quarta-feira, 15 de março de 2017

Sócrates, a qualidade democrática e a produção de consciência

Antes de tudo devemos dizer que nossa democracia não é a democracia grega. Sempre oportuno dizer e repetir isto. Os gregos não conheciam o 'dogma' anglo saxão da representatividade e por isso representavam a si mesmos. Seu sistema era direto e não indireto...

Portanto entre nossa democracia, a democracia moderna, forjada na Inglaterra, já contaminada e envenenada pelo liberalismo econômico, vai uma larga diferença.

Lá a traição só era capaz em caso de 'loucura' rsrsrsrsrsrs Aqui a traição é ameaça ou perigo onipresente. Basta que algum milionário 'molhe as mãos' dos supostos representantes para que eles sem mais, atraiçoem o bom povo. Locke teve o bom senso de declarar que em tais casos era defeso ao povo rebelar-se, pegar armas e dissolver o Parlamento infiel, no entanto, este aspecto de sua doutrina parece ter caído no mais profundo esquecimento...

Segundo a concepção mais moderna de democracia o povo deve deixar-se atraiçoar pacifica e ordeiramente como uma ovelha se deixa tosquiar ou uma rês é conduzida ao matadouro; sempre em nome da autoridade... Aqui dos supostos representantes, ali de um só e mais além das massas; mas, se vai contra o interesse do bem comum, é sempre DITADURA - de um, de alguns ou de muitos.

Temos assim ditaduras de indivíduos, de classes e de massas, mas á tudo farinha do mesmo saco podre e infecto.

Curioso Sócrates ser apresentando como adversário da democracia em algumas publicações.

Nada mais equivocado.

Era Sócrates aristocrata?

Em que sentido?

Afinal há várias formas de aristocracia. Assim se há aristocracia de terras, que é oligarquia, há aristocracia de sangue, que é timocracia, e há aristocracia de grana, que é plutocracia. Mas também há uma aristocracia, e no passado era situação ou realidade consumada, da informação, do saber ou da consciência em oposição as massas iletradas, incultas, acríticas e fanatizadas.

As massas acríticas e sem consciência eram uma realidade impactante nas Sociedades antigas em que o letramento e o esclarecimento apenas havia começado ou dado os primeiros passos.

Imaginem o volume de pessoas completamente analfabetas e iletradas nas antigas cidades gregas...

Imaginem o volume de pessoas sem instrução espalhadas pelos campos ou pela realidade agrária da Helade...

Imaginem o volume e densidade das 'massas'...

E como democracia vive de consciência, era uma realidade ingrata.

Supunha o 'plano grego' todo um esforço educativo tendo em vista eliminar ou reduzir ao máximo as 'massas' transformando-as em povo consciente e agente de sua própria História. Era um plano grandioso encarado pelo ponto de vista educativo, e que demandava um esforço gigantesco. No entanto tal qual hoje, chocava-se tal plano formativo com as exigências da produção de bens ou da economia. Por isso mesmo que os gregos, como nós, deram os pés pelas mãos e estabeleceram a igualdade política entes que houvesse igualdade de consciência ou qualidade democrática... O que suscitou as críticas de Sócrates.

Sócrates não negava ou criticava a teoria democrática em si mesma e sim a realidade de uma democracia sem qualidade, i é, franqueada a todos sem exigir determinadas condições.

Nossa realidade não é menos ingrata.

Pois franqueamos o voto as massas analfabetas, cujo acesso a informação e aos saberes de caráter mais elaborado é tanto mais restrito, alegando que possuíam certo índice de consciência social, vivência, experiencialidade, etc, etc, etc, o que em alguns casos não deixa de ser verdade. Mas é manifesto e evidente que o demos um tiro no pé (da democracia), resultando desta 'democracia' de massas incultas e acríticas a sinistra bancada evangélica e após o golpe de 2016 - de que essa sinistra bancada foi a 'alma' - a reversão da própria democracia.

Isto sem falarmos das sucessivas tentativas por parte desta bancada, dominada pelo pensamento teocrático, de sabotar nossas instituições, restringindo os direitos, liberdades e garantias ao máximo; e de obter privilégios. Temos, e isto é inegável, o nosso califado ou estado pentecostal, em formação, com decorrências políticas e sociais que já se fazem sentir, e sua consolidação se deve, ao menos em parte ao voto dos analfabetos e da gente simples e sem consciência.

Karl Sagan já nos havia advertido a todos, democracia não vai bem com massas incultas ou ignorância, revertendo facilmente em teocracia seja aqui no Brasil ou em Istambul. Por isso que não se pode falar em democracia num país muçulmano, em que as pessoas, em que as massas são apenas ensinadas a ler ou a soletrar RECITANDO O CORÃO... E em que as mulheres são relegadas a ignorância mais abjeta. Onde prolifera e predomina a falta de informação, o analfabetismo, a superstição, o fundamentalismo religioso, etc a ordem democrática se torna impossível e inviável, pois falta-lhe espírito, alma ou consciência. E degenera... Saindo a emenda pior do que o soneto.

Nada mais trágico do que o poder entregue as massas incultas, acríticas e manipuláveis. Se há massas, precisam ser contidas ou controladas para que não causem maiores danos ou demassificadas... O que nos remete a um projeto educativo, essencial em termos de cultura democrática. Democracia demanda povo e qualidade e a formação de um povo consciente demanda sempre maior ou menos medida de instrução.

O que Sócrates queria era exatamente isto: Que os cidadãos se fizessem dignos da democracia por meio do letramento, do conhecimento, do saber, da reflexão, etc  Não aspirava acabar com a democracia mas injetar-lhe qualidade. Por isso que criticava essa democracia inconsequente e danosa, que vai bem com massas e ignorância.

Embora Sócrates reconhecesse que todos os homens eram iguais pela capacidade da razão e pela livre vontade, não pensava que esta igualdade genérica, por si só, fosse capaz de tornar todos os homens politicamente iguais. Para que se tornassem politicamente iguais era necessário partir dessa igualdade genérica, desenvolver suas potencialidades e adquirir determinadas aptidões ou qualidades, as quais tornavam o homem digno da cidadania.

Todos podiam certamente decidir sobre as mesmas coisas, desde que TIVESSEM CONHECIMENTO DE CAUSA. Assim aqueles que aspirassem discutir e deliberar sobre as leis deviam estudar e conhecer as leis... Aqueles que aspirassem discutir e deliberar sobre estratégia militar deveriam estudar estratégia militar... Aqueles que aspirassem discutir e deliberar sobre economia deveriam estudar economia... E sucessivamente.

Para legislar com propriedade sobre um determinado tema é sempre necessário conhece-lo, sob pena de tomar as piores decisões, ainda que sejam comuns ou democráticas. Uma democracia mal provida de conhecimentos pode ser sim bastante catastrófica.

Tais as linhas gerais da crítica socrática.

Agora que pensar sobre ela?

O mínimo que se pode dizer é que se os cidadãos não se podem - nem mesmo hoje em 2017 - especializar nos diversos campos do conhecimento a respeito dos quais são chamados a pronunciar-se e a deliberar, é absolutamente necessário que o processo deliberativo ou decisório numa democracia direta ou semi direta seja precedido de amplo debate ou discussão (amplo = demorado) entre os especialistas em cada área. O que não exclui, antes exige, por parte do cidadão comum, ao menos um letramento geral ou uma Educação de qualidade, que inclua por exemplo os conteúdos de Psicologia - ainda ausente no currículo de nossas Escolas - Sociologia e Filosofia (incluidos a bem pouco tempo).

Trata-se de um esforço continuo e colossal em termos educativos e mesmo assim insuficiente.

Platonicamente ou socraticamente falando: Se não cabe a aristocracia do saber o exercício do exclusivo do poder e se não podemos falar numa aristocracia 'aberta' para a democracia ou melhor para os elementos que queiram fazer-se dignos dela, é imperativamente necessário que esta aristocracia do saber seja ouvida pela sociedade democrática dirigindo o debate ou a discussão que precede a deliberação.

Por outro lado esta mesma aristocracia intelectual, já crítica, já reflexiva e já digna de em certo sentido dirigir o processo democrático; não pode deixar de ser aberta pelo esforço educativo, cujo objetivo primacial é inserir mais e mais homens e mulheres, de modo consciente, no processo decisório. É ela, a elite intelectual, que deve levar adiante o processo de desmassificação por meio da formação das consciências. E o ponto de partida de todo este processo é simples: o letramento, o acesso aos conteúdos essenciais já apontados, o estímulo a criticidade, etc

Supondo que o Estado ou um determinado estado obstinadamente comprometido com as exigências estabelecidas pelo Mercado ou pelo capitalismo, fiel ao dogma da representatividade, embasado na ignorância das massas ou na alienação, etc que fazer?

Neste sentido a praxis anarquista da libre associação, do apoio mútuo, da auto gestão, etc assume um caráter de necessidade. Ou substituíra ou completará a iniciativa do Poder público. Exemplo prático é a organização das Escolas de rua, mantidas por educadores comprometidos, em quaisquer espaços públicos.

Só assim responderemos dignamente as críticas do grande filósofo no sentido de produzirmos não uma Sociedade democrática, abstrata ou metafisicamente falando, mas uma Sociedade capaz de democracia ou digna dela, em que a maior parte ou totalidade dos cidadãos, após amplo debate possa deliberar sobre este ou aquele assunto, e legislar com propriedade excluindo a representação, sempre precária de um parlamento.

Tais as possibilidades que se nos apresentam:

  • Permaneceremos atrelados ao dogma da democracia formal, burguesa ou liberal ad infinitum, e este será o 'fim da história' como quer o sr Fukuiama.
    Não. Este será o fim inglório da democracia e de suas esperanças, substituída pela 'ordem' teocrática imposta pelas massas incultas e manipuladas.
  • Apostaremos no totalitarismo - ditador, tirano, déspota, líder ou messias Salvador. Mas a loteria da História demonstra com absoluta propriedade que para cada D Pedro II a centos ou milhares de Hitlers, Stalines ou Bushes, psicopatas degenerados dispostos a sangrar o gênero humano. Com o saldo de milhões e milhões de almas sacrificadas... Ao menos no plano da política ou da sociologia, a crença hindu/budista segundo a qual 'Ninguém deve esperar qualquer salvador além de si mesmo ou fora de si mesmo.' converte-se na mais prístina verdade. O povo não deve esperar absolutamente nada de quem quer que seja, mas tornar-se agente de sua emancipação.
  • Ultrapassaremos o modelo democrático formal ou burguês restabelecendo o modelo democrático grego, i é, direto; passando antes - provavelmente - pelo modelo romano, semi direito, dos plebiscitos ou referendos, fase já atingida por diversos países europeus. O que no, entanto, como acabamos de dizer, não nos deve iludir e conduzir a um comodismo análogo ao dos antigos atenienses, mas predispor-nos a um heroico esforço formativo, a que chamamos desmassificação.

E nós somos por esta última. Embora conscientes do 'defeito' apontado por Sócrates e da necessidade de formar os cidadãos para a ordem democrática e de forma-los por meio de uma educação de máxima qualidade. A qual o permita compreender a si mesmo, a evolução biológica dos seres vivos, a organização social, o desenrolar do processo histórico, a produção de bens, a formação da mente e da personalidade... levando a posicionar-se diante do universo, assumindo valores que estimulem e possibilitem a convivência, além da afirmação do bem comum.

Implica este ideal, já por ser político e mais ainda por ser educativo e formativo, questionar o espaço dado pela sociedade capitalista a dimensão econômica da existência, e restringi-la se necessário for. Implica este ideal de democracia chocar-se com o espírito do economicismo, em nome do que cognominamos humanismo.

Precisamos dar mais espaço ao político e educacional tendo em vista a expansão da consciência e a afirmação de um padrão de qualidade?

Os espaços atualmente ocupados pela produção econômica, pela educação e pela cidadania precisam ser discutidos?

Temos uma péssima política?

A quem ou que isto se deve?

Somos preparados efetivamente para o exercício da cidadania?

Todas as crianças e jovens estão na escola?

A que ou a quem favorecem a ignorância, a alienação e o desprezível espírito de submissão cultivado por tantos?

A que acomodamos nosso espírito democrático?

Fomos bem sucedidos em produzir uma consciência democrática em nosso pais?

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A todos estes questionamentos o liberal economicista responderá imutavelmente com sua shahada: Não é o melhor dos sistemas mas é o que temos?

Com pastores da prosperidade e bancadas fundamentalistas assaltando o estado 'laico' e buscando interferir ativamente nas vidas das pessoas?

Com a afirmação irracional, caprichosa e arbitrária de preconceitos estúpidos como a homofobia, o adultismo, o especismo, etc???

Com um mar de corrupção e venalidade que nos submerge até o pescoço, que nos sufoca e que compromete inclusive a reputação das instituições?

Com uma execrável justiça ideológica e partidarista capaz de profanar a legalidade???

Com os direitos e garantias do trabalho sendo imolados no altar de Mamon pelo próprio Parlamento???

Se nos devemos contentar com isso, com esse lixo, melhor vestir uma camisa de força e pedir refúgio num hospício.

Nada mais indigno e abjeto do que pedir ao cidadão que se conforme com tudo isto e bata palmas. É apenas aqui, que os totalitário, até eles, mostram um pouco mais de sanidade e dignidade do que os 'tarados' liberais...

Não, não se pode pedir ao ser racional e libre, ao ser consciente e ético, ao ser instruído e civilizado que se conforme com tão baixo padrão de moralidade política.

Neste caso qual caminho a ser seguido?

A democracia representativa foi criada com o objetivo de suprir a uma formação educacional, ética e cidadã que o liberal, julga ser impossível e tão utópica quanto os delírios do comunismo.

Para o liberal não se deve dispender assim tanto tempo em educação e formação política em detrimento das necessidades econômicas que ele julga serem básicas.

É questão de vontade.

A democracia não deve obter mais qualidade e tornar-se direta ou semi direta e nem a sociedade deve ser desmassificada e posta a salvo da ameaça teocrática APENAS PARA QUE O CAPITALISMO POSSA PERMANECER FUNCIONANDO E COM O MESMO RITMO DE SEMPRE.

É devido a imposição das falsas necessidades ditadas pelo Mercado que a democracia perde sua qualidade e que nosso projeto de democratização i é a retomada de nossa herança greco romana, é declarado impossível, inviável ou utópico. Pois para que as pessoas estejam mais presentes nas escolas, nas bibliotecas, nos museus, nos debates, nas decisões ou na politica enfim deverão estar menos presentes nas fábricas... E também deverão fruir de uma condição de vida melhor. O que nos conduz ainda mais uma vez a eliminação ou drástica redução, da alienação, da ignorância e portanto da miséria.

Compreendem por que a causa do fundamentalismo religioso ou da teocracia e do capitalismo é a mesma e que o patrão e o pastor são sempre aliados? Posto que ambos vivem de ignorância e miséria, e aspiram perpetuar a direção: FÁBRICA - IGREJA e vice versa??? Compreendem que o patrão e os políticos traidores e venais precisam do pastor para injetar o veneno da submissão nos cérebros dos trabalhadores? Compreender porque tanto o pastor quanto o patrão temem a escola, o esforço educativo, o esclarecimento e o exercício da cidadania? Como o pastor poderia vender falsas, esperanças, falsa libertação e falsos milagres caso não houvesse uma situação de angústia generalizada produzida pelo patrão? A causa da Bíblia e do auto forno é a mesma...

No entanto a mesma educação que leva o cidadão a questionar os mitos do antigo testamento e a autoridade do pastor, mina pela base a suposta autoridade do patrão.

Por isso ambos se sentem ameaçados pelo esclarecimento, e lá existe uma solidariedade oculta entre as necessidades do mercado e o projeto teocrático da bancada bíblica, o anseio de humilhar, oprimir, domesticar e colonizar o homem por meio de normas e regras arbitrárias tornando-o dócil; o eterno anseio de controlar e o desejo de escraviza-lo por meio da ignorância convertendo-o numa boa ovelhinha, num bom empregado ou num 'homem de bem' sempre submisso a ordem iníqua em que esta inserido.

Por isso é uma e mesma a causa da democracia direta, do mundo do trabalho ou seja do socialismo e da liberdade religiosa; e não se separam, formam uma unidade. Tanto a exploração econômica ou a miséria quanto o fundamentalismo religioso tornam a democracia, mesmo indireta e parlamentar impossível, desestabiliza-na e tornam-na mais indesejável que a tirania; justamente porque não passa ela mesma de uma ditadura de massas e aristocratas do dinheiro ou plutocratas. Ditadura de massas porque as massas não tendo consciência são manipuladas por eles, governando os milionários em nome das massas que oprimem, exploram e enganam... E ficando o cidadão consciente sempre a ver navios... Quando não a seduzido pela falsa esperança da ditadura individual ou pela fé num redentor secular. Sedução que é igualmente fruto da angústia e do desespero, face a precariedade de uma democracia apenas aparente, que o capitalismo impede de tornar-se real...

Temos uma democracia de conta gotas, de medida, controlada por um elemento externo e não político. Mas se não é soberana não é democracia, se é submissa não é democracia...

Urgem retornar a Sócrates. Compreender os defeitos estruturais da democracia antiga e da nova para buscar sanea-los. Ocultar ou disfarçar o estado precário e a condição abjeta de nossa democracia não a salvará. Manter a eterna ilusão de uma democracia de massas iletradas e incultas sempre no acesso do fanatismo religioso e do fundamentalismo não a salvará. Compactuar com a ignorância e alienação não a salvará. Fazer o jogo sujo e sórdido do mercado não a salvará.

Democracia se faz com esforços educativos e formativos que levem a formação de consciência bem como a produção de espírito e cultura. Democracia deve ser sinônimo de desmassificação. Democracia deve considerar sim preparo, capacidade, habilidades, competências, etc Democracia deve discutir, dialogar, debater e antes de tudo ouvir atentamente os intelectuais ou peritos, que tem conhecimento sobre determinada causa. Nossa democracia não pode conformar-se com os limites que lhe foram impostos no século XVII mas ampliar-se, aprofundar-se, alargar-se, ultrapassar-se, superar-se... O que implica chocar-se com a desordem institucionalizada do capitalismo, a grande responsável por seu fracasso.

Democracia precisa de tempo e de espaço para acontecer e isto não lhe foi dado, ainda não lhe foi dado, lhe tem sido sonegado... Em detrimento de sua qualidade.

Democracia precisa de pessoas capazes, mas elas não tem sido capacitadas desde os tempos de Sócrates. Pelo que tombamos num comodismo prejudicial e nefasto. Não estamos a formar cidadãos mas escravos, servos, elementos submissos, gente de bem, pessoas sem iniciativa e criatividade; isto é excelente para patrões e pastores, pois vivem de gado; mas não para a excelência democrática.

Sócrates tinha razão em criticar o comodismo e as ilusões de seus pares a respeito de uma democracia mágica, abstrata e metafísica, que dispensasse efetivo preparo. Ele apontou as asperezas do caminho e incomodou muita gente. Incomodou os falsos democratas com seus dogmas estúpidos, estruturas obsoletas e formas anquilosadas; eles precisavam e precisam ser incomodados. Sagan também os incomodou e fez bem. Democracia é feita mesmo para isso: para incomodar e não para acomodar as consciências e agradar.

Nosso projeto começa agora, quando terminará não o sabemos e sequer precisamos sabe-lo. Somos semeadores que um futuro que não viveremos e que não veremos. O amor ao próximo e os sentimentos de fraternidade e alteridade exigem que preparemos um futuro melhor ou menos dramático para os que virão. Não assistiremos o reflorescer da democracia direta no Ocidente ou em nosso pais, mas folgamos em ter dado os primeiros impulsos! Somos os semeadores do amanhã!


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