente Sócrates - historiograficamente falando - não ocupa melhor posição do que Jesus. E no entanto ele era Sócrates, habitante da grande metrópole de Atenas e a sumidade de seu tempo. Enquanto o outro não passava de um pregador ou profeta obscuro e perdido nos confins da Judeia, i e, no 'fim do mundo' daquele tempo. Logo como exigir de ambos os mesmos créditos?

Aprofundemos!

Sabido é que parte dos neo ateus e anti humanistas tem buscado igualmente fulminar o ilustre filho de Fenarete com os mesmos raios que tem disparado sobre o filho de Maria ou seja, questionando a existência história de Sócrates (Evidentemente que Buda também faz parte deste seleto grupo de pessoas desagradáveis). E no entanto a Atenas do século V a C é o ambiente deste Sócrates e por assim dizer até pede este Sócrates tal e qual o ambiente ou cenário da Palestina no primeiro século desta Era - com suas instituições e costumes - não apenas torna perfeitamente possível e compreensível a existência de um Jesus, como reflete tudo quanto fora descrito pelos quatro evangelistas, inclusive o traçado da antiga Jerusalém, conquistada e destruída por Tito. 

Quanto mais avançam as pesquisas arqueológicas a respeito da forma da Palestina ao tempo em que Jesus teria florescido tanto mais se concluí pela objetividade e fidedignidade do cenário descrito pelos evangelistas com Jerusalém, as regiões, as cidades, as vilas, os acidentes geográficos. Nada em absoluto parece ter sido escrito a distância, de memória ou inventado. Por que raios um forjador de mitos haveria de proceder com tamanho rigor??? Caso tenha inventado o personagem e as estórias, por que teria deixado de tratar o ambiente ao menos com certa liberalidade? Em certo sentido Jesus como Sócrates é o homem do seu tempo e a Jerusalém do século I d C parece pertencer-lhe tal e qual a Atenas do século V a C é propriamente a Atenas do Sócrates de Platão.

Enfim tudo quanto arbitrariamente exigem os neo ateus de Jesus, praticamente personagem algum das Idades Antiga e Média poderia oferecer do mesmo modo como raras figuras relativamente famosas do tempo presente poderão oferecer daqui a dois mil anos ou mais; passando quase todas em 'branca nuvem'.

Tal exigência é descabida pois implica ignorar supinamente as circunstâncias que envolvem a importância de determinada figura em seu próprio tempo. Como implica ignorar as vicissitudes porque passam as fontes históricas ou registros ao cabo dos séculos. Determinando por fim que a historiografia antiga enquadre-se nos cânones 'científicos' do moderno positivismo, o que redunda em monstruoso anacronismo. As biografias de um Pitagoras, de um Sócrates, de um Jesus ou de um Apolônio jamais poderiam ter sido elaboradas por um Ranke, por um Taine ou por um Buckle...

A tomar por critério as exigências da ideologia positivista com seus preconceitos e sua técnica não teríamos tido conhecimento histórico algum anterior ao século XIX, apenas mito e somente mito do seculo XVIII para baixo. De modo que até mesmo o conhecimento de que dispomos sobre Reforma protestante e as grandes navegações falhar-nos-ia... E tudo não passaria de falácias!

No fundo, no fundo a questão pertinente a existência de Jesus ou de Sócrates transcende os domínios da religiosidade ou do humanismo (Os quais mexem com os sentimentos das pessoas) trazendo a tona a questão da própria produção e credibilidade histórica, da metodologia, da crítica, etc e nem há como aborda-la sem fugir aos temas abstratos do objetivismo e do subjetivismo relativista com suas múltiplas decorrências.

Sintomático que toda essa pregação ideológica em torno do Jesus mito ou da inexistência do Jesus histórico - Ainda atrelada a crítica ultrapassada do século XIX - parta geralmente de pessoas muito pouco informadas a respeito da Historiografia, de suas fontes e de seus métodos ou como costumamos dizer de leigos despreparados. Sinto ter de dize-lo mas Onfray e muitos outros limitam-se a repisar e reproduzir os argumentos embolorados de Emílio Bossi desconsiderando toda uma imensa gama de testemunhos arqueológicos e documentais acumulados desde 1890! Apesar do verniz tudo isto ainda cheira a Dupuis, século XVIII... Com seus equívocos monstruosos a respeito dos templos de Dendera e Filé. Tudo isto sabe a Jacolliot e a suas patacoadas sobre as 'puranas' e outros registros hindus cuja elaboração é atualmente reconhecida como post Cristã... Ressente as conjecturas inexatas a respeito do Cristianismo ter reproduzido fábulas budistas que hoje sabemos terem sido elaboradas igualmente na Idade Média.

Erraram apostando no paganismo greco romano. Erraram apostando no paganismo egípcio, erraram apostando nos mitos hindus e budistas sucessivamente. Foi toda uma sucessão de equívocos...

Só lhes restando atualmente o vergonhoso expediente de alterar as narrativas a respeito de Horus, Mistras, Hélios, Adonis, etc forçando aqui, empurrando acolá, emendando mais além, com o objetivo de demonstrar que Jesus é isto tudo, e que nada de novo há em nossos Evangelhos. Agora se tudo estava lá sr ateu porque raios o Império romano mostrou-se tão surpreendido e incomodado a ponto de proibir o exercício desta religião? Alias por que teria sido tão encarniçadamente perseguida pelo paganismo antigo e combatida pelos adoradores de Horus e Adonis??? Como se percebe absurdos e mais absurdos.

E qual a derradeira pedra posta sobre a construção ateística? AQUI O SUPREMO RIDÍCULO! O vezo protestante, tradicional já, de tudo atribuir ao imperador Constantino, apresentando-o como pai, criador e mestre do Catolicismo, do atanasianismo, do trinitarismo. Pois bem para parte dos neo ateus Constantino seria o legítimo pai do mito Jesus e do Cristianismo, conferindo-lhe a elaboração final e canonizando-o. Evidentemente que a exemplo de seus instrutores, os pregadores protestantes do século XIX, toda essa gente não conhece uma linha sequer de literatura patrística, jamais tendo lido um parágrafo de Justino, Atenágoas, Teófilo, Clemente, Orígenes ou Tertuliano. Daí mais e mais afirmação gratuitas, levianas e ineptas!

Tal não é certamente a perspectiva de um Vermes, de um Crosan, de um Thiedmann, de um Ehrman...

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