O texto a seguir é do anarquista James Herod, uma resposta a Noam Chomky e sobre sua alternativa de aumentar a jaula, isto é, defender as instituições que podem proteger os trabalhadores contra os desmandos das grandes corporações.
"Os predadores não estão fora da jaula; a jaula é eles e suas práticas. A própria jaula é mortal. E quando percebemos que as jaulas tem as dimensões do mundo, e que não há mais 'exterior' para onde fugir, então podemos constatar que a única maneira de não sermos assassinados, brutalizados ou oprimidos é destruir a própria jaula".
James Herod
Imaginemos uma comunidade humana: em seu meio encontramos homens de negócios que declaram tudo possuir e que oferecerão dinheiro a quem quer que trabalhe para eles; guardas armados que espancam ou disparam suas armas sobre quem quer que rejeite ativamente a filosofia dos homens de negócios. Ali encontramos professores que inculcam ideias debilitantes, agiotas incitando os trabalhadores a tomarem dinheiro emprestado, padres pregando como fatalidade a aceitação das coisas tais como são, animadores que tudo fazem para incitar os trabalhadores a comprarem sonhos, conselheiros que fazem com que os trabalhadores acostumem-se aos seus sofrimentos, e políticos que conseguem convencer os trabalhadores a permitirem que aqueles fixem que as regras no lugar destes. A jaula: é isso. Não deveríamos protegê-la, mas atacá-la, sempre que for possível e tivermos oportunidade para fazê-lo.
Por consequência, não é suficiente interrogar-se, como o faz Chomsky: "Deveríamos recusar os meios disponíveis para salvar vidas humanas?"
Também não é suficiente dar-se conta de que esses mesmos meios só são disponíveis justamente porque trabalhadores obrigara o governo a colocá-los em prática. Devemos tomar consciência de que os revolucionários, para quem a estratégia era a de tentar utilizar o Estado para alcançar seus objetivos, também permitiram que esses meios existissem.
Os "meios" que existem atualmente resultam dessa estratégia. Eles não se autocriaram.
Mas essa estratégia funcionou, verdadeiramente? No que me concerne, respondo por um sonoro NÃO a essa interrogação. As duas versões da estratégia "estatista" fracassaram miseravelmente em seu combate para derrubar o capitalismo; o leninismo é o exemplo mais flagrante.
Conquanto essa estratégia tenha permitido o acesso a um mínimo de conquistas sociais no seio dos países capitalistas, não devemos esquecer que isso se deu graças à transferência das riquezas do resto do mundo para os países ricos.
Sem essa transferência das riquezas é evidente que os trabalhadores europeus e americanos nunca teriam podido impor aos governos, nem mesmo leis menores sobre o trabalho.
Assim, se nos situarmos a partir de um ponto de vista mundial, os sucessos desses Estados-providência (democracias sociais) são ilusórios. Além disso, os movimentos de oposição internos desses países não tiveram praticamente nenhum efeito sobre suas políticas estrangeiras. A maioria deles não fez qualquer tentativa, e, ao invés disso, concentrou-se sobre a obtenção de leis sociais para sua própria nação, ignorando as iniciativas do capitalismo entre as nações.
Hoje, essas leis foram progressivamente abandonadas, a fim de obter uma maior concentração de capital; a fim de que haja uma competição mundial mais forte entre as empresas mais importantes; a fim de que as organizações mundiais das classes dirigentes reforcem-se, enfraquecendo os movimentos de trabalhadores, bem como os governos nacionais, isso sob a ofensiva do capital mundial conhecido sob o nome de "neoliberalismo".
James Herod
anarcho-Syndicalist Review, nº 26, 1999.
Traduzido por Plínio Augusto Coêlho
Textos extraídos da revista da Fédération des Travailleurs en Éducation,
N'ature école, nº 2, inverno de 2003, Paris.
O texto foi extraído da Revista Libertários - Revista de expressão anarquista - São Paulo nº 2 .2º semestre de 2003, página 27
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