Segundo o imaginário do senso comum é a educação um ato neutro fornecido por uma entidade impessoal que é o governo.
Ainda dentro desta perspectiva o governo oferece as mesmas oportunidades educativas a todos os cidadãos, os que desejam aprender e se aplicam são bem sucedidos, os que não desejam aprender ou não se aplicam suficientemente sofrem as consequências.
Aqui podemos continuar dormindo no 'berço esplêndido' da pátria amada no país das maravilhas de Alice.
A realidade no entanto é bom outra e quem o diz não é o barbudo subversivo do Karl Marx responsabilizado por todos os males que acometem a pobre humanidade, mas nosso sisudo, querido e bem comportado Max Weber aquele mesmo sociólogo germânico que revelou ao mundo científico as afinidades eletivas ou culturais existentes entre o protestantismo e o capitalismo.
Acompanhe-mo-lo para ver se aprendemos alguma coisinha...
Segundo M Weber o governo também ele é formado por pessoas ou seres humanos, os quais sendo livre atuam segundo o critério da intencionalidade.
Logo também o governo tem determinadas intenções voltadas para determinados fins.
Importa portanto saber quais sejam tais fins.
Na perspectiva de um governo formalmente democrático inserido na corrente ordem mundial e sua pressuposta ortodoxia econômica é evidente que o governo devendo produzir empregos e cuidar da segurança - omitindo-se quanto a tudo mais - esta voltado para as necessidades de um mercado financeiro, devendo inclusive - segundo os preceitos da cartilha neo liberal - subsidiar ou secundar suas iniciativas.
Por isso que no instante mesmo em que escrevemos estas linhas o governo golpista empossado há seis meses, forceja, com apoio do Congresso golpista, aprovar uma série de medidas impopulares exigidas pelos empresários e capitalistas. Refiro-me ao corte de gastos públicos que ao invés de incidir sobre os proventos e benefícios auferidos pelos próprios parlamentares, militares e juízes incidirá fatalmente sobre os programas de ajustes sociais implementados pelo governo anterior e traduzir-se-a em cortes nas áreas da Educação, da Saúde, da Habitação, etc
Alias o objetivo de tais cortes não se limita apenas a carrear mais dinheiro aos fundos de investimentos destinados a socorrer bancos e empresas em vias de falência devido a má administração ou crises econômicas mas também e acima de tudo a provocar uma intensa queda qualitativa em termos de serviços públicos e consequente insatisfação popular.
O roteiro é mais ou menos este: Os cortes acarretam queda de qualidade nos serviços públicos. A queda que qualidade provoca a insatisfação popular face a tais serviços. A mídia venal explica dizendo que todo serviço oferecido pelo governo ou pelo poder público é necessariamente mau por ser público e sugere a privatização de tais serviços. A privatização fecha este ciclo, parte dos fundos arrecadados vão para as contas secretas no exterior (serão destinadas a propaganda política dos partidos privateiros) e parte servirá para engordar ainda mais os fundos de investimentos públicos destinados a amparar a iniciativa privada.
Se tudo quanto acabei de escrever não esta perfeitamente de acordo com a cartilha dos neo liberais dou o pescoço a corte.
A conclusão aqui salva a vista: Temos uma intencionalidade neo liberal no controle do governo.
Uma intencionalidade social, keynesiana ou humanista na Escandinávia...
No Brasil uma intencionalidade neo liberal em ascensão após o último golpe de estado promovido e apoiado pelos setores da direita.
Expusemos as necessidades econômicas voltadas para o Mercado. Uma questão simples e prática.
No entanto os liberais sabem melhor do que o sr Marx ou sr Mauss ou o sr Sombart que a afirmação do liberalismo econômico depende de um substrato fornecido pela cultura e destinado a alimentar um ideal liberal economicista de homem.
Por isso os políticos conservadores Norte Americanos estudam sociologia. Por isso desde os anos 50 investem no pior tipo de fundamentalismo religioso. Por isso preocupam-se com o fenômeno educativo. Porque aspiram cimentar ou produzir uma cultura liberal e um homem liberal.
E todos os esforços educativos, inclusive públicos são empreendidos neste sentido: de reproduzir uma cultura liberal economicista e de predispor os jovens e crianças ao individualismo.
Pois o capitalismo ou liberalismo nada mais é que uma forma de individualismo inserido na economia.
Se você não pensa individualisticamente não será anarco individualista, não será protestante, não será capitalista. Se a consciência é dominada em maior ou menos grau por preocupações em termos de sociedade ou grupo inspiradas por um ethos fraternalista, o capitalismo não se afirma e o sujeito identifica-se com qualquer outra forma de socialismo, da social democracia e do keynesianismo ao comunismo.
Capitalista ou liberal é que não será a menos que tenha abraçado o princípio letal do individualismo por qualquer outra via seja política (anarco individualismo/stirnerianismo) ou religiosa (protestantismo).
Todavia como nem sempre é possível introjetar tais valores por meio da educação formal ou estatal o líder individualista ou o capitalista militante receberá sua formação por via da família e esta de algum coletivo anarquista, protestante ou capitalista; a menos é claro que tenha sido educado nos EUA ou numa instituição privada que tenha transplantado tais ideais para cá.
Importa saber que apenas o elemento ativo ou direito das elites deve ser consciente de seu papel dominante.
Não se pode formar adequadamente um homem liberal por meio da educação pública brasileira, isto pelo simples fato de que esta educação deva ser neutra o isenta, o que frustra obviamente as ambições do liberalismo.
Na impossibilidade de produzir um homem liberal em larga escala contenta-se o liberal brasileiro ou o programa que lhe dá suporte em produzir uma cultura da estupidez ou da ignorância.
O que é sumamente fácil.
Bastando para tanto implantar um modelo educacional duplo e ao menos em parte tecnicista. Cujo currículo seja alijado dos conteúdos humanos.
Assim da Sociologia, da Psicologia, da Filosofia, da Geografia e acima de tudo da História.
Produzindo um tipo alienado ou mutilado de ser humano. O qual limitando-se a ler e a calcular, a manipular certas fórmulas e a fabricar certos objetos ocupe o lugar que lhe foi dado pelo governo ou melhor pelos dirigentes da Sociedade i é um ligar de executor, empregado, gerenciador ou subalterno.
Um tipo de homem tão bronco, tão estúpido, tão idiota, tão desprovido de esperanças e ambições que predisponha seu filho a assumir seu lugar e toda sua descendência a reproduzir passivamente sua docilidade, até o dia do juízo final. Preservando o status quo dos senhores i é dos proprietários.
E assim será o homem que nada compreenda criticamente a respeito da vastidão do universo, da evolução dos seres vivos, da formação e organização das sociedades, da produção e distribuição de bens, da estrutura política, da justiça, da liberdade, do bem, do mal, da ética, do espírito científico; enfim da vastidão do mundo em que vive e seus problemas.
Tudo isto faz parte de sua condição, está de certo modo presente em sua vida, limita ou amplia a esfera de sua atuação e por isso este homem deve ter consciência de cada um destes aspectos da realidade. Para saber ao menos que poderia ser diferente e ocupar um espaço distinto e exercer uma função distinta e que as coisas não são como são porque devem necessariamente ser assim...
Este homem dificilmente contemplará passivamente um sistema largamente produtor de injustiças... Alegando que sempre fora assim ou simplesmente que é bom porque dá certo.
Se de fato os capitalistas estão dispostos a insistir que tudo sempre foi assim nas Idades primitiva, antiga e média são tão mentirosos ou supersticiosos quanto seus adversários comunistas igualmente predispostos a ver o capitalismo em todas as fases da História humana. Neste caso o liberalismo compactua com a mentira e alimenta-se dela... E não é melhor que seu adversário.
Por outro lado se o Capitalismo deve ser aceito pelo simples fato de ter dado certo sejamos honestos e coerentes reconhecendo a dignidade do nazismo. Pois digam o que disserem seus críticos ele deu muito mas muito certo enquanto existiu e só pode ser esmagado pelo execrado bolchevismo do sr Stalin com suas divisões... Não pelo maravilhoso capitalismo, a depender o qual o mundo inteiro - ou ao menos sua parte ocidental - seria ou estaria nazista e provavelmente muito bem ou menos mal... (Economicamente falando) Em que pesem as monstruosidades e abominações do nazismo. Isto porque ele foi prático e deu certo... Felizmente havia um Stalin no meio do caminho. O que nos leva a questionar os caminhos e o sentido da História uma vez que este Stalin foi fruto da Revolução de 17 e esta de condições russas específicas como a religião Ortodoxa, o Czarismo, etc
O que quero dizer é que um homem imbuido de cultura humanista dificilmente engolirá a vã prosopopeia - vulgar e anti ética - do liberalismo economicista, como recusar-se-a a engolir os venenos totalitários da cultura de morte como nazismo, fascismo, comunismo, etc partindo em demanda de outras soluções sociais fornecidas pela experiencialidade social e histórica do gênero humano.
Este homem instruído e reflexivo, critico e ousado será antes de tudo crítico e muito pouco disposto a contentar-se com respostas prontas destinadas a alimentar determinados tabus sociais.
Assim se não é possível patrocinar descaradamente a construção da besta liberal importa impedir a formação deste modelo humanista de homem por meio de uma educação superficial, mutilada e tecnicista de cujo currículo sejam subtraídos a Psicologia, a Filosofia, a Sociologia, a Arte, a Geografia e sobretudo a História, nobre mestra da vida.
É o reducionismo tecnicista implantado nos domínios da educação, melhor caminho para produzir e reproduzir uma geração de estúpidos, imbecis, idiotas e alienados destinados a mais rude servidão.
Este é o projeto deseducativo oferecido por um governo golpista que não pode subsistir-se nem sustentar-se senão a custas de massas acríticas e docilmente manipuláveis.
Pode o homem optar conscientemente pela ignorância ou pelo não aprender desde que esteja disposto a pagar o preço social exigido por sua opção. Não obtendo formação, título ou diploma.
O que não pode é a Sociedade conceder amparo legal a esta opção empobrecendo ela mesma o currículo. Humanidades não é coisa que se possa escolher, por de lado ou desprezar sob quaisquer alegações pelo simples fato de TODOS SERMOS HUMANOS.
De todos termos caráter, mente, pensamento, percepção, princípios, valores... Elementos que por isso mesmo devem estar presentes no conteúdo curricular.
Pois é sob tais elementos que construímos aquela vida ética responsável pelo direcionamento da técnica e da vida.
No entanto se a Escola ou a Sociedade estão mesmo dispostas a relegar tais elementos ao setor privado da vida humana, furtem-se de condenar o nazismo, o fascismo, o comunismo e a teocracia... e preparem-se para tolerar todas as culturas da morte.
Agora se pretendemos construir uma ética da essência o melhor lugar para discuti-la é no ambiente escolar, no espaço da disciplina de Filosofia.
Tal nosso projeto humano e humanista de pessoa. Em oposição ao projeto tecnicista posto a serviço da alienação.
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