domingo, 15 de novembro de 2009

Teologia da Escravidão






Ontem li um livrinho do bispo católico apostólico romano caótico romântico, Dom Antônio de Castro Mayer, de infeliz memória. O livrinho é uma carta pastoral: Carta Pastoral sobre a Realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo.

O referido opúsculo é um tratado político, travestido de teologia. Em muitos dos seus testículos textículos, Dom Antônio se mostra um bispo politiqueiro. Dom Antônio era um homem inteligente e tinha uma grande cultura eclesiástica. O estilo do livro (carta) é atraente e didático, apesar de ser altamente retrógrado.

Os setores reacionários da Igreja Romana vivem a criticar a teologia da libertação, dizem que a teologia da libertação é politicagem, que os padres desse movimento só falam de política e nada do Evangelho, etc... Quem diz isso, de duas uma, ou nunca leu essa carta de Dom Antônio de Castro Mayer ou quer tapar o sol com a peneira. No primeiro caso perdoamos a ignorância, mas não podemos perdoar a malícia e a hipocrisia do último caso.

O objetivo de Dom Antônio é mostrar ao leitor que a sociedade laica é uma peste, um perigo para a salvação das almas. Para chegar ao seu objetivo, o bispo se vale de muitas táticas: manipulação do Novo Testamento, da patrística e do próprio discurso.

Diz o bispo de Campos na carta que Jesus é rei, por isso a Igreja tem uma festa para Cristo Rei, mas Jesus Cristo não é rei no sentido figurado, mas em sentido real, e aí o papa de Campos cita alguns textos do Novo Testamento "provando" que Jesus é Rei de fato, rei do céu e da Terra. Dom Antônio mostra que o único modo de Jesus Cristo reinar na sociedade é reinar através de sua igreja: Católica Apostólica Romana. E para isso, mais uma vez, Dom Antônio "prova" através da patrística e dos documentos pontifícios que o Estado deve estar subordinado à Igreja.

Para o insigni... insignificante prelado ainda hoje deveria existir a união da Igreja e do Estado, e de acordo com sua medieva visão, é função do Estado defender a Igreja e reprimir as falsas religiões. Sim, o Estado segundo o seu parecer deve servir aos interesses da "Santa Madre Igreja".

Dom Antônio apoiado por documentos pontifícios antigos diz que o laicismo é uma peste, porque tenta solapar a Igreja de Jesus Cristo. O laicismo dificulta a salvação das almas, porque nivela todas as religiões em pé de igualdade: a verdadeira (que é a Igreja Católica Apostólica Romana) e as falsas (todas as outras). Citando Pio XII de infame memória diz que o "erro não tem direito à existência" (por erro subentenda-se outras religiões ou religião nenhuma).

É função do Estado ajudar as pessoas a encontrar a verdade e a salvação, e o Estado faz isso, quando promove a Igreja Romana, como religião oficial do Estado.

Agora vamos desmascarar o "santito" de Campos.

Dom Antônio diz que o Estado tem poder mas que o poder civil é menor que o poder eclesiástico e que as autoridades civis devem estar subordinadas às autoridades eclesiásticas, uma vez que o poder espiritual é maior que o temporal.

A Igreja em seus primeiros séculos foi perseguida pelo Estado, a religião cristã era proscrita por diversos fatores que não vou expor aqui por falta de tempo e para não alongar o texto. A Igreja Cristã em seus primórdios nunca precisou do apoio do Estado para crescer, embora os cristãos tivessem o dever de respeitar o Estado constituído, porque como afirmou o apóstolo Paulo: "toda autoridade vem de Deus" (Rm 13,1).

Era a religião pagã que perseguia o cristianismo, pois o paganismo era a religião oficial do Estado. E o paganismo por ser uma religião natural precisava do apoio do Estado já que não podia contar com a intervenção divina ou com o testemunho do sangue: "Sangue de mártir, semente de cristão". Tertuliano

Quando o prelado diz que o Estado tem deveres para com a religião, ele não está fazendo teologia, mas politicagem. Não está pregando o Evangelho mas os interesses da instituição a qual pertencia. O bispo sabia que o único modo de se controlar uma sociedade era criar um "Estado cristão". No fundo o líder dos tradicionalistas de Campos bem sabia que "os fins justificam os meios". Maquiavel

Ao afirmar que o estado deve submeter-se à Igreja, outra coisa não fazia Dom Antônio, do que se fazer um César no lugar do César. Assim como o cristianismo foi proscrito do Império Romano, assim o prelado queria proscrever todas as religiões. Isso não é cristianismo, mas paganismo puro! Quem leu os Evangelhos, sabe muito bem que Cristo Jesus nunca pensou num Estado teocrático; que Jesus nunca falou em dois poderes: temporal e espiritual. Os primeiros cristãos muito diferente desse último cristão que foi D. Antônio, escreviam aos imperadores para que não perseguissem os cristãos, alegando razões de sobra para isso. Os primeiros cristãos não pediam a proteção do Estado, pediam apenas que não perseguissem os cristãos como se fossem bandidos, uma vez que os seguidores do Cristo eram pacíficos, honestos, virtuosos e viviam com todos os homens. Informações como essas podem ser encontradas na Apologia de Tertuliano.

O prelado de Campos seria coerente ao defender o estado teocrático se fosse judeu ou mulçumano porque os fundadores (Moisés e Maomé) dessas religiões não eram somente líderes religiosos mas eram também estadistas. Talvez tenha herdado esse atavismo de suas leituras vétero-testamentárias... Mas que fique claro que Velho Testamento não é o Novo e vice-versa e que Moisés não é Jesus e o contrário é também verdadeiro.

No fim de sua obra Dom Antônio mostra aos seus fiéis os perigos do Estado laico para a fé Católica: o divórcio, os anticoncepcionais, o aborto, a retirada das aulas de religião da escola pública, etc... O Estado com sua laicidade tenta solapar o ensino tradicional da Igreja sobre a "moral e os bons costumes". Laicizar não é uma garantia de liberdade, pois a liberdade no pensamento do bispo tirano, só deve existir para seguir a verdade, isto é, a Igreja Católica.

Enfim, a obra de dom Antônio de Castro Mayer é um tratado político de fundo maquiavélico, despótico, no qual camufla seus escritos com o nome de Jesus, com as Escrituras Santas e com a Sagrada Tradição. Depois, os reacionários ainda tem a petulância de falar que a teologia da libertação não passa de politicagem, que os padres não devem se intrometer na política, etc... Os teólogos da libertação não podem falar em política, só os padres ultareacionários é que podem. Quer bispo mais politiqueiro que Dom Antônio? Só se for o "bem-aventurado" Pio IX de inglória memória. E assim se faz a teologia da escravidão.

Créditos: foto do site: http://www.beneditinos.org.br/

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