O economista da Veja não faz uma análise sequer superficial apenas lança ad hominem e tenta justificar o capitalismo criticando os modelos socialistas marxistas-leninistas, como se criticar o socialismo acabasse justificando o capitalismo. Se ele tivesse lido o artigo da revista não teria escrito tanta besteira (ou talvez escrevesse vai saber...). Pois os autores da matéria reconhecem que o capitalismo trouxe benefícios, mas dentro desse modelo ele acaba mais por prejudicar do que ajudar a humanidade.
Mas vamos ao que interessa de fato, vamos ao artigo da revista Exame, que diferentemente do sr. Rodrigo, eu li. O artigo só mostrou aquilo que já é sabido por toda a esquerda o capitalismo beneficia poucos em detrimento de milhões. Mas a revista não é socialista e nem o artigo é revolucionário como faz transparecer o economista da igreja liberal. Aliás, a revista Exame além de seguir a economia de mercado como disse acima, é da editora Abril da mesma família da Veja.
Na página 37 lê-se: Um estudo da OCDE, grupo que reúne as nações amais ricas, ilustra bem esse ponto. O trabalho examina uma série histórica bem menos ambiciosa do que a de Piketty. Foca no que aconteceu desde meados da década de 90, mas conclui o mesmo: a desigualdade vem subindo nos Estados Unidos - e também no Canadá, na Alemanha, na França, no Japão, na China, na Índia e na África do Sul. "Na quase totalidade dos países ricos e na maioria dos em desenvolvimento, a maré elevou todos os barcos nas últimas décadas. Mas os iates subiram mais do que nos barcos menores", diz o sérvio Branko Milanovic, que foi economista-chefe do departamento de pesquisa do Banco Mundial por 22 anos e, ao lado de Piketty, é considerado um dos maiores especialistas no assunto.
Só falta o Rodriguinho falar que a o OCDE é comunista, socialista ou coisa parecida, o que não duvido vindo de um colunista da Veja que sequer ler o que pretende refutar.
Enfim a revista faz uma breve excursão pela geografia ao abordar porque alguns países crescem com a economia do mercado e outros sofrem recessão, a revista Exame abordou que muitas indústrias migram dos EUA para a África, ou da Europa para a Ásia, então se os países ricos perdem os países pobres ganham, isso porque as indústrias estão pouco se lixando para os que perdem seus empregos pois está em busca de mão de obra barata para extrair lucros cada vez maiores.
A revista ainda mostra (ainda na página 37) como ao longo da segunda metade do século XX a desigualdade aumentou entre os salários dos empregados: Na década de 50, os presidentes das maiores empresas americanas embolsavam 20 vezes mais do que a média do mercado. Hoje, ganham 200 vezes mais. Mas há casos extremos. Mark Parker, presidente da fabricante de material esportivo Nike, leva para casa um salário mais de 1000 vezes maior do que a média da companhia. De certa forma, esses executivos passaram a ser tratados como celebridades do mundo do showbiz.
O artigo mostra que em certa medida a competição pode ser saudável mas se levada ao extremo é algo doentio: A partir de certo ponto, a desigualdade se transforma num problema econômico grave. Ela pode ser comparada ao colesterol: existe a boa e a ruim. A desigualdade positiva é aquela que incentiva as pessoas a estudar com dedicação, trabalhar e empreender. Histórias inspiradoras de empreendedores podem ter um efeito multiplicador sobre milhões de pessoas. A desigualdade negativa é a que impede a mobilidade social. Em situações assim, o status social dos pais é determinante sobre o futuro dos filhos. Por ter uma educação melhor, os filhos dos mais ricos ficam com os melhores empregos - como se fossem lugares cativos. Os filhos dos pobres acabam, na melhor das hipóteses, brigando pelos empregos que sobram.
Os defensores do livre mercado dizem que a competição estimula o crescimento da economia e que a competição é justa, eu até concordo com essa tese desde que haja igualdade de condições. É como se numa corrida de 100 metros um atleta tivesse uma vantagem de 50 metros à frente dos outros. Que competição é essa? Que chances os outros terão?
E que todos deveriam ter as mesmas chances não é coisa de socialista, comunista ou anarquista, mas de filósofos iluministas como Denis Diderot e a revista Exame na página 38 escreve: "Pensadores como o francês Denis Diderot, ao longo do século 18, engajaram-se na defesa que todos tinham de ter as mesmas chances de participar da vida econômica e política - um objetivo incrivelmente atual. "Se uma criança passar a infância morando numa casa enorme e andando num carro de luxo porque seu pai e sua mãe são bem-sucedidos, não há o que dizer. Do ponto de vista da sociedade como um todo, o problema é se o dinheiro da família conseguir dar uma grande vantagem educacional a essa criança, diz Michael J. sandel, professor de filosofia da Universidade de Harvard e autor do influente O que o dinheiro não compra - Os limites do mercado. E é exatamente essa a discussão de hoje.
Nos Estados Unidos, quem nasce na base da pirâmide social tem cerca de 40% de chance de permanecer por lá, um número alto se comparado aos 25% da Dinamarca. É daí que alguns economistas dizem, em tom de brincadeira, que se alguém quiser viver o sonho americano é melhor mudar para Copenhague.
O que o artigo da revista Exame diz não é nenhuma novidade para pedagogos, sociólogos, etc... Uma criança que tem pais que leem, que tem acesso aos livros e a cultura em geral será evidentemente mais bem colocada no mercado de trabalho do que a outra que não teve essas oportunidades, e, claro, o homem é fruto do meio, portanto ele reproduzirá tudo aquilo que o meio tiver feito dele. Claro, que há pessoas que conseguem com muito esforço superar esses condicionamentos, mas não conseguem sozinhas, conseguem se tem alguém que acredite nelas e que as estimule, o que não é o caso de todas as pessoas.
É fato que um filho de uma pessoa bem-sucedida também será bem-sucedida e nisso tem razão a sabedoria popular quando diz que filho de peixe, peixinho é. O artigo da revista Exame escreveu: os filhos de médicos, advogados, engenheiros e administradores têm 12 vezes mais chances de ser médico, advogado, engenheiro e administrador do que o filho da empregada doméstica.
O capitalismo não é só injusto é também ineficiente e não sou eu quem o diz, nem Karl Marx, nem Bakunin, nem Kropotkin e nem o secretário-geral do partido comunista, quem faz tal afirmação é a revista Exame que se baseou até em estudos do FMI (será que o FMI foi cooptado pelos comunistas?): A desigualdade de oportunidades não é apenas injusta - ela gera ineficiências do ponto de vista econômico. Em economias nessa condição, há um desperdício enorme do talento de parte da população, gente que poderia estar produzindo muito mais. Uma hipótese cada vez mais aceita entre os economistas é que países mais desiguais tendem, no longo prazo, a ter taxas decrescimento menores. O balanço de estudos feitos até agora aponta nessa direção. Redistribuição, Desigualdade e Crescimento, publicado em fevereiro por três economistas do FMI, é o último deles. O trabalho faz uma análise de 153 países por várias décadas e conclui que os menos desiguais registram uma elevação maior do PIB.
Como é delicioso ver o capitalismo desmascarado por uma revista capitalista, como é bom ver uma revista que não precisou recorrer a Marx ou outros socialistas. Que se baseou até em economistas do FMI. Pois é, chorem liberais caricatos, chorem!!! Chorem reacinhas, chorem!!!!
Fonte: Revista Exame. Edição 1067. Ano 48 nº11 11/6/2014
Fonte: Revista Exame. Edição 1067. Ano 48 nº11 11/6/2014
Um comentário:
Correta e lúcida a análise do Blogger, que não conheço. Rica em dados e referências estatísticas. Concordo plenamente. O capitalismo foi e ainda é um excelente modelo político-econômico mas é cruelmente concentrador da riqueza. Precisa ser reinventado - ou revisado - como queiram. Sugiro aos interessados visitarem a página no Facebook
https://www.facebook.com/groups/407913912590649/permalink/688924617822909/
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