sábado, 26 de março de 2011

Do puritanismo

"Obscena não é a foto de uma mulher nua com seus pelos púbicos à mostra, mas a de um general fardado exibindo suas medalhas ganhas numa guerra agressora".

Herbert Marcuse 


O puritanismo é uma praga e também um festival de hipocrisia. Certas pessoas querem transformar os seres humanos em anjos desprovidos de matéria. O mais engraçado do puritanismo é que os que mais defendem são os que mais gostam de sexo e os que mais tem filhos e que se casaram duas, três ou mais vezes.

Outro dia numa aula para a EJA numa aula sobre demografia e explicando porque num país pobre poucas pessoas chegam à velhice, disse que os idosos que tanto trabalharam em sua juventude ao chegar a velhice são abandonados pelo Estado, nesse momento, inconscientemente, fechei uma das mãos e com a outra mão espalmada bati naquela que estava de punho cerrado, e disse que aposentados em países pobres e mesmo em emergentes comem o pão que o diabo amassou, ao que uma aluna me censurou em público: "Professor não gostei do gesto que o senhor fez, isso é muito feio". Então repliquei: "Feio é ver pessoas morrendo nos corredores dos hospitais sem atendimento médico, feio é ver nossos filhos estudando em escolas que não tem qualidade, feio é ver pessoas morrendo de fome num país como o Brasil, feio é ir ao hospital e o médico falar para um pai comprar a medicação de seu filho e voltar ao hospital para que seja aplicada, isso sim é feio e muito feio". Fui ovacionado pela classe que concordou com minhas ideias, mas não era esse o meu intuito, queria apenas que percebessem que as pessoas se escandalizam com meros gestos, mas não com a violência que sofrem diariamente pelas mãos do Estado burguês.

Eu não sou um anjo e tampouco quero ser e se fiz um gesto que escandalizou, não foi para ofender meus alunos, mas para expressar minha indignação contra as injustiças sofridas pelos aposentados que tanto trabalharam para enriquecer o Estado. Acredito que em certas ocasiões faltam gestos e palavras para expressar a revolta, então faz-se mister recorrer ao inusitado, ao incomum, ao tabú e foi o que fiz, mas não fui compreendido pela aluna melindrada por sua natureza angélica.

Acredito com Mark Twain que "Em certas circunstâncias, um palavrão provoca um alívio inatingível até pela oração". Finalizo o post com Terêncio que mui sabiamente disse: "Sou homem e nada do que é humano me é estranho". 

Um comentário:

Professora Lu disse...

Engraçado, a gente vai crescendo e a espontaneidade vai desaparecendo. Dentro da sala de aula eu já cometi certas atitudes parecidas, e as crianças entenderam a minha revolta, me questionaram a respeito, se interessaram.... Ninguém me olhou com um olhar de "credo"!
Detesto certas ações...
Beijos,
Lu