Mas vamos analisar se o capitalismo e a liberdade andam mesmo de mãos dadas, se o trabalhador dentro desse sistema goza da liberdade tão apregoada pelos arautos do livre mercado.
O documentário Carne,Osso produzido pela Globo News em 2011 mostra a triste realidade dos trabalhadores de frigoríficos que acabam sofrendo de doenças crônicas, que adoecem mais vezes que os trabalhadores de outros setores e que também sofrem com a depressão. Eles são submetidos a uma jornada por mais de 8 horas. Nos frigoríficos de aves tem que fazer muitos movimentos repetitivos, os trabalhadores tem que fazer movimentos rápidos, são proibidos de conversar de olhar para os lados e tem dois intervalos de 10 minutos para ir ao banheiro onde todos são liberados como são poucos os banheiros nem todos os trabalhadores conseguem ir ao banheiro e tem que trabalhar nessas condições desumanas. Mas não é só a Globo News que denuncia isso, a revista Caros Amigos na edição nº 197/2013 escreve: "O aumento de distúrbios ligados ao trabalho atinge todos os setores da economia e já é a segunda causa de afastamento, segundo dados da Previdência Social no Brasil, perdendo apenas para doenças osteomusculares. As concessões de auxíliodoença que têm relação com o trabalho para casos de transtornos mentais cresceram 19,6% no primeiro semestre de 2011 em relação ao mesmo período de 2010. Eu um período pouco maior, o saldo é gigantesco: de 612 em 2006 para 12.337 em 2011. No caso dos frigoríficos a prevalência de quadros depressivos é mais de três vezes maior no setor de abate de aves e suínos do que o índice geral: 209,11 a cada 100 mil trabalhadores de todos os ramos da economia contra 712,92 a cada 100 mil trabalhadores no segmento". A Caros Amigos afirma que essas indústrias também contratam indígenas que também são submetidos a essa rotina desumana em busca de um salário precário. Os trabalhadores tradicionais já não se interessam por este tipo de emprego e a revista explica: 'A razão para que os frigoríficos contratem índios, muitas vezes localizadas a mais de três horas da empresa, é a falta de interesse dos trabalhadores tradicionais. "Eram os filhos dos pequenos produtores que vinham para a cidade estudar e melhorar de vida, em geral de origem alemã e italiana", conta a advogada trabalhista da Central Sindical Popular Colutas, Maria Aparecida Santos, ex-vereadora em Chapecó (SC) e militante na região há 27 anos. Até a primeira década deste século, as famílias conseguiam evoluir. "Dava para comprar uma casinha e manter os filhos na escola", diz Cida, como a ex-vereadora é chamada. A partir disso, no entanto, essa possibilidade não existe mais. O aumento do desgaste emocional e físico na atividade em um cenário de pleno emprego levou os grupos tradicionais a buscarem opções melhores, criando um buraco nos quadros funcionais. "Que está sendo coberto com índios, e mais recentemente, com refugiados haitianos", conta Cida.'. Os índios que são reduzidos à pobreza não tem escolha e os refugiados haitianos também não, são obrigados a trabalhar para sobreviver. Os trabalhadores que foram entrevistados tanto pela Globo News como pela Caros Amigos denunciaram essas empresas por suas práticas de fazer os trabalhadores exercerem seus ofícios doentes, fomentando neles o medo do desemprego. Muitos trabalhadores se submetem a isso porque são chefes de família e dependem desses salários para o sustento de suas famílias.
Quando o trabalhador adoece por sentir dores devido ao trabalho repetitivo e exagerado ele diminui sua produção então essas empresas o forçam a pedir demissão ou procuram demiti-lo, porque o importante não é o ser humano mas a produção e a produção a todo vapor, isso acaba gerando a síndrome do sobrevivente que faz o trabalhador exercer suas tarefas mesmo com dores por medo do desemprego, ou seja, sua liberdade se restringe a trabalhar doente ou ser demitido e depois ficar sem assistência.
A empresa Walmart é outra empresa que submete seus empregados a uma jornada desumana que mesmo depois de bater o cartão continuavam trabalhando, que havia limitações para ir ao banheiro e beber água, isso para não falar dos hinos motivacionais e das danças que eram obrigados a realizar e os empregados que não cantassem ou dançassem eram constrangidos. Cadê a tal liberdade do capitalismo? Cadê aquele bem estar gerado para todos apregoados pelos liberais clássicos e hoje apregoado pelos neoliberais? É uma pena que os defensores do livre mercado não vejam isso por uma razão óbvia quem vai querer ir de encontro com a teoria que defende? É preciso ser muito honesto para isso e rever todos os conceitos, então é mais fácil fechar os olhos e deixar as coisas como estão.
A teoria do mercado auto-regulador não se sustenta quando aplicada a realidade, se ela não se sustenta é preciso procurar outras alternativas ou antes estudar a realidade, compreende-la e formular uma teoria que explique essa mesma realidade e dê uma solução real.
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