segunda-feira, 19 de maio de 2014

Senhor juiz, pare agora! Uma defesa do caráter religioso das comunidades afro brasileiras







A concepção segundo a qual religiões devam ter escrituras ou livros sagrados peca por sua artificialidade e unilateralidade.

É o que amiúde se sucede quando as pessoas optam por pontificar a respeito do que supinamente ignoram.

Assim quando apresentadores de TV, jornalistas ou mesmo magistrados põe-se a definir sobre temas e assuntos que fogem a suas respectivas competências...

"Sapateiro não passe dos sapatos." já faziam dizer os antigo gregos a respeito de pessoas que assumem este tipo de posicionamento, julgando quase sempre pelas aparências e reproduzindo preconceitos.

De fato a classificação científica do fenômeno religioso cabe a cientistas religiosos, cientistas sociais ou historiadores e não a 'arrivistas' sejam eles jornalistas, apresentadores televisivos, teólogos, juízes ou políticos.

Aqui a autoridade em questão é a autoridade INTELECTUAL DEVIDAMENTE RECONHECIDA OU CIENTÍFICA e não a autoridade jurídica ou política; a qual não cabe nem compete determinar qual seja a essência ou o caráter do fenômeno religioso.

É verdade que os muçulmanos tomam a religião 'em seu sentido mais excelente' por 'religião do livro'; assim o judaísmo ortodoxo, o protestantismo e mesmo o hinduísmo...

Em se tratando do Ocidente 'Cristão' este posicionamento é assumido pelos fundamentalistas protestantes.

De fato esta definição até pode ser internamente válida para eles; coisa diversa todavia é julgar todas as outras formas religiosas por este prisma livresco ou escriturístico, seja muçulmano ou protestante...

Admitido este padrão só nos restaria inferir que cultura iletrada alguma possuí instituições religiosas; o que constitui tremendo absurdo!

Destarte nem aborígenes, nem bosquímanos, nem tsadais, nem halacalufes teriam qualquer tipo de crença religiosa!

Outra monstruosidade decorrente deste falacioso critério seria concluir que as organizações religiosas são todas posteriores a invenção da escrita e que antes desta invenção não havia qualquer organização ou sodalício religioso sobre a face da terra porque não haviam livros!!!

Nem a religião do antigo Egito poderia ser classificada como religião pelo simples fato de não ter possuído uma espécie de Vedas, Tanak ou Corão!!!

Dir-me-a algum sabichão que o livro dos mortos constituia a 'Bíblia' dos antigos egípcios.

Nada mais artificioso e enganador.

Pois sabemos que mesmo durante o Novo Império, quando a fabricação destes livros tornou-se normativa, o texto não havia sido unificado... Só nos restando concluir que se este livro adquiriu de fato o caráter de um oráculo sagrado no contexto da antiga religião egípcia tal só pode ter ocorrido após o ano 1000 a C.

Logo, de 3000 a 1000 a C, ante a existência de qualquer literatura de caráter sagrado, inspirado ou infalível seríamos levados a admitir que não havia religião no antigo Egito!!!

O mesmo se diga dos antigos sumerianos ou mesopotâmicos; cuja forma religiosa jamais esteve em posse de um corpo unificado de escrituras canônicas, inspiradas ou infalíveis; mas de tradições religiosas imensamente vastas e apenas em parte escritas.

Logo, não teria havido verdadeira religião na Mesopotâmia pré Cristã, a exceção do judaísmo antigo!

Mesmo na Índia os primórdios da religião remontariam a tradição oral dos Vedas, i é, a 1500 a C... enquanto na China o advento da 'religião' remontaria no máximo até Lao Tze, que parece ter florescido no século VII a C... aqui nada que vá para além do segundo milênio a C e ali nada que atinja o terceiro milênio... Ficando as gerações mais antigas desta civilizações despojadas de um verdadeiro éthos religioso pelo fato de não possuírem livros religiosos ou escrituras como o judaísmo, o cristianismo e o islã!

Quem não percebe que este modo ou maneira de classificar o fenômeno religioso é não somente anacrônica como altamente preconceituosa tendo em vista eliminar o legado espiritual transmitido por nossos mais remotos ancestrais em benefício de tradições religiosas mais recentes?

Querem os laicos classificar religiões?

Comecem estudando Mircea Elieade, cientista que apresenta o ponto de vista mais satisfatório a respeito; ao menos até o tempo presente. Depois passem aos pesquisadores mais antigos: A Von Reville, Hume, Fullop Muler, etc

Talvez então obtenham fundamentação suficiente para conversar sobre o assunto e não para promulgar decretos e leis similares aquelas que os magistrados romanos, muito pouco informados, promulgaram contra o Cristianismo antigo classificando-o como 'SUPERSTIÇÃO' ou mesmo 'ATEÍSMO' pelo simples fato de que os primitivos Cristãos não prestavam culto a diversos deuses...

Pois bem segundo o ponto de vista unilateral e artificioso dos antigos pagãos ficavam sendo ateus e seu sistema rotulado como vil superstição!!!

E toda esta ideologia preconceituosa tinha por único fim justificar a perseguição que então assolava a Santa Igreja Católica; perseguição ao fim das qual dez milhões de seres inocentes haviam sido assassinados pelo Estado romano!!!

Assim, diante dos repetidos crimes atualmente perpetrados pelos adeptos da 'religião do livro' neste nosso país - Crimes inspirados num volume (Antigo testamento) que justifica, santifica e diviniza a eliminação dos dissidentes religiosos com requintes de crueldade!!! - como a invasão de casas de culto afro brasileiras e diversos casos de agressão e ameaça relatados pelos adeptos deste padrão religioso; nós amantes e amigos da liberdade, tememos que tais classificações ideológicas e arbitrárias sirvam para alimentar ainda mais este clima de intolerância e agressividade!

De fato, antes que novos e exóticos padrões de religiosidade cá chegassem trazidos doutras terras; nossa cultura sempre foi caracterizada pela tolerância e pela convivência até certo ponto harmoniosa entre diversos padrões religiosos; haja vista a arqui secular lavagem do Templo papista do Bonfim - em Salvador, Bh - pelos adeptos das religiões afro brasileiras!

Hoje no entanto, nossa tradição ancestral de tolerância e amenidade vê-se ameaçada pela implantação do mosaísmo antigo... em termos que sequer é praticado pelos atuais judeus!!!

A ponto de alguns psicopatas terem declarado terem exercido atos de violência contra adeptos de outros cultos e credos por estarem acima da lei humana ( i é da Constituição Federal) e dando cumprimento a lei de Deu, ou seja, as leis draconianas do antigo testamento cujo objeto eram os cananeus idólatras.

Hoje para os fundamentalistas brasileiros os cananeus idólatras são os adeptos das religiões afro brasileiras e em menor medida os espíritas, esotéricos, budistas, hindus e até mesmo os papistas; sempre classificados como idólatras e réprobos pela apologética protestante extraída da Torá.

Havendo quem apresente-se como inspirado ou vidente e instigue suas ovelhas a executar a 'lei de deus' i é a atacar os neo cananeus ou idólatras que infestam este grande pais; pois só assim o Brasil viria a ser uma nação feliz, cujo deus fosse o senhor jau ou javé, nume ciumento e sangui sedento dos antigos israelitas...

Cumpre pois reconhecer publicamente o caráter religioso de todas as agremiações ou instituições que estejam voltadas para o sagrado, o numinoso ou o invisível e tendo em vista a paz e a harmônia desta grande nação, conceder a todas e a cada uma delas a proteção da lei sob o prisma da mais absoluta igualdade.

Não implica isto, como querem alguns impedir que os adeptos das diversas religiões condenem-se e excluam-se uns aos outros do ponto de vista espiritual. Reconheçamos que enviar os dissidentes as chamas do mítico averno seja uma prerrogativa inalienável de tais seitas... as quais é perfeitamente defeso amaldiçoar e ameaçar seus oponentes com castigos invisíveis.

Coisa distinta porém é vindicar publicamente a execução dos dispositivos temporais e violentos contidos na lei de Moisés justificando a agressão as minorias religiosas, a punição dos blasfemadores e sacrílegos e a eliminação dos incrédulos ou mesmo do Estado Laico, apresentando-o como ateu e portanto, como oposto a vontade de deus. Este tipo de 'pregação' semelhante aquele que atualmente ecoa em todos os países dominados pelo islamismo, digamos abertamente, não é nem pode ser tolerado pelas pessoas civilizadas e pelas leis.

Assim todas as organizações religiosas, em especial as minoritárias, devem gozar da proteção de nossas humanitárias leis! E todos os atos de violência instigados pela pregação religiosa ou cometidos por elementos religiosos em nome de seus deuses, livros ou credos; punidos com redobrado rigor!!!


O autor identifica-se com o espírito Católico e a Fé Ortodoxa e não adere nem ao relativismo, nem ao ecumenismo. Reconhece no entanto a inviolabilidade do livre arbítrio, o direito de acreditar-se no que se quer e o caráter laicista do Estado como valores essencialmente Cristãos.

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