terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Em defesa de Marx






Não, eu não sou marxista da mesma forma que Marx também não o era. Esta defesa tem por objetivo mostrar que os ataques à Marx não são ataques as suas ideias.

Li uma vez num livro de Fulton Sheen que ele disse que Marx nunca trabalhou, que vivia às custas de Engels, etc..., discurso muito comum entre os católicos romanos das vertentes conservadoras, e pensam que assim refutam o "socialismo científico", menos mal, os protestantes por sua vez vão mais longe e dizem que Marx era satanista, logo, inferem eles, o comunismo é demoníaco. Tenho muitos amigos reais e virtuais que dizem que Marx era um vagabundo, que nunca trabalhou, que viveu às custas de Engels, que deixou sua família passar fome, etc..., sendo assim não tem moral nenhuma para falar do socialismo/comunismo, pois se ele defendia o comunismo é porque não gostava de trabalhar.

Vejamos se esses argumentos se sustentam. "Marx nunca trabalhou, vivia às custas de Engels". Como assim nunca trabalhou? Ele trabalhou como jornalista na gazeta Renana e depois foi editor-chefe do jornal e teve que sair do país porque criticou o governo prussiano tendo que se dirigir à Paris onde dirigiu os Anais Franco-Alemães.  Além disso, Marx passou muito tempo no museu britânico lendo e pequisando livros de economistas ingleses, então como não dizer que não trabalhava? Acaso trabalho intelectual já deixou de ser trabalho? Quer dizer então que pessoas que fazem mestrado, doutorado ou que realizam pesquisas são parasitas? Vagabundas? Claro que não, pois sendo assim todos os filósofos seriam vagabundos, assim como todos os pensadores não empiristas. Todos os livros de Marx são frutos de pesquisas de vários anos, frutos de reflexões, enfim trabalho e trabalho desgastante. Então todo o dinheiro que Engels lhe dava e também seus aliados nada mais era que uma espécie de salário pela contribuição intelectual que legou ao proletariado ou melhor, a toda humanidade. Ainda assim,  Marx trabalhou como correspondente do jornal  norte-americano New York Daily Tribune, entre 1856 e 1862, quando estava morando na Inglaterra. Então afirmar que Marx era vagabundo é uma grossa mentira, uma calúnia, pois se formos levar esse argumento de que Marx nunca trabalhou até as últimas consequências, chegaremos à conclusão de que todos que trabalham com o intelecto são vagabundos, parasitas.

Os protestantes fundamentalistas afirmam que Marx era satanista mas não apresentam nenhuma evidência a não ser uma poesia, Marx se declarava materialista ateu, ou seja, negava a existência de Deus e de todo o mundo espiritual, anjos, demônios, duendes e gnomos, como Marx poderia adorar aquilo que ele mesmo negava a existência?

Desmentidos esses argumentos resta demonstrar que ainda que  fossem verídicos em nada prejudicariam as ideias, os pensamentos e os livros de Marx, parafraseando Nietzsche: uma coisa é a vida de um homem e outra suas ideias e seus livros. Se Marx fosse satanista o comunismo seria errado? Não. Porque o ponto em discussão não é esse, o ponto é saber se Marx estava certo ou errado, se o seu sistema funciona ou não fuinciona, o bom argumentador apontaria os erros de suas teorias, de seu sistema e demonstraria seus erros, nada mais. Se Marx fosse vagabundo e parasita isso tornaria o comunismo falso? Não. O que torna o comunismo falso ou verdadeiro é a demonstração de que Marx errou ou acertou em seu sistema, nada mais. Afirmar que Marx era vagabundo ou satanista não desmonta seus argumentos, não os refuta, isso é desonestidade de quem não leu Marx ou de quem não consegue refutar suas ideias. Isso se chama de argumento ad hominem que segundo a Wikipédia é:

"Um Argumentum ad hominem (latim, argumento contra a pessoa) é uma falácia identificada quando alguém procura negar uma proposição com uma crítica ao seu autor e não ao seu conteúdo. Um argumentum ad hominem é uma forte arma retórica, apesar de não possuir bases lógicas.
A falácia ocorre pois conclui sobre o valor da proposição sem examinar seu conteúdo, o que é absurdo.
O argumento contra a pessoa é uma das falácias caracterizadas pelo elemento da irrelevância, por concluir sobre o valor de uma proposição através da introdução, dentro do contexto da discussão, de um elemento que não tem relevância para isso, que neste caso é um juízo sobre o autor da proposição".

Então não interessa quem Marx foi ou deixou de ser o que importa é se suas ideias são válidas ou não, então quem deseja refutar o pensamento marxiano deve estudar suas obras e apontar seus erros ao invés de acusar sua pessoa como se isso invalidasse suas teses. O bom argumentador discute ideias e não pessoas.

Nenhum comentário: