Lutero, o construtor da pseudo filosofia alemã
Caro e nobre amigo Felix.
Quando eu era moço preocupava-me com a essencialidade e com a existência do Ser em si mesma, pretendendo descobrir evidências a seu respeito e demonstra-la.
Confortável seria mergulhar no fideísmo crasso dos Kantianos e neo cristãos, inspirados em Ockham e Lutero. Decretar os límites da razão, da deducão ou da inferência lógica e banir a metafísica para o terreno da fábula.
Sei porem que, ao contrário do que dizem os fanfarrões, tanto Nietzsche - o Anticristo - quanto o vínculo por ele revelado entre Lutero - o primeiro grande adversário não só da herança racional que nos foi transmitida pelos antigos gregos - são de teu conhecimento. Pena que o pensador de Sils Marie esqueceu-se de traçar sua própria árvore genealógica prenhe de teólogos luteranos, solifideistas e completamente céticos quanto aos ditames da razão...
Porque carguas dágua devemos supor que Nietzsche tenha herdado toda sua bagagem cética, subjetivista e relativista a Pirro, Enesidemo, Sexto... fazendo-a remontar até os antigos sofistas brilhantemente esmagados por Sócrates e seus pupilos (em especial o imortal Estagirita) se o espectro do bárbaro e truculento Lutero esta tão próximo de sí quanto de Kant? Por trás de ambos esta Lutero tentanto proteger sua fé luterana face as exigências da racionalidade humana.
Foi Nietzsche - e não o embiocado Tomás de Aquino ou o 'ortodoxo' Trendelenburg - e antes dele aquele crítico tão fino chamado Schopenhauer, que classificaram os alemães como bárbaros e sua filosofia como tosca... Nietzsche por sinal foi muito mais além e desmascarou-a por completo mostrando-a como ela é: filha da sacristia luterana... cuspida e escarrada por seus pastores solifideistas com fins meramente apologéticos (vindicar a incoerência interna do luteranismo).
E no entanto estava reservando ao ex papólico - e filosofo portátil de Adoph Hitler - M. Heidegger, a suprema glória de ter cindido em dois o mar vermelho da racionalidade e conduzido os novos israelitas a Canaã da obscuridade plena libertando-os da escravidão racionalista/metafísica inaugurada por aqueles mesmos gregos imbecis que nos legaram o método científico...
Assim Heidegger pôde apresentar-se a sí mesmo como o redentor do homem quanto a sua compulsão ou obcessão metafísica. Beneficiou amplamente a todos os acomodados e imbecis que até então mantinham-se prudentemente afastados dos conceitos, franqueou o pórtico as massas analfabéticas e vulgares e reconheceu que tinham plena razão quando - por não compreenderem as sublimidades do pensamento - alegavam que os discursos forjados por Aristóteles - a semelhança de bolhas de sabão - não representavam absolutamente nada... Foi exatamente assim, prostituindo o pensamento, que Heidegger tornou-se o Cristo da dita filosofia contemporânea...
De fato o garçon de Kant e Nitzsche libertou o homem do estudo, da seriedade e da técnica embora seus críticos aleguem que produziu um novo vocabulário tão ou mais obscuro que o de Heráclito 'o obscuro'... Os próprios acadêmicos por não terem logrado penetrar a vacuidade de seu aparato técnico sustentam sua largueza e profundidade: Heidegger é o cara... Vejam quantas palavras bonitas e parágrafos labirinticos... Deve dizer muito coisa... Mas o que será que ele diz??? Kant ao menos puderá apropriar-se de parte do vocabulário fornecido por Aristóteles, pois era um homem verdadeiramente capaz em que pesem as veleidades luteranas as quais, desde a juventude, havia jurado fidelidade...
Hoje qualquer nulidade pode erguer a cabeça e exclamar tão dogmaticamente quanto os pastores pentecostais a respeito dos milagres: Não preciso examinar ontologia ou metafísica, não preciso estuda-las ou conhece-las pois Kant, Nietzsche e sobretudo Heidegger (há o grande Heidegger) já deram cabo delas... Sabemos tudo ou melhor sabemos que nada podemos saber pois fomos sabiamente informados pela Trindade teutônica...
No entanto era e é impossível por em dúvida a dedução lógica e as inferências racionais, ou seja, limitar ao máximo a esfera da racionalidade - como queriam Hume, Locke, Kant, Comte e Huxley - sem que, a longo prazo, a razão em sí mesma fosse atingida. Assim de um meio ceticismo - metafísico - bastante refinado, mas não desesperador; o homem descambou e tem descambado no ceticismo completo ou epistemológico. A simples probabilidade - deixada em aberto pelos agnósticos - de que exista uma Consciência Suprema para além de toda experiência sensorial imediata... a simples possibilidade de uma dúvida prudente como aquela que tem sido postulada pelos citados pensadores (os quais jamais professaram o ateismo) fez com que a metafísica fosse sorrateiramente reconstruida as avessas, sob a forma dissimulada do ateismo.
É por isso que os ateus mais espertos - ou mais ingênuos - afirmam-se simultaneamente como agnóstas.
Aberração das aberrações, pois Hume, Kant, Comte, Huxley e todos os patriarcas do agnosticismo afirmam que o agnóstico é aquele que se recusa a ultrapassar a experiência imediatamente sensível colhida pelos sentidos, e que tudo quanto esteja para além dela é obscuro e impenetrável.
Querem dizer com isto que o aparelho cognitivo humano é inapto e incapaz de exarar qualquer juizo seguro sobre uma causa primordial do universo, SEJA POSITIVO OU NEGATIVO, e que o ateismo - ultrassando a fronteira da percepção sensorial - é tão metafisico quanto o teismo.
Tão metafísico porque constrói um juizo ou uma predicação negativa julgando saber com toda certeza o que é impossivel de ser seguramente sabido, a saber a inexistência de Deus... afinal agnosticismo é suspensão de juizo ou predicamento, isto é um estado de dúvida, incerteza ou insegurança enquanto o ateísmo, tal e qual o teísmo é uma predicação segura de si e com a pretenssão de estar correta.
O ateísmo, como o teísmo, pretende estabelecer uma VERDADE segura e certa, que esta para além da esfera limitada em que existem e para a qual existem nossos sentidos e são coletadas nossas percepções. Ele não é empírico.
Ele não é material. Não posso pesa-lo, medi-lo, quantifica-lo... experimênta-lo, percebe-lo, entrar em contado direto com ele. Trata-se portanto de uma idéia ou teoria sobre o que não se percebe ou vê, partindo do suposto - jamais verificado - que percebemos tudo quanto existe e que nada existe fora de nossas percepções. No entanto essa idéia de que somos capazes de perceber e de esgotar a realidade existente não passa de uma suposição ou fé, ou seja de uma constantação ou formulação racional. Não é empírico
Esta fora da matéria e da materialidade e por isto, em epistemologia clássica, ateismo é metafísica, a metafisica do não ser, e não um agnosticismo.
O agnóstico não se define antes foge ao problema do Ser e da causação primordial, afirmando a incapacidade humana para deslinda-lo...
Se o agnósta sente-se confortável em sua posição. Se tendo examinado criticamente a metafísica - pois a filosofia é um perpétuo exame crítico e não petições a autoridade da nova Trindade teutônica - julgou vãos os seus fundamentos e inconsistentes suas alegações, satisfazendo destarte suas exigências e aspirações pessoais, não temos porque polemizar com ele...
Aquele que entra no terreno da metafísica, no entanto, deve saber muito bem onde está pisando e dominar ao menos seus conceitos mais elementares. O grande problema da metafísica é que sua esfera ou campo é a da razão mais ou menos pura e de certa forma desvinculada - mas não de todo - da experiência sensorial. Assim se alargou o caminho aberto pelos agnóstas pois quando entraram na senda da metafisica desejando vindicar a inexistência do ser, nossos ateus logo perceberam algo que seus predecessores, tanto mais levianos, não haviam percebido ou desenvolvido: o conteúdo irracional, lógico ou dedutivo que existe em todo aparato científico... alguém descobriu que a existência de uma ciência ou de um conhecimento puramente empírico ou sensorial é impossivel, e que entre o conhecimento obtido e a experiência colhida há uma mediação necessária exercida pelo monstro da razão pura, e que é esse dragão que formula todos os nossos conceitos. Entre uma determinada lei concebida e codificada pelo intelecto após ser percebida e a lei em sí mesma há uma grande diferença.
Então - como intuito de se livrarem de qualquer possível alegação probabilística a respeito de Deus - percebeu-se a necessidade de se questionar, como elaboração meramente subjetiva, toda casta de conhecimentos obtidos pelo homem ou seja o cárater objetivo da produção científica mesma. Como a ciência dava por certo - e Hawking reconhece que é perfeitamente válido para o macrocosmo - a existência de relações constantes entre os fenômenos demoninadas como leis, inferia-se muito naturalmente a existência de um legislador e mantenedor inteligente... afinal a constância, ao contrário do caos, exige uma explicação. Eis porque os profetas do ateismo acabam apelando já ao CAOS absoluto (teoria classificada como fantasiosa por Gleiser), já ao subjetivismo, já a um ceticismo pleno para muito além do ceticismo tímido e limitado dos agnóstas. (que fazendo um deus da ciência - e dando vezo a fé cientificista - repudiavam apenas e tão somente as lucubrações metafísicas.)
Então para que servem todos esses livros de ciência repletos de alusões a uma lei natural? Segundo os céticos inveterados para enganar as pessoas...
Doravante o ateu já não se contenta em apresentar-se como agnósta. ATEUS HÁ que se apresentam como céticos completos ou relativistas, retornando a sopa alemã de Nietzsche...
Clamoroso sofima: afirmam-se como agnóstas, exercem metafísica, afirmam a impossibilidade do conhecimento e sustentam como dado absolutamente certo e indubitável a inexistência de Deus? Algum gênio pode me explicar isto em termos de epistemologia... Afinal como sei e não sei o que esta para além de minha percepção? Como posso estar isento de toda certeza e certo de que tudo se restringe a matéria e que Deus não existe? Como posso ter certeza de minha dúvida ou dúvidar se tenho certeza???
Como podem ser céticos, regeitando todo ofício racional e toda certeza e ao mesmo tempo pontificar dogmaticamente sobre a inexistência do Ser??? Como podem dúvidar de nossas percepções e preservar a dignidade da mesma ciência a qual frequentemente recorrem contra o teísmo??? Se o ceticismo é pleno de que vale o testemunho da ciência??? Se é limitado ao que esta para além da percepção imediata como posso saber que Deus não existe?
Reduzem tudo a uma questão de fé: tanto a metafísica quanto a experiência e a construção científica e a única certeza que asseveram a seus adeptos fanáticos é a inexistência de uma consciência universal que esta para além da esfera de seus sentidos... Eles podem ter certeza sobre o que não podem perceber enquanto censuram os religiosos por exercerem a fé e lançam a metafísica as urtigas.... ACASO NÃO TEEM RAZÃO O AGNÓSTICO SINCERO AO INDAGAR NO QUE UMA FÉ - a ateística - É SUPERIOR A OUTRA???
Coisa triste ver esses demagogos sacrificando aquilo que - como foi dito por aquele ateu honesto chamado Lênin - há de mais seguro e certo na vida: a percepção e o raciocínio, com o objetivo de se verem livres do Ser... eles não percebem - Lutero no entanto pode percebe-lo - que destarte fabricam para os religiosos fanáticos a arma mais afiada de que se servem: O SOLIFIDEISMO. Doravante qualquer sectário protestante ou maometano poderá lançar-lhes em face: duvido de vossa ciência, creio em Moisés, Maóme ou Lutero... não acredito em minhas percepções, não acredito no testemunho da razão... não acredito em nada além do livro e ponto final...
E sequer poderiamos apontar para as bobagens contidas no Antigo Testamento, partindo do suposto que nossos próprios conhecimentos não passam de mera construção subjetiva. FOI APELANDO A ESTE AXIOMA DA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA, QUE UMA CHARLATÃ, UMA VISIONÁRIA, UMA TONTA, CONSEGUIU APRESENTAR A BANCADA DA SORBONNA UMA TÉSE SOBRE A CIENTIFICIDADE DA ASTROLOGIA!!! AFINAL SE NÃO HÁ CIÊNCIA ENQUANTO FORMULAÇÃO RACIONAL PAUTADA NA OBSERVAÇÃO DE LEIS UNIVERSALMENTE VÁLIDAS E VERDADEIRAS, TUDO É CIÊNCIA...
E no entanto a admissão do papel da razão na formulação do conhecimento e da existência objetiva de uma constância presente no universo, abrem portas a velha metafísica teísta e põe a metafisica capenga do ateismo entre a cruz e a caldeirinha ou seja frente a um dilema insuperável.
Eis o preço que nos cobra o ateísmo: para todo ceticismo profano há sempre em contrapartida um ceticismo fideista. Se o primeiro nega o valor da metafísica ou do conhecimento científico como um todo... o segundo, reproduzindo o discurso, mergulha cegamente - sem examinar ou pesar as evidências - no bojo de qualquer fé. Ai da fé cega, bárbara e desprovida de teologia...
Lutero já havia apostado nessa contrapartida da fé cega, face a teologia romana e a metafísica.
Eis porque sacrificadas a teologia, a metafísica e a própria ciência aos pés das fúrias alemãs evocadas e alimentadas por Lutero, nossa sociedade divide-se cada vez mais em dois grupos extremistas: o dos ateus nihilistas (que regeitam toda e qualquer possibilidade ética e o humanismo) e a dos fundamentalistas fanáticos com seu deus antropomórfico e intervencionista.
E se atacam e fortalecem na mesma medida... pois enquanto alguns ateus metalmente abalados por algum choque passam ao jugo do primeiro pastor analfabeto ou profeta itinerante; alguns dos crentes mais fanáticos, captando - como eu mesmo captei - os truques, as armações e os golpes dos pastores, descambam instantaneamente no ateismo mais vulgar e grosseiro. Boa parte daqueles que compõe as fileiras do ateismo são ex companheiros meus saidos das hostes do solifideismo protestante. Neste caso o sentimento de indignação e revolta frente a religiosidade manipulada e os consequentes abusos, manifesta-se irracionalmente sob a forma do ateísmo...
Se Deus permite que a religião seja profanada de modo tão canalha justamente por aqueles que deveriam ser os primeiros a vindica-la, ele certamente inexiste...
Grosso modo, o ateu é sempre alguém que esperava um milagres que jamais aconteceu. Ele é quase sempre alguém incapaz de conceber um Deus que não realize milagres e intervenções nos termos dos sectários. Assim seu ateismo alimenta-se das concepções mais chãs, miseráveis, rudes, esfarrapadas e primitivas sobre o ser... afinal esse ser antropomórfico e miraculoso que eles negam inexiste de fato.
Ao menos parte dos ateus foi suficientemente inteligente para perceber que o deus da plebe, das massas, da fábula... não existe. No entanto foram incapazes de compreender o DEUS de Aristóteles, Spinoza ou Hegel e esta é sua grande tragédia... O ateu não teme ao deus do Velho testamento, dos padres e dos pastores, sabendo-o um espantalho e promovendo-se graças a ele...
Dawkins em diversas ocasiões deixou bem claro o quanto teme as idéias tanto mais avançadas e depuradas de Deus, como a de Jesus Cristo, do espiritismo, da alta teologia liberal, dos metafisicos naturalistas e principalmente a de Aristóteles, Spinoza, Hegel e Einstein... eis porque preferem passar a largo e bater-se contra os findamentalistas e criacionistas imbecis.
Caro Félix, na mesma medida em que o ateismo se alimenta do solifideismo e o solifideismo do ateismo o fanatismo pervalece em ambos os lados. Há uma troca entre ambos os lados.
Eles jamais lograrão examinar a questão com a serenidade dos agnóstas ou dos metafisicos teistas e panteistas...
Será este o único laço que une esses dois extremos tão próximos da negação e da superstição?
Não, não é...
Envolvendo os ateus - exceto os marxistas ou comunistas que são tributários de princípios e valores legados pela religião (em especial pelo Cristianismo Católico) - e fundamentalistas existe um laço abominavelmente monstruoso (E que como veremos pode ser apresentado já como evidência a favor do teismo, já como evidência contrário ao éthos religioso protestante.). Refiro-me a posição dos filhos do não ser e os filhos de Lutero quanto o valor do homem ou seja o humanismo. Tanto o ateísmo consequente - como demonstraremos na próxima exposição - quanto o protestantismo ortodoxo - Cf Pedro Dalle Nogare - 'Humanismo e anti humanismos em conflito - são anti humanismos irremissiveis por natureza.
Eis porque maduro, após ter estudado a metafísica e pesado as possibilidades a favor e contra o Ser, perdi o gosto por ela e tornei-me tanto mais pragmático julgando que se Deus não existe e o homem nada é... DEUS PRECISARIA SER INVENTADO. DEUS É REALMENTE NECESSÁRIO.
Eles jamais poderão compreender Erigena, Amauric, Spinoza, Hegel ou mesmo Renan, caro confrade.
Aqui me despeço com um fraternal abraço e prometendo - na próxima postagem - quais os efeitos práticos da fé ateística com relação ao homem e sua dignidade.
Assim, conhecendo de antemão as consequências e efeitos do ateismo triunfante, esperamos que as almas de boa vontade examinem criticamente a metafísica, valorizando nossa herança grega sem fazer caso dos decretos promulgados por esses bárbaros alemães inspirados pelo fanático Martinho Lutero.
LEIA QUEM QUISER. REFUTE QUEM PUDER!!!
2 comentários:
Amigo, pediu algo impossível, agora... rsrs
RSRSRS impossível mesmo só é passar elefante por fundo de agulha...
Forte abraço ao douto e bom amigo!!!
Postar um comentário