segunda-feira, 17 de março de 2014

Não existe literatura imoral




Depois de muito tempo sem escrever em meu blog eis que retorno e prometo aos meus leitores que doravante serei assíduo (sempre lembrando que promessas podem ser quebradas).

Quando eu estava nas casas dos vinte anos eu estudei num centro de suplência e eliminei muitas matérias e depois eu fui eliminado por ser péssimo nas exatas, mas isso não vem ao caso. Então vamos direto ao assunto, quando eu estudava nesse centro de suplência eu tive que ler dois livros da literatura brasileira:


  • Dom Casmurro - Machado de Assis;
  • Um certo capitão Rodrigo - Érico Veríssimo
Quanto ao Dom Casmurro não tive muitas queixas pois se tratava de uma suspeita de adultério, a meu ver se tratava de paranóia do Bentinho. Mas quando chegou a vez de expor na prova as impressões que tive do livro Um certo capitão Rodrigo, eu não fui feliz, isso porque eu estava cheio de preconceitos adquiridos aos longos dos anos na sacristia da igreja. Então escrevi aberrações lançando juízos de valores, afirmando que a obra era um lixo, um mau exemplo porque ensinava adultério, amor pelas brigas, bebedeiras e outras coisas, enfim eu esqueci de tratar o livro como literatura e tratei como uma obra de imoralidade que atentava contra a "moral e os bons costumes". Olvidei as belas palavras, a forma de escrever e o enredo da história que é humana e sendo algo "humano não me é estranho" (Terêncio). Evidentemente a professora de literatura ficou chateada por minha visão tão pobre da vida. Mas não tentou me convencer porque na época era um fanático religioso e sabe como é...

Depois de muitos livros lidos, depois da coragem de pensar por mim mesmo, depois de muitas reflexões comecei a ler outros tipos de literaturas, pois até então eu só lia livros de teologia e filosofia que concordassem com a doutrina e a moral católicas. Foi nesse tempo que já vai longe que vi que o mundo é muito maior do que minha estreita visão. Infelizmente eu acreditava que havia livros morais e livros imorais até que aprendi com Oscar Wilde que "não existem livros imorais o que existe são livros bem ou mal escritos" e até estendo o pensamento de Wilde: o que existe são bons ou maus escritores.

A boa literatura não se pauta pela moralidade mas pela forma como se escreve e como influencia o leitor. Enfim foi a duras penas que aprendi a ser leitor.

Nenhum comentário: